segunda-feira, 29 de junho de 2020

Professores alertam que tempo para a recuperação não pode ser uniformizado

A Federação Nacional da Educação (FNE) alertou esta quinta-feira a tutela para a importância de assegurar pelo tempo necessário as condições para a recuperação dos alunos, e não apenas nas primeiras cinco semanas, devido à pandemia de Covid-19

"As tutorias, por exemplo, terão de ser reforçadas pelo tempo que for necessário, não apenas durante aquelas cinco semanas de que o ministro da Educação falou, porque depende muito dos alunos", disse à Lusa o presidente da FNE, João Dias da Silva.

Na terça-feira, o ministro da Educação afirmou que as primeiras cinco semanas do próximo ano devem ser dedicadas à "recuperação e consolidação da aprendizagem" por parte dos alunos, mas a estrutura sindical defende que esse período não pode ser uniformizado.

"Três semanas podem ser suficientes para um aluno e para outros vão ser precisos três ou quatro meses. Há diversidades muito grandes e que, ainda por cima, terão de ter em linha de conta aquilo que irá ser o ritmo a que as atividades vão poder ser retomadas", explicou.

A FNE foi uma das estruturas sindicais recebidas esta quinta-feira pelo Ministério da Educação, que reservou o dia para ouvir os representantes dos professores.

Durante a reunião, a federação alertou também que as datas apontadas pelo ministro para o arranque do ano letivo, entre 14 e 17 de setembro, coincidem com um período em que muitos professores ainda vão estar em trabalho de exames.

De acordo com o novo calendário dos exames nacionais do secundário, a segunda fase das provas só se realiza entre 01 e 07 de setembro, terminando uma semana antes do início das aulas.

"Há professores que ainda vão estar em trabalho de exames, com correções e recursos, e esses professores não vão poder estar a iniciar a atividade letiva na mesma altura", afirmou João Dias da Silva, alertando, por outro lado, que também será necessário respeitar o período de férias dos docentes.

Além do reforço de recursos humanos, desde professores a assistentes operacionais, a FNE sublinha que há uma série de condições de funcionamento que deverão ser previstas na organização do ano letivo, com atenção, até, para as características das diferentes disciplinas.

"Para cada disciplina há que ter em linha de conta quais são as características dessa disciplina e quais são as regras a que tem de se obedecer para que as aulas possam funcionar", disse o dirigente sindical, dando o exemplo da Educação Física e das aulas laboratoriais.

Sobre o regresso de professores e alunos às escolas, a partir de setembro, João Dias da Silva referiu, à semelhança de outros sindicatos, que o Ministério da Educação transmitiu a vontade de retomar em pleno o ensino presencial no próximo ano letivo.

No entanto, avisa a FNE, a evolução da pandemia poderá voltar a tornar o ensino à distância uma necessidade e, por isso, há várias questões que devem ser acauteladas, desde logo a regulamentação do teletrabalho.

"Os secretários de Estado assumiram esta dimensão do problema e disseram que a questão da regulamentação do teletrabalho terá de ser feita para a generalidade da administração pública, mas nós achamos que há especificidades da área da Educação que têm de ser consideradas nessa regulamentação", adiantou.

Em Portugal, morreram 1549 pessoas das 40 415 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

Fonte: TSF por indicação de Livresco

domingo, 28 de junho de 2020

Esta educação não é para todos

Portugal tem feito progressos indesmentíveis no campo educativo. Contudo, persistentes e novas desigualdades marcam também esses avanços. É isso que nos diz, por exemplo, o último PISA (OCDE) e também a análise aos dados, a partir das provas finais de 2019, sobre os percursos (diretos) de sucesso.

Um desses progressos foi o aumento dos inscritos no ensino superior, mesmo tendo em conta as inadmissíveis oscilações no ingresso. Claro que continuam a estar sobrerrepresentados os filhos das classes médias qualificadas, mas é também reconhecida uma dinâmica de alargamento social, na qual temos que persistir.

Se o rumo desejado é o de uma escola para todos, a pandemia que se instalou nos últimos meses ameaça não só esta abrangência como o cumprimento das suas funções, em que o elevador social é uma das principais, mas não a única.

Saliento algumas preocupações com as desigualdades verificadas no sistema educativo na presente situação:
  1. Os contextos e recursos das famílias traduzem-se de uma forma muito direta no sucesso e percursos escolares dos seus filhos. Quando se transfere a sala de aula para o seio familiar, os processos de aprendizagem ficam mais desiguais e dependentes dos contextos familiares. Tais desigualdades tendem a agravar-se na combinação com outras, como as de género e de etnia.
  2. Também do lado dos professores e das escolas, existem realidades e capacidades instaladas muito desiguais para lidar com o ensino à distância. Mesmo assim, o esforço levado a cabo revelou um processo de adaptação difícil de encontrar na nossa história recente.
  3. Portugal nas últimas décadas teve uma das maiores reduções do abandono escolar na Europa, afastando-se das últimas posições, onde ainda estão Espanha, Malta, Roménia ou até mesmo Itália. Pelo nosso histórico, não é uma vitória já ganha, mas é, seguramente, mais que um empate. A interrupção de todas as atividades escolares presenciais (e não só as aulas) promove uma desassociação das escolas com os alunos em risco de abandono. Estes tornam-se uma abstração com pouco reconhecimento.
  4. Outra, é que não podemos retirar à escola um dos seus desideratos principais, o seu papel fundamental na socialização de crianças e jovens. Por isso, o ensino à distância foi uma solução de recurso. Um mal menor. Não pode prevalecer na relação das escolas com os seus alunos.
  5. O acesso às tecnologias de informação por parte das famílias é muito diferenciado. A desigualdade regional no acesso a infraestruturas digitais é também evidente. O contributo das tecnologias de informação deve jogar-se, pelo contrário, a favor de uma estratégia de inclusão escolar.
Posto isto, quais os sentidos para a minimização destes impactos? Parte serão dados pelo diagnóstico mais completo deste episódio, mas por agora elencam-se algumas vias de atuação.

  1. Os instrumentos do ensino à distância não podem vir no sentido da desvalorização do espaço escolar e de um dos seus principais agentes, os professores. Estes devem ser capacitados, nomeadamente nas tecnologias, para continuarem a ser mediadores chave na relação educativa.
  2. Turmas mais reduzidas beneficiam os alunos mais vulneráveis e desfavorecidos. Esta é uma conclusão estudada e será ainda mais relevante se tivermos que agilizar processos de ensino à distância.
  3. O reforço de um plano tecnológico para as escolas é um imperativo para a equidade no acesso a instrumentos digitais. Uma ambição interrompida e que agora temos de enfrentar. Tal plano deveria incluir as próprias famílias.
  4. A administração escolar deverá estar, não apenas dotada de sistemas de informação, mas também de comunicação com os seus alunos (como a atribuição de email institucional para todos). Estas medidas poderão ser boas aliadas a uma estratégia de evitamento do abandono escolar.
  5. As escolas devem ter recursos reforçados se demonstrarem estratégia e capacidade para combater as desigualdades.
  6. O alargamento da Ação Social contribui para apoiar as famílias debilitadas pela crise e evitar o abandono escolar.
  7. A promoção do acesso ao ensino superior, mesmo para os que estiveram numa via profissional ou noutros circuitos do sistema, é determinante. Aceitando os defeitos do atual modelo de acesso, seria crítico grandes alterações numa altura já de si tão conturbada. A prioridade dada ao acesso é justificada. Também aqui temos feito avanços. Um passo atrás resultaria num recuo difícil de calcular. É bom não entrarmos num comboio descendente, onde passaremos a ser, no pior dos seus sentidos, menos europeus.
Nota adicional: os rankings, sem a devida contextualização, são instrumentos pobres para análise e monitorização de algumas destas dinâmicas. A imprensa tem empenhado esforços para lhe garantir mais substrato. Não falando agora tanto da bondade destas ordenações de escola, estas podem, não só tornar invisíveis os principais problemas de desigualdade no sistema, como reforçá-los na própria rede escolar. Fica também uma grande curiosidade sobre os rankings das escolas do presente ano: como serão? Espero que não se tornem (ainda mais) num ranking das famílias.

Susana Cruz Martis

Docente do Iscte e investigadora no CIES-Iscte

Fonte: Público

sábado, 27 de junho de 2020

O Ensino@Distância não foi um sucesso

Estão a terminar as aulas a que pomposamente, e para dar um ar de que a malta facilmente domina estas coisas da tecnologia, chamamos Ensino@Distância (acho o pormenor da arroba delicioso). Podemos afirmar que a maioria de nós saiu viva deste período de tempo interminável em que se arrastou o fim do segundo e o terceiro períodos. Sim, porque o ensino à distância (ou deverei dizer “a distância”?) teve o seu início nos últimos 15 dias do segundo período. Contudo, “ficou-me cá a parecer” que o senhor ministro da Educação não acreditou muito nas suas próprias palavras (relembro a afirmação peremptória do senhor ministro: “Ninguém está de férias”) e vai daí decidimos alargar o terceiro período e o ano lectivo, fazendo-o terminar precisamente 15 dias depois do que era previsto. Este aumento de 15 dias teve algum resultado positivo? Sou da opinião que não.

Efectivamente, terá sido neste 15 dias a mais que os alunos terão realizado todas as aprendizagens que ainda estavam pendentes? Obviamente, não. Penso que ninguém se terá lembrado, naquelas altas instâncias, que é precisamente no terceiro período que se costuma desenvolver uma maior quantidade de actividades lúdicas devido ao clima de cansaço e saturação que já se vive no meio escolar por essa altura. Mas, claro, este ano é um ano atípico (a frase que mais ouvimos ultimamente) e, por isso, vá de prolongar aquilo que para todos já é um suplício.

Contudo, o que importa no meio disto tudo é que o ano lectivo está a terminar e há que olhar para trás e pensar um pouco sobre como correu todo este Ensino@Distância. Aquilo que vou ouvindo, por aqui e por ali, é que foi um sucesso. E não, não poderei dizer o contrário. Foi um sucesso porque os alunos não ficaram um só dia desocupados e sem aulas. Um sucesso porque rapidamente os professores se muniram da sua força de vontade e da sua capacidade de trabalho para colocar em andamento uma escola a que poucos estavam habituados. Um sucesso, e aqui só posso falar no meu caso, porque se conseguiu suprir, em tempo recorde, a falta de equipamento que alguns alunos tinham — e sei que não aconteceu assim em todos os agrupamentos. Um sucesso porque se conseguiu que os alunos mantivessem uma rotina de trabalho em casa, se mantivessem activos, o que lhes proporcionou, tanto quanto possível, um clima de relativa normalidade (que era importante manter).

Mas o sucesso, relativo, ficar-se-á por aqui. Desculpem a sinceridade da questão, mas tenho de a colocar: alguém acredita mesmo que se realizaram aprendizagens nestes meses?

Se a pergunta me for colocada a mim posso dizer que sim, aprendi muito — e não, não falo das aprendizagens que realizei ao nível informático, que também foram muitas!

Digo-vos que aprendi imenso sobre as vidas pessoais dos meus alunos. Entrei pelas casas adentro de alguns que não tiveram qualquer pejo em mostrá-las: alguns trabalhavam nos seus quartos, sim, alguns poucos num escritório, e outros tantos em salas de estar e cozinhas. Aprendi a trabalhar com os meus alunos enquanto ouvia a Cristina Ferreira em som de fundo (que tenho neste momento certeza que deve ser dos programas mais vistos pela manhã). Aprendi também que muitos pais não perceberam que, de facto, os seus filhos estavam numa sala de aula, ainda que virtual. Como tal, assisti a discussões entre adultos que preferia não ter visto nem ouvido, sentindo-me a assistir a um verdadeiro Big Brother.

Percebi que o uso de “linguagem colorida” é apanágio não só de alguns dos meus alunos e que a mesma é usada por alguns adultos que com eles convivem, usando-a sem qualquer preocupação com aqueles que possam estar a ouvir (por exemplo, o professor).

Aprendi, sobretudo, que entrámos de tal forma pela casa dos nossos alunos que tanto eles como os pais passaram a perceber-nos como mais um elemento da família. Talvez por isso tenha assistido a linguagens coloridas ou à interrupção de aulas por encarregados de educação que queriam aproveitar para esclarecer uma dúvida com o professor (sim, isso aconteceu!). Talvez por isso tenha tido alunos que “entraram” na minha aula confortavelmente instalados na sua cama, ainda envergando um pijama ou comendo bolachas como se não houvesse amanhã. Talvez por isso tenha tido alunos que consideravam que qualquer altura era boa para se levantar, ir à casa-de-banho ou responder a alguma pergunta que lhes tivesse sido feita por um dos pais. Quando olho para trás penso que passei tanto tempo a trabalhar com os meus alunos como a dar sermões sobre ser e estar…

Aprendi, por fim, que tenho de me preocupar com o direito à imagem dos meus alunos e que, por isso, eles têm o direito de estar na minha aula com câmara desligada. E, por isso, percebi algumas vezes que tinha estado a falar para o vazio porque o aluno se tinha ausentado momentaneamente ou porque o aluno estava, pura e simplesmente, preocupado em realizar outra tarefa enquanto estava na minha aula.

E os alunos? O que aprenderam?

Aprenderam que todas as semanas se iniciam com uma infinidade de “tarefas para realizar”. Aprenderam a deitar mão ao chico-espertismo que nos caracteriza (nós, portugueses) e desenvolveram formas de resolver o quanto antes as tarefas propostas: solicitar ajuda (como quem diz, “resolve tu”) a professores de apoio, a explicadores ou aos próprios pais. Outros, sem essa possível ajuda, recorreram à ajuda entre pares: “Tu fazes a tarefa de inglês, eu faço a tarefa de francês”. No fim de tudo, o que lhes interessava era realizar as tarefas. E, acima de tudo, aprenderam que, se tivessem uma câmara desligada, poderiam estar sem estar, ouvir sem ouvir, cumprir sem realmente necessitar de cumprir. Aprendizagens efectivas? Atrevo-me a dizer que poucas (é claro que haverá honrosas excepções).

No fim de todo este lençol de “aprendizagens”, o que posso concluir? Concluo que este ensino à distância foi um remendo necessário, mas está longe de ser uma solução brilhante. Considero que muitos alunos não só não evoluíram como, bem pior, regrediram. De modo algum o volume de tarefas se traduziu em aprendizagens concretas e sólidas. A preocupação maior não foi aprender, mas cumprir com o que lhes era solicitado em cada semana.

Concluo, por fim, que todos os professores deram o que tinham, e provavelmente o que não tinham, para levar este barco a bom porto. Contudo, a educação à distância não foi nem será uma solução viável para o ensino de crianças e jovens. Esta experiência (obrigatória) quanto a mim não só falhou como levou todos os seus intervenientes — alunos, professores e encarregados de educação — à exaustão e a uma vontade de não repetir a experiência tão depressa.

Estefânia Barroso

Fonte: Público por indicação de Livresco

Um ano letivo muito difícil

O próximo ano escolar será muito duro. Para todos. Quando retomarem as aulas, os alunos da mesma turma estarão em níveis muito diferentes. Porque o ensino a distância desequilibrou aprendizagens.

Esse desnivelamento não constitui o problema mais difícil de resolver. O maior tormento será criar condições que protejam a comunidade escolar da permanente ameaça de sucessivos focos de covid-19.

O sistema de ensino, do pré-escolar ao universitário, não está preparado para enfrentar uma pandemia, como esta que poderá continuar a ameaçar-nos. Fazer regressar os estudantes às aulas impõe-se no contexto de uma nova normalidade, mas isso pressupõe outra organização das turmas, ajustamentos horários e planos de contingência suficientemente flexíveis para se adaptarem a situações inimagináveis no presente. É obra.

Com o distanciamento físico que a covid-19 impõe, é preciso desdobrar turmas. Não é simples. A multiplicação de grupos exige mais salas e mais professores. Há escolas sem esse espaço extra. Por outro lado, não será fácil acomodar em orçamentos contidos mais despesa com recursos humanos. Poder-se-á dividir uma turma em dois grupos e fazê-los circular pelo mesmo professor, reduzindo assim a carga horária presencial, preenchendo o restante tempo letivo com o ensino a distância. Talvez essa alternativa não suscite entusiasmo dos professores e dos pais, mas convém ter presente dois dados: há uma aprendizagem tecnológica que deve ser continuada e é preciso acautelar novos surtos que poderão atirar para casa vários estudantes por tempo indeterminado. E, nesses casos, a escola não poderá ser suspensa.

Há também o problema dos horários. Começar e terminar as aulas à mesma hora implica juntar no mesmo espaço muita gente. O arranque das manhãs e das tardes terá de ser faseado. Também os intervalos não podem ser coincidentes. Se assim fosse, quando a meteorologia se tornar mais agreste, teríamos numerosos grupos em espaços cobertos e pouco ventilados. O funcionamento das cantinas também tem de ser desencontrado e os bares devem ser organizados de outra forma.

Será com muita precaução que regressaremos à escola em setembro. Nos primeiros anos de ensino, todos devem ter presente que os avós são o apoio de muitos netos que, por sua vez, poderão ser veículos de transmissão do vírus para os mais velhos. Esses mesmo que tanto quisemos proteger em estado de emergência. É preciso, pois, planear, planear, planear. E acreditar sempre que conseguimos.

Felisbela Lopes

Fonte: JN por indicação de Livresco

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Bendita telescola!

Sim..."bendita"!

Imagino que esteja, neste momento, a supor que me enganei no título. Ou que, como se desse uma pirueta, surgisse a defender os ecrãs como salas de aula. Ou que, depois de repensar, não deixasse de elogiar horários de telescola de muitas escolas que funcionam das 9h às 4h, todos os dias, seguidos de trabalhos de casa, com recurso a mais ecrãs. Ou que fizesse de conta que uma escola solitária, sem recreios nem algazarra, onde se pode estar em "teletrabalho" sem se sair do quarto fosse uma coisa "normal". Ou imagino que suponha que eu tenha deixado de lembrar que não, as crianças não estão em aulas. Que elas não podem, saudavelmente, dedicar a mesma atenção com que jogam Fortnite a uma teleaula de matemática. Que o terceiro período é, sobretudo, uma versão XXL de trabalhos de casa. Que há milhares de crianças com "absentismo de escola" (que devia merecer o mesmo alarme que existe quando há crianças com absentismo escolar) por falta de um computador pessoal ou de recursos de comunicação. Ou, finalmente, que tenha deixado de acentuar que as consequências da pandemia para a relação das crianças com a escola são do domínio da calamidade pública.
Mas numa coisa a telescola tornou-se "bendita": fez com que os pais conhecessem os filhos melhor do que nunca. Fez com que passassem a reconhecer as dificuldades deles como, antes, não as conseguiam perceber. Fez com que os pais "descessem" até ao pensamento dos filhos e pensassem as várias disciplinas a quatro ou a seis mãos. E fez com que eles, como nunca, dessem conta das duas versões de um mesmo filho, quer quando ele está encolhido nas "aulas" quer quando se agiganta por casa.
As crianças saem do "terceiro período" com melhores pais! E saem melhores! A telescola deu mais pais à escola. E deu "mais escola" aos pais. Pena é que muitas crianças estejam a sair da quarentena com o ensino à distância. O que faz com que a sua educação precise de passar pelos "cuidados intensivos" para que a sua relação com a escola não adoeça. Para sempre.

Eduardo Sá

Fonte: Eduardosa por indicação de Luísa Leitão

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Inclusão e educação: todos significa todos

A UNESCO acaba de publicar o relatório global de acompanhamento. O Relatório aborda a inclusão na educação, chamando a atenção para todos os excluídos da educação, por causa dos seus antecedentes ou capacidades. O Relatório é motivado pela referência explícita à inclusão na Declaração Incheon de 2015 e pelo apelo a assegurar uma educação de qualidade inclusiva e equitativa na formulação do SDG 4, o objectivo global para a educação. Lembra que, independentemente do argumento em contrário, temos um imperativo moral para assegurar que cada criança tenha direito a uma educação apropriada de alta qualidade.

O Relatório também explora os desafios que impedem de alcançar esta visão e demonstra exemplos políticos concretos de países que conseguem enfrentá-los com sucesso. Estes incluem diferentes entendimentos da palavra inclusão, falta de apoio dos professores, ausência de dados sobre os excluídos da educação, infraestruturas inadequadas, persistência de sistemas paralelos e escolas especiais, falta de vontade política e apoio comunitário, financiamento não direcionado, governação descoordenada, leis múltiplas mas inconsistentes, e políticas que não estão a ser seguidas. 

Para complementar a sua base de dados online sobre Desigualdades na Educação, a Base de Dados Mundial de Desigualdades na Educação (WIDE), em janeiro de 2020, o Relatório GEM lançou uma nova ferramenta de monitorização online, Scoping Progress in Education (SCOPE), contando a história por detrás dos dados do SDG 4 e utilizando as mais recentes tecnologias de publicação e de visualização de dados online. 

Foi lançada uma nova plataforma em linha complementar, Profiles Enhancing Education Reviews, (PEER) preparada pelo Relatório GEM, que descreve as leis e políticas dos países em matéria de inclusão e educação. 

Em 2020, o Relatório GEM lançará também dois relatórios regionais especiais produzidos em colaboração com parceiros regionais. Os relatórios oferecerão um mergulho profundo na inclusão e educação na América Latina e Caraíbas (Outubro de 2020) e na Europa Central e Oriental, Cáucaso e Ásia Central (Dezembro de 2020).

DOWNLOAD DO RELATÓRIO em versão inglesa mas disponível em outras línguas.


Fonte: UNESCO traduzido com a versão gratuita do tradutor - www.DeepL.com/Translator

“O b-learning deveria ficar para sempre, mesmo que não haja pandemia”

Joaquim Azevedo, o membro mais antigo do Conselho Nacional de Educação, vê com optimismo o futuro do ensino no pós-pandemia. Os impulsos iniciais devem ser aproveitados e esta é a oportunidade para reorganizar as escolas, defende. 

No 1.º Congresso de Escolas, que decorreu na Gulbenkian, em 2017, disse que “a escola não pode ser o que era há 30 anos” e que era “preciso perceber o que se está a passar à nossa volta”. Perante a situação que vivemos hoje com a pandemia, a escola percebeu o que se está a passar à nossa volta ou ainda está mais distante?
A escola percebeu bastante bem e reagiu, colocando-se numa atitude de emergência. Foi capaz de se reinventar com bastante generosidade e criatividade. Isso está à vista de todos. Certamente que houve dificuldades, mas creio que houve um banho de realidade que se impôs. 

O que trouxe de bom? Consegue identificar alguns aspectos positivos?
Houve vários. Desde logo, fez o upload de um conjunto de dispositivos tecnológicos que existem e que, por força das circunstâncias, passaram a ser generalizados, pese embora haja uma grande diferença entre escolas e entre professores na forma como isso foi feito. Outro aspecto positivo foi a descoberta pela sociedade da relevância da escola enquanto instituição comunitária. Falhar a escola é falhar uma dimensão essencial da vida comunitária. Essa descoberta teve uma contrapartida dentro da escola que é esta ter em conta a realidade sociocultural, a diversidade e a desigualdade que existe entre a população que a frequenta. Há outros ganhos como perceber que a mudança e a inovação em educação não são impossíveis. Isto ficou claro neste campo da renovação digital. É pena que tenha de ser por meios tão drásticos e adversos.

Agora há que aproveitar esse impulso...
Sim, essa é a minha tese. Há que fazer um esforço de reflexão. Houve muita acção nestes três meses. É preciso fazer um esforço muito grande de reflexão nas escolas, tentando perceber os ganhos, fazer o balanço dessas conquistas porque elas podem perder-se rapidamente se não houver uma reflexão muito clara sobre elas. Também [deve haver uma reflexão] sobre os constrangimentos e principais dificuldades. E isto deve ser feito ao nível da escola, de cada agrupamento. Com base nesses dados, deve-se fazer a digestão e preparar um plano para a reentrada em Setembro.

O Governo fala numa nova escola digital em Setembro. O que vai ser e o que gostaria que fosse?
Primeiro, as escolas estão com muita dificuldade em estabelecer um rumo. É difícil perceber se o modelo vai ser presencial ou à distância, qual o tipo de ocupação que a escola pode ter, se alunos e professores têm de vir à escola por secções. Com base nessa reflexão, temos de projectar uma forma de trabalhar que preveja, por exemplo, a modalidade presencial e a não-presencial. Temos de preparar para fazer o melhor possível se for tudo à distância ou se for misto.

Eu próprio penso que o sistema de b-learning deveria ficar para sempre, mesmo que não haja pandemia. Cada vez mais o recurso a estas plataformas electrónicas para o ensino à distância devia ser complementar ao dispositivo que é estarmos presentes. É muito enriquecedor para o sistema de ensino a possibilidade de recorrer a estas plataformas. A educação tem mesmo de se tornar mais digital. Há escolas que estão a fazer isso há vários anos e essas escolas estão a aproveitar muito mais do que as outras com esta situação. O Estado tem de apoiar todas e mais ainda as que têm mais dificuldades neste processo de digitalização da educação. Ele é inevitável e, articulado com o ensino presencial, tem potencialidades grandes.

E os nossos professores estarão preparados para isso?
A formação de professores, viu-se agora, não obedeceu a nenhum plano nacional. Teve de se fazer, as pessoas tiveram de se desembaraçar. Há imensas iniciativas de formação. Nem todos os professores aderiram do mesmo modo nem têm competências de base para aderir do mesmo modo a estes desafios de uma educação mais digital. Agora é preciso acabar com a lógica de uma educação de emergência para estabilizar um modelo que conjugue as duas vertentes do b-learning.

Não será o momento para mexer também na formação de professores?
Tenho defendido que se deve alterar todo o dispositivo disponível que existe para formar os professores. Isso começa desde a base, desde o acesso ao curso de formação de professores até ao acesso à profissão, à capacitação, à formação contínua e dignificação das carreiras. Os professores foram o segmento do sistema escolar que menos atenção teve desde o 25 de Abril. Era preciso fazer uma revisão muito mais geral, aproveitando o facto de haver agora uma geração que está a sair. Quem vai entrar são professores que não são jovens, têm 40 e tal anos e estão há 15, 20 anos no sistema, a tentarem profissionalizar-se. Esses são os que estão à frente, não são os que têm 22 anos. O sistema precisa de ser muito repensado globalmente. Quem acede aos cursos de formação de professores e com que médias? São as piores médias de acesso. O país está à espera de quê? É com as piores médias de acesso que o país se está a preparar para enfrentar os desafios tão colossais que tem a educação? É muito estranho.

Enveredando por um ensino misto no futuro, não se corre o risco de aumentar as desigualdades? Como acautelar isso?
Talvez tenha sido dos aspectos que se tornaram logo evidentes. As desigualdades sociais em Portugal existem, são muito grandes e muitas vezes vamos escondendo e empurrando para debaixo do tapete. Essas desigualdades repercutem-se em contexto de emergência educativa de uma forma muito agressiva, muito dura. Há muitos alunos que desligaram a conexão com a escola e não sabemos bem com que consequências. Sabemos que no início houve uma adesão relativamente elevada, mas depois, por várias razões, o cansaço, a saturação, a componente tecnológica, a disponibilidade das famílias, tudo isso fez com que muitas crianças e jovens tivessem optado por se ir desconectando, nem o #EstudoEmCasa vêem, não comparecem. Não sabemos bem o que se está a passar com elas do ponto de vista escolar e do ponto de vista de saúde mental, de bem-estar. É preciso também ter isso em conta no arranque do próximo ano lectivo. O que é que as escolas devem fazer? Como se devem organizar? Será um ano lectivo igual aos outros? Ou o ano lectivo devia arrancar de uma maneira diferente em cada escola? Essas desigualdades não vão desaparecer, mesmo que o ensino seja sobretudo presencial, e é preciso enfrentá-las. Estes alunos estão com uma dificuldade real de acompanhamento do percurso escolar e é preciso que todo o sistema vá em socorro deles e tenha soluções pedagógicas, organizacionais para o recomeço do ano escolar.

Teme que o insucesso escolar aumente no próximo ano?
Esse risco existe, mas é diferente no início de um ciclo ou se estão no meio de um ciclo ou no fim de um ciclo de estudos. Sugiro que as escolas preparem um plano de abertura do ano escolar especialmente focado no combate a essas desigualdades e que tenha um modelo diferente e focado na recuperação de algumas aprendizagens se for o caso mas sobretudo em motivar, em voltar a ligar essas crianças e esses jovens com o contexto escolar. Isso é fundamental. Devia ser feito nas primeiras semanas. Para aqueles que se desconectaram mais, devia haver medidas específicas de apoio durante essas primeiras semanas. Se não fazemos isso, o arranque do ano escolar vai ser construído sobre uma situação desastrosa do ponto de vista da desigualdade social. Não devíamos arrancar o ano branqueando essa realidade e abrindo-o como sempre fizemos. Isso não devia ser possível.

Um estudo recente da OMS (coordenado em Portugal por Margarida Gaspar de Matos) mostrava que os alunos portugueses estão entre os que menos gostam da escola. Corremos o risco de este indicador ficar ainda pior?
Sim, sobretudo essa população que não se identifica com a cultura escolar. Tem de ser a escola a ir ao seu encontro e tem de os envolver, motivar. Tem de ser por aí senão corremos o risco de essa desafeição poder progredir e até ser irreparável em alguns casos.

Neste período de confinamento, o impacto será maior no sucesso escolar ou na socialização?
Não tenho dados para avaliar. Os alunos com níveis de sucesso médios e elevados terão aproveitado muito mais do que os outros este contexto, mas mesmo esses sofreram a falta de convívio, a falta de dimensão de sociabilidade que a escola contém. Os próprios pais perceberam a relevância que a escola tem de uma forma que não imaginavam que fosse tão grande, porque os filhos vieram para casa e os professores entraram em casa e as pessoas perceberam o que é esse icebergue escondido. Aquilo que se via da escola era a parte visível do icebergue, mas havia toda essa parte escondida, que era a vida escolar que é muito, muito relevante. A escola é a instituição sociocomunitária por excelência. Retirar essa possibilidade faz cair um sustentáculo colossal da nossa vida comum e pessoal. Eu sem os outros não sou nada. Sou uma criança ou adolescente que estou a crescer e sem os meus colegas, sem os meus professores, só isolado com os meus pais, não posso crescer. Não tenho condições de crescer. Esta descoberta também nos ajuda a perceber que eu preciso dos outros para ser quem tenho possibilidades de ser, são eles que me “desenvolvem”, que me destapam, que me desocultam. A sua ausência pode ter deixado marcas que não sabemos bem quais são. Era bom estudar a realidade portuguesa, quase como se fazem os estudos epidemiológicos.

Que queixas ouviu mais de alunos e professores?
O cansaço, saturação, excesso de trabalho. Os professores estão habituados a um trabalho muito isolado na sua disciplina e foi preciso criar um dispositivo de resposta de emergência. A equipa pedagógica começou a criar em conjunto a semana escolar. Isso é um ganho enorme e é fundamental continuar a fazer isso. Doze, 13 professores unem-se e programam uma ou duas semanas de trabalho dos alunos e deixam que, dentro dessa semana ou 15 dias, os alunos possam gerir o trabalho como quiserem, de forma a que atinjam os objectivos no fim da semana ou dos 15 dias. 

Não vai ser preciso mais professores e mais apoio aos alunos?
Não sei como isso vai ser resolvido. É um dos problemas porque para termos uma resposta mais personalizada, e se tivermos de prosseguir com as medidas de distanciamento social, vamos ter problemas de organização. Uma das soluções passaria, por exemplo, por dividir as turmas. É evidente que é preciso que as instalações aguentem e implica sempre duplicar professores. Não creio que, estando ao mesmo tempo o país numa situação de depauperação económica acelerada, vá haver recursos a esse nível, que são os mais caros. A minha expectativa em relação a isso não é muito positiva. 

Estaremos a caminhar para turmas mais pequenas no futuro próximo?
Não sei, tenho dúvidas. É preciso reorganizar a escola e reorganizar os grupos de alunos e os grupos de professores. No limite, posso trabalhar com grupos de cem alunos. Há actividades que não podem ser feitas com cem e posso passar para cinco ou 30. Ou posso ter projectos individuais. Isso não requer um aumento de recursos, requer é uma grande reorganização do contexto escolar. Esta lógica da divisão quase napoleónica e prussiana de os alunos estarem divididos em turmas e ponto final não faz sentido nenhum do ponto de vista do ensino. É assim porque se fez assim antes. Não tem necessariamente de ser assim e até tem desvantagens. Era mais adequado ter uma versatilidade grande na organização do grupo de alunos. Há escolas a trabalhar neste figurino e a tentar reconfigurá-lo. 

O ensino privado está mais preparado para este contexto de incerteza do que a escola pública ou não?
Não tem de estar necessariamente. Depende da escola. Há escolas particulares que não estão bem preparadas. Dos dois lados, existem desafios e dificuldades. As instituições do ensino particular encontram-se aptas a ser mais ágeis a fazer essa reconfiguração e trabalham com populações talvez não tão heterogéneas. Aí poderá haver alguma vantagem. O sistema estatal é mais lento e pesado. Mas, globalmente, não. Qualquer escola pode dar esse passo. Agora, as equipas educativas deveriam ser mais estáveis. Seria uma pena que as escolas públicas não incorporassem as dinâmicas mais inovadoras. É uma grande oportunidade para as escolas públicas e para todas.

Fonte: Público

quarta-feira, 24 de junho de 2020

A escola que cabe num ecrã deixou muitas respostas incompletas

Se em Março o factor surpresa obrigou a encontrar soluções de recurso, o início do próximo ano lectivo terá de trazer outras respostas que garantam um acesso universal e inclusivo para todos, dizem vários professores (...).

No meio da pandemia, o programa Estudo Em Casa, com conteúdos para os alunos do 1.º ao 9.º anos, fez com que a escola pudesse entrar dentro de casa de todos os portugueses através da televisão, lembra Paulo Almeida, director do Agrupamento de Escolas Fernando Casimiro Pereira, em Rio Maior.

"Mas é preciso voltar rapidamente à normalidade", lembra este professor de matemática chamado a dar aulas na televisão, que considera um "massacre" encher os alunos de aulas por videoconferência.

Quando começou a dar aulas em 1979, Helena Amaral foi colocada na então telescola, cujo programa era orientado pelas aulas transmitidas pela RTP. Nunca imaginou que, prestes a terminar a carreira, tivesse de voltar a socorrer-se do pequeno ecrã.

"Logo que as escolas foram fechadas, eu achei que o melhor era abrir aulas na televisão, porque acho que a televisão chega a todos", argumenta. Sem saber como será o próximo ano lectivo, esta professora primária elogia os professores que, quase sem tempo para se prepararem, se disponibilizaram para construir uma sala de aulas para as câmaras.

Mas, no próximo ano, estas aulas terão de ser repensadas. "Não há temas que vão crescendo. Há uma aula sobre um assunto. Acaba-se isso, passa-se à frente. E os pequenitos não aprendem assim. Aprendem quando nós estamos ali a moer", explica.

Helena passou as férias da Páscoa a experimentar as ferramentas que iria utilizar nas suas aulas à distância. Todos os dias faz uma videochamada com a turma do 4.º ano que acompanha na Escola Parque Silva Porto, em Lisboa, e todos os dias lhes envia um plano com fichas, questionários, jogos didácticos ou apresentações para eles prepararem. Para o ano irá começar um novo ciclo com uma turma de primeiro ano e este modelo não serve para os mais novos.

Na outra margem do Tejo, Alexandra Costa debate-se com o problema de tentar ensinar matemática do oitavo e nono anos através do Zoom, a plataforma de vídeochamadas que todos os professores passaram a conhecer nos últimos meses.

Há alunos que não estão a conseguir resolver os exercícios "mesmo com os vídeos explicativos que eu muitas vezes gravo, com os resumos, com as apresentações. Se já em aula, eles precisavam que estivesse constantemente a dar um empurrãozinho, agora eles não conseguem avançar."

Mas também há os alunos que se revelaram pela positivo durante o confinamento. Aqueles que já possuíam algumas competências, autonomia e capacidade de auto-regulação, "tornaram-se ainda mais autónomos" e "com maior capacidade de gerir as suas aprendizagens".

O ano lectivo termina esta sexta-feira, e ainda não se sabe como irão regressar as aulas em Setembro. Alexandra Costa acredita que terá de haver um plano para "agarrar os alunos que se perderam nestes meses".

Os que ficaram com matéria atrasada, os que não conseguiram ter um computador ou uma ligação à internet em casa, os que não têm no lar um ambiente propício para estudar, os que já estavam afastados da escola e que a pandemia atirou para ainda mais longe. "Nós perdemos esses alunos, muitos perdemos. E isto é inadmissível".

Fonte: Público com vídeo

terça-feira, 23 de junho de 2020

Há um linha telefónica que disponibiliza apoio nas aplicações de ensino a distância

Para além das aplicações de Comunicação, a “Linha Somos Tod@s Digitais” disponibiliza agora apoio nas aplicações de ensino a distância, através da linha de telefone gratuita 800 100 555, que está disponível diariamente entre as 12h00 e as 20h00.

Com uma nova normalidade imposta pela pandemia COVID-19 e o início do desconfinamento, a maioria das escolas continua a manter o ensino a distância. Contudo, com o regresso dos pais ao trabalho, muitas crianças ficam à guarda de avós ou outros cuidadores que, muitas vezes, não têm conhecimentos básicos sobre a utilização de meios digitais para poder apoiar estes estudantes na sua interacção com as escolas.

Assim, através da linha de telefone gratuita estes cuidadores de crianças do ensino básico poderão colocar todas as dúvidas relativamente às aplicações do Microsoft Teams, Google Classroom e Google Meet, as mais utilizadas pelas escolas portuguesas. Através dos websites www.somostodosdigitais.pt ou www.somostodasdigitais.pt estarão também disponíveis vários tutoriais explicativos sobre estas aplicações.

Para a validação dos conteúdos das aplicações de ensino a distância mais utilizadas no ensino básico, o projecto conta com o apoio da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica Manuel António Pina (APMAP).

«Este apoio às Aplicações de Ensino a Distância é mais uma iniciativa que surge na sequência do trabalho que tem vindo a ser realizado pelo INCoDe.2030, no apoio à população com menos competências digitais, e que, neste contexto actual da COVID-19, faz ainda mais sentido. Sendo a educação um dos pilares da nossa sociedade, torna-se fundamental que todos tenham acesso à informação e sabemos que esta linha será um veículo essencial para quebrar esta e outro tipo de barreiras», explica Nuno Feixa Rodrigues, coordenador geral do INCoDe.2030,

O projecto “Somos Tod@s Digitais” é uma iniciativa do programa INcoDe.2030 que reúne esforços de diversas entidades nacionais para ajudar a população portuguesa, com menos competências digitais, a ultrapassar da melhor forma os constrangimentos sociais provocados pela COVID-19.

A iniciativa é coordenada pelo Digital Transformation Colab (DTx) e conta com o apoio da operadora NOS e da Fundação para a Ciência e Tecnologia, através da sua Unidade de Computação Científica Nacional (FCT/FCCN).

Fonte: DN por indicação de Livresco

Escolas integram projeto de Educação Inclusiva

A Escola Secundária de Viriato, na cidade de Viseu, e o Agrupamento de Escolas Latino Coelho de Lamego foram convidados para integrar o projeto piloto Educação Inclusiva nas Modalidades de Dupla Certificação. O convite para a participação foi feito pelo Gabinete do Secretário de Estado da Educação e pela Direção Geral de Educação (DGE), Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) e Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP).

Coordenado pela Escola Técnica Profissional da Moita, o projeto tem como objetivos principais promover o sucesso escolar dos alunos com incapacidade, inscritos em modalidades de dupla certificação (cursos profissionais), conduzindo à sua certificação; implementar um modelo de acompanhamento e de avaliação que é co-construído com a tutela, com as escolas e com os alunos e as famílias; potenciar uma transição com sucesso numa vida pós-escolar destes alunos.

Para garantir uma representatividade territorial e abranger um maior número de práticas e contextos, foram também convidadas a Escola Josefa d´Óbidos (Óbidos), Agrupamento de Escolas Monserrate (Viana do Castelo), Agrupamento de Escolas de Beja, Agrupamento de Escolas Padre Benjamim Salgado (Vila Nova de Famalicão) e Escola Secundária de Loulé.

Fonte: Jornal do Centro por indicação de Livresco

segunda-feira, 22 de junho de 2020

O Modelo de Ensino a Distância Pós-Covid VS Abandono Escolar Precoce

Nesta mudança súbita do ensino presencial para o ensino a distância, a formação dirigida aos jovens em risco de exclusão social depara-se com um enorme desafio: garantir o não abandono escolar precoce!

A substituição inesperada do ensino presencial pelo ensino a distância, na maior parte das instituições de ensino, demonstrou a inexperiência da maioria dos gestores e docentes no ensino com recurso à tecnologia. Porém, com um esforço coletivo, o sistema de ensino nacional respondeu de imediato ao obstáculo COVID 19. Todos os gestores, docentes e discentes demonstraram coragem e resiliência face à transição repentina do método de ensino! Mas como decorreu esta mudança em formação dirigida a jovens em risco de exclusão social? Jovens com insucesso no ensino regular, que agarraram uma última oportunidade, frequentando um curso de formação, com esperança de obter a escolaridade obrigatória?

Constate-se que a atuação educativa em Portugal, até março de 2020, foi determinante para a redução gradual da taxa de crianças e jovens, menores de 18 anos, em risco de pobreza e de exclusão social, que em 2015 rondava os 30% e, em 2018, atingiu o valor de 21,9%.

A promoção de Cursos de Educação e Formação, Cursos de Aprendizagem ou Cursos Profissionais, tutelados pelo IEFP ou pelo Ministério da Educação (Segunda Oportunidade-Programa 20), foram cruciais para a inclusão, na sociedade, de jovens com mais de 15 anos, que não trabalham e não concluíram a escolaridade obrigatória.

Perante o novo método de ensino, acredita-se que estes jovens não estavam preparados para tais mudanças. Apesar de a maioria interagir nas redes sociais, grande parte deles apresenta iliteracia digital. Para além disso, a carência de recursos destes jovens impossibilitam, na maior parte das vezes, o acesso ao conhecimento, manifestando-se, assim, a desigualdade de oportunidades. Para formandos que, muitas vezes, não dispõem de telemóvel, computador ou internet, o ambiente de aprendizagem virtual é impossível. A alternativa de enviar os suportes pedagógicos por correio poderá colmatar tal impossibilidade. Contudo, o isolamento social destes jovens, ao longo do estado de emergência, culminou em dois fatores determinantes: por um lado, o aluno desiste facilmente perante qualquer obstáculo de aprendizagem; por outro, neste contexto pandémico, adquiriu novas rotinas de dificultam o processo de ensino/aprendizagem. Novos horários de sono, dificuldades económicas na família devido ao aumento de desemprego e/ou condição de lay-off, desmotivação perante o aumento de tarefas semanais pedagógicas (comparativamente com o ensino presencial), entre outros fatores.

A necessidade de reprogramar o plano de formação, de reorganizar a implementação do processo formativo e o sistema de acompanhamento e avaliação, surgiu inesperadamente no percurso formativo destes jovens, que só conheceram o insucesso escolar até então. E agora? Será que vão abandonar a sua última oportunidade para obterem a escolaridade obrigatória? Acredita-se que as instituições formativas, promotoras de formação para estes jovens, perante as evidências e resultados decorrentes desta experiência nos últimos dois meses, já assumiram a necessidade de adotar medidas especiais para um público-alvo especial. O isolamento social destes jovens, sem contato direto com formadores, assistentes sociais e psicólogos, pode desencadear um crescimento exponencial de abandono escolar precoce. O afastamento "escolar" do aluno impossibilita, de alguma forma, o diálogo genuíno e direto com a equipa que o apoia diretamente na instituição de formação.

Considerando a incerteza de até quando se manterá este modelo de ensino a distância na educação nacional, sugere-se, neste contexto, um modelo pedagógico adequado a jovens que, naturalmente, na fase pré-Covid, já estavam desmotivados para o ensino. A adoção de uma estratégia pedagógica mais próxima e individualizada, do formando, talvez permita contrariar o inequívoco abandono da escola.

Perante os resultados pedagógicos e evidências obtidos nos meses de abril e maio na formação dirigida a este público-alvo, considera-se que o novo ano letivo deverá ser reprogramado contemplando preferencialmente o sistema B-learning, que contempla a combinação do ensino a distância com sessões presenciais, garantindo, como é óbvio, a segurança das equipas docentes e técnicas, bem como dos formandos.

O Ensino B-Learning, dirigido a estes jovens, deve permitir intercalar momentos de ensino presencial com momentos de ensino a distância. A par das sessões assíncronas e síncronas, o discente deverá, no mínimo, reunir-se um dia por semana com cada um dos formadores, bem como com o assistente social e psicólogo. Em grupos reduzidos (máximo de 5 alunos), poderão ser promovidas sessões presenciais para esclarecimento de dúvidas, promoção de motivação para a continuidade no curso, apoio psicológico para a manutenção da sanidade mental, para além da continuidade das sessões de práticas simuladas. Em cursos profissionais, é fundamental estabelecer, nesta fase, um equilíbrio entre a componente teórica e prática, ou seja, os centros de formação poderão adotar um sistema rotativo que permite a cada formando deslocar-se à escola somente um dia por semana; numa semana assistirá um dia às aulas teóricas para esclarecimento de dúvidas; na semana seguinte, assistirá um dia às práticas simuladas e assim sucessivamente. A adaptação dos espaços físicos a esta nova realidade exigirá aos gestores de formação adotarem medidas de segurança e de proteção muito rigorosas.

Caberá aos docentes e gestores pedagógicos analisar, antes do início do ano letivo 2020/2021, a estratégia mais adequada para garantir a não exclusão social e escolar destes jovens, nomeadamente padronizar os suportes pedagógicos para um sistema de ensino B-learning, reorganizar os horários para formação assíncrona, síncrona e presencial, readaptar o espaço físico às exigências da DGS, lançar uma unidade móvel de formação, como medida excecional para jovens com mais dificuldade de aprendizagem, entre outras ações. Enfim, medidas especiais, para jovens especiais! Vamos abraçar esta causa e não permitir que a taxa de jovens em pobreza ou risco de exclusão social aumente neste contexto COVID 19!

Carla Luís

Fonte: DN por indicação de Livresco

domingo, 21 de junho de 2020

A verdadeira Liga dos Campeões é a educação

Muitas vozes se levantaram a denunciar o silêncio e inação do Ministério da Educação. Correndo o risco de esquecer algumas pessoas, Alexandre Homem Cristo, Carla Castro, Fernando Alexandre, João Miguel Tavares, Luís Aguiar-Conraria, Maria João Marques, todos escreveram, alguns repetidamente, sobre a forma como seis meses sem escola comprometem o futuro de uma geração. Hoje, junto-me ao coro de indignadas e indignados.

No site da UNESCO, há uma página dedicada aos encerramentos de escolas devidos à pandemia da covid-19. O mapa animado permite segui-los ao longo do tempo. No final de março, o mundo todo surge coberto por um manto roxo (escolas encerradas em todo o país), com muito poucas exceções cor-de-rosa (escolas encerradas em algumas regiões do país). Nessa altura, 91,3% das alunas e alunos do mundo estavam fora da escola. A partir de dia 10 de abril, começam a surgir manchas azuis, que é a cor dos países que reabriram escolas.

Na quarta-feira, sobravam 62,3% dos alunos afetados por encerramento de escolas. Uma parte substancial destes estão nos continentes sul-americano e africano, onde persiste um encerramento quase total das escolas. Em África, é uma catástrofe humanitária. Durante a epidemia do ébola, houve um aumento de abusos sexuais e gravidezes nas adolescentes. Esta semana houve um apelo de várias organizações, devido ao risco acrescido de mutilação genital por as meninas estarem fora da escola. Mas não é só em África que a escola é um instrumento de controlo social para situações de risco. Na semana passada, a Confederação Nacional de Ação Sobre o Trabalho Infantil anunciou um preocupante aumento nas denúncias de situações de crianças que estão a trabalhar, sobretudo na restauração. Também há um agravamento da violência doméstica, que vitimiza especialmente mulheres e crianças.

Ainda segundo o site da UNESCO, neste momento, na Europa, a norma é ter escolas a funcionar. Vários países já abriram todas as escolas: França, Suíça, Áustria, Croácia, Estónia, Suécia, Noruega. Todos os outros, à exceção de Portugal, Itália e Irlanda, estão abertos de forma “localizada”, que é como quem diz, com algumas partes do país fechadas e outras não. Fazemos, portanto, parte da minoria de três países com escolas encerradas.

Em todos estes países, foi necessária criatividade para reorganizar o ensino em face da pandemia. Algumas escolas estão abertas em dias alternados, horários parciais, com aulas ao ar livre. Na Bélgica, a opção no ensino secundário foi chamar às escolas apenas os alunos que em fevereiro estavam com maior dificuldade de progresso na aprendizagem. Houve quem mudasse de ideias. De novo na Bélgica, onde inicialmente apenas os alunos do sexto ano iam regressar às escolas por estarem em fim de ciclo, o governo acabou por voltar atrás e colocar todas as crianças do ensino básico na escola com horário normal e turmas completas. Macron, que tinha as escolas abertas a meio gás, anunciou esta semana que a partir de segunda-feira todos os alunos do primário e secundário vão estar na escola de forma obrigatória, com horário completo.

E no ano letivo que aí vem? Por enquanto, o que está anunciado é um programa de 400 milhões para equipamento digital. Mas caramba, se o ensino à distância funciona tão mal, será apenas por falta de equipamento? A equipa do economista Raj Chetty, da Universidade de Harvard, teve acesso a informação da plataforma de ensino de matemática à distância Zearn, que já era utilizada por muitas escolas antes do confinamento. O gráfico mostra o número de sessões completadas numa semana de confinamento, comparadas com o pré-confinamento, por código postal. Ou seja: 0% quer dizer que não mudou nada, -60% quer dizer que há uma quebra de 60% no progresso das crianças. Os resultados estão à vista: os códigos postais correspondentes a zonas mais ricas tiveram uma pequena quebra inicial, mas os jovens rapidamente se adaptaram à nova realidade e voltaram ao progresso pré-covid. Já nas áreas geográficas medianas ou pobres as quebras atingem 60%. Se isto se explicasse por falta de meios técnicos, seria demasiado fácil. O problema é que nas famílias com menos educação, empregos menos flexíveis e maiores angústias económicas ligadas à crise, as crianças estão sem ajuda frente ao ecrã.


Para colmatar o atraso das crianças desfavorecidas, são precisas horas de contacto presencial com docentes. É por isto que em Inglaterra o governo vai organizar programas de recuperação no verão e já anunciou um plano de contratação de tutores (se preferir, explicadores) para colocar nas escolas em setembro, ao serviço dos alunos que perderam o comboio da aprendizagem nestes meses de confinamento. Segundo a Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência, na publicação “Perfil do Docente” do ano letivo 2017/2018, os docentes com mais de 50 anos são 48% no terceiro ciclo, 52% no segundo, 38% no primeiro e 51% no pré-escolar. Em face do risco da covid-19 ligado à idade, por aqui é mesmo urgente reforçar recursos humanos, em vez de comprar Magalhães.

No meio disto tudo, onde está o ministro da Educação? Pode ser que tenha excelentes razões para não acompanhar os seus parceiro europeus na abertura das escolas. Mas então tem obrigação de as partilhar connosco. Pode ser que tenha informação sobre o sucesso do ensino à distância diferente da que tem sido anunciada, a última das quais pela própria Fenprof, que dizia que mais de metade dos professores não conseguia contactar com todos os seus alunos. Duvido. Uma das partes mais inaceitáveis do silêncio do ministro é a absoluta falta de estatísticas oficiais sobre o grau de cobertura do ensino à distância. Será mesmo que Tiago Brandão Rodrigues não quer saber? Ou será que os números que tem na secretária são tão maus como os da Fenprof e ele não quer que nós saibamos?

Afinal, não era preciso procurar muito para encontrar o ministro da Educação. Estava na quarta-feira em Belém regozijando-se com o país político em peso devido à escolha de Portugal para acolher meia dúzia de jogos de futebol. O espetáculo mediático, em direto do Palácio de Belém, foi confrangedor. Nada menos do que o Presidente da República, o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o ministro da Economia, a ministra da Saúde e ainda o secretário de Estado da Juventude e do Desporto. Para além de Tiago Brandão Rodrigues, claro. Que ele sabe o que realmente importa para o futuro do país e não ia perder esta festarola. Senhor ministro: a verdadeira Liga dos Campeões é a educação. Já chega de fingir que não é consigo.

Susana Peralta

Fonte: Público

sábado, 20 de junho de 2020

Como promover o processo de ensino-aprendizagem em crianças com dificuldades de aprendizagem?

Os alunos com dificuldades de aprendizagem, entre outras questões, tendem a sentir maior dificuldade na aquisição de aptidões importantes para melhorar os seus desempenhos académicos. Contudo, estes alunos são capazes de aprender, tal como qualquer aluno, mas a um ritmo diferente e através de ferramentas pedagógicas específicas, importantes de conhecer.

Por norma, quanto mais cedo forem diagnosticadas e implementadas as medidas mais adequadas para as ultrapassar, melhor será a capacidade de resposta da criança, ao nível da produtividade e da própria eficácia, muitas vezes, ilustrada nos resultados. Se conhece e contacta regularmente com crianças com este tipo de perfil, mãos à obra! Há imensas estratégias e metodologias que quando devidamente implementadas podem fazer a diferença e alcançar real sucesso.

Antes de mais, nunca devemos esquecer que, em termos gerais, as dificuldades de aprendizagem específicas não têm cura na medida em que resultam de uma disfunção neurológica permanente. Representam assim, um enorme desafio para a educação em geral: como transmitir conhecimento a estas crianças? Na atualidade, já dispomos de métodos de ensino com resultados comprovados, assim como cada vez mais profissionais da área da educação capacitados para lidar com a diversidade e especificidade das diferentes dificuldades de aprendizagem.

Importa ter em consideração que educar os alunos para a vida não significa apenas transmitir conteúdos, mas também ensiná-los a viver de forma autónoma, a serem responsáveis, a se relacionarem com os outros e auxiliá-los na construção de um projeto de vida. Neste sentido, cada professor saberá encontrar, em simultâneo, a melhor estratégia para apelar à motivação e interesse de cada aluno procurando promover, não só o gosto pelo conhecimento, pela aquisição do saber, assim como desenvolver alguns vetores essenciais, inerentes à compreensão, à autoestima, ao respeito por si, pelo outro, à tolerância, à interajuda/cooperação, comunicação, de forma a tornar-se um cidadão realizado e produtivo. Trabalhar numa ótica inclusiva, mediante a integração de atividades lúdicas costuma ser uma boa ferramenta. O objetivo é estimular a criança a desafiar as suas próprias limitações, de uma forma despretensiosa e a aceitar que, apesar de todos serem diferentes, com características muito específicas, todos somos iguais na demanda de um objetivo comum, a aprendizagem.

As dificuldades de aprendizagem podem, todavia, manifestar-se, atenuar-se ou mesmo acentuar-se no decorrer das diferentes fases do desenvolvimento (infância, adolescência e vida adulta), como tal, é essencial saber dominar um vasto leque de ferramentas para as conseguir colocar em prática sempre que se considerar necessário.

Existem várias ferramentas educacionais, (muitas até já pertencem às rotinas diárias de algumas salas de aula) que, quando corretamente elaboradas e implementadas, podem fazer a diferença no processo de ensino-aprendizagem. A título exemplificativo, salientamos apenas alguns aspetos aparentemente simplistas, mas muitas vezes capazes de marcar a diferença:

- Plano de Trabalho - Observação e compreensão: é fundamental que o professor conheça bem a turma para que consiga elaborar um plano de trabalho eficiente através dos meios adequados e ao seu dispor;

- Avaliação - É uma das principais formas para conhecer as reais dificuldades do aluno e as suas necessidades, permitindo depois, em função dos resultados, implementar novas estratégias específicas de aprendizagem capazes de ajudar a superar os problemas evidenciados.

- Contextualização - Além de relacionar os assuntos com o quotidiano dos alunos, é importante estabelecer uma relação entre os conceitos e conteúdos e as respetivas disciplinas.

Os professores são assim fundamentais na identificação de eventuais dificuldades de aprendizagem do aluno. Podem assim, assumir um papel essencial no futuro de cada aluno a vários níveis, quer como observadores e analistas, quer como figuras de apoio. É igualmente importante que os próprios alunos reconheçam essas capacidades no professor. Por exemplo, ao caminhar pela sala de aula e verificar de perto a forma como os alunos participam nas respetivas atividades, o professor está a exercer o seu papel de observador. E quando faz algum comentário em relação a uma eventual dificuldade manifestada por determinado aluno está a cumprir o seu dever de analista.

Por outro lado, quando dá uma orientação específica a um aluno com o intuito de que este consiga superar uma determinada dificuldade, orientando-o para o caminho para a respetiva resolução.

Para além da formação académica, durante o ano letivo, cada professor tende a desenvolver e a colocar em prática vários conhecimentos adquiridos através da sua formação contínua e/ou da sua prática pedagógica. No entanto, essa conjugação de saberes e competências, por si só, embora muito relevante, não encerra por si e nem sempre é capaz de conferir respostas adequadas a cada caso, até pela diversidade e complexidade de situações apresentadas que muitas vezes ultrapassam a área do ensino e cruzam-se com outras áreas do saber (como a medicina, a psicologia, a psicopedagogia, a psicomotricidade, o domínio da linguagem).

Neste sentido, a chave para a promoção de práticas educativas cada vez mais inclusivas passa pelo trabalho em parceria, colaborativo, com equipas multidisciplinares capazes de conferir respostas eficazes e atempadas que vão ao encontro das reais necessidades de cada aluno. A conciliação de sinergias tanto na identificação como nos processos de avaliação e intervenção tornam-se fulcrais para o sucesso educativo e para o bem-estar de toda a comunidade educativa.

Fonte: lifestyle por indicação de Livresco

Mais que a tecnologia, Unesco defende a relação professor/aluno na educação pós-pandemia

Depois dos desafios colocados à educação, em todo o mundo, por causa da pandemia de covid-19, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) propõe que, de maneira a esbater as desigualdades, se disponibilizem recursos educativos e tecnológicos gratuitos para professores e alunos. O relatório denuncia que a pandemia veio expor “vulnerabilidades e desafios” em todo o mundo.

A crise da covid-19 expôs uma “imagem clara das desigualdades existentes”, diz o relatório Nove Ideias para a Acção Pública - Educação, Aprendizagem e Conhecimento num mundo pós-covid-19, realizado pela Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação (CIFE), constituída por 17 individualidades, entre elas o embaixador de Portugal na Unesco, António Sampaio da Nóvoa, e tornado público nesta sexta-feira. 

No mundo existem cerca de 1,5 mil milhões de estudantes. Contudo, nem todos têm acesso à educação e, em tempos de confinamento e ensino à distância, muitos ficaram para trás. O texto dá como exemplo os alunos da África subsariana: apenas 11% tem computador em casa e 18% tem Internet, quando a média mundial é de 50% para o equipamento e 57% para o acesso à rede. “É particularmente importante que o mundo apoie os países em desenvolvimento com investimento em infra-estruturas educacionais do século XXI; isso exigirá a mobilização, recursos e apoio dos países desenvolvidos, em particular com o cancelamento da dívida, reestruturação e novos financiamentos”, defende Sahle-Work Zewde, presidente da Etiópia, que preside à comissão, no prefácio do relatório.

O abandono escolar poderá ser uma das consequências graves desta pandemia, o que vai levar a uma regressão de “várias décadas”, continua a responsável, sem esquecer o impacto na educação das raparigas. Serão sobretudo elas que poderão não voltar à escola, alerta o relatório que começa por elogiar os professores, a sua resposta e adaptação rápida às circunstâncias do ensino à distância, embora façam parte de um leque de profissionais que são “frequentemente mal pagos”, apesar de terem “grande importância social”.

As escolas fechadas podem levar ao aumento das desigualdades já que este é um espaço que além do ensino oferece outros serviços como alimentação — por vezes, a única refeição “decente” do dia — e bem-estar. “As escolas são espaços de vivência colectiva que não podem ser substituídos por ensino remoto ou à distância”, defendem os especialistas.

Tecnologia mas com salvaguardas

Esta crise de saúde que, como consequência, se tornou também uma crise económica veio mostrar a importância do ensino público, como este é “crucial” no combate às desigualdades, defende o texto. No entanto, os especialistas estão preocupados com as possíveis consequências da crise económica. Se, por um lado, haverá famílias que não conseguirão manter os filhos na escola; por outro, o financiamento da educação pode vir também a sofrer. Por isso, é pedido aos governos para “resistir às pressões para restringir os gastos com educação no futuro”. A comissão apela, assim, a que não só os governos mas também as organizações internacionais, civis e os cidadãos se mobilizem na protecção do ensino público e seu financiamento, alertando ainda para a necessidade de evitar a corrupção ou o desvio de fundos que devem ser aplicados nas escolas.

Embora a educação não possa acontecer fora do âmbito pedagógico e da relação professor/aluno, também não pode ficar refém da tecnologia — como se poderia supor com o recurso ao ensino à distância. Esta é uma “ferramenta formidável”, mas não pode ser uma “panaceia” e deve ser usada com cuidados de maneira a não comprometer a privacidade e a liberdade de expressão. “É uma ilusão pensar que a aprendizagem online é o caminho a seguir para todos”, diz o relatório.

A comissão defende ainda que os alunos sejam ouvidos neste processo e envolvidos nas decisões que lhes dizem respeito. Aliás, este procedimento democrático visa combater o ressurgimento de “políticas autoritárias”. No mesmo sentido vai a recomendação de construir currículos que dêem prioridade “à pessoa como um tudo e não apenas [transmitindo-lhe] competências académicas”. Preocupada com as fake news e a falta de informação, a comissão defende que se dê prioridade à literacia científica, assegurando um currículo com “fortes objectivos humanísticos”, em que se explore a relação entre factos e conhecimento, ajudando os alunos a “compreenderem e a situarem-se num mundo complexo”.
pdf

Nove Ideias para a Acção Pública - Educação, Aprendizagem e Conhecimento num mundo pós-covid-19 - CIFE, Unesco (versão em inglês) Descarregar

Fonte: Público

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Prémios ALL DIGITAL 2020

Até ao próximo dia 31 de julho, estão a decorrer as candidaturas aos prémios ALL DIGITAL 2020.

Os Prémios ALL DIGITAL pretendem reconhecer projetos inovadores na área da inclusão e coesão social, através da promoção de competências digitais, que promovam o enriquecimento e transformação de vidas dos cidadãos. 

A All Digital (anteriormente conhecida como Telecentre Europe) é uma associação, com sede em Bruxelas, que representa organizações membro da União Europeia que trabalham com centros de competência digital.

Para mais informações, visite https://all-digital.org/awards-2020/

Fonte: INR

quinta-feira, 18 de junho de 2020

18 de junho – Dia Mundial do Orgulho Autista

O objetivo desta efeméride é afirmar e defender os direitos das Pessoas com Autismo - que possuem capacidades e características diferentes - à autonomia, qualidade de vida e inclusão, por forma a quebrar a visão negativa ainda existente.


Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, as Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) são “ um síndroma neuro-comportamental com origem em perturbações do sistema nervoso central que afeta o normal desenvolvimento da criança.

Os sintomas ocorrem nos primeiros três anos de vida e incluem três grandes domínios de perturbação: social, comportamental e comunicacional”.

O dia mundial do orgulho autista celebra-se para conhecermos melhor as diversas faces do autismo: a que não consegue falar, a que não conseguiu aprender a ler, a que não consegue interagir, a que se irrita com barulhos, a que não se sente a vontade com estranhos, a que pela primeira vez brincou com os pais, a que consegue ficar na escola... enfim, ter orgulho de não esconder que o autismo é algo difícil de lidar, mas que não define quem a pessoa é. O que precisamos é aceitá-la com as suas limitações e reconhecer o seu potencial inato, incluindo aquela com espectro do autismo.

Esta data foi criada, em 2005, pelo Grupo ASPIES FOR FREDOM(AFF).

Mais informação em www.aspiesforfreedom.com

Fonte: INR

Qualidade educativa e inclusão na UE

A Comissão Europeia publicou um memorando de políticas que visa esclarecer os decisores políticos, sublinhando a importância da qualidade da educação e cuidados na primeira infância através da inclusão, sugerindo algumas soluções. 

O memorando introduz o que significa inclusão na educação em geral e, principalmente, na educação e cuidados infantis. Discute igualmente como a inclusão na educação infantil é entendida no atual contexto político da União Europeia (UE). 

O documento alerta para a existência de muitos fatores de discriminação e marginalização, entre os quais os apresentados na seguinte imagem:


Realça que os esforços na implementação das estratégias de educação “para todos” têm incidido, em particular, nas crianças com deficiência ou necessidades especiais, mas advoga que a educação inclusiva deve criar estratégias para todas as pessoas que são excluídas devido às suas origens migrantes, origens socioeconômicas desfavorecidas, entre outras.

São também apresentadas as conclusões de projetos recentes a nível da UE sobre como a inclusão é integrada em diferentes aspetos da qualidade na educação e cuidados na primeira infância, o que continua a ser um desafio, especialmente nos contextos sociais desfavorecidos.

Para mais informações sobre esta temática, consulte memorando: Strengthening the quality of early childhood education and care through inclusion / Reforçar a qualidade da educação e cuidados na primeira infância através da inclusão.

Fonte: INR