segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

CHEGAR A TODOS OS ALUNOS: um pacote de recursos para apoiar a inclusão e a equidade na educação



O Bureau Internacional de Educação da UNESCO (UNESCO-IBE) tem o prazer de publicar esta nova versão do Pacote de Recursos de Educação Inclusiva. A Sra. Stefania Giannini, Diretora-Geral Adjunta de Educação da UNESCO, e o Sr. Yao Ydo, Diretor da UNESCO-IBE, escreveram o prefácio do novo pacote de recursos.

Gostaríamos de expressar nossos agradecimentos especiais ao Sr. Renato Opertti (Especialista em Educação Sênior, UNESCO-IBE), Sra. Florence Migeon (Especialista em Educação, UNESCO) e Sr. Mel Ainscow (Consultor em Educação Sênior) por suas contribuições para o desenvolvimento de o Pacote de Recursos de Educação Inclusiva. Gostaríamos também de estender nosso apreço e agradecimento ao Diretor da UNESCO-IBE, Sr. Yao Ydo, por seu apoio incondicional, confiança e orientação construtiva. Um caloroso agradecimento também aos colegas da UNESCO-IBE, Sra. Perrine Arsendeau e Sr. Carlos Bueno, que apoiaram a revisão e edição deste Pacote de Recursos.

O pacote de recursos Alcançando todos os alunos centra-se no que é sem dúvida o maior desafio enfrentado pelos sistemas educativos em todo o mundo, o de encontrar formas de incluir e garantir a aprendizagem de todas as crianças nas escolas. Nos países economicamente mais pobres, trata-se principalmente dos milhões de crianças que não podem frequentar a educação formal. Enquanto isso, nos países mais ricos, muitos jovens deixam a escola sem qualificações que valham a pena, alguns optam por desistir porque as aulas parecem irrelevantes e outros são colocados em classes especiais ou escolas fora do ensino regular. A UNESCO estima que meninas de 12 a 17 anos correm um risco particular de abandonar a escola em países de renda baixa e média-baixa, enquanto os meninos correm mais risco em países de renda média-alta e alta.

Recentemente, os professores enfrentaram novos desafios sem precedentes à medida que buscam encontrar maneiras de garantir uma educação de qualidade para todos os seus alunos no contexto da pandemia do COVID-19. Embora a natureza desses desafios varie dependendo da localização, uma preocupação comum é com os alunos que são conhecidos por serem vulneráveis ​​à marginalização ou exclusão, como os de famílias mais pobres, refugiados e pessoas em situações de conflito, minorias étnicas e linguísticas e indígenas e crianças com deficiência. Segue-se que os esforços para garantir a recuperação educacional após a pandemia devem se basear nos princípios de inclusão e equidade.



Fonte: UNESCO, com tradução livre.

domingo, 30 de janeiro de 2022

Porque foi a Educação arredada do debate político?

Nesta e noutras campanhas eleitorais, momentos decisivos para melhor entendermos como os partidos políticos percecionam o país e que estratégia têm para o impulsionar para elevados desempenhos, traduzidos na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, através de medidas concretas, pouco se tem falado de Educação. Como se a Educação tivesse um papel lateral no processo de desenvolvimento de qualquer país.

Não. Não tem. Tem um papel central.

Mas para que possamos reconhecer essa centralidade é necessário vencermos o ainda enraizado preconceito da subalternização do papel da Educação, no contexto do desenvolvimento económico que desejamos.

Se queremos ser um país de elevados desempenhos temos de atribuir valor social à Educação. E atribuir valor social à Educação é reconhecer a importância que a Educação dos nossos jovens tem, num contexto de exigência e rigor, pois só assim lhes permitirá a excelência do seu desempenho, através de percursos sustentáveis, alicerçados em conhecimentos sólidos e consequentemente cada vez mais longos.

Quando atribuirmos à Educação o papel central que ela tem no desenvolvimento económico, social e cultural, visível no médio/longo prazo, deixaremos de ter o enfoque, politicamente redutor, na necessidade de se discutir aumentar o ordenado mínimo, como condição para retirar da pobreza aqueles que trabalhando, por si só, não o conseguem fazer.

Quando atribuirmos valor social à Educação, por força do aumento da preparação educativa e formativa dos nossos recursos humanos, aumentará a produtividade e a captação de investimento socialmente reprodutivo e com isso aumentarão os salários.

Não só o salário mínimo, mas também os restantes salários e consequentemente o salário médio. E com o aumento do salário médio os jovens e as suas famílias sentirão a importância da sua aposta na Educação.

Sem a valorização da Educação não teremos o desenvolvimento social que pretendemos. Continuaremos a ter nas nossas preocupações o aumento do salário mínimo nacional, pelas razões anteriormente apontadas, e continuaremos a desvalorizar a educação, enquanto elevador social, pela degradação do salário médio nacional.

Não importa falar do aumento de salários sem aumentar a produtividade. E não se consegue aumentar a produtividade sem recursos humanos qualificados através da Educação e da Formação.

Temos de estancar a lentidão do nosso desenvolvimento. Não podemos falar de progresso, ou da falta dele, tendo em conta apenas indicadores internos. É urgente que analisemos os nossos resultados em comparação com os resultados dos países da União Europeia. E refletir, sobre as razões pelas quais temos vindo a ser ultrapassados sucessivamente por países que no passado registavam menor desempenho económico que nós, assim como refletir também sobre as razões que levam a que simultaneamente aumentemos o fosso para com os países que sempre apresentaram melhores desempenhos que nós.

Temos de pensar nas causas que nos têm conduzido até aqui. E combatê-las.

Em artigos anteriores tenho preconizado, como primeiro passo, a necessidade de um pacto de regime para a Educação. Se este pacto sempre foi pertinente, afigura-se cada vez mais urgente. A Educação e as suas repercussões no desenvolvimento económico do nosso país, e consequentemente na qualidade de vida dos seus cidadãos, vão muito para além das questões ideológicas.

A Educação é uma questão de Estado e compete aos decisores políticos que assim seja.

João Casanova de Almeida

Fonte: Observador por indicação de Livresco

sábado, 29 de janeiro de 2022

Quanto tempo uma pessoa demora para aprender a ler?

 Algumas crianças começam a decifrar as primeiras palavras por volta dos 5 anos, enquanto outras ainda estão aprendendo as letras e só vão começar a ler tempos depois, por volta dos 7 anos de idade.

Qual a maneira mais fácil de aprender a ler?

Como ler mais rápido?
  1. Concentre-se apenas na leitura. ...
  2. Tenha uma postura adequada. ...
  3. Leia um livro de cada vez. ...
  4. Não releia trechos. ...
  5. Leia grupo de palavras. ...
  6. Pesquise antes sobre o conteúdo a ser lido. ...
  7. Não pronuncie as palavras. ...
  8. Utilize um dicionário.

É normal aprender a ler com 3 anos?

Aprender a ler com três anos é possível, porém, não é tão comum. No momento em que a criança estiver no ambiente escolar para "aprender a ler" talvez seu interesse fique debilitado e sem prazer. ... A pedagoga responde a algumas perguntas que podem ajudar as famílias que descobrem que suas crianças têm essa habilidade.

Como ensinar meu filho de 7 anos a ler?

Como ajudar a criança a aprender a ler
  1. A música é um instrumento incrível para ajudar as crianças a se desenvolverem já antes de elas começarem a falar. ...
  2. Outra sugestão é ler histórias infantis para a criança, pois estimulam a imaginação e a vontade de aprender sobre o que está sendo lido.

O que acontece com o cérebro de uma pessoa que aprende a ler?

No caso da leitura, o cérebro ativa a área visual e a área destinada à linguagem. ... Ou seja, um efeito colateral de aprender a ler é uma piora no reconhecimento de faces. Por isso, ao ver uma palavra, um analfabeto só ativa a área visual do cérebro, enquanto uma pessoa alfabetizada ativa a área ligada à linguagem.

Dificuldade com o aprendizado . Você sabe o que é Dislexia ?

26 questões relacionadas encontradas

Como acontece a leitura no cérebro?

Neurocientistas do Hospital Sarah, de Brasília, e do Centro Neurospin, de Paris, descobriram que o cérebro junta as regiões da linguagem e da visão para proporcionar a leitura. O neurocientista francês Stanislas Dehaene afirma que o lado esquerdo do cérebro é ativado durante a leitura, precisamente atrás da orelha.

Como o cérebro consegue ler?

“Desde a nossa formação, o cérebro é uma máquina de aprender. ... Esse reconhecimento é uma propriedade do cérebro e funciona com qualquer idioma, desde que seja conhecido pelo indivíduo (sim, se você também fala inglês, por exemplo, conseguirá ler uma frase no idioma mesmo que todas as letras estejam embaralhadas).

Qual o primeiro passo para ensinar a ler?

Como ensinar meu filho a ler? Veja dicas e truques simples
  1. Ensine a diferença entre letras, desenhos e símbolos. ...
  2. Comece com as vogais. ...
  3. Apresente o alfabeto. ...
  4. Mostre a ordem da leitura. ...
  5. Incentive a leitura em todo lugar. ...
  6. Estimule dentro de casa. ...
  7. Dê o exemplo. ...
  8. Use gibis, livrinhos e jogos para ajudar.

O que uma criança de 7 anos já deve saber?

Comportamento cognitivo

Aos sete anos, a criança já consegue se concentrar por mais tempo em uma única tarefa. Você pode passar instruções ou tarefas mais detalhadas. Nesta idade, a criança já consegue acompanhar. A criança vai adorar compartilhar o que aprendeu na escola com você.

O que ensinar na educação infantil 7 anos?

Conheça as etapas da aprendizagem infantil dos 1 aos 7 anos
  • Atividades educativas nessa fase incluem toda a sorte de estímulo aos sentidos, como visão, tato, paladar. ...
  • Aqui, a criança aprende a manejar objetos e a se inserir na rotina do lar, isso engloba sentar-se à mesa, conversar, escovar os dentes e se vestir.

Qual a idade certa para a criança ser alfabetizada?

Pesquisas neurocientíficas apontam que aos 6 anos de idade a criança já pode ser incluída no processo sistemático de alfabetização, no entanto, o caminho utilizado para alfabetizar pode ser iniciado bem antes, aos 2 anos de idade.

Qual a idade ideal para começar a alfabetização?

Na alfabetização, cada criança tem o seu próprio ritmo, leitura e escrita podem começar tanto aos 4 quanto aos 7 anos. Entra nessa variável o estímulo recebido pelos pais. Os neuropediatras dizem que o período para se alfabetizar não é fixo, vai dos 4 aos 7 anos, dependendo do desenvolvimento cerebral da criança.

Qual a forma mais rápida de ensinar uma criança a ler?

5 maneiras de ensinar as crianças a ler com mais fluência e rapidez
  1. 1 – Pratique com a leitura modelo. ...
  2. 2 – Recorra as leituras com cronômetro. ...
  3. 3 – Organize as sessões de leitura em voz alta. ...
  4. 4 – Incentive-as a reler seus livros favoritos. ...
  5. 5 – Leia para elas todas as noites antes de dormir.

Como absorver o que se lê?

9 Dicas de como absorver o máximo de conhecimento dos livros
  1. 1 – Entenda que ler também é lazer. ...
  2. 2 – Reflita sobre aquilo que está lendo. ...
  3. 3 – Investigue o livro antes da leitura. ...
  4. 4 – A marca das 50 páginas. ...
  5. 5 – Marque seus livros, questione. ...
  6. 6 – Faça perguntas. ...
  7. 7 – Tenha um caderno de notas.

Como ler e entender o que está lendo?

Para uma correta compreensão e interpretação do texto, siga os seguintes passos:
  1. 1) Leia lentamente o texto todo. ...
  2. 2) Releia o texto quantas vezes forem necessárias. ...
  3. 3) Sublinhe as ideias mais importantes. ...
  4. 4) Separe fatos de opiniões. ...
  5. 5) Retorne ao texto sempre que necessário. ...
  6. 6) Reescreva o conteúdo lido.

O que uma criança de 7 anos faz sozinha?

Pode atravessar a rua sozinha, deve fazer o dever de casa sem supervisão, resolver seus próprios conflitos sem a supervisão do adulto, ajudar na arrumação da casa, etc.

Qual a maneira mais fácil de alfabetizar?

Para isso, quatro principais orientações devem ser seguidas para que a alfabetização seja mais rápida e efetiva.
  1. Evite comparações. Respeite o tempo de desenvolvimento da criança, afinal, cada uma tem o seu. ...
  2. Crie o hábito da leitura. ...
  3. Tenha uma lousa. ...
  4. Compre um caderno de caligrafia.

Como nosso cérebro consegue ler palavras embaralhadas?

Por que conseguimos ler frases mesmo quando as letras estão embaralhadas? ... Da mesma forma acontece com as palavras escritas: mesmo que as letras estejam fora de ordem, conseguimos entender o recado. Não apenas nosso cérebro decifra a palavra embaralhada como consegue “premeditar” a palavra que vem na sequência.

Como o cérebro entende as palavras?

Quando lemos um texto, o cérebro visualiza as palavras, reconhecendo cada uma como uma imagem individual. Assim, nossos neurônios são treinados para reconhecer as palavras inteiras e não apenas parte delas. Por isso, mesmo que uma palavra tenha erro ortográfico, conseguimos compreendê-la.

Como ler sem repetir na mente?

Em minha caminhada por uma relação melhor com a leitura, essas são as 3 maneiras mais efetivas que encontrei de dominar a voz mental:
  1. Reduza a ansiedade antes de ler. Quando não controlamos a voz mental, ela é um convite constante à divagação. ...
  2. Leia mais rápido. ...
  3. “Fale” algo em sua mente enquanto lê

Qual parte do cérebro é responsável pela leitura?

As experiências mostraram que uma região do lobo temporal esquerdo do cérebro é fundamental para a leitura. Os estudos foram realizados por pesquisadores do Instituto Nacional da Saúde e Pesquisa Médica.

Porque não alfabetizar antes dos 7 anos?

Hoje, as crianças que não aprendem a ler precocemente, são, muitas vezes rotuladas como se apresentassem atrasos em seu desenvolvimento. Isso pode levar a diagnósticos errados de dificuldades de aprendizagem e até mesmo transtornos do neurodesenvolvimento.

É possível alfabetizar em dois anos?

"Com planejamento, formação de qualidade para os professores e as condições adequadas, é possível, sim, alfabetizar em dois anos", diz ela. Estratégias para garantir que todos aprenderão a ler e escrever até o 2º ano.

Como alfabetizar bebê de 2 anos?

Utiliza pelo menos 2 palavras para expressar uma ideia. Por exemplo, se tem fome, fala “quero papá”. Mesmo não tendo pronúncia correta, sua linguagem pouco a pouco vai se desenvolvendo e ao redor dos 2 anos pode falar frases de até 3 palavras, além de cumprir, simultaneamente, até 3 ordens simples.

O que trabalhar com criança de 7 anos?

10 top brincadeiras para crianças de 6 e 7 anos
  • 01 – Pintura com stencil. ...
  • 02 – Arte de fogos de artifício. ...
  • 03 – Mágica do canudo. ...
  • 04 – Corrida do barquinho. ...
  • 05 – Jogo da velha. ...
  • 06 – Origami. ...
  • 07 – Colorir o cabelo do careca. ...
  • 08 – Tapete do avesso.
Fonte: Todas as Respostas por indicação de Livresco

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Cadeira de esqui adaptado foi utilizada pela primeira vez na Serra da Estrela

Uma cadeira adaptada que permite a pessoas com deficiência e mobilidade reduzida fazerem esqui foi utilizada esta quarta-feira pela primeira vez em Portugal, na Estância de Ski da Serra da Estrela.

A utilização do equipamento é gratuita, mediante marcação, e inclui o acompanhamento de um dos monitores da Estância de Esqui ou da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP), que receberam formação para o efeito.

O presidente da FDIP, Pedro Farromba, considerou ter sido dado “o primeiro passo” para que mais gente possa começar a praticar desportos de Inverno em Portugal, “independentemente de ser em competição ou em lazer”. “É um primeiro passo para podermos ter mais pessoas a praticar”, sublinhou o dirigente federativo. “Foi um dia emotivo para todos, conseguirmos dar este primeiro passo, que era tão desejado”, acrescentou Pedro Farromba.

O presidente da FDIP acentuou a “ligação próxima” ao Comité Paralímpico, o apoio ao atleta Pedro Herdeiro, no snowboard adaptado, que se encontra numa competição internacional com as cores lusas, e manifestou o desejo de aparecerem mais desportistas nas modalidades adaptadas praticadas na neve e no gelo.

“Gostávamos muito que aparecesse um Pedro Herdeiro no esqui adaptado”, frisou Pedro Farromba, segundo o qual existem condições na Estância da Serra da Estrela, “em termos de inclinações e de declive”, que tornam possível a organização de competições de desporto adaptado, mas realçou ter de ser percorrido um caminho na procura de atletas e na sua formação.

O dirigente acentuou o simbolismo do momento e destacou a importância do equipamento, “para que as pessoas possam perceber que o esqui e os desportos de Inverno são adaptados a toda a gente, independentemente da sua condição física”.

Sandro Carvalho, de Vila Franca de Xira, nunca tinha visto neve e foi surpreendido esta quarta-feira, quando completou 42 anos, com a possibilidade de deslizar na neve de cultura que tem sido produzida e permitiu abrir cinco pistas. O entusiasmo rapidamente fez esquecer o frio e quando o monitor Diogo explicava ao antigo pára-quedista como a cadeira se ia comportar e como devia reagir nas inclinações, Sandro Carvalho apressou-se a comparar: “Então, é como andar à pendura de moto”.

A primeira descida foi feita em ritmo lento, a dar indicações a Sandro, que “queria mais adrenalina”, e na volta seguinte ambos serpentearam pela neve com maior agilidade e velocidade.

Sandro Carvalho, que há 20 anos ficou paraplégico, num acidente de viação, nunca tinha imaginado a possibilidade de fazer esqui, mas só pensa “em voltar” e já se imagina a utilizar a cadeira sozinho no futuro, depois de a mulher ter contactado a Estância para saber se a Torre tinha condições de mobilidade e de lhe terem preparado “um dos melhores presentes de aniversário” que já recebeu.

“Hoje é o início de uma nova actividade e o objectivo é no futuro termos mais cadeiras. Se houver procura, estamos cá para isso”, referiu, em declarações à agência Lusa, o director da Estância da Serra da Estrela, Carlos Varandas.

Segundo o responsável, apenas a zona das telecadeiras, onde de momento não existe neve, não está preparada para a utilização da cadeira de esqui adaptado, mas garantiu que assim que haja neve suficiente para o efeito serão feitos os testes para modificar a altura do solo ao utilizador com mobilidade reduzida.

O equipamento representou um investimento de seis mil euros e foi oferecido à FDIP pela Fundação do Desporto no final de 2019, mas “por causa das contingências da covid-19 não tinha sido possível pôr em prática uma aula como hoje”, justificou Pedro Farromba.

A cadeira tem amortecedores que permitem mudar de direcção com a flexibilidade do corpo e é possível a utilização por pessoas de diferentes compleições físicas e para diferentes graus de deficiência.

Fonte: Público

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Saúde Psicológica e Bem-estar | Observatório Escolar

Na continuidade do trabalho do Grupo de Especialistas criado no âmbito do Despacho n.º 3866/2021, com a missão de apresentar recomendações para a definição do plano do Governo, e do qual resultou o Relatório “Apoio ao desenvolvimento das aprendizagens e ao desenvolvimento socioemocional e do bem-estar durante e pós-pandemia”, apresenta-se o estudo “Saúde Psicológica e Bem-estar | Observatório Escolar”. Com foco na recolha e monitorização de indicadores de saúde psicológica e bem-estar das crianças e adolescentes, este estudo permitirá o desenho de propostas de intervenção diferenciadas, em função das diferentes necessidades identificadas.

Num trabalho de parceria entre a Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, Direção-Geral da Educação, Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, Equipa Aventura Social/ ISAMB, Universidade de Lisboa, Ordem dos Psicólogos Portugueses e Fundação Calouste Gulbenkian, este estudo conta com a coordenação científica da Professora Doutora Margarida Gaspar de Matos (Equipa Aventura Social/ ISAMB, Universidade de Lisboa).

A desenvolver durante o presente ano civil, mas com perspetivas de continuidade, este trabalho tem definidos os seguintes objetivos gerais:
  • conhecer o panorama da saúde psicológica e bem-estar das crianças e adolescentes em idade escolar (pré-escolar (5 anos) ao 12.º ano);
  • conhecer o panorama da saúde psicológica e bem-estar dos seus docentes/ educadores, como indicador geral do bem-estar do Ecossistema Escolar;
  • elaborar propostas de recomendação de intervenção promotoras de melhor saúde psicológica e bem-estar, com base nos resultados obtidos por grupos etários e por região geográfica;
  • apoiar na implementação dessas recomendações;
  • avaliar o resultado das medidas tomadas;
  • e elaborar recomendações finais para a promoção do bem-estar nos Ecossistemas Escolares.
Com dois momentos distintos de recolha de dados (o primeiro a ocorrer já no mês de fevereiro), para analisar os efeitos da implementação das recomendações nas instituições de ensino, e das medidas adotadas, este trabalho prevê a produção de dois relatórios, a par da realização de um webinar final, com vista à discussão dos resultados, impactos e planos estratégicos para o futuro.

Fonte: DGE

Depressão e suicídio adolescente: é crucial “ter tempo e estar atento”, defendem especialistas

O estudo “Os jovens em Portugal, hoje: quem são, o que pensam e o que sentem”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, publicado em Novembro passado, dava conta que 23% dos jovens já tiveram pensamentos ou actos suicidas e 26% toma ou já tomou antidepressivos. Como podem os adultos estar atentos e apoiar os mais novos? Tendo tempo e disponibilidade para ouvir, sem desvalorizar, respondem os especialistas em psiquiatria e psicologia, em mais uma edição da Conversa Ímpar, nesta quarta-feira.

Os dados do estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos são referentes a Junho de 2020, três meses depois da pandemia de covid-19 ter chegado a Portugal e alterado as rotinas de todos, incluindo os jovens. O presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Miguel Ricou, diz não gostar de generalizações, mas admite que se a investigação fosse realizada hoje os dados seriam piores. “É evidente que a pandemia não veio ajudar ninguém em termos de saúde mental”, reconhece o psicólogo.

Estes tempos terão sido sobretudo duros para os adolescentes que “sentem estar a perder estes anos”, assinala, por sua vez, a directora do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Centro Hospitalar Universitário da Cova da Beira, Paula Cristina Correia. Em consulta, relata a pedopsiquiatra, os jovens referem que estão mais ansiosos, com dificuldade nas relações com os outros, angustiados com o futuro e, frequentemente, com sintomas depressivos.

Tânia Gaspar corrobora o cenário descrito por Paula Cristina Correia: “Ser adolescente na covid é mesmo muito chato.” No estudo da Organização Mundial da Saúde Health Behaviour in School-aged Children, coordenado por Margarida Gaspar de Matos e do qual Tânia Gaspar faz parte da equipa, em Junho de 2021, 30% dos adolescentes dizia apresentar sintomas depressivos, como tristeza, isolamento e falta de motivação. Cerca de 18% reconhecia ter comportamentos lesivos para consigo próprio.

A tristeza é uma emoção natural, avisa o psicólogo Miguel Ricou, mas deverá tornar-se preocupante quando “o foco se começa a deslocar da causa que lhe deu origem e começa a focar-se na nossa existência” — é nesses casos que poderá ser diagnosticada uma depressão. “Na infância e adolescência, a tristeza pode assumir sintomas heterogéneos”, destaca o psicólogo. Por isso, cabe aos pais “manter os canais em aberto”, aconselha, abrindo espaço para que, quando algo não estiver bem, os filhos se sintam à vontade para partilhar.

Ainda que, por vezes, nem sempre pareça assim, o professor universitário lembra que os jovens valorizam quando os pais se preocupam. “Gostam que os pais queiram ver os trabalhos da escola, saber onde andam, tentem compreender os seus problemas e oiçam as suas opiniões”, acredita, sublinhando que os filhos apreciam quando o pai e a mãe os “ajudem a tomar decisões importantes”. Miguel Ricou exorta a que não se pense que protegemos demasiado os jovens e relembra que “o amor é uma condição fundamental da educação”.

Permitir a expressão de sentimentos

Paula Cristina Correia pede duas coisas aos pais: “Ter tempo e estar atento.” A pedopsiquiatra salienta que é natural “existirem períodos mais eufóricos e períodos de maior tristeza” e os pais devem preocupar-se quando “não há esta alternância”. Se o adolescente ou criança também perdeu a vontade de fazer alguma actividade que anteriormente lhe dava prazer, tal também deverá ser um sinal de alarme.

E quando confrontados com os sinais de alarme, os pais não devem ter medo de fazer perguntas, sublinha a especialista. Se uma criança verbalizar o desejo de morrer é bom sinal, na opinião de Miguel Ricou, já que demonstra um à-vontade com os pais para expressar o que sente. “É importante permitir que expressem estes sentimentos”, completa Paula Cristina Correia. Depois, deve ser encorajada a procura de ajuda, quer seja através do médico de família, do psicólogo, do psiquiatra ou mesmo recorrendo a linhas de apoio.

Neste âmbito, Tânia Gaspar defende que a saúde mental dos que rodeiam os mais novos é crucial: “Se os nossos adultos tiverem melhor saúde mental, as nossas crianças também vão ter.” Em família é importante, na opinião da especialista, promover actividades de bem-estar, que façam todos sentir-se bem, sem descurar as amizades. “Pior do que ter amigos menos bons é não ter amigos”, refere a psicóloga, citando estudos.

Com os amigos, “há sempre alternativas”, lembra Paula Cristina Correia. “Duas cabeças pensam sempre melhor.” E se houver algum tema que não consiga falar com amigos ou familiares, como a culpa ou os segredos que muitos carregam, procure a ajuda de um profissional, apela Miguel Ricou. Tânia Gaspar conclui com uma proposta, para que se dê voz aos jovens: “Quando estão confortáveis para falar, o resultado é espectacular.”

Fonte: Público

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

As lutas diárias de pais surdos e filhos ouvintes

os dez anos de idade “meteu pés ao caminho” e resolveu o problema que a mãe tinha no trabalho, que a poderia levar a ficar desempregada. Aos 12, seguiu porta a porta a cobrar dívidas do negócio do pai. Não pagavam o devido “por ser surdo e não poder defender-se ou por haver falha de comunicação?”. A questão mantém-se. A reflexão é feita agora, à distância de mais de 30 anos. Traduzia conversas dentro da própria família. Ia às Finanças ou ao banco. “Comecei a servir de ‘mini-intérprete’.”

Abel Moreira, sempre ligado à carpintaria, e Maria Oliveira, que saltitou entre diversas ocupações, estão atualmente na casa dos 60 anos. São os pais de Marisa Moreira e reconhecem o papel preponderante da filha primogénita nas responsabilidades familiares. Mas preferem olhar para o processo de integração no bilinguismo que, diz o pai, “foi natural, inato e intuitivo”. “Cada dia aprendia um novo gesto, pois a única forma de comunicação entre nós era a Língua Gestual.” A oralidade despontou com a família alargada, com a escola e, posteriormente, com a convivência diária com os irmãos.

Dos pais herdou a língua gestual, da sociedade recebeu a linguagem oral e escrita. O bilinguismo é a realidade dos chamados CoDA, sigla inglesa de Children of Deaf Adults. São crianças ouvintes filhas de pais surdos. Para Marisa Moreira, que passou a infância em Bragança, onde a ajuda escasseava para todos, ainda mais para quem era visto como diferente, as responsabilidades precoces foram “o normal”. “É sermos filhos e ao mesmo tempo pais.” Além disso, recorda a discriminação. “Só por verem os meus pais gestualizarem, diziam ‘olhem os mudos’ e a mim apontavam ‘olha a muda’.”

Este podia ser um excerto da narrativa do filme “CoDA”, de 2021, produzido por Sian Heder. Na ficção, Ruby é uma jovem ouvinte com os pais e o irmão mais velho surdos. Mas as histórias relatadas, ainda que semelhantes, não apareceram no grande ecrã, foram a realidade de Marisa Moreira durante os anos em que era suposto ter sido criança.
Intérprete. Ser ou não ser?

“Sempre foi um bichinho que pensei seguir.” Aos 18 anos, Marisa Moreira saiu de casa e foi tirar o curso superior de Ensino Básico. Ainda não sabia que ser intérprete era uma profissão com estudos próprios. Quando descobriu, pediu transferência para a Universidade do Porto. “A maioria dos CoDA segue a profissão de intérprete pela ligação emocional e por saber as dificuldades que esta comunidade tem, para poder ajudar.”

A Associação de Tradutores e Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ATILGP) confirma que, apesar de não haver números centralizados, há tendência de filhos ouvintes de pais surdos seguirem a profissão de intérprete, tal como sugere o exemplo de Marisa Moreira e alguma bibliografia académica. Sofia Aroso, mãe de dois CoDA, não quer pensar nisso. “Não planeamos o futuro deles. Gostava que percebessem Língua Gestual para poderem comunicar connosco, mas não penso se serão intérpretes, como não imagino se serão médicos ou advogados.”Marisa Moreira é intérprete de Língua Gestual Portuguesa e um dos atuais trabalhos de tradução decorre na missa de domingo da Basílica dos Congregados, em Braga

É a casa dos Aroso e Marques, em Leça do Balio (Matosinhos), dizem-no as placas e fotografias penduradas sobre a lareira. Diogo, com sete anos de idade, definiu cedo o caminho no crescimento bilingue. Não gosta da LGP e, apesar de não saber o que quer ser, intérprete não é opção. Para já, prefere percorrer a sala de estar num triciclo de madeira que lembra o tempo dos avós. Apesar da inquietude e de não gostar de gestualizar, o pequeno não mostra vergonha dos pais, estando sempre pronto a qualquer resposta. No início da conversa, esclarece: “A minha mãe é surda desde nascença, o meu pai teve uma doença e ficou surdo, eu andei na creche e a pandemia começou quando eu entrei para o primeiro ano”. Só faltou contar que há também uma irmã, Mariana, que completará três anos em fevereiro. Das suas mãos, nem um gesto avistado.

“Não impomos que a primeira língua seja a gestual, ele não gosta. É verdade ou mentira, Diogo?”. A pergunta é feita gestualmente, mas a resposta chega vocalizada e confirma o que a mãe conta de seguida. “Ele sabe LGP e falamos sempre assim com ele, mas para nós ele oraliza. Talvez por termos facilidade de entender e oralizarmos um pouco, o que o leva a ser preguiçoso na utilização da Língua Gestual.” A mãe é Sofia Aroso, tem 36 anos e é licenciada em arquitetura, profissão que ainda não praticou profissionalmente, mas que se deteta pela decoração moderna da habitação. O pai, de 39 anos, chama-se Jorge Marques e trabalha em reparações informáticas. Apresentam-se com gestos entusiasmados por poderem contar a sua história na sua língua, a LGP. Já os filhos, afiançam, a língua materna deles é a portuguesa.

A bebé, apesar da pouca idade, pede atenção com os braços no ar. O movimento é óbvio, quer o colo da mãe. Pelo meio, a cadela, Nutella, quer também o protagonismo, mas depressa compreende o gesto de Jorge, que a manda deitar. “A Mariana ainda não consegue comunicar em língua gestual. Faz alguns gestos, como pedir comida ou dizer balão, mas não são perfeitos.” Sofia Aroso chama a atenção da pequena e gestualiza, dedo deslizando sobre a face, “olha a menina, que bonita, está a conversar com a mãe”. A criança de dois anos pára e atenta. Percebeu. “O Diogo aprendeu a comunicação gestual com a mesma idade.”

Para Diogo e Mariana, a oralidade foi introduzida maioritariamente por família e amigos. Para desenvolver a fala, são depois imprescindíveis a creche e a escola. Apesar de falar em “naturalidade”, Sofia Aroso mostra alguma preocupação. “Acho que os pais serem surdos pode influenciar um pouco o desenvolvimento escolar, mas estamos atentos e acho que não está a acontecer.” O pai, Jorge Marques, lembra que o caso é particular. A pandemia misturou-se com o facto de serem filhos CoDA e, neste momento, não conseguem distinguir se estas são consequências pandémicas.

A campainha que dá luz

Mais a norte, na Trofa, encontra-se outra família que partilha tanto da naturalidade como das preocupações de serem pais surdos e filhos ouvintes. “Evoluem na oralidade por causa do infantário, da escola e da família”, resume Ângelo Costa. A Língua Gestual é igualmente natural. “Em bebés, nós gestualizávamos e eles aprendiam.” Aos 47 anos, o professor de LGP é pai de dois rapazes – Pedro, de 14 anos, e Telmo, de 11. A mulher, de nome Carla Costa, também surda desde nascença, apresenta-se prontamente com o nome gestual: o dedo indicador desenha no ar um caracol abaixo da face. A mulher, natural de Cabeceiras de Basto, explica que todos o têm, é uma forma de identificar as pessoas, através de um gesto que marque uma caraterística particular de cada um, sem a necessidade de soletrar cada letra.

Quando chegou a hora de planear uma família, não havia dúvidas que os impedisse. O único receio, conta Ângelo Costa, era ter um filho cego ou com algum problema que impedisse a fala visual, o único meio de comunicação do casal. A receção, feita pelo pai, a casa, ainda com apontamentos da quadra natalícia, e a família, sentada junto ao sofá, são como qualquer outra. A televisão está nas notícias do dia. Entre respostas trocam impressões com gestos que denunciam que estão a pedir confirmação. “É como estou a dizer, não é?”, certifica-se o pai junto dos mais pequenos. Aqui, só a campainha indica alguma diferença – é visível e não audível. As luzes de teto da sala de estar começam a piscar e é sinal de que Ângelo Costa tem mais um convidado para receber à porta.Carla Costa, trabalhadora fabril, e Ângelo Costa, professor de LGP, são surdos. Os filhos, Telmo e Pedro, são considerados CoDA (Children of Deaf Adults)

Para o filho mais velho da família Costa, a LGP é a língua materna. “Aprendi primeiro do que a portuguesa.” O irmão, Telmo, abana timidamente a cabeça para corroborar. Entre conversas, trocam gestos ao mesmo tempo que oralizam. Os pais compreendem a situação e impor a comunicação gestual nunca foi opção. Carla Costa esclarece que, para os filhos, são só vantagens. “Eles percebem tudo o que dizemos. Já eu às vezes estou a vê-los falar com amigos e não percebo nada. E eles às vezes não querem contar.” Todos riem.

Os pais recusam colocar responsabilidade sobre os filhos. “Eu e a Carla sempre fomos surdos e a sociedade é ouvinte. Sempre nos desenrascamos. Queríamos apenas ter uma família e o objetivo nunca foi dar-lhes trabalho.” O adolescente Pedro Costa segue-se aos gestos do pai e garante que não sente qualquer diferença face aos colegas. “Só tenho vantagens.”

A nível social, Ana Machado da Cunha, Interna de Pediatria no Hospital de Braga, alerta para situações em que as crianças são “obrigadas a crescer demasiado cedo, por terem de servir como intérpretes para os pais”. Quanto à componente educativa, a opinião médica recai no resumo das famílias: o processo é natural. “Na escola, muitas vezes, o que se nota é um atraso no desenvolvimento da leitura ou na articulação de certos verbos, por falta desse estímulo e correção dos pais no dia a dia.” Sinais destes atrasos ou de exaustão levam a escola a ter um papel importante na identificação de casos em que há necessidade de intervenção. “Também o médico de família deve estar alerta.”

No entanto, em grande parte dos casos atuais “nem notam que haja um atraso na linguagem oral, porque desenvolvem as duas em simultâneo – são bilingue”, diz a médica pediatra. Mesmo quando a naturalidade não acontece, Ana Machado da Cunha acredita que são falhas facilmente colmatadas. “Cinco a dez horas semanais de convivência com outras pessoas ouvintes é suficiente para desenvolver uma linguagem oral correta.” Padrões fáceis de atingir até com a televisão, colmata.

Barreiras desde a escola

Tão simples como aprender qualquer outra língua é a explicação de Sofia Aroso para a necessidade de a LGP existir como disciplina opcional. “Não só para filhos como os meus, mas para toda a comunidade ouvinte. Para, caso se encontrem com um surdo, haja o mínimo de comunicação.” Para os CoDA, ter acesso à Língua Gestual no âmbito curricular seria vantajoso. “Por crescerem numa realidade com pouca ou nenhuma oralidade”, Armando Baltazar, fundador e atual assessor da direção da Associação de Surdos do Porto, destaca a possibilidade de haver atrasos na oralidade e na escrita. A instituição foca a grande dificuldade das famílias com situações CoDA no âmbito educativo, e a sinalização destes casos e a integração apropriada são caminhos ainda pouco explorados.

A LGP é considerada disciplina apenas para alunos surdos, referenciados para a educação bilingue. Entre associações e partidos políticos, foram várias as propostas de reforço da LGP junto da comunidade de alunos ouvintes, mas, para já, tornar a língua uma opção curricular é uma luta que se trava sem sucesso. O Ministério da Educação, questionado pela “Notícias Magazine”, realça a importância da LGP para as crianças surdas – para essas, já inserida num programa curricular próprio. No entanto, não esclarece porque é que esta língua não é ainda acessível aos alunos ouvintes como disciplina opcional nos restantes programas educacionais. A professora de Educação Especial Luísa Campos questiona: “Se há outras línguas internacionais, porque não existe uma língua que é nossa?” “Os CoDA são uma minoria dentro de outra minoria”, começa por reforçar a docente especializada em surdez, o que determina a falta de referenciação dos casos de CoDA “para uma intervenção atempada e precoce”. Acredita que quando são sinalizados atrasos no desenvolvimento, “são intervencionadas como se fossem portadores de uma deficiência, que não têm”. Por consequência, realça, “poderão ser alvo de medidas que não são adequadas à situação”.

Por isso, a profissional do Agrupamento de Escolas Dona Maria II, em Braga, parte integrante da rede de escolas de referência para a Educação Bilingue (instituições preparadas para a educação de alunos surdos), considera que faz falta um contingente especial que permita a uma família surda com um filho ouvinte pedir acesso excecional a uma escola de referência, onde a criança terá acesso à LGP. Ou seja, “uma família nesta situação que queira matricular o filho numa das nossas escolas poderá sensibilizar a direção a título pessoal, mas não há nenhuma legislação nem nenhum contingente. É um território por explorar”.

O Ministério relega a deteção e sinalização de CoDA para os “moldes previstos para todas as outras crianças/alunos que manifestem quaisquer características que as coloquem em desvantagem”, referindo o Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância e a Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva. Acrescenta ainda que filhos ouvintes de pais surdos devem, “fora do seu ambiente familiar, desenvolver a sua oralidade”, não considerando a LGP ou a integração na educação bilingue já existente como fundamental nesses casos.

As dificuldades estendem-se aos pais, por vezes privados de acompanhar o desenvolvimento escolar das crianças tanto quanto desejariam, nomeadamente nas reuniões com os professores. A situação de Sofia Aroso e Jorge Marques foi facilitada pelo facto de residirem num município (Matosinhos) onde a câmara disponibiliza intérprete. Apesar de agradecer o apoio, Sofia lembra que “é apenas um intérprete para uma cidade com muitos surdos”. Além disso, os formatos digitais de conversa em grupo, como o Zoom, não são tão acessíveis quanto parecem para os surdos. “Não conseguimos acompanhar a tradução e quem fala em simultâneo, por isso estava sempre a pedir uma reunião presencial.”

Já a situação da família Costa é mais complexa. “Na pré-escola foi muito difícil. A educadora enviava recados por escrito, mas eram resumos”, conta o pai. “Não havia intérprete para essas reuniões.” A alternativa passava por pagar o serviço de interpretação do próprio bolso. Como a lei não prevê que os filhos possam estudar numa Escola de Referência para a Educação Bilingue, o que, na opinião de Ângelo Costa, “seria o ideal”, a situação manter-se-ia até aos dias de hoje. A solução foi mudar para uma escola com mais facilidade de acesso a um intérprete. Residentes na Trofa, os filhos Pedro e Telmo estudam em Matosinhos. O professor de LGP garante que o concelho onde moram não é caso único, “há vários municípios em que ainda não há apoio de intérprete”. Ângelo sublinha que não se trata de um capricho, mas de um direito. “Os filhos são meus, quero ser eu a acompanhá-los e a ir às reuniões. Não peço nada de extraordinário.”

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Educação para a Cidadania. Afinal a disciplina é ou não é importante?

A disciplina de Educação para a Cidadania e a chamada ideologia de género têm estado debaixo de fogo e até foram tema nos debates políticos entre os candidatos às eleições legislativas no próximo dia 30 de janeiro. O Nascer do Sol noticiou, a 8 do presente mês, que a Associação de advogados SaIL levou a cabo uma ação judicial contra o Estado com o intuito de remover todos os conteúdos ideológicos da Educação. Em sentido inverso, as associações pró-LGBT consideram que não faz sentido. E que a disciplina de Educação para a Cidadania deve manter-se obrigatória.

Alerta para doenças mentais “Do ponto de vista da saúde mental, a invisibilidade e a ignorância ou a negação da existência de pessoas não-cisgénero e não-heterossexuais é promotora de stress minoritário, com impactos negativos de forma transversal – maior risco de depressão, ansiedade, comportamentos autolesivos e tentativas de suicídio na população LGBT”, alerta Rui Ferreira Carvalho, médico interno de psiquiatria da infância e adolescência, terapeuta sexual e ainda sexólogo clínico. E é também por isso que a disciplina de cidadania, no seu entender, “é importante” – não apenas para a educação para a sexualidade, mas para educação como um todo. “É crucial promover um currículo transversal, baseado na evidência, pedagógico, e aplicado de forma semelhante em todos os estabelecimentos de ensino”, defende. Os currículos escolares “devem ser adequados e integradores, contemplando a informação científica mais recente, incluindo a componente psicossocial”, conclui.


Missão em defesa da liberdade Criada em 2020 para estabelecer uma rede de advogados e profissionais de outras áreas, tendo como missão a defesa da liberdade, a SaIL apresentou uma ação no Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa exigindo que o Estado Português “seja intimado a remover todos os conteúdos que correspondam a uma programação da Educação segundo as diretrizes ideológicas da Teoria de Género”, lê-se num comunicado. Em causa estão os conteúdos educativos disponibilizados no site da Direção-Geral da Educação (DGE), como os ‘Guiões de Educação para a Cidadania’, que, “ignorando outras formas de ver a realidade”, pretendem “impor a tese de que o sexo biológico deve distinguir-se do género ou da identidade de género”. Algo que, segundo dizem os promotores da ação contra o Estado português, é entendido pelos defensores dessa ideologia como “mera construção social de caráter não binário” e “puramente dependente de uma opção subjetiva, que em nada deve ser afetada ou influenciada pelas características biológicas inatas”.

Cidadania não é só sexualidade Leopoldina Almeida, professora e coordenadora de Educação para a Cidadania do Agrupamento Escolar n.º 1 de Beja, considera “estranhíssimo” as pessoas e associações que se manifestaram contra a obrigatoriedade da disciplina e que se focam apenas na mesma temática: a sexualidade e a ideologia de género. “A disciplina de Educação para a Cidadania tem 16 domínios completamente diferentes, como Direitos Humanos, Igualdade de Género, Interculturalidade, Instituições e Participação Democrática. E a maior parte das alegações que eu vejo contra a disciplina só tem a ver com a questão de igualdade de género e da sexualidade. E estes temas são os menos tratados de todos os domínios. Acho que é uma obsessão”, diz ao i. “Quando olhamos de uma maneira para o tema estamos a ser ideológicos. E quando olhamos da maneira oposta não estamos?”, deixa a questão no ar para refexão. A docente conta que acha “ridículos” certos comentários que houve de que, com a disciplina, as escolas estão a tentar “incentivar as pessoas a serem homossexuais”. Leopoldina Almeida exorta que as matérias de direitos humanos não “se dão” – “trabalham-se”. As pessoas LGBT existem e, por isso, segundo diz, devem ser discutidas nas escolas.

Ação sem fundamento “Penso que a ação levada a cabo pelo SaIL não tem fundamento nenhum. A escola tem de ser ampla e inclusiva”, considera Manuela Ferreira, da Associação AMPLOS – uma associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género. “O conceito da ideologia de género apareceu nos anos 90 com a Igreja Católica, que queria – e quer – preservar a conceção que tem sobre o que é e o que tem de ser uma família. Mas essa é apenas uma visão da sociedade e não pode ser vista como uma verdade universal”, defende. E no que diz respeito à comunidade LGBT, Manuela Ferreira deixa claro: “As pessoas LBGT existem. Não podem ser apagadas da história. Indivíduos que levam a cabo este tipo de ações – como as da associação SaIL – têm a noção do quão mal estão a fazer a crianças que – por ouvirem este tipo de discursos – se sentem excluídas? Que ficam a pensar que são um erro de fabrico? Que ficam com medo de falar com os pais sobre o que sentem?”, continua. A AMPLOS considera, portanto, que é essencial falar sobre a identidade de género nas escolas, assim como é essencial a disciplina de Educação para a Cidadania. E tentar abafar a realidade desta comunidade, estimulando a negação destas pessoas, pode gerar “consequências muito graves” e, em muitos dos casos, “levam a doenças mentais e até mesmo ao suicídio”, diz Manuela Ferreira. “Estamos a falar de crianças e adolescentes. Estão-se a descobrir. Uma criança que não se sinta à vontade de falar com os pais, com os amigos, com os professores e pensam que elas próprias são um defeito é muito triste e doloroso para elas”, afirma. Por estes motivos, defende, a Educação para a Cidadania deve existir e tem de existir porque “a escola está, de facto, a formar cidadãos. E os cidadãos têm de respeitar as diferenças. E mais: olhar para a diferença como uma coisa boa e não como uma ameaça”, conclui.

E as ciências sociais? Também para Rita Paulos, diretora executiva da CasaQui – uma associação de solidariedade para a inclusão e bem-estar das pessoas LGBTI – a iniciativa do SaIl não tem nexo. “O que se pretende atualmente que seja transmitido na escola são factos científicos, sejam das ciências naturais ou das ciências sociais e humanas, e a apresentação da realidade tal como ela é”, começa por explicar. E a intenção que poderá haver de calar a diversidade “constitui em si uma posição ideológica limitadora sobre quem e o quê pode ser falado ou tem o direito a ser reconhecido”. Existe, portanto, “um juízo de valor degradante” de que existem temas “inferiores ou errados e que devem ser ocultados”. Mas para além disso, acarreta consigo um pressuposto de que “os jovens não sabem tomar decisões e posicionar-se perante a informação que recebem e que, portanto, essa informação deve ser escolhida e mediada por alguém para si. A história demonstra-nos que a falta de informação ou informação limitada sobre a realidade gera piores resultados do que a informação completa e decisões informadas daí derivadas”, defende Rita Paulos.

A ideologia de género A diretora da Casa Qui explica que “a ideologia de género em si não existe tal como descrita por quem criou o termo”. E deixa claro: “O género enquanto construção social com normas e papéis atribuídos de forma convencionada, em dada cultura, local e época, aos corpos das pessoas conforme a sua função na reprodução humana é um facto das ciências sociais humanas, como bem nos demonstrou a antropóloga Margaret Mead e outras pessoas na investigação científica posteriormente”. Mas quando se fala em Ideologia de Género, na verdade existem duas ideologias: aquela que cunhou o nome do termo, “ideologia de género”, e que “pretende ocultar a realidade e a existência da diversidade, com um pressuposto latente de que existe uma forma superior, única e correta de ser-se fêmea e macho e de relações entre estes dois corpos” e outra que, por outro lado, “que pretende que as pessoas possam ser elas próprias, independentemente das suas características sexuais, e que reconhece a ampla diversidade existente nas pessoas, inclusive em características essenciais para a sua felicidade e bem-estar como os afetos e a sexualidade, referindo-me aqui à orientação sexual, ou a liberdade de expressão da sua maneira de ser independentemente do corpo com que nasceram” – e que implica sejam oferecidas às pessoas de forma isenta, sem condicionamentos, as mesmas oportunidades de desenvolvimento das suas características, talentos ou gostos, como determinados tipos de brincadeiras ou vocações. Não o fazer, continua Rita Paulos, implica que “uma série de pessoas, por causa da sua genitália, se vejam frequentemente limitadas no desenvolvimento de competências em áreas dos estudos académicos, da esfera profissional, doméstica ou do lazer para as quais, dadas as suas características individuais, naturalmente iriam florescer”. E isto leva a uma “imposição” de normas e de papéis de género. Dito isto, sabendo-se então que existe esta construção social, é verdade admitir que em cada época, local e cultura existe uma “ideologia de género” tendencialmente dominante. Mas alerta: “Ironicamente, quem usa o termo ideologia de género para se referir à promoção da igualdade de género, de forma depreciativa, é justamente quem promove então a ideologia de género ainda dominante e tenta evitar que esta ideologia dominante seja substituída por uma ideologia sem restrições, regras e imposições às pessoas conforme o corpo com que nasceram”.

Disciplina é importante A explicação da diretora da Casa Qui serve para fundamentar o peso da disciplina de Educação para a Cidadania, que tem um papel “absolutamente importante”. Se concordarmos com uma democracia participativa, diz, e com a promoção dos direitos humanos, então é essencial “receber toda a informação e instrumentos necessários para o exercício da cidadania plena e informada e, acima de tudo, promotora do respeito, do diálogo e do reconhecimento e valorização da diversidade, sem noções de fórmulas únicas ou superiores em características que não têm em si impacto em pessoas terceiras”. Adicionalmente, a Educação para a Cidadania também capacita as pessoas “para saberem os seus direitos, para saberem se proteger em vários contextos da vida, para saberem organizar-se e para serem contribuintes para um melhor tecido social, para um melhor ambiente, para mais saúde e para a paz, só a título de exemplo”, defende.

Suicídio Recorde-se que os jovens da comunidade LGBT têm uma probabilidade três vezes maior de cometer suicídio. Uma tendência que tende a aumentar quando a família não aceita a sua orientação sexual, segundo dados divulgados o ano passado da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP).

Fonte: Sol por indicação de Livresco

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Portugal precisa de uma nova visão integrada sobre a Educação

É urgente apostar no reforço da educação e da qualificação dos portugueses jovens e adultos para as competências e para os empregos do futuro, de forma a ativar o elevador social em Portugal.

A Educação não pode ser compartimentada. Deve ser vista como um processo contínuo ao longo da vida, que inclui a educação obrigatória, a educação e formação profissional, a educação superior e a educação dos adultos ao longo da vida.

No dia em que se comemora internacionalmente a Educação e quando estamos a poucos dias das eleições legislativas é fundamental colocar a Educação na agenda pública e política. Precisamos de fazer diferente e de uma nova ambição para Portugal para podermos quebrar esta estagnação económica e social em que nos encontramos há demasiadas décadas!

A situação atual do país obriga a um compromisso entre todos os stakeholders da sociedade (empresas, entidades formadoras, instituições de ensino e decisores políticos).

E muito desse caminho passa por um Ministério da Educação que, para além das preocupações com as infraestruturas e com os recursos, se foque no essencial - no estudante e nas suas competências, isto é, na qualificação dos portugueses para que estes tenham as competências que lhes permitam ter um futuro melhor e em que os recursos (escolas, professores, conteúdos) são o motor para que tal aconteça. É necessário também que o Ensino Superior acelere a sua transformação para se adaptar com mais agilidade às necessidades do futuro e que seja o promotor de formação de curta duração e orientada para as necessidades do mercado (para além do que já faz hoje).

Precisamos também de desmistificar o Ensino Profissional e o Ensino Superior Politécnico, dando-lhes a real importância que merecem e o enorme contributo que têm dado e que poderão ainda aumentar para as qualificações de todas as gerações. A adiada aposta no ensino dual, que tão bons frutos tem dado em países desenvolvidos como a Alemanha, deverá ser implementada.

Portugal tem o maior fosso inter-geracional da União Europeia nos níveis de qualificação da sua população ativa e é apontado pela OCDE como um dos países com pior enquadramento financeiro para a educação e aprendizagem ao longo da vida, e como o país onde é mais urgente apostar na formação dos seus adultos

Para transformar Portugal numa sociedade do conhecimento, a Fundação José Neves definiu como metas aspiracionais para 2040: uma população jovem e adulta mais qualificada, com pelo menos 60% dos jovens com ensino superior e no máximo 15% dos adultos com baixa escolaridade. Uma taxa de emprego de 90% para os jovens que terminam um nível de escolaridade e 25% dos adultos a participar em educação e formação ao longo da vida. Colocar Portugal nos 10 países da União Europeia com mais emprego em setores tecnológicos e intensivos em conhecimento, com o reforço da educação alinhado às necessidades do mercado de trabalho.

Para concretizar esta ambição é fundamental definir uma agenda para a década (e não para a legislatura), apostar nas qualificações dos jovens portugueses e requalificar a população com baixas qualificações para manterem relevância no mercado de trabalho (nomeadamente através da formação de curta duração), promover a aprendizagem ao longo da vida, garantir alinhamento entre educação e formação e as necessidades do mercado de trabalho, acompanhar e antecipar as dinâmicas e necessidades do mercado de trabalho, diversificar o formato e modelos da oferta educativa, rever o papel da formação profissional e da articulação com escolas profissionais e ensino politécnico, permitir e fomentar a inovação na escola em todas as suas vertentes, apostar no ensino dual, valorizar o papel do professor e tornar a profissão apelativa para os jovens.

O mundo e o mercado de trabalho estão a evoluir rapidamente e Portugal não pode continuar a ficar para trás. Temos de agir já.

Carlos Oliveira

Presidente Executivo da Fundação José Neves

Fonte: Público

domingo, 23 de janeiro de 2022

Alunos do ensino básico correm maior risco de pobreza no futuro se não houver recuperação de competências

O alerta é feito pela professora e investigadora Susana Peralta, da Nova School of Business & Economics, um dos três autores do relatório “Portugal, Balanço Social 2021: Um retrato do país e de um ano de pandemia”, que é hoje apresentado publicamente em Lisboa.

Em declarações à agência Lusa, Susana Peralta disse que um dos dados que “está perfeitamente plasmado” no relatório tem a ver com a questão da educação, e que apesar de já vir refletido no relatório anterior, adquire um aspeto “verdadeiramente dramático”.

“A educação é determinante para permitir às pessoas escapar à pobreza ou às situações mais drásticas de pobreza e nós estamos a escangalhar essa relação”, apontou, sublinhando que os jovens do ensino básico correm agora maiores riscos de cair numa situação de pobreza no futuro, daqui a 20 ou 30 anos, fruto da não aquisição de competências durante a pandemia.

“Esse é um efeito que se vai ver daqui a mais tempo, mas que vai lá estar porque essas perdas, essas competências que não foram adquiridas, são competências que fariam falta a esses jovens e a essas crianças para terem sucesso anos mais tarde no mercado de trabalho”, disse.

De acordo com a investigadora, este relatório mostra por um lado a relação entre o mercado de trabalho e a pobreza, na qual “vai notar-se já muito rapidamente o acentuar de uma clivagem”, e, por outro lado, o papel da educação “enquanto grande passaporte para sair da pobreza”, que Susana Peralta entende que foi “escangalhado” e cujas consequências serão visíveis daqui a poucas décadas a menos que haja um investimento “bastante consequente na correção dessas perdas de aprendizagem”.

A investigadora adiantou que esta análise tem por base os dados das provas de aferição nos 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade realizadas em 2021 e que foram comparadas com os mesmos dados para os anos de 2018 e 2019.

De acordo com Susana Peralta, “estes jovens foram muito afetados pela pandemia” e a comparação de dados permitiu constatar “perdas substanciais na aquisição de competências”, algo que “vai ser um desafio” e um “problema a prazo”.

Nas palavras da investigadora, o fio entre anos de escolaridade e aquisição de competências foi cortado nestes dois anos de aprendizagem em contexto de pandemia covid-19.

“Estas crianças formalmente foram escolarizadas, mas na prática não foram, estiveram a ser escolarizadas algumas em frente ao écran, outras nem isso e o que os resultados mostram são resultados catastróficos em algumas competências fundamentais, designadamente, por exemplo, em matemática”, destacou.

A investigadora sublinhou como estas competências no ensino básico são fundamentais para os jovens conseguirem não só ter sucesso no ensino universitário, mas também no próprio mercado de trabalho.

Adiantou, que, juntamente com outros professores da Universidade Nova, fez uma proposta ao Ministério da Educação sobre recuperação de aprendizagens, com base em explicações e ajudas em pequenos grupos de alunos, que não foi adotada.

Referiu também que o Plano 21|23 Escola+, de recuperação de aprendizagens, tem uma componente de reforço de recursos humanos que as escolas poderão usar para este tipo de apoio curricular específico, mas que até agora não há informação sobre como é que o plano está a ser concretizado, que escolas aderiram ou quantas contratações foram feitas e se foram feitas nas escolas com maior ou menor perda de aprendizagem.

Relativamente à questão do emprego, Susana Peralta referiu que é possível antecipar já, tendo por base o Inquérito ao Emprego, e olhando para os rendimentos de 2020 e 2021, que daqui a um ou dois anos haverá um agudizar da relação com o mercado de trabalho, uma situação também determinada pelo nível de educação, e que as pessoas mais afetadas serão as com escolaridade ao nível do ensino secundário.

Isto porque, explicou, as pessoas com o nível de ensino primário correspondem a gerações mais velhas que entraram no mercado de trabalho antes de ele ter aquilo a que chamam de dualidade, ou seja, um mercado em que coabitam contratos formais e com elevada proteção social e contratos precários.

Fonte: Sapo por indicação de Livresco