Será que somos mesmo mais inteligentes que os nossos avós ou que, como dizem alguns cientistas, temos só mais jeito para fazer os testes?
A inteligência parece estar a aumentar no mundo inteiro, se acreditarmos nos testes que a medem. Um estudo da King's College, universidade londrina, mostra que o quociente de inteligência (QI) médio mundial subiu 20 pontos desde 1950, com aumentos mais marcados nos países em desenvolvimento, como é o caso da China e da Índia.
Mas a razão por detrás dos melhores resultados nos testes de QI pode não ser que as pessoas estejam mais inteligentes. O mais provável, dizem os cientistas, é que as pessoas tenham mais prática a fazer testes.
O psicólogo James Flynn, que dá nome ao Efeito Flynn, o fenómeno do aumento progressivo das pontuações de QI, acha que não estamos a ficar mais inteligentes. "Não acho que ser mais esperto tenha alguma coisa a ver com isso", disse Flynn à BBC. "Hoje temos uma maior amplitude de problemas cognitivos que conseguimos resolver do que as pessoas de 1900. Isso é porque a sociedade nos pede para resolver uma maior amplitude de problemas cognitivos", explicou.
As pessoas que viviam há um século, explica Flynn, enfrentavam desafios diferentes e, por isso, estavam preparadas para pensar de maneira diferente. A sociedade tem-se desenvolvido no sentido de valorizar mais o tipo de inteligência que é avaliada pelos testes de QI: a resolução crítica de problemas cognitivos complexos.
Arthur Jensen, também ele psicólogo e investigador dos fenómenos cognitivos, lembra que as escolas também preparam os alunos para os testes de QI porque os deixam mais habituados a fazer testes. Quando os estudantes estão habituados à pressão dos testes, sentem-se mais à vontade para responder sem certezas e para pensar mais calmamente acerca das suas respostas, o que melhora os resultados, disse à BBC.
Um dos coautores do estudo, Peera Wongupparaj, explicou à Quartz que as melhorias nas pontuações nos testes de QI aconteceram principalmente junto daqueles que tinham pontuações piores, enquanto as melhores pontuações não se alteraram muito ao longo do tempo. Isso dá a entender que as capacidades de resolver problemas e de pensar criticamente serão inatas, e são mais desenvolvidas com o acesso à educação.
Peera Wongupparaj sublinhou ainda a importância do melhor acesso à educação, à saúde e à Internet nos países em desenvolvimento, o que ajuda a explicar a melhoria significativa nos resultados dos testes de QI nesses países.
Já Robin Morris, outro dos co-autores do estudo, não exclui a ideia de que as pessoas possam realmente estar a ficar mais inteligentes. "Parece-me razoável acreditar que o funcionamento intelectual pudesse aumentar ao longo do tempo nas sociedades mais desenvolvidas", disse à BBC. "Mas como poderia aumentar tanto sem que houvesse imensas pessoas muito inteligentes por aí?" questionou-se.
Morris propôs que existem mais pessoas muito inteligentes do que antes, mas que essas fiquem mais escondidas porque são mais especializadas. "Estão a trabalhar no seu campo particular de especialização e a fazer coisas extraordinárias - estão a comportar-se como génios - mas não são necessariamente identificados como tal", sugeriu Morris.
Os investigadores compararam e analisaram 405 estudos anteriores, e usaram dados de mais de 200 mil participantes em testes de QI ao longo de 64 anos em 48 países diferentes. O estudo que resultou dessa análise foi publicado na revista científica Intelligence.
Fonte: DN
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