segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Provérbios - vamos dar a volta ao texto…

Atualmente, com a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, existe a oportunidade de desenvolver um trabalho nos domínios da Igualdade de Género e da Sexualidade que permite contribuir para incentivar crianças e jovens a conhecer e compreender o conceito de Igualdade de Género, ajudando-os/as assim a assimilar e praticar a igualdade de direitos das mulheres e das raparigas e a igualdade de género em vários planos (político, económico, social e cultural), contribuindo para a erradicação de estereótipos. Em sintonia, importa promover relações baseadas no afeto, no respeito, independentemente da identidade de género, o que implica uma aprendizagem relativamente aos direitos sexuais e reprodutivos, à prevenção da violência nas relações de intimidade e aos comportamentos de risco.

Os provérbios, frases sábias criadas pelo povo, vão passando de geração em geração fazendo parte da nossa cultura e frequentemente usados enquanto justificação/aceitação para certos atos e comportamentos.

Nem sempre se conhece a origem ou o significado e na maioria estão inscritos no contexto histórico e social em que foram criados.

Importa agora, olhar para eles, e perceber se, no contexto da sociedade atual, que se quer inclusiva, livre de estereótipos e promotora da igualdade de direitos e oportunidades entre raparigas e rapazes, mulheres e homens, se os mesmos devem ser levados à letra, ou necessitam de uma outra leitura.

Neste sentido, surge, por parte da direção de serviços de projetos educativos da Direção-Geral da Educação, no âmbito do trabalho a desenvolver nos domínios da sexualidade e igualdade de género, o desafio de, em contexto de turma, promover a reflexão sobre o significado de certos provérbios, alguns dos quais inferem uma desigualdade de poder, de oportunidades e de visibilidade de homens e mulheres, promovendo agora uma masculinidade e feminilidade saudáveis.

Importa rescrever os provérbios que traduziam uma realidade patriarcal, de um género dominante face a outros, da oposição da esfera do lar para a mulher à esfera pública do homem, numa visão à data, e dar-lhes um cariz atual e sábio. Este deve ser promotor de uma sociedade mais justa e igualitária, tal como preconiza o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PA), apontando para uma educação em que alunos e alunas desta geração global constroem e sedimentam uma cultura científica e artística de base humanista, mobilizando valores e competências para intervir na vida e na história dos indivíduos e das sociedades, dispondo de uma capacidade de participação cívica, ativa, consciente e responsável, enquanto desenvolvem o pensamento crítico e criativo.

Nessa base, desafiamos crianças e jovens desde o 1.º ciclo até ao ensino secundário, na componente curricular de Cidadania e Desenvolvimento em articulação com as várias aprendizagens essenciais das demais disciplinas, a revisitar provérbios e a rescrevê-los à luz dos princípios e valores consagrados no PA.

Toda a informação e regulamento disponível aqui.

Fonte: DGE

domingo, 30 de outubro de 2022

Número de alunos a fazer o secundário sem nunca ter chumbado bate recorde

Há cada vez mais alunos a terminar o ensino secundário no tempo esperado: em 2020/21, 76% dos estudantes dos cursos científico-humanísticos (que constituem a principal oferta do ensino secundário) concluíram o 12.º ano sem nunca terem chumbado. O que representa uma melhoria clara deste indicador (sete pontos percentuais) face aos dados do ano anterior.

O Ministério da Educação divulgou nesta sexta-feira à tarde dois relatórios sobre a chamada “conclusão em tempo esperado”. Em comunicado, destaca o “aumento progressivo dos alunos que concluíram os cursos científico-humanísticos nos três anos esperados, com especial destaque para 2020/21”. Nesse ano, diz, atingiu-se “o valor mais elevado desde sempre, 76%, representando um aumento superior a 20 pontos percentuais em relação a 2014/15 (ano de início da série de cálculo do indicador)”. Uma das explicações para a melhoria é atribuída à “diversificação das ofertas de educação e formação no ensino secundário”.

O que aconteceu aos 24% restantes, que não conseguiram acabar em três anos? O relatório divulgado no site da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência mostra que 14% dos alunos que se tinham matriculado em 2018 no secundário estavam em 2021 inscritos no mesmo tipo de curso, mas sem o terem conseguido concluir; 8% tinham mudado de curso e 2% não estavam matriculados em nenhuma formação (desistiram antes de terminar).

O relatório mostra ainda, e uma vez mais, que um passado de “chumbos” no ensino básico aumenta a probabilidade de voltar a ficar retido mais tarde. Dados: entre os que se inscreveram no 10.º ano na “idade normal” (com 15 anos ou menos), a taxa de “conclusão no tempo esperado” no secundário foi de 80%; entre os alunos que ingressaram no 10.º ano com 16 anos, a taxa de “sucesso” já só foi de 54%. Se olharmos para os alunos que só alcançaram o 10.º aos 17 anos, a percentagem caiu para os 35%.
Os mais pobres com piores resultados

Outro facto a reter: a diferença entre alunos com apoios de acção social escolar (mais pobres) e sem apoios. Entre os alunos do escalão A, os que pertencem a famílias com mais baixos rendimentos, a taxa de “conclusão no tempo esperado” foi de 63%. Entre os alunos sem qualquer apoio do Estado, foi de 77%.

O ministério faz questão de sublinhar, contudo, no comunicado enviado às redacções, que “existiu melhoria significativa em todos os alunos, sendo de destacar que os alunos do escalão A dos cursos científico-humanísticos foram os que tiveram maior aumento em relação ao ano anterior (nove pontos percentuais) e nos cursos profissionais foram os alunos do escalão B que registaram a percentagem mais elevada de conclusão (72%), o que sublinha a importância da consolidação das políticas de equidade que têm vindo a ser desenvolvidas no âmbito da educação”.

O relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência detalha ainda que, dentro dos cursos científico-humanísticos, os alunos dos cursos de Ciências e Tecnologias são os que têm mais sucesso (79% concluem no tempo esperado) e os de Artes Visuais são os que estão pior (66%). Por região, é o Norte que regista uma taxa de sucesso mais alta (81%) e a Área Metropolitana de Lisboa é a que está pior (69%). No ensino privado, a taxa de conclusão “no tempo esperado” foi de 89% e no público de 74%.

Também no ensino profissional há melhorias. “Em 2020/21, 70% dos alunos concluíram estes cursos no tempo esperado, correspondendo também ao valor mais elevado desde sempre e a um aumento de 17 pontos percentuais em relação a 2014/15”, sublinha o ministério. Que destaca mais esta conclusão: “Os alunos com melhores resultados no ensino secundário frequentaram, no ensino básico, o ensino básico geral ou os cursos artísticos especializados, reforçando o que anteriores estudos revelaram no que respeita ao impacto positivo de, rejeitando-se mecanismos de dualização precoce, adopção de soluções assentes em gestão autónoma e flexível do currículo, visando a inclusão e o sucesso escolar de todos os alunos.”

Os dados sobre conclusão “no tempo esperado" de 2020/21 analisam o percurso dos alunos que se matricularam em 2018/19, em Portugal Continental. Ou seja, os alunos que no ensino secundário viveram o impacto da covid-19. Recorde-se que, em 2020, e como medida excepcional por causa da pandemia, os exames nacionais do secundário passaram a contar apenas como prova de ingresso ao ensino superior, não tendo peso na avaliação final das diferentes disciplinas do secundário, o que terá contribuído para, nesse ano lectivo (2019/20), se registar uma diminuição significativa das retenções, como foi assinalado na altura. No ano seguinte, contudo, a retenção voltou a subir.


Fonte: Público

sábado, 29 de outubro de 2022

Porque é que a falta de concentração não existe

Sentam-se à frente do livro e nada. Daí a cinco minutos, não se lembram de patavina.

Os pais inquietam-se, os professores desesperam. Mas são as crianças as mais perdidas nisto tudo.
Quase todos os pais se queixam do mesmo: “ai o meu filho é tão cabeça no ar. Ele até podia ter boas notas, mas não consigo que se concentre.” Uma das causas da falta de concentração é óbvia: eles têm, basicamente, muito mais distrações do que nós tínhamos. “Recebem tanta informação visual desde que nascem que o seu cérebro não está preparado para a gestão de tantos estímulos”, explica a psicóloga Ana Manta, no livro ‘Filho, presta atenção’ (Clube do Autor). “De certa forma, podemos dizer que as estamos a ‘deixar loucas’. O mais natural é que a sua capacidade de concentração se disperse para dar atenção a tanta coisa, não conseguindo focar-se no mais básico.” Paralelamente, há a valorização de um conjunto de competências que não são as mais importantes para o desenvolvimento das crianças. “É mais importante uma criança saber respeitar as regras de um jogo do que saber escrever o nome dos familiares aos 4 anos.” Mas a maioria de nós valoriza sobretudo as competências ‘escolares’.
Ou seja, muitas vezes não é que a criança não esteja concentrada: ela está é concentrada noutras coisas. Aliás, eles não sofrem de nenhuma falta de concentração quando ficam horas a jogar no telemóvel.

Portanto, não existe falta de concentração: existe falta de motivação. “O número de solicitações tem um lado positivo, que é a diversidade de experiências”, nota Vítor Cruz, técnico de reabilitação e desenvolvimento especial do SEI (Centro de Desenvolvimento e Aprendizagem). “Mas se não for bem gerido arrisca-se a tomar conta de toda a vida da criança, que se perde em atividades muitas vezes sem interesse. Claro que este controlo é difícil de concretizar, mas é um dos desafios de hoje não só para os pais mas para a sociedade em geral, porque todos nós estamos a contribuir para que as crianças sejam mais superficiais e mais consumistas, para que se percam em coisas sem interesse. Está na nossa mão ajudar a travar isto.” E como? “Não é preciso nem desejável controlar tudo e estar sempre em cima, mas sim encontrar um equilíbrio através de horários e responsabilização da criança.”

DESCONCENTRADO OU HIPERATIVO?
Como distinguir se uma falta de concentração é ‘normal’ ou se há outros problemas por diagnosticar? Pode existir uma causa neurológica ligada ao défice de atenção. Mas saber se uma criança é hiperativa só se consegue com a ajuda de um técnico. “As crianças estão hoje mais agitadas, mas nem todas precisam de Ritalina [medicamento usado para o Déficit de atenção e hiperatividade]”, afirma a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos.
“Esta agitação dos miúdos tem de ser contextualizada globalmente. Há hoje em dia uma insatisfação geral em que as pessoas julgam mais do que compreendem. Pensamos muito mais depressa e acabamos por desenvolver recursos motores para lidar com isto: há tantos estímulos visuais que o corpo tem de se mexer. É o caso daquelas pessoas que estão sentadas numa reunião mas não param de mexer o pé ou bater com a caneta na mesa. E as crianças também se tornam mais agitadas.” Há uma lógica social por trás disto: a sociedade de consumo e de concorrência, em vez de nos orientar o cérebro para a paz, faz com que estejamos sempre na defensiva, ou seja, o cérebro é muito menos capaz de estar sossegado a aprender qualquer coisa.
E isto passa para os miúdos? “Claro que passa. Os miúdos têm de ter positivas à força, os professores têm cada vez mais alunos e portanto têm menos paciência, os pais pressionam, e tudo se conjuga para que se procurem as soluções mais fáceis, como a Ritalina. Que também não é nenhum papão, há casos em que de facto ajuda.” A partir de quando é que a receita? “Eu costumo pedir uma análise aos neurotransmissores. Mas o mais importante, quando se toma uma droga, é que as pessoas sejam donas dos seus efeitos, ou seja, a toma de uma droga tem de ser feita conscientemente. Todos percebemos se um medicamento nos está a ajudar ou não. Mas a hiperatividade não é uma doença, é um sintoma de que algo não está ajustado como deveria. É como a crise (risos). É fundamental que se saiba o que andamos a fazer e porquê.”

APRENDER A ENSINAR MELHOR
Ora então, se o meu filho não é hiperativo, vamos saber que outras coisas podem estar a correr mal. Às vezes eles estão simplesmente… cansados. Especialistas como o psicólogo Eduardo Sá e o professor Carlos Neto têm vindo a chamar a atenção para o número de horas que as crianças passam na escola, defendendo que o tempo em que deviam estar a brincar é, em vez disso, passado nas aulas ou a fazer trabalhos. Aliás, muitas crianças trabalham mais do que os adultos. A maioria de nós adultos, quando desligamos do emprego, desligamos. Uma criança, depois de horas sentada e quieta (o que vai muitas vezes contra aquilo que deviam estar a fazer) ainda tem de vir sentar-se a uma mesa a espremer os neurónios e a fazer trabalhos muitas vezes largamente inúteis. Discutimos a semana de 4 dias de trabalho enquanto os nossos filhos trabalham por vezes 10 horas seguidas 5 dias por semana…
Não é de estranhar que estejam, com tudo isto, desmotivados. Por volta dos 10 anos, a curiosidade da infância já foi destruída. “Na maior parte das vezes, estamos a ensinar à criança coisas que ela não quer aprender e que não percebe porque é que tem de aprender. É estar a remar contra a maré”, nota Vítor Cruz. “O esforço intelectual é muito desgastante, e além disso raramente este esforço é feito de maneira divertida e integrada no quotidiano. Se houvesse possibilidade de a criança aprender indo ao supermercado com os pais, lendo qualquer coisa para a mãe ou mesmo vendo televisão, em vez de sentada e quieta, a aprendizagem seria mais efetiva, porque o nosso cérebro aprende mais pela experiência do que passivamente. Essa aprendizagem não é uma perda de tempo. E não é por estar sentado duas horas com o manual de matemática que ele vai aprender efetivamente.”

Os TPCs feitos no final do dia, quando a criança já está estoirada, não ajudam.”Mas tudo pode ser discutido, podemos encontrar um consenso. Perpetuam-se muitos comportamentos só porque sempre foi assim, sem se pensar se estão ou não a ser efetivos. Mas há muitos professores abertos à mudança. Portanto, com boa vontade, até se pode chegar a um acordo.”

Será que a origem da falta de concentração deles também passa pelo nosso próprio stresse? “Às vezes, a nossa pressão sobre eles é que prejudica a concentração”, explica o técnico Vítor Cruz. “Eles estão tão conscientes das expectativas dos pais que desistem por vezes antes mesmo de tentar, porque têm medo à partida de não conseguir. Porque se alguém não faz qualquer coisa bem feita, não é porque não quer, não faz porque não sabe ou não consegue. Portanto, temos de descobrir a razão por trás disto.” Além disso, às vezes etsamos mesmo a pedir-lhes coisas que não devíamos. As crianças mais pequenas, entre os dois e os seis anos, não conseguem concentrar-se mais do que 20 minutos. Quando entram na escola e têm de estar sentadas das 9 da manhã às cinco da tarde, para elas é um esforço enorme.

O que os pais podem fazer: em vez de os massacrar com mais aprendizagens sentadas, defender o seu direito à brincadeira e sempre que possível tirá-los de casa e tentar que haja mais atividades ao ar livre, por exemplo. “Aprende-se imenso a jogar à bola, que é a vida experienciada e não memorizada, mas nós não consideramos isso uma competência”, explica Vítor Cruz. “Aprende-se sempre mais pelo fazer do que pelo ouvir, temos de nos lembrar sempre disso e sempre que possível, incorporá-lo na vida da criança. Agora, quando a criança apenas faz mais do mesmo, que é ficar sentada à mesa, por um lado estamos a negligenciar a experiência corporal e a nossa ligação com o mundo, e por outro esquecemos o ditado ‘mente sã em corpo são’. Como podemos aprender se somos frágeis, temos pouco oxigénio e músculos pouco desenvolvidos?”

MENOS TELEMÓVEIS E MAIS RECOMPENSAS
Lembra-se dos tais ‘muitos estímulos’ e da forma como se podiam controlar? Até podemos achar que isso dá muito trabalho: mas o importante é ir com calma.
“Fez-se um estudo em que algumas crianças foram privadas de ir à Internet durante um dia”, conta Vítor Cruz. “Tiveram comportamentos de medo, de insegurança e de privação. Depois, uns foram fazer os trabalhos, outros foram ler, outros procuraram outras atividades. Portanto, o facto de ter menos net, menos telemóveis, etc., obriga a procurar alternativas.” O segredo para isto funcionar: não ser radical. Se lhe tirar o telemóvel durante a semana toda, isto não vai funcionar. Mas se o fizer durante duas horas, talvez eles encontrem mais com que se entreter. Problema: a maioria dos pais não estão para controlar nada.
Outra via, algo polémica, é a da recompensa: “Podemos dizer ‘se tu fizeres isto, tens aquilo’. Isto é estar a comprá-los? Não é: ficamos todos a ganhar. O prémio pode ser imediato, mas se ele aprender, é uma mais-valia para o futuro.
Eles devem aprender apenas por aprender? Isso é muito bonito mas não é realista. Pense lá: quantos de nós trabalham sem serem pagos? Se nós não trabalhamos de graça, a criança também pode ser recompensada, e quanto mais novas são, maior a necessidade deste reforço imediato, para vincular a recompensa à ação.” Se já a está a dizer ‘ai comigo ninguém fez isso’, tem muita razão. Mas também o mundo deles é muitíssimo diferente do que foi o nosso. “Se eu não conseguir colocar-me no lugar do meu filho, não vou perceber as dificuldades dele. Isto é um desafio tremendo. Assim como ensinar-lhes a eles a pôr-se no lugar dos outros. Valorizamos muito a inteligência escolar e muito pouco a emocional. Não só não nos preocupamos em que o nosso filho se torne uma ‘boa pessoa’ como até nos orgulhamos quando ele bate nos outros.”

Para resumir, eu tenho uma criança cabeça-no-ar. Qual é o plano de ataque imediato? “Perceber como é a vida dela, como ela se dá com os professores e os colegas, de que é que gosta mais, como aprende melhor, se está com demasiado trabalho para a idade que tem, se precisa de ir dar uma volta antes de fazer os TPC ou prefere atacá-los logo. Perceber se há situações emocionais pontuais, uma mudança na escola, um problema em casa. E depois, ter calma e não a stressar.”
Outras ideias, segundo Ana Manta, são por exemplo pôr um relógio de ponteiros na mesa dos trabalhos de casa, negociando um período de tempo para os fazer (se terminar mais cedo, o resto do tempo é passado a praticar uma atividade de que a criança goste), conversar com ele (para o habituar a raciocinar, a prestar atenção, a pensar) e jogar jogos de tabuleiro, que continua uma das melhores formas de treinar a concentração.

Catarina Fonseca

Fonte: Activa por indicação de Livresco

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Referencial de Educação para a Segurança, Defesa e Paz com nova versão e mais municípios envolvidos

A versão revista do “Referencial de Educação para a Segurança, Defesa e Paz”, que passa a integrar novas temáticas, como a cibersegurança, entra em vigor esta segunda-feira, dia em que os 21 municípios do distrito de Santarém aderiram à iniciativa.

A ministra da Defesa, Helena Carreiras, que presidiu à cerimónia de apresentação e de assinatura dos protocolos, no Convento de São Francisco, em Santarém, afirmou que a guerra na Ucrânia “veio reforçar” a necessidade “de um maior esforço de pedagogia”, salientando que a promoção de “uma cultura de segurança e defesa junto dos jovens é um dever de cidadania e uma necessidade democrática”.

Desde a aprovação do referencial, em 2014, 116 municípios de nove distritos aderiram à iniciativa, aos quais se juntam agora os 21 concelhos do distrito de Santarém, que se comprometeram na sua implementação plena a partir do ano letivo de 2023/2024.

Além dos municípios e da Secretaria de Estado da Administração Local, o referencial envolve os ministérios da Defesa Nacional e da Educação, que integrou o referencial na Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, e a Secretaria de Estado da Igualdade e Migrações.

O novo referencial tem em conta a “presente conjuntura e a sua complexidade” e a necessidade de uma reflexão sobre a “degradação significativa do ambiente internacional”, realçou a assessora do Instituto da Defesa Nacional (IDN) Francisca Saraiva.

Além dos temas que eram já abordados, o referencial, que se direciona às crianças e jovens desde o pré-escolar até ao ensino secundário, passa a tratar outros, como a segurança e defesa no mundo global ou a segurança e defesa no ciberespaço.

A nova versão inclui, ainda, novos conceitos, como os de “guerra justa”, “resolução de conflitos”, “ciberataque”, “cibercrime”, “ciberdefesa” e “cibersegurança” ou sobre a Lei da Nacionalidade e as missões de paz, entre outros.

A ministra da Defesa Nacional destacou que “educar para a paz, a segurança e a defesa em democracia é educar para a necessidade de serviço público na proteção da comunidade” e “para os valores e para as práticas que promovem a prevenção e a resolução pacífica dos conflitos”.

Helena Carreiras salientou ainda a “obrigação de explicar às pessoas, desde cedo, as opções inscritas no ordenamento jurídico e político, para que sejam claras as razões pelas quais Portugal procura que os jovens vejam também nas Forças Armadas uma área de serviço público atrativa”.

A secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Rodrigues, sublinhou, por outro lado, a importância da prevenção e mitigação da violação dos direitos humanos, em particular no que toca às mulheres refugiadas, e também da valorização da educação para a cidadania e para a paz, “num mundo em que se propagam narrativas populistas alimentadas pela desinformação e contrárias a sociedades democráticas”.

No âmbito do referencial, o IDN promoveu, até ao momento, a formação de 1.500 professores e educadores, número que deverá agora ser alargado com a adesão dos 21 municípios do distrito de Santarém.

Fonte: Observador por indicação de Livresco

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Universidade de Aveiro cria programa para ajudar crianças com problemas de linguagem

A Universidade de Aveiro (UA) criou um programa para minimizar os problemas de linguagem oral e escrita em crianças, que deverá ser colocado brevemente no mercado.

O programa foi desenvolvido “com o principal objectivo de promover competências sintácticas em crianças de idade pré-escolar e escolar”, informa a universidade em comunicado. Designado “Prosyntax”, o programa tem como público-alvo profissionais da área da saúde e educação que contactem com crianças de idade pré-escolar e escolar, como terapeutas da fala, educadores de infância e professores.

O programa, que inclui um manual em papel e um conjunto de ilustrações, foi licenciado para a empresa Trilhos de Mudança, que o deverá colocar brevemente no mercado.

Galardoado com o prémio colectivo de investigação científica Maria Lutegarda, promovido pela Fundação AFID Diferença, o programa foi desenvolvido por um grupo de investigação liderado por Marisa Lousada, investigadora do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) e professora da UA, e Alexandrina Martins, membro do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

A investigação vai prosseguir com o intuito de avaliar os efeitos da aplicação do “Prosyntax” em crianças com perturbação do espectro do autismo e com perturbação do desenvolvimento da linguagem que apresentem dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita.

Segundo Marisa Lousada, este é um programa “que visa melhorar as competências sintácticas de crianças com perturbação de linguagem, considerando a abordagem metalinguística que apresenta um elevado nível de eficácia”.

“Esta abordagem propõe a realização de um treino explícito da linguagem, com recurso a suportes visuais (escrita ou imagens) e à codificação de partes do discurso por meio de um sistema de cores e formas”, refere a investigadora, citada na página do CINTESIS aquando da recepção do prémio Maria Lutegarda, em Janeiro.

Fonte: Público por indicação de Livresco

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Concurso Escola Alerta – 19ª Edição

Está aberta a nova edição do Concurso "Escola Alerta!" 2022/2023.

Dá uma grande volta à tua escola!

O Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., convida todos os alunos a participarem neste Concurso com ideias e projetos para mais e melhor inclusão na Escola.

2022 é o Ano Europeu da Juventude, “pondo em evidência a importância da juventude europeia para a construção de um futuro melhor — mais ecológico, mais inclusivo e digital. Com muitas oportunidades para aprender, partilhar a tua visão, encontrar pessoas e participar em atividades em toda a Europa, o Ano Europeu da Juventude é o momento de avançar com confiança e esperança numa perspetiva pós-pandemia.” É neste contexto que te propomos participar no concurso “Escola Alerta! 2022/2023”, melhorando a tua escola e a comunidade envolvente no sentido de uma plena inclusão de todos e, em particular, das pessoas com deficiência.

Para saberes mais sobre os objetivos deste projeto e para saberes como podes participar, consulta AQUI a página do concurso.

Fonte: INR

terça-feira, 25 de outubro de 2022

A partir de agora já há um Observatório de Saúde Mental em Portugal

A ausência de dados sobre saúde mental agregados e disponíveis numa plataforma direccionada à população portuguesa é uma das principais lacunas apontadas pelos profissionais desta área. E, por isso, a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM) lança esta terça-feira o Observatório de Saúde Mental, uma plataforma que pretende em “três a quatro anos” disponibilizar indicadores sobre a saúde mental dos portugueses.

É uma das áreas que mais atenção tem merecido da saúde à política nos últimos anos, reforçada sobretudo com a pandemia e o consequente confinamento. Mas um inquérito de opinião levado a cabo pela SPPSM aos profissionais de saúde mental e investigadores mostrou várias carências – a maior das quais o acesso e a disponibilidade da informação. “Queríamos perceber se os profissionais envolvidos consideravam oportuno ou não”, explica Maria João Heitor, presidente da sociedade (...).

No inquérito, 85% dos profissionais apontaram que há falhas e potencial para melhorias no acesso à informação. A necessidade levou à construção do Observatório de Saúde Mental, onde Maria João Heitor quer congregar os projectos científicos em curso com os indicadores de saúde mental e actividades de prevenção existentes.

A ciência primeiro

Esta construção será faseada. Nesta primeira fase, o site deste observatório disponibilizará informação sobre os projectos científicos e ensaios clínicos a decorrer ou que já terminaram. E, para já, o site está disponível apenas em inglês. “Como a primeira fase é inteiramente dedicada à investigação, é muito virada para a comunidade científica. Nas fases seguintes, onde teremos os indicadores, aí vamos procurar ter um observatório bilingue”, diz Maria João Heitor.

As próximas fases envolvem a disponibilização de dados (sobre morbilidade psiquiátrica, mortalidade ou incapacidade temporária) e a referenciação de práticas e actividades na promoção e prevenção, bem como da própria organização dos serviços.

Maria João Heitor, presidente da SPPSM, refere que a criação deste Observatório de Saúde Mental além de permitir uma disponibilização rápida dos indicadores em Portugal, também facilita o acesso da população a informação sobre tratamentos, serviços ou a investigação em curso.

Além do lançamento deste observatório, existem ainda outras propostas na calha, como a criação de projectos nas escolas e a elaboração de um relatório regular sobre o estado da saúde mental em Portugal. No caso deste último, Maria João Heitor confirma que vai acontecer, mas apenas quando estiverem todos os indicadores disponíveis – ou seja, nos próximos três a quatro anos.

Fonte: Público

domingo, 23 de outubro de 2022

Inteligência Artificial e Educação

O Conselho da Europa divulgou o relatório ARTIFICIAL INTELLIGENCE AND EDUCATION A critical view through the lens of human rights, democracy and the rule of law, onde é explanado o impacto crescente da Inteligência Artificial (IA) na Educação.

Este documento, onde são abordados diversos aspetos relacionados com as ligações entre a IA e a Educação, conta com a colaboração de especialistas de renome como Wayne Holmes, que recentemente proferiu uma conferência em Portugal, a convite da Direção-Geral da Educação.

O relatório centra-se em três tópicos:

i) a aplicação e o ensino da IA;
ii) a IA e a Educação, à luz dos valores fundamentais do Conselho da Europa (Direitos Humanos, Democracia e Estado de Direito);
iii) as oportunidades e desafios da IA na Educação.

Com este relatório, pretende-se apresentar uma visão holística acerca da IA na Educação, de modo a que essa ligação constitua uma mais-valia tanto para os professores como para os alunos.

Aceda ao relatório.

Fonte: DGE por indicação de Livresco

sábado, 22 de outubro de 2022

Pobreza educativa: 7 em cada 10 crianças de dez anos não sabem ler

Um novo relatório publicado pelo Banco Mundial, em parceria com a UNESCO e outras reputadas instituições internacionais, estima que 70% das crianças de dez anos oriundas de países de baixo e médio rendimento são incapazes de compreender um texto escrito simples.

Na sequência do maior abalo no sistema educativo registado na história, a taxa de pobreza de aprendizagem aumentou em um terço nos países de baixo e médio rendimento. Antes da pandemia, a taxa global de pobreza de aprendizagem era de 57%. Hoje, esta crise atinge proporções ainda maiores. A atual geração de alunos está em risco de perder 21 biliões de dólares americanos (em valor atual) de rendimentos potenciais ao longo da vida, ou o equivalente a 17% do PIB mundial atual, face aos 17 biliões de dólares estimados em 2021.

O relatório The State of Global Learning Poverty: 2022 Update indica que o encerramento prolongado das escolas, a fraca eficácia das medidas de mitigação e o impacto da pandemia nos rendimentos das famílias foram os fatores com maior impacto nas taxas de pobreza de aprendizagem na América Latina e na região das Caraíbas, estimando-se que 80% das crianças em idade de conclusão do ensino primário são incapazes de compreender um texto escrito simples, em comparação com 50% no período pré-pandemia. O segundo maior aumento registou-se no Sul da Ásia, onde 78% das crianças não alcançaram os níveis mínimos de literacia, em comparação com 60% no período pré-pandemia. A nível mundial, as medições mais recentes do nível atual de aprendizagem das crianças que regressaram às escolas confirmam as enormes perdas de aprendizagem previstas. Na África Subsariana, onde as escolas fecharam durante poucos meses, houve um menor aumento das taxas de pobreza de aprendizagem. No entanto, a região regista atualmente níveis de pobreza educativa extremamente elevados (89%). Em todas as outras regiões, as simulações realizadas revelaram um aumento das taxas de pobreza de aprendizagem.

O relatório mostra ainda que, antes da pandemia, a crise global de aprendizagem era mais profunda do que anteriormente se pensava. Em 2015, a taxa média global de pobreza de aprendizagem era de 53%. Contudo, após uma revisão e atualização dos dados estima-se que 57% das crianças de dez anos nos países de baixo e médio rendimento são incapazes de ler e compreender um texto simples. Em regiões como a América Latina, as Caraíbas e a África Subsariana, onde existem dados temporariamente comparáveis, a taxa de pobreza de aprendizagem manteve-se estagnada durante este período. Este facto demonstra que um regresso aos valores pré-pandemia não é suficiente para assegurar o futuro das crianças e que é necessária uma intensa recuperação e aceleração dos níveis de aprendizagem.

O encerramento prolongado das escolas e a assimetria das estratégias de mitigação agravaram as desigualdades de aprendizagem entre as crianças. Há cada vez mais evidências de que as crianças provenientes de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos estão a sofrer maiores perdas de aprendizagem. E é também muito provável que as crianças com menores níveis de literacia antes do encerramento das escolas tenham sofrido maiores perdas de aprendizagem. Sem competências de base sólidas, é pouco provável que as crianças consigam adquirir as competências técnicas e mais avançadas de que necessitam para vingarem em mercados de trabalho cada vez mais exigentes e em sociedades mais complexas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

DESENHO DE UM SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO DO REGIME JURÍDICO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM PORTUGAL



O presente relatório apresenta o resultado do trabalho realizado entre junho de 2020 e junho de 2022 por uma equipa de técnicos e consultores da European Agency for Special Needs and Inclusive Education (a Agência).

Partilha-se o sumário executivo:

O relatório apresenta o trabalho realizado pela Agência para disponibilizar ao Ministério da Educação de Portugal um sistema para monitorizar a implementação do Decreto-lei n.º 54/2018.

A metodologia seguida, baseada em standards, permitiu a comparação da oferta e/ou prática educativa existente com os standards desejados, identificados pelos stakeholders do setor da educação.

O resultado foi a disponibilização de um sistema de monitorização com a identificação de 6 standards e 11 indicadores.

Os standards e os indicadores foram validados através da utilização de ferramentas de trabalho bem conhecidas: entrevistas individuais a decisores e principais interessados; um inquérito online dirigido a diretores, coordenadores e responsáveis pelos serviços de apoio de 16 AE/ENA e visitas a 9 AE/ENA. As visitas a escolas incluíram grupos focais com diretores, coordenadores, pessoal docente e não-docente, bem como encarregados de educação e alunos. Os resultados são exaustivamente apresentados no relatório.

Os valores da educação inclusiva são partilhados por todos os profissionais que participaram na Atividade. Os profissionais dos AE/ENA estão fortemente empenhados na implementação de um sistema educativo inclusivo.

Embora os recursos e as medidas de apoio sejam bem conhecidos, foram notadas diferenças entre o entendimento dos decisores políticos e o dos profissionais, sobre a alocação de recursos e sobre as estratégias para a implementação das medidas de apoio necessárias. Estas diferenças de entendimento foram igualmente notadas entre os AE/ENA.

O Decreto-lei n.º 54/2018 atribui especial atenção ao envolvimento dos encarregados de educação e dos alunos. No decorrer da Atividade foi notada uma preocupação crescente com o envolvimento dos encarregados de educação, bem como a necessidade de prestar mais atenção ao envolvimento dos alunos.

O desenvolvimento profissional é uma preocupação dos AE/ENA, com destaque para as opções de formação contínua. A forma mais apreciada para ‘aprender’ parece ser a partilha entre colegas da mesma escola ou de outras escolas.

Os AE/ENA prestam especial atenção ao apoio a todos os alunos para que atinjam todo o seu potencial. No entanto, entendem ser necessário refletir mais sobre o que significa a educação inclusiva e sobre o que é necessário para dar resposta a todos os alunos, sem deixar nenhum para trás. Surgiram também reflexões importantes relacionadas com o que significa sucesso escolar: é dada demasiada ênfase aos resultados académicos sendo notada uma tendência para negligenciar os resultados sociais.

Fonte: DGE

O que precisa saber sobre o bullying em 11 perguntas

No ano lectivo passado, as situações de bullying em contexto escolar aumentaram 37%. A PSP registou 2847 ocorrências criminais com as injúrias e ameaças a atingiram o valor mais elevado dos últimos nove anos lectivos, revelam dados daquela polícia, no Dia Mundial do Combate ao Bullying, que se assinala nesta quinta-feira.

A pensar nas crianças e nos jovens que são vítimas ou agressores, a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) criou um documento com o intuito de ajudar a aumentar a consciencialização para a gravidade deste fenómeno que deve ser acompanhado por pais e professores, mas também pelos alunos.

O que é o bullying?

Chama-se bullying a qualquer comportamento agressivo que seja exercido repetidamente, por um indivíduo ou grupo, com a intenção de magoar alguém física ou psicologicamente. Trata-se de um comportamento premeditado e repetitivo que acontece com o propósito de provocar mal-estar e ganhar controlo sobre outra pessoa.

Que comportamentos podem ser considerados bullying?

Todos os comportamentos que implicam uma forma de “intimidação, agressão ou humilhação física, psicológica, relacional ou sexual”, responde o documento “Vamos falar sobre Bullying”.

De acordo com a OPP existem vários tipos de bullying entre os quais o físico que envolve comportamentos como bater ou cuspir, mas também comportamentos de cariz sexual como acariciar ou tocar alguém contra a sua vontade. Fala-se também no bullying verbal que se manifesta através de insultos, ameaças ou provocações, e no bullying socioemocional que envolve o isolamento ou exclusão social de alguém fazendo com que se sinta rejeitado.

A Internet tornou-se também o palco para outro formato de bullying conhecido por cyberbullying e que envolve a sua utilização para enviar mensagens de cariz insultuoso e para a partilha de informação de alguém contra a sua vontade.

Com que frequência o bullying acontece?

Este é um fenómeno muito comum entre as crianças e os jovens ocorrendo, na maioria das vezes, em ambiente escolar. Apesar disso, a OPP afirma haver uma dificuldade na exactidão com que este fenómeno é praticado dado que mais de 60% das vítimas opta por não denunciar o agressor.

Segundo os dados da PSP, a que a Lusa teve acesso, houve um aumento do número total de ocorrências depois do período em que os estudantes estiveram em casa, por causa da pandemia de covid-19. No entanto, registou-se “um decréscimo no número de ocorrências registadas em contexto escolar relativamente ao ano lectivo de 2018/2019, último antes da pandemia”. Nesse ano foram registandas 3079 ocorrências criminais em contexto escolar, 1151 das quais por agressões e 721 por injúrias e agressões.

Quem pode ser vítima de bullying?

Qualquer criança ou jovem pode ser vítima de bullying, no entanto, a OPP considera que existem alguns factores que podem levar a que alguém seja mais propenso a tornar-se uma vítima como o facto de ser visto como diferente pelos outros.

As vítimas de bullying são frequentemente vistas como mais frágeis, por parte dos agressores, e são geralmente mais novas. De acordo com o relatório publicado pelo Projecto Free, em Maio de 2022, em Portugal as vítimas preferenciais de bullying são jovens LGBTQ+ com idades compreendidas entre os 14 e os 19 anos.

Quem pode ser um bully?

Bully é o nome que se dá aos agressores, a quem pratica o acto de bullying, podendo ser qualquer jovem com as mais diversas características. Este comportamento é, frequentemente, visto como associado à dificuldade que o agressor tem em gerir emoções, o seu preconceito em relação à vítima — seja por esta possuir uma aparência diferente ou pela sua etnia, religião ou orientação sexual —, ou como resposta aos comportamentos agressivos a que é exposto, por exemplo, em casa.

São jovens em que se reconhece geralmente menos empatia pelo outro, dificuldades em seguir regras e uma atitude positiva em relação a atitudes violentas.

Quais são os impactos do bullying?

O bullying afecta todos os envolvidos, directa ou indirectamente. As vítimas podem ter o seu desenvolvimento afectado comprometendo a sua aprendizagem e relações interpessoais. Também os agressores podem revelar consequências dos impactos do bullying entre as quais dificuldades académicas ou maior propensão ao consumo de substâncias.

Este fenómeno afecta também as testemunhas, dado ser frequente que as ocorrências aconteçam perante outras pessoas, levando as “testemunhas passivas a desenvolver sentimentos de culpa e vergonha”. Também as famílias “podem ser afectadas por sentimentos de preocupação e impotência, níveis mais elevados de stress, dúvidas e incertezas sobre como ajudar”, enumera o documento da OPP.

Como identificar uma vítima de bullying?

É importante que se esteja atento aos possíveis sinais de que uma criança ou jovem possa ser uma vítima como, por exemplo, a ocorrência de alterações de humor, demonstrações de medo e preocupação constantes, isolamento dos outros sem explicação, desconforto em ir à escola.

Podem também existir sinais visíveis como nódoas negras ou feridas sem explicação coerente. No entanto, é importante compreender que estes sinais nem sempre estão associados a situações de bullying, podendo ser comuns a outras situações.

Como saber se alguém pratica bullying?

Existem também alguns sinais que podem ajudar a identificar um bully, entre os quais se inclui o sentimento de dominar ou subjugar os outros, tentar obter o que deseja com ameaças, intimidação das crianças com quem brinca ou zangar-se facilmente com os outros. É também recorrente haver dificuldades em obedecer às regras ou desafiar a autoridade dos pais ou dos professores.

Como ajudar um amigo/a ou colega que é vítima de bullying?

A frequência com que as situações de bullying acontecem perante testemunhas demonstra o quão importante é fazermos alguma coisa para ajudar a travar este comportamento e não optarmos por incentivá-lo ou agir como meros espectadores.

O primeiro passo passa por falar com um adulto de confiança, explicando-lhe da melhor maneira possível o que se viu. Existem também outras coisas que podemos fazer para ajudar como o simples de acto de fazer companhia ao colega vítima de bullying, ajudando a que se sinta mais seguro por não estar sozinho, tal como travar estes comportamentos quando os vemos a acontecer dizendo ao bully para parar.

Como pais ou cuidadores o que fazer para ajudar?

A OPP considera que o envolvimento “dos pais, mães e cuidadores/as é essencial na prevenção do bullying”. Devido às dificuldades que podem existir de identificar alguns dos sinais ou comportamentos resultantes deste fenómeno é importante que os adultos prestem atenção a qualquer mudança de comportamento.

"Às vezes as crianças sentem que o bullying é culpa sua, que se tivessem agido de forma diferente, não teria acontecido. Às vezes, têm medo que o bully descubra que contaram a alguém e que tudo piore. Outras têm receio que os pais não acreditem nelas”, enuncia o documento da Ordem dos Psicólogos, apelando a que os pais não menosprezem o que lhes é relatado.

​Nesse sentido, a melhor forma de ajudar passa por ouvir e compreender se se trata de bullying, falando sobre a importância de estar atento e como se pode defender, garantindo que a criança ou o jovem compreende a gravidade e se sente segura para denunciar e procurar ajuda quando necessitar. É ainda fundamental fornecer-lhe um espaço seguro para que possa conversar abertamente.

A forma mais eficaz de falar com as crianças e os jovens passa por uma abordagem directa em que se tenta perceber o que entendem por bullying e como reagiriam em determinadas situações. É importante realçar que a gravidade do tema implica que seja frequentemente abordado, também dada a dificuldade que algumas crianças, mais introvertidas, possam ter de se pronunciar sobre o assunto.

A OPP recomenda aos pais que se reconhecerem alguns sinais nos seus filhos de que possa estar a praticar bullying, também é importante intervir e fazê-los compreender que não se trata de um comportamento “normal”.

A organização apela ainda a que se “resista à tendência para negar ou desvalorizar a gravidade do problema”, tentando ajudar a modificar os comportamentos agressivos que a criança possa ter face aos outros e mostrando-lhe que se trata de um comportamento inaceitável, sem nunca recorrer a castigos físicos porque apenas “reforçará a crença de que a agressividade e o bullying são aceitáveis”.

Sou professor/a ou educador/a, o que posso fazer?

Com a frequência em que situações de bullying ocorrem em contexto escolar torna-o o cenário privilegiado para a sua prevenção, devendo as escolas procurar colaborar com os pais e as mães neste trabalho.

Assim, no âmbito da prevenção, é fundamental que as escolas continuem o seu trabalho de sensibilização através da abordagem do tema em sala de aula e dando um espaço aos alunos para que discutam sobre o fenómeno, tal como se deve privilegiar a criação e implementação de acções de formação e sensibilização que ajudem a reconhecer e denunciar este género de comportamentos.

Na escola, é também importante promover um ambiente de respeito pelo próximo e procurar estar atento aos espaços onde o bullying pode ocorrer, entre os quais o recreio, as casas de banho ou os corredores da escola, e interferir ao menor sinal.

A Ordem dos Psicólogos Portugueses destaca ainda a importância das políticas anti-bullying nas escolas e da implementação dos programas de desenvolvimento de competências socioemocionais, com o apoio de psicólogos.

Fonte: Público

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Educação Inclusiva: da visão às práticas

Portugal tem vindo a realizar um caminho de progressão na qualidade da Educação, com particular atenção para as questões de Inclusão e Equidade. Garantir que todos os alunos, independentemente das suas retaguardas e dos seus contextos, realizam aprendizagens de qualidade e significativas, implica, entre outros aspetos, ter docentes e lideranças nas escolas tão bem preparados quanto possível. Docentes e lideranças que compreendam a importância de refletirem sobre as suas práticas, quer pedagógicas, quer organizacionais.

O conjunto de seminários que irão decorrer durante outubro, novembro e dezembro de 2022 serão momentos especiais que permitirão um trabalho de partilha e de reflexão entre Diretores, Coordenadores das Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclusiva e Coordenadores de Diretores de Turma, de diferentes escolas e agrupamentos, em torno da visão e das práticas inclusivas que existem nas escolas.

O recente sistema de monitorização da implementação do regime jurídico da Educação Inclusiva em Portugal será um dos temas a abordar e, certamente, será do maior interesse para as escolas, pois irá apoiá-las na elaboração dos seus relatórios de autoavaliação e na consecução do n.º 2, do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 54/2018 de 6 de julho na sua redação atual: “As escolas devem incluir nos seus relatórios de autoavaliação as conclusões da monitorização da implementação das medidas curriculares, dos recursos e estruturas de suporte à educação inclusiva”. Resumidamente, em cada seminário, iremos ter, no período da manhã, debate e reflexão em torno de quatro situações que abordam as seguintes temáticas:

– Escolas e Comunidades locais promotoras de inclusão
– Trabalho em rede, equipas educativas e mudança organizacional
– Monitorização de dinâmicas de inclusão - observar o desempenho e conduzir a mudança
– Mentorias e Tutorias

O período da tarde irá ter como foco o sistema de monitorização para a implementação do regime jurídico da Educação Inclusiva em Portugal (em resultado do projeto financiado pela DG Reform e desenvolvido pela Agência Europeia para as Necessidades Especiais e a Educação Inclusiva). Convidam-se, desde já, as equipas das escolas da zona de Évora para no dia 18 de outubro participarem neste seminário e as da zona de Algarve para participarem no de dia 19 de outubro. Estas equipas já receberam os seus convites, formalmente, na passada semana. Em breve, serão enviados os convites para as restantes zonas do país, com indicação dos locais de realização das sessões.

Fonte: DGE por indicação de Livresco

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Acessibilidade na Cultura: experiências de públicos com deficiência

O Teatro Municipal São Luiz elaborou um questionário que tem como objetivo identificar constrangimentos dos públicos com deficiência motora, visual, perda de audição e surdos, durante todas as etapas da experienciação e fruição de um evento ou equipamento culturais. A sua resposta sincera e detalhada é, por isso, muito importante para alterar o paradigma.

Este projeto é promovido pelo Access Lab e é financiado pelo Fundo +Plus, da Casa do Impacto, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Todos os dados recolhidos serão anonimizados, tratados pelo Obi.Media - Observatório de Inovação dos Media (estrutura do ICNOVA - Instituto de Comunicação da NOVA) somente para o efeito deste questionário e não serão partilhados com terceiros.

Este retorno da parte dos parceiros e utilizadores dos recursos é muito útil para o planeamento das futuras atividades e propostas, e também para a constituição de dados reais e suas necessidades.


Fonte: INR

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Dia Nacional das Acessibilidades

O dia 20 de outubro é, oficialmente, o Dia NACIONAL das Acessibilidades. Está a chegar e contamos contigo!

O Dia Nacional das Acessibilidades, foi aprovado pela Assembleia da República, por unanimidade, na votação na generalidade, na sequência da Petição Pública, criada pela Associação Salvador, em dezembro de 2020.

“Este é um momento histórico que, esperamos nós, marque um ponto de viragem nesta luta contra a falta de acessibilidades em Portugal. Desde a primeira edição do Dia das Acessibilidades, que tínhamos esta ambição, de o tornar oficial e de âmbito nacional. No entanto, é importante que este não seja só mais um “Dia Nacional” como tantos outros no calendário. Queremos colocá-lo na agenda mediática, autárquica e escolar. Queremos que esta seja uma luta de todos e não apenas de uma minoria. Queremos um Portugal sem muros nem barreiras para que, daqui a uns anos, se celebre este dia como um dia de liberdade para todos e não apenas para alguns”, refere Salvador Mendes de Almeida, Fundador e Presidente da Associação Salvador.

Em 3 edições do Dia das Acessibilidades, a Associação Salvador já conseguiu impactar, de forma direta, mais de 40 mil pessoas, através de palestras em escolas, universidades e empresas, ações de rua, peddypapers, entre muitas outras atividades. Este ano queremos atingir todos os records.
Este ano trazemos muitas novidades!

Vamos envolver as ESCOLAS de todo o país. Não queiras que a tua fique de fora! Novas atividades, novos desafios para colocar os mais jovens a pensar o tema da deficiência e da acessibilidade. Eles são o futuro do amanhã. Encontras toda a informação no link de inscrição.

Este ano chegaram as Accessibility Talks – “Let’s walk the talks”, onde vamos dizer basta e trazer oradores inspiradores a Lisboa, com transmissão em direto para todo o país. Chega de falar só do tema, queremos pôr as acessibilidades em prática (9h-12h30).

De seguida, ambicionamos unirmo-nos todos num movimento, numa MARCHA e por isso encontramo-nos às 12h30 nos Paços do Concelho em Lisboa. “Ponha-se no nosso lugar” com a Presença da Secretária de Estado Dra. Ana Sofia Antunes.

Mas como o espaço público é da responsabilidade das AUTARQUIAS, às 15h marcamos presenta com um ENCONTRO NACIONAL DE AUTARQUIAS, nos Paços do Concelho, em Lisboa, onde vamos reunir Presidentes de Câmara, Vereadores do país inteiro, num debate sobre Acessibilidades e partilha de boas práticas.

Não vamos deixar de fora EMPRESAS e UNIVERSIDADES nesta temática. Colaboradores de todo o país, Empresas de todo o país, Universidades de todo o país, juntem-se a nós numa ação de voluntariado, sejam agentes de mudança connosco.

Ninguém fica de fora. Um movimento. Um dia. Todos por uma mudança efetiva na área das acessibilidades.

Estás preparado para fazer parte deste movimento?

Inscrições e mais informações em:

Professores e Escolas – https://forms.gle/u3FRvkoDSZ5NZCFE8




Accessibility Talks + Marcha pelas Acessibilidades – https://forms.gle/DomNNpPegiPaR6Z77

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Educação Inclusiva: da visão às práticas

Portugal tem vindo a realizar um caminho de progressão na qualidade da Educação, com particular atenção para as questões de Inclusão e Equidade. Garantir que todos os alunos, independentemente das suas retaguardas e dos seus contextos, realizam aprendizagens de qualidade e significativas, implica, entre outros aspetos, ter docentes e lideranças nas escolas tão bem preparados quanto possível. Docentes e lideranças que compreendam a importância de refletirem sobre as suas práticas, quer pedagógicas, quer organizacionais.

O conjunto de seminários que irão decorrer durante outubro, novembro e dezembro de 2022 serão momentos especiais que permitirão um trabalho de partilha e de reflexão entre Diretores, Coordenadores das Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclusiva e Coordenadores de Diretores de Turma, de diferentes escolas e agrupamentos, em torno da visão e das práticas inclusivas que existem nas escolas.

O recente sistema de monitorização da implementação do regime jurídico da Educação Inclusiva em Portugal será um dos temas a abordar e, certamente, será do maior interesse para as escolas, pois irá apoiá-las na elaboração dos seus relatórios de autoavaliação e na consecução do n.º 2, do artigo 33.º do Decreto-Lei n.º 54/2018 de 6 de julho na sua redação atual: “As escolas devem incluir nos seus relatórios de autoavaliação as conclusões da monitorização da implementação das medidas curriculares, dos recursos e estruturas de suporte à educação inclusiva”. Resumidamente, em cada seminário, iremos ter, no período da manhã, debate e reflexão em torno de quatro situações que abordam as seguintes temáticas:

– Escolas e Comunidades locais promotoras de inclusão
– Trabalho em rede, equipas educativas e mudança organizacional
– Monitorização de dinâmicas de inclusão - observar o desempenho e conduzir a mudança
– Mentorias e Tutorias

O período da tarde irá ter como foco o sistema de monitorização para a implementação do regime jurídico da Educação Inclusiva em Portugal (em resultado do projeto financiado pela DG Reform e desenvolvido pela Agência Europeia para as Necessidades Especiais e a Educação Inclusiva). Convidam-se, desde já, as equipas das escolas da zona de Évora para no dia 18 de outubro participarem neste seminário e as da zona de Algarve para participarem no de dia 19 de outubro. Estas equipas já receberam os seus convites, formalmente, na passada semana. Em breve, serão enviados os convites para as restantes zonas do país, com indicação dos locais de realização das sessões.

Fonte: DGE

domingo, 16 de outubro de 2022

Educação em défice estrutural

“Temos de investir cada vez mais na educação (...). O maior défice estrutural do país ao longo de décadas, ou mesmo de séculos, é o défice do conhecimento e qualificação dos recursos humanos. É esse o défice que temos de vencer.” Com menos linguagem económica e mais coração, este discurso bem podia ter sido do antigo primeiro-ministro António Guterres, mas a verdade é que esta paixão é do actual chefe do Governo, António Costa.

A necessidade de investir na educação e na investigação é uma referência constante por parte dos governantes e se é importante constatar que, entre 1995 e 2020, as despesas das administrações públicas em educação duplicaram, passando a ser de cerca de 10 mil milhões, também é de assinalar que depois de um pico de 12 mil milhões, no primeiro Governo de José Sócrates, o montante da despesa estabilizou entre os oito e os dez mil milhões.

Se atingimos o nosso limite de investimento, então não atingimos ainda grande posição, porque o gasto por estudante continua abaixo da média internacional, muito particularmente no ensino superior, como mostrava no início deste mês um relatório da OCDE.

E, às vezes, o dinheiro é o que mais falta, como acontece claramente nesse último patamar que é a investigação. Mesmo com um recorde de despesa total em investigação e desenvolvimento no ano passado, a ciência continua a ser subfinanciada, tornando instável e muito pouco atraente uma área que os governantes também não se cansam de sublinhar como estratégica.

Ter 1450 bolsas de doutoramento atribuídas, quando há menos de 300 projectos de investigação financiados por ano, é ter um funil demasiado estreito e ver o país prolongar o seu défice estrutural, como acontece quando não consegue explicar aos candidatos ao ensino superior as vantagens de ingressarem em cursos que são estratégicos para o país. Ter 128 vagas para Engenharia de Energias Renováveis e só conseguir ocupar quatro é uma derrota, não explicável pela falta de dinheiro.

O dinheiro, ou falta dele num país com recursos escassos, será sempre essencial para a resolução do problema. Mas ver um sector como a ciência a definhar, saber que cursos estratégicos para o país estão vazios ou ter o tsunami da falta de professores a ameaçar todo o sistema têm de ser razões suficientes para que toda a sociedade redobre a exigência de soluções políticas para educação. Sem esse clamor, para com governo, oposição, sindicatos e agentes do sector, dificilmente a situação se alterará substancialmente. O défice é do país, a responsabilidade é de todos.

Fonte: Público por indicação de Livresco

sábado, 15 de outubro de 2022

Ação de Curta Duração – “Pensar a Educação”

Realizar-se-á, no dia 28 de outubro de 2022, das 17h00 às 20h00, no Grande Auditório do Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz, a ação de curta duração “Pensar a Educação”.

Este evento contará com a presença de sua Excelência, o Ministro da Educação, João Costa, Álvaro Laborinho Lúcio, escritor e Juiz Conselheiro Jubilado do Supremo Tribunal de Justiça, José Vítor Pedroso, Diretor-Geral da Educação, Pedro Pires do Vale, Comissário do Plano Nacional das Artes e Pedro Cunha, Diretor do Programa Gulbenkian Conhecimento.


Fonte: DGE por indicação de Livresco

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

A pandemia imaginada da “Inclusão Total”

Não faltam reflexões sobre o que se deve entender por “inclusão”. E todas elas são necessárias porque a palavra inclusão presta-se a inúmeros equívocos. Talvez valha a pena começar até por falar do que não é a inclusão. Antes de mais, a inclusão não pode ser colocar alunos com dificuldades em ambientes que não os querem receber. Impor a presença de alunos com dificuldades em estruturas que têm a expectativa de só receberem alunos “homogéneos” e que aprendam “bem e rápido” seria uma violência inútil. Felizmente – e como salienta o relatório de peritos da OCDE recentemente publicado sobre a situação da Educação Inclusiva em Portugal - não é este o caso nas nossas escolas públicas.

A inclusão não deve igualmente ser concebida como uma experiência parcial e circunscrita. Circunscrever a inclusão à responsabilidade exclusiva de “certas pessoas”, à sua validade só “em certos lugares” e ativada só em “certos momentos”, cerca e diminui o âmbito e a abrangência da inclusão.

Por fim, não parece acertado pensar que a inclusão é um remédio, isto é que a inclusão seria indicada só para certas pessoas, mas com conta peso e medida. O que sabemos hoje - e é inequivocamente mostrado na literatura científica e nos relatórios de organizações internacionais - é que a inclusão deve ser um valor transversal da educação e da escola e um aluno com dificuldades deve usufruir tanto de ambientes inclusivos como um aluno que não esteja necessitado de medidas de apoio mais direcionadas. Inclusão sim como valor de toda a escola e toda a comunidade. Pensar na Inclusão só para alguns ou como remédio seria como pensar que o oxigénio se devia vender em farmácias e sob receita médica.

Pensando agora pelo lado mais afirmativo, o que se considera atualmente que é a inclusão? Por limitações de espaço citaremos só duas referências. A primeira está escrita no Global Education Monitoring Report 2020 da UNESCO significativamente intitulado Inclusão e Educação: Todos quer dizer Todos. Inclusão é definida como “um processo, ações e práticas que impliquem a diversidade e criem um sentido de pertença enraizado na crença que todas as pessoas têm valor e potencial que deve ser respeitado” (p.11).

Um outro contributo para explicar o que se entende hoje por inclusão é dado pela OCDE num documento intitulado Promover a Educação Inclusiva para Sociedades Diversas, publicado em novembro do ano passado (2021), no qual se defende “para navegar num contexto de diversidade é necessário adotar uma visão multidimensional e multissetorial que ajudem a educação a promover a equidade e a inclusão na educação e a potenciar o bem-estar e a aprendizagem dos alunos. Esta perspetiva poderia ainda apoiar sistemas educativos na preparação de todos para se poderem implicar em sociedades cada vez mais diversas e complexas”.

Quando pensamos em alunos com dificuldades de aceder ao currículo por dificuldades provenientes de uma condição de deficiência, não podemos deixar de considerar que o seu contato com ambientes diversos origina grandes ganhos na aprendizagem e na socialização. Ganhos que não são automáticos (nenhum é…) mas sim fruto da cuidadosa preparação e gestão de ambientes inclusivos que possam ser propícios para a sua participação, progresso e aprendizagem. A inclusão é, pois, benéfica para todos e em particular para alunos cujas condições particulares de desenvolvimento tornariam mais difícil o seu contato com outros jovens.

Não se deve confundir o caráter transversal da inclusão com “Inclusão Total”. A expressão “Inclusão Total” ignora, até um pouco ingenuamente, que o processo de inclusão é isso mesmo, um processo. E como processo assume valores diferentes em função de circunstâncias concretas. Ignora ainda - e agora dolosamente - que o mandato da imaginada “Inclusão Total” não está escrito na legislação atual sobre Educação Inclusiva (DL 54/2018). Desta forma, Inclusão Total é uma expressão que deveria estar junto com “Adamastor” ou “O Homem do Saco” na galeria dos monstros imaginários.

O processo de participação e aprendizagem implica inevitavelmente que os alunos participem em grupos distintos e obviamente trabalho individual. Para todos. Acenar com o perigo do “inclusivismo” ou da “Inclusão Total” serve só para reforçar velhas ideias clínicas sobre a “deficiência” e sobre a “psicopedagogia” do seu “tratamento”. Associar inclusão a menor competência da educação de alunos com necessidades de apoio é ainda uma enorme desconsideração e desrespeito pelos milhares de professores de Educação Especial, psicólogos, equipas do Centros de Recursos para a Inclusão e numerosos outros técnicos que todos os dias dão o melhor que sabem e podem para proporcionar uma educação de qualidade a todos.

Para levar a Educação Inclusiva mais longe não se deve conduzir a olhar o retrovisor. Se partirmos do que pensamos e não do que a realidade e a investigação nos mostram ficaremos a repetir os “nossos” argumentos sine die. E aqui fica a opinião publicada há menos de seis meses por um grupo de peritos internacionais da OCDE sobre a situação da Educação Inclusiva portuguesa: “Desde 2018 Portugal desenvolveu um conjunto legislativo abrangente sobre Educação Inclusiva (…) Isto incluiu esforços significativos para promover maior flexibilidade e autonomia aos atores locais, incluindo as escolas”. E no seu relatório de 265 páginas, estes peritos internacionais “esqueceram-se” de falar do tal existente e perverso modelo português da “Inclusão Total”.

David Rodrigues

Fonte: Público