É sábado de manhã, início de mais um fim de semana depois de dias atarefados. É altura de testes, de avaliações, com o fim do segundo período à vista, e o auditório do Espaço Professor da Porto Editora está praticamente lotado. Inteligência emocional é o tema da sessão de duas horas e o assunto provoca bastante curiosidade. Manuela Queirós está preparada para conduzir o workshop em que a felicidade não é para estar guardada na carteira. Nem a boa disposição. É professora de Educação Física há 41 anos, criou o projeto CIEE – Clube de Inteligência Emocional na Escola. A inteligência emocional foi o seu objeto de estudo no mestrado e doutoramento e há 15 anos que publica diversos artigos em revistas científicas nacionais e estrangeiras sobre essa área. Este ano, lançou o livro “Inteligência Emocional – Aprenda a Ser Feliz” editado pela Porto Editora.
Manuela Queirós costuma dizer aos seus alunos que acendam as suas luzinhas. As luzinhas são a autoestima, a autoconfiança, a felicidade. E a felicidade, apesar de conceito subjetivo, é, no fundo, um estado mental preenchido com experiências de alegria, satisfação e bem-estar. Perante uma plateia de mais de 80 docentes, Manuela Queirós começa a sessão com boa disposição e com massagens no pescoço, nas costas e na zona lombar a todos os presentes na sala. O colega faz massagens ao colega do lado e depois trocam de posições. Há música de fundo e muitas gargalhadas no exercício para descontrair o corpo. Quebra-se o zelo, começa o workshop.
A professora pede para desenharmos uma flor e o pedido não é inocente. Muitos desenham a tradicional margarida. Estaremos formatados? Parece que sim. Surge um aviso importante. “Não somos todos iguais, a educação não pode ser igual”, avisa Manuela Queirós, que tem uma mão cheia de assuntos para abordar. A educação é tema incontornável e a professora, também doutorada em Investigação em Didáticas Especiais, recorda estudos que mostram que nem sempre os melhores alunos são os que têm mais sucesso na vida. As emoções na escola são importantes e é fundamental identificá-las e detetar as suas causas. Perceber quem se ensina pode fazer a diferença. A inteligência emocional é mesmo isso, é raciocinar com as emoções. “A escola não nos ensina o vocabulário emocional, mas pode ensinar”, comenta.
Andar com um caderninho para apontar o que nos faz feliz e o que nos faz sofrer é uma boa ideia. Para potenciar o que nos faz bem e arrumar o que nos aperta o coração. Olhar para dentro é conveniente quando se sabe que 40% da felicidade é determinada pela atividade intencional, pelos comportamentos e pensamentos. Há atividades para a felicidade como cultivar as relações sociais e não esquecer o pensamento positivo. Há dicas para a felicidade, pois então. Decidir ser feliz, pensar no que significa ser feliz, gerir a parte emocional, criar um programa diário de felicidade. “As emoções estão sempre presentes, têm muita força, muito poder”, sublinha Manuela Queirós.
O nosso corpo fala. Também mostra se estamos ou não felizes. “O nosso corpo reage como toda a gente, não somos feitos de outra matéria-prima”, diz Manuela Queirós. Há as reações involuntárias, mas há técnicas de relaxamento, a respiração consciente, o controlo corporal. Manuela Queirós fala de inteligência emocional para professores num workshop tão bem orientado que duas horas passam a correr. Há exemplos a dar, atividades a sugerir, explicadas no livro que acaba de editar, e ainda há tempo para escutar, de olhos fechados, um poema recitado com voz doce de um declamador que entra no corpo e amacia a alma. Neste caminho para a felicidade, é preciso ter todos os sentidos em alerta.
Competências para a vida
É um workshop bem-disposto e os professores estão atentos. Felicidade até pode ser uma palavra que se banalizou, mas ali ganha fôlego, enche o peito e mostra toda a sua força. Ana Macedo é professora de Físico-Química do 3.º ciclo e secundário. Dá aulas há 14 anos e essa questão das emoções é assunto que lhe suscita bastante interesse. Ouvir o que Manuela Queirós tem a dizer ajuda a pensar nas nossas emoções, nos caminhos para ser feliz. “A inteligência emocional é importante para a vida dos alunos e dos professores”, diz (...), no intervalo da sessão. Raciocinar com as emoções faz sentido e a inteligência emocional é uma boa ferramenta para levar para a escola. “A parte emocional é fundamental para ganhar competências para a vida”, refere Ana Macedo. A escola, como se sabe, é exigente e aguça a competitividade. E a professora de Físico-Química acredita, mesmo assim, que “a escola é um espaço privilegiado para ser feliz”.
Nazaré Machado é professora de Matemática no 2.º ciclo e está curiosa por perceber esses mundos da inteligência emocional, os caminhos que eles podem indicar. “É muito interessante este tema, como a inteligência emocional nos pode ajudar na nossa vida e na nossa profissão.” Não é assim tão fácil ser feliz. Todos sabemos. Nazaré Machado sabe-o e, por isso, o workshop abre-lhe perspetivas, outros ângulos, outras abordagens. “É uma questão de treino e começamos a ver as coisas de maneira diferente.”
Marisa Oliveira dá aulas de Matemática no 3.º ciclo e secundário e o tema desperta-lhe curiosidade. “É um assunto que já me interessa há bastante tempo”, conta. Não só em termos pessoais, como na sua prática diária dentro da sala de aula - um professor feliz pode fazer feliz os seus alunos. Raciocinar com as emoções, perceber as reações dos alunos, levar a felicidade para a escola. Tudo acaba por fazer sentido. Até porque as emoções, lembra, “podem bloquear desempenhos”.
Romana Mendonça é professora de Português e Inglês no 2.º ciclo há vários anos. Na sua opinião, faz todo o sentido pensar nas emoções e nos que elas nos podem revelar. Remexer nas entranhas para perceber atitudes, para trabalhar em nome da felicidade. “Temos de cultivar essas emoções para sermos felizes.” Romana Mendonça gosta muito do que faz. E isso nota-se no dia a dia. “Faço-o com alegria e a alegria no trabalho é meio caminho andado para a felicidade”, refere.
Fonte: Educare por indicação de Livresco
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