quinta-feira, 31 de março de 2022

Estado falha na articulação com as universidades para garantir inclusão no ensino superior

Portugal está entre os países mais capazes da Europa na hora de estabelecer objectivos claros para garantir a equidade e a inclusão no ensino superior. Os problemas começam na hora de executar as estratégias definidas, já que há falhas na articulação entre o Estado e as universidades. A conclusão é de um relatório da rede europeia Eurydice, divulgado esta quarta-feira, que classifica a situação como “paradoxal”.

O estudo “Rumo à equidade e inclusão no ensino superior na Europa” (“Towards equity and inclusion in higher education in Europe”, no original) avalia 49 sistemas educativos europeus e, no cômputo geral, Portugal não fica mal na fotografia: com 20 pontos, tem o 15.º melhor desempenho, em igualdade com a Suíça. A melhor avaliação é conseguida pela Itália (28 pontos) e a pior pela Bósnia e Herzegovina (apenas 3 pontos).

Entre a capacidade de enunciar objectivos e a dificuldade da sua concretização, é a própria rede Eurydice que aponta para uma situação “um pouco paradoxal” do país. ​O ensino superior nacional tem a pontuação máxima (quatro pontos, o que significa que cumpre todos os critérios estabelecidos) em termos definição e enunciação das políticas. Ao todo são dez as dimensões avaliadas. (...)

Fonte: Continuação da notícia em Público

quarta-feira, 30 de março de 2022

Ensinar que na surdez cabem todos os sonhos do Mundo

Uma professora que ao fim de mais de 20 anos de ensino regular quis abraçar uma experiência tão exigente quanto singular, uma surda profunda que trocou a Biologia pela Educação para provar que não há barreiras intransponíveis, seis crianças que tentam constantemente ser maiores do que as dificuldades que se lhes colaram à pele. Desafios e conquistas de uma turma de surdos da Escola Básica Parque Silva Porto, em Lisboa.

David tem nove anos, cabelo ruço, olhos azuis penetrantes, gosta de Matemática, de pintar, de futebol, costuma jogar na escola, quando for grande gostava de fazer disso vida. Esconde timidamente as mãos nos bolsos, rodopia docemente os olhos antes de responder por gestos, meio a rir, meio introspetivo, como quem tem que pensar bem em cada resposta. Nasceu na Ucrânia, veio cedo para Portugal, é surdo. Mas é maior do que a surdez.

“Margarida, Margarida”, repete, para chamar a professora da sala e lhe pedir para ir à casa de banho. “O David já fala tudo, pode ter mais dificuldades em algumas coisas, mas já dá para perceber tudo o que quer dizer, tem tido uma evolução muito grande”, orgulha-se Margarida Gomes, professora titular do 3.º C, uma das cinco turmas de surdos da Escola Parque Silva Porto, em Benfica (Lisboa). “Aliás, o David é o meu intérprete, quando é preciso.”

Porque também para esta docente as aulas são um desafio constante, uma aprendizagem invariavelmente bidirecional. Depois de mais de 20 anos embrenhada no ensino regular, decidiu que queria ensinar uma turma de surdos. Mesmo que o conhecimento que tinha de Língua Gestual Portuguesa (LGP) fosse limitado: o alfabeto, meia dúzia de palavras, pouco mais. Mesmo assim achou que tinha de experimentar. “Pelo menos uma vez na vida.”

Mesmo sabendo de todas as dificuldades que vinham com a missão. “A principal, sobretudo no início, era não ter um conhecimento correto de LGP e ter de trabalhar com eles a oralidade, a leitura e a escrita.” Isso e o facto de os meninos que tem pela frente formarem um grupo exigente e heterogéneo.

Rafaela chegou no ano passado de São Tomé sem saber nada de LGP, Zara é paquistanesa, Gabriel veio de Cabo Verde com uma bagagem recheada de adversidades. A mãe nunca o foi realmente, ele tem um problema no crescimento, já teve até um AVC. E ainda há o Martim, o reguila muito bem-disposto que se apressa a contar (também por gestos) como adora aprender Português e Matemática. Ah, e escrever a data.

E o Afonso, oito aninhos, o mais novinho da sala, que diz que adora ir à escola por causa dos amigos e que quando for grande quer, imagine-se, estar ao telefone. Todos usam aparelho ou implante auditivo, o que lhes permite ouvir sons, mesmo que isso não garanta que os compreendam.

Para ajudar Margarida a responder da melhor forma às necessidades dos alunos, a turma é acompanhada também por uma professora de Educação Especial. E por uma docente de Língua Gestual Portuguesa. Débora está mesmo em frente ao grande quadro verde, de frente para as mesas justapostas em formato de U, de onde os pequenos a observam atentos. Estão todos a conversar sobre a história que leram no dia anterior, ela ali no meio, rosto muito expressivo e gestos amplos e pronunciados, eles mais circunspetos, sem nunca deixar de interagir.

“Incentivar à luta individual”

Débora Carmo tem 42 anos, é professora de Língua Gestual Portuguesa há uns 20 – “já perdi a conta”, diz, meio a brincar, com a ajuda da intérprete -, tem um horário de 25 horas, divididas entre duas turmas. É surda profunda, ouve apenas pequenos sons, como as buzinas dos outros carros quando vai na estrada. Não tem implante nem aparelho auditivo. “Por opção minha”, esclarece, antes de se lançar no exercício de explicar porque quis ser professora de LGP.

“Bem, se calhar não tenho uma razão específica”, começa por dizer. E detém-se um momento. “Podia ter seguido Biologia, podia ter ido para a área da investigação. Mas há uns 20 anos havia uma falta muito grande de professores de LGP, era uma necessidade premente e fui contactada por vários professores que me incentivaram a seguir esta via. Acabei por aceitar, muito por querer proporcionar uma vida melhor às crianças surdas, queria poder ser um modelo, mostrar-lhes que podem fazer o que quiserem. Foi no fundo a forma que arranjei de incentivar à luta individual.”

Aprender LGP, garante, não é difícil. “É uma língua muito visual, há uma captação imediata. Claro que há coisas mais difíceis, gestos em que se enganam, mas regra geral as crianças surdas conseguem fazer uma aquisição muito rápida, no espaço de meses.” Rafaela, a menina de 11 anos que veio de São Tomé, é um bom exemplo disso. Chegou a Portugal praticamente sem conhecimentos prévios de LGP e numa questão de meses aprendeu a língua. “Ainda faltam aquisições mais complexas, mas coisas básicas ela já sabe.”

No entanto, há barreiras que se continuam a erguer bem alto. “O grande desafio para mim são as crianças que vêm sem língua [sem conhecimentos de LGP]. O que acontece com as crianças ouvintes é que já nascem recetivas aos estímulos, têm um acesso à língua imediato e acaba por haver uma interiorização, uma aquisição de linguagem. O que acontece com as crianças surdas filhas de pais ouvintes é diferente. Porque muitas vezes os pais continuam a falar em língua portuguesa e os filhos são surdos e não ouvem. Isso cria uma grave barreira na comunicação.”

Por isso, a todos os pais com filhos surdos, deixa um apelo: “Os pais é que têm de se adaptar à criança. Os meninos surdos têm direito à sua língua. A grande luta dos professores de LGP é esta, a de sensibilizar os pais para esta mentalidade que tem de ser mudada”.

“Os professores saem arrasadinhos”

Aqui, na Escola Parque Silva Porto, parte integrante do Agrupamento de Escolas Quinta de Marrocos, um dos 17 agrupamentos de referência para educação bilingue no nosso país (e bilingue, porque se ensina tanto a Língua Gestual Portuguesa como o Português), a luta é uma espécie de missão diária.

Ao todo, a escola acolhe 71 alunos com necessidades educativas especiais, 47 deles surdos. Destes, 35 estão distribuídos por turmas bilingues (entre pré-escolar e 1.º Ciclo), outros 12 integrados nas turmas do ensino regular. Um desafio imenso, admite Isabel Neves, coordenadora deste estabelecimento escolar. “Na área da Educação nunca estamos habituados a nada, estamos sempre a habituar-nos. É muito duro, os professores saem daqui arrasadinhos, com tanta solicitação.”

A esta exigência constante juntou-se, durante a pandemia, uma dificuldade acrescida, tanto mais quanto falamos de grupos em que a leitura labial é fundamental para ajudar à compreensão de determinados sons: o uso das máscaras. “Se vieram dificultar? Muito”, esclarece Margarida, entre incontáveis solicitações dos pequenos.

“Sinto uma necessidade enorme de mostrar a boca, principalmente na parte de trabalhar com eles a oralidade. Estas [aponta para as máscaras transparentes doadas pela empresa Xula Mask] são melhores porque permitem uma maior visualização, mas não são perfeitas. Muitas vezes o que acabo por fazer é afastar-me e puxar a máscara um bocadinho para baixo. Porque se eles não desenvolverem a oralidade nunca conseguirão escrever como deve ser.”

Depois, claro, são as dificuldades inerentes ao trabalho com alunos surdos. “Há palavras que em LGP nem sequer usam. O ‘de’, o ‘para’, o ‘o’, o ‘a’. E temos de os pôr a escrever assim quando não estão minimamente habituados a isso. E na Matemática é complicado por causa da interpretação das perguntas e dos problemas. Não posso fazer como fazia nas turmas de alunos regulares, que leem e respondem sozinhos. Os conceitos de ‘quantos’, de ‘qual é a diferença’ são mais complicados para eles. Como é que se consegue? Com muito trabalho. Como eu costumo dizer: flete, insiste, flete, insiste.”

E a persistência vai dando frutos, numa luta diária que se transforma também numa aprendizagem recíproca. “Hoje já consigo comunicar muito mais em LGP. Ainda não consigo entender os intérpretes que aparecem na TV, mas já consigo comunicar com os meus meninos. Até ralhar. Antes dizia sempre: ‘Débora, ralha tu que ralhas mais rápido. Agora não”, atira, com humor. E os seus meninos, como lhes chama, também se fazem mais capazes a cada dia. “Desde logo nas atitudes, porque quando cá chegaram faziam o que queriam. Agora já aprenderam que há regras e as regras permitem trabalhar muito melhor.”

E dá o exemplo de David, o menino ruço de olhos azuis penetrantes, que hoje até já faz de intérprete, e que no primeiro dia “nem sequer respondia”. “Margarida, Margarida”, repete. Pequenos passos que fazem parte de uma caminhada maior. “Sobretudo tentamos mostrar que o Mundo não se divide entre surdos e ouvintes, que podem conseguir tudo o que quiserem, se se esforçarem.”

É essa a luta maior de Débora, surda profunda que há uns 20 anos, por vocação e altruísmo, preferiu fazer-se professora de LGP: “Não queria que as crianças surdas achassem que a vida delas ia ser limitada por serem surdas. Queria que os alunos olhassem para mim e pudessem ver que podem ter uma profissão boa, que podem ir à escola, que podem ir para a universidade. ” E então dedicou a vida a essa missão tão exigente, mas tão compensadora: ensinar que na surdez cabem todos os sonhos do Mundo.

LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA - NÍVEL A1

 Está previsto começar no próximo dia 26 de abril 2022, a ação de formação LÍNGUA GESTUAL PORTUGUESA - NÍVEL A1 (25 horas).

Solicitamos a melhor divulgação da mesma, a qual, desde já agradecemos.

Se está interessado/a faça a sua inscrição aqui https://forms.gle/8CsrKiQ2DN7tqid46 

Curso de Formação acreditado pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua (Registo n.º CCPFC/ACC-111747/21)

Regime de Frequência: Online (Plataforma Zoom)

Destinatários: Educadores/as de Infância, Professores/as do Ensino Básico, Secundário e  Educação Especial

Releva na DCP (Dimensão Científico Pedagógica): Sim (de acordo com o Despacho 2053/2021, de 24 fevereiro de 2021)

Formadora: Bruna Rodrigues


Objetivos a atingir: Adquirir competências linguísticas em LGP, a um nível elementar, nomeadamente: compreender e usar vocabulário elementar de áreas temáticas do quotidiano; interagir em situações comunicativas simples (por exemplo, troca de informação pessoal e familiar, compras, geografia local, rotinas, encontros, planos); saber produzir pequenas frases em LGP; saber como fazer perguntas simples e responder às mesmas; saber desenvolver alguma competência comunicativa em LGP duma forma autónoma.


Calendarização:

26 abril 2022: 17:30h-20:00h - Sessão síncrona
28 abril 2022: 17:30h-20:00h - Sessão síncrona
29 abril 2022: 17:30h-20:30h - Sessão assíncrona
02 maio 2022: 17:30h-20:00h Sessão síncrona
05 maio 2022: 17:30h-20:00h - Sessão síncrona
06 maio 2022: 17:30h-20:30h - Sessão assíncrona
09 maio 2022: 17:30h-20:00h Sessão síncrona
12 maio 2022: 17:30h-20:00h - Sessão síncrona
13 maio 2022: 17:30h-20:00h - Sessão assíncrona
16 maio 2022: 17:30h-19:00h - Sessão síncrona


Valor da formação: Sócios da Pró-Inclusão (40€); Não Sócios (70€)
Pagamento através de transferência bancária: IBAN - PT50 0036 0106 9910 0042 3297 4  ou através de MBWAY  para o contacto da Pró-Inclusão  +351 964 502 105

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE PROGRAMAS E INSCRIÇÕES em:

terça-feira, 29 de março de 2022

Há pais muito difíceis de aturar

Beijos à porta da escola, proibição de desfrutar de certos brinquedos, pais que se armam em professores e outros que cheiram mal dos pés são algumas das reclamações que se podem ler de filhos desesperados em Os Piores Pais do Mundo.

Este é o mais recente livro traduzido para português do humorista britânico David Walliams, que, com os seus disparates, tem conquistado muitas crianças para a leitura. Em conjunto com o ilustrador Tony Ross, de traço característico e bem-humorado, foram já publicados nesta colecção As Piores Crianças do Mundo e Os Piores Professores do Mundo.


Naquela fase em que os miúdos se riem por tudo e nada, agrada-lhes este tipo de leitura. Se houver escatologia (e afins) pelo meio, ainda mais. Daí se divertirem tanto com o primeiro progenitor descrito no livro, Chico Cheirete, “o pai com os pés mais malcheirosos do mundo” e que ajuda a filha a ganhar um prémio de “melhor chef” da pior maneira que se possa imaginar.
Foto Chico Cheirete, um pai que cheira mal dos pés Tony Ross

Há ainda Lorde Grandioso, “um pateta aristocrático” que não sabia rir e, por ser rico e chique, “achava que podia fazer tudo o que quisesse”. Tinha outras características insuportáveis e até casou com “uma jovem senhora que era igualmente detestável”, Dama Priscila Pomposa.

Assim que nasceu o filho de ambos, Guilherme, foi imediatamente entregue à ama. Só o voltariam a ver quando o rapaz fez 12 anos e mesmo assim teve de ir disfarçado de… rainha, para que o recebessem.

No entanto, estes pais terríveis tiveram a vingança merecida do filho e dos empregados. Há muito que gritam “Mordomo”, pois nada sabem fazer. “Mas ninguém apareceu. Por isso, esperaram, esperaram, e continuaram a esperar. Para sempre.”
Foto Lorde Grandioso e Dama Priscila Pomposa continuam à espera de que alguém apareça para os servir... Tony Ross

Um dos pais mais absurdos é o Maurício Monopoliza, que “dava brinquedos aos filhos, mas depois nunca os deixava brincar com eles”. Iam directamente para dentro da garagem, como aconteceu com uma pista de carros e um conjunto de comboios.

“Podiam levar o avião de controlo remoto para o parque, mas só Maurício o podia pilotar.” Houve uma excepção: “Naquele dia em que, sem querer, ele espetou o avião contra o guarda do parque. Nesse dia, passou rapidamente o controlo remoto aos filhos para que arcassem eles com as culpas.” Bonito, não?
Foto Maurício Monopoliza dava brinquedos aos filhos, mas depois nunca os deixava brincar com eles Tony Ross

David Walliams é autor de perto de duas dezenas de títulos para jovens e crianças, vendeu mais de 45 milhões de exemplares e está traduzido em mais de 55 línguas. Em Portugal, estão incluídos no Plano Nacional de Leitura Avozinha Gângster, Doutora Tiradentes, A Terrível Tia Alberta, A Incrível Fuga do Meu Avô, Sr. Pivete, Koiza, As Piores Crianças do Mundo (1 e 2) e Está Uma Cobra na Minha Escola.

O autor venceu, por três vezes, The Red House Children’s Book Award, prémio inglês decidido por crianças.

Tony Ross, que assina as Histórias da Princesinha (com muitos volumes editados em Portugal), tornou-se um reconhecido criador de álbuns ilustrados originais e tradicionais. “Os seus livros”, diz a editora, “têm uma espécie de apelo universal que faz com que sejam publicados em países tão díspares como os Estados Unidos, o Japão e a Gronelândia”.

Recebeu, por três vezes, o Silver Paintbrush Award para a melhor ilustração estrangeira; o Dutch Silver Pencil Award para o melhor texto estrangeiro e o Children’s Book Prize. Já foi considerado o “maior best-seller britânico da ilustração infantil”.

Segundo David Walliams, o pai do ilustrador fazia “algo embaraçoso para um miúdo de sete anos”, já que “era um feiticeiro e punha o filho em palco a fazer truques, sem lhe contar como se faziam”. Mas nunca se sabe se este comediante da série Little Britain está a falar verdade.

Rita Pimenta

Fonte: Público por indicação de Livresco

segunda-feira, 28 de março de 2022

Mais de 100 mil alunos estarão sem pelo menos um professor já no próximo ano, prevê directora da Pordata

Por esta altura, em 2023, não saberemos em que mundo estaremos a viver, mas há um dado que parece ser certo: no ensino básico e secundário, haverá “110 mil alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina”. Isto se não forem alterados os requisitos para a contratação de docentes.

A previsão é da actual responsável da base de dados Pordata e ex-directora da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), Luísa Loura. Segundo contas feitas por baixo pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), actualmente serão 30 mil os alunos que já se encontram naquela situação.

Luísa Loura cruzou as previsões relativas à aposentação de docentes nos próximos anos com o número de diplomados nos cursos de formação de professores e comprovou que o impacto da escassez de docentes será galopante. De 110 mil alunos sem professores em 2023 passar-se-á para 250 mil em 2025 “ou seja, mais de metade dos alunos que hoje frequentam o ensino do 7.º ao 12.º anos” estarão nessa altura sem aulas a pelo menos uma disciplina.

Em causa, neste cenário, estão as disciplinas de Português, Matemática, Biologia e Geologia, Física e Química, História. Geografia, Inglês e Filosofia. Foram estas as analisadas por Luísa Loura, num artigo publicado no site da Fundação Francisco Manuel dos Santos, por “serem aquelas com dados históricos de maior expressão na formação inicial de professores”. Mas à excepção de Educação Física, os números são “preocupantes” também em todas as outras, alerta.

Com uma ressalva. Segundo a directora da Pordata, os impactos da escassez de docentes “serão apenas pontuais no caso dos anos do pré-escolar ao 6.º ano”. “Por um lado, devido à quebra da natalidade, por outro porque o número total de educadores e professores actualmente a ser formados será adequado face à projecção de necessidades futuras”, explica. (...)

Fonte: Público, onde continua a notícia

domingo, 27 de março de 2022

A participação da família na escola dos filhos

A colaboração ativa das famílias no processo educativo dos seus filhos (em casa, na escola, na comunidade), e a comunicação positiva e eficaz entre a família e a escola, é imprescindível, e pode ser um fator importante na promoção da melhoria do aproveitamento escolar, comportamental e social dos filhos. Não obstante, algumas escolas criam dificuldades para o concretizar.

O envolvimento dos pais na escola dos filhos implica a promoção de atividades que estimulem ou facilitem o intercâmbio entre a escola e as famílias que permita trocar experiências e aumentar a autoestima e autoconfiança dos pais, dando-lhes segurança no seu papel de primeiros educadores. Desta maneira, sentir-se-ão mais reforçados, fortes e motivados para se envolverem nos processos de formação dos seus filhos.

Este envolvimento pode realizar-se através de diferentes formas, que, num grau crescente de implicação parental na escola, podem ser:

a) A comunicação entre a escola e a família (e.g. através de cartas, emails, caderneta escolar, telefonemas, reuniões individuais e coletivas, folhetos informativos) acerca o currículo e o progresso dos alunos;

b) O envolvimento ativo dos pais na escola, através de trabalho voluntário, momentos de partilha e participação em atividades promovidas pela escola no espaço escolar (e.g., festas, exposições, participação na melhoria do espaço escolar, no apoio à biblioteca e salas de estudo, na organização dos tempos livres, atividades desportivas, participação dos pais na sala de aula, nomeadamente falar sobre as suas profissões, contar histórias, fazer cozinhados...);

c) O envolvimento em atividades de aprendizagem e de enriquecimento em casa (e.g., orientar, discutir e ajudar nos trabalhos de casa, apoiando as aprendizagens, de investigação de temas…);

d) O envolvimento na tomada de decisão sobre a dinâmica educativa da escola (e.g., participação de representantes dos pais na assembleia de escola, no conselho pedagógico, conselho de turma e associação de pais).

Sobre o reflexo do envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, a investigação em ciências da educação demonstra que este contribui para melhorar significativamente os desempenhos sociais e académicos dos alunos.

Com efeito, as diferentes modalidades de envolvimento e participação nas escolas trazem aos pais uma melhoria na autoestima, um maior conhecimento do processo de desenvolvimento das crianças/jovens, maior interação entre pais/filhos, entre pais/pais, entre pais/professores, uma melhoria qualitativa da participação em atividades coletiva.

O envolvimento e a participação dos pais podem também trazer benefícios aos professores, pois quando os pais estão envolvidos na vida e nos processos de decisão escolar, a qualidade de comunicação/diálogo entre pais e professores melhora e influencia positivamente a aprendizagem dos alunos, o que afeta de forma benéfica o seu desenvolvimento académico, comportamental, social e de absentismo e abandono escolar, quando as famílias colaboram com as escolas.

O processo educativo deve permitir a destruição barreiras que limitam que as pessoas tenham uma participação plena na vida social, e que as impeçam de partilhar recursos e bens culturais, nomeadamente disponibilizando para toda a comunidade educativa os recursos existentes (atividades desportivas, culturais e ocupação de tempos livres, serviços de saúde e sociais).

Assim, não são só as crianças e jovens que beneficiam desta conjugação de esforços. Os professores sentem-se gratificados nas suas funções e melhoram a sua capacidade de exercerem as suas responsabilidades de educação e de participação, e as comunidades evoluem a partir da integração de crianças e jovens educados com base na participação de todos os atores do processo educativo.

A educação é um desafio onde a escola e a família ocupam um lugar privilegiado e insubstituível. A cada uma delas competem responsabilidades próprias, exigindo-se-lhes que assumam os seus papéis numa linha de cooperação mútua, integrando de maneira positiva as normais diferenças culturais nas relações de diálogo e na ação educativa, considerando o objetivo do êxito do percurso educativo das crianças, dos adolescentes e dos jovens situados nas etapas do atual sistema educativo correspondentes à educação pré-escolar e aos níveis dos ensinos básico e secundário da educação escolar.

A Escola não se concebe isolada e a sua eficácia deve ser analisada em função da forma como integra o todo da comunidade educativa.

Eva Delgado-Martins

Fonte: Público

sábado, 26 de março de 2022

Abertura do procedimento concursal de educadores de infância e de professores dos ensinos básico e secundário para o ano escolar de 2022-2023

Pelo Aviso n.º 6331-A/2022, publicado em 25 de março, declara-se aberto o concurso externo, destinado a educadores de infância e a professores dos ensinos básico e secundário, com vista ao preenchimento de vagas existentes nos quadros de zona pedagógica do Ministério da Educação e os concursos de mobilidade interna, de contratação inicial e de reserva de recrutamento, para suprimento das necessidades temporárias, estruturadas em horários completos e incompletos, regulados de acordo com o disposto no Decreto-Lei n.º 132/2012, de 27 de junho, na redação em vigor.

A habilitação profissional para a Educação Especial é conferida por uma qualificação profissional para a docência acrescida de uma formação especializada acreditada pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua nas áreas e domínios constantes na Portaria n.º 212/2009, de 23 de fevereiro, ou de um dos cursos identificados na mesma portaria.

O tempo de serviço dos candidatos à Educação Especial é contado nos termos do n.º 4 do artigo 11.º do Decreto-Lei n.º 132/2012, de 27 de junho, na redação em vigor.

Destaca-se que, no atual enquadramento, são competências dos diferentes grupos de recrutamento de Educação Especial:
  • Educação Especial 1 (910) — apoio a crianças e jovens com graves problemas cognitivos, com graves problemas motores, com graves perturbações da personalidade ou da conduta, com multideficiência e para o apoio em intervenção precoce na infância;
  • Educação Especial 2 (920) — apoio a crianças e jovens com surdez moderada, severa ou profunda, com graves problemas de comunicação, linguagem ou fala;
  • Educação Especial 3 (930) — apoio educativo a crianças e jovens com cegueira ou baixa visão.

quinta-feira, 24 de março de 2022

TRABALHO COLABORATIVO – UM BOM PRINCÍPIO? OU UMA OUTRA LÓGICA DE TRABALHO?

O trabalho colaborativo faz parte daquelas numerosas e ricas expressões do discurso pedagógico e investigativo (diferenciação, aprendizagem ativa, prática reflexiva, entre tantas outras), nascidas de conhecimento poderoso e sustentado, que, todavia, vêm sendo crescentemente esvaziadas de sentido por um uso retórico constante. Dispomo-nos assim a neste curto texto tentar desmontar um pouco da “ilusão colaborativa”, contrariar a simplificação da colaboração quando instituída em mito e, principalmente, argumentar em favor da sua relevância para o reforço da qualidade do desempenho profissional dos professores.

Trata-se de um texto de Maria do Céu Roldão que pode ser acedido aqui.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Relatório Educação Inclusiva em revista: perspetiva geral sobre Portugal

 

OCDE lança o Relatório Educação Inclusiva em revista: perspetiva geral sobre Portugal
A OCDE acaba de lançar o estudo avaliativo sobre a implementação do regime jurídico da educação inclusiva, com vista à sua melhoria contínua. Recorde-se o regime jurídico da Educação Inclusiva (Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho), cujo artigo 33.º prevê o acompanhamento, monitorização e avaliação da sua implementação. Deste modo, o relatório produzido pela OCDE analisa a promoção da educação inclusiva em Portugal com base nas políticas e práticas nas áreas de governação, recursos, capacitação, intervenções a nível escolar e monitorização e avaliação.

Fonte: OCDE

O efeito de hipercorreção e a vantagem dos exercícios de avaliação na aprendizagem

Quando a pesquisa vem confirmar o que julgam ser verdade, as pessoas costumam dizer «eu já sabia», mas há naturalmente uma diferença abissal entre o que julgamos saber e o que sabemos. Um bom exemplo é sugerir que os delinquentes juvenis, se se encontrarem com criminosos condenados a uma pena de prisão, irão «aprender pelo medo a portar-se bem». Uma avaliação cuidadosa destes programas, levada a cabo por Petrosino e Buelher em 2004, concluiu que a sua prática fez crescer o comportamento criminoso entre os jovens. O papel da investigação é distinguir o que é óbvio e verdadeiro do que é óbvio mas falso.

Embora pareça contraintuitivo, testar os alunos em matérias que tenham aprendido fortalece a memória a longo prazo desse conteúdo. E a maioria dos estudos conclui que completar exercícios de avaliação tem maior impacto na aprendizagem a longo prazo do que estudar novamente a matéria a aprender. Ainda mais surpreendente é isto acontecer mesmo que o teste não seja avaliado: o simples facto de nos tentarmos lembrar de alguma coisa reforça essa mesma memória.

É claro que, se o teste é classificado e os alunos recebem comentários às respostas que deram, há mais uma potencial vantagem, sobretudo se descobrirem que as respostas que pensavam estar corretas estão na verdade erradas.

Quando os investigadores começaram a estudar o potencial de aprendizagem dos testes, houve uma outra questão que se tornou óbvia: será que o grau de confiança de cada aluno na sua resposta iria ter influência nos benefícios de uma correção? Em termos intuitivos, seria natural que alunos com um grau de confiança elevado pudessem resistir a emendas. No entanto, quando Brady Butterfield e Janet Metcalfe se debruçaram sobre este assunto em 2001, concluíram precisamente o contrário. Quanto maior a confiança na resposta, maior o impacto que a correção tem na retenção a longo prazo.

A questão que se põe, então, é se isto ocorre numa sala de aula comum. Um estudo muito recente, publicado por Colin Foster, Simon Woodhead, Craig Barton e Alison Clark-Wilson veio mostrar que sim.

Este grupo de investigadores utilizou uma vasta base de dados com respostas recolhidas através da plataforma digital EEDI (www.eedi.co.uk) e atentou nas perguntas de escolha múltipla às quais os alunos tinham atribuído uma nota de confiança na resposta usando uma escala de 1 a 5 (na verdade, usaram cinco emojis: 😬 , 😦 , 😐 , 🙂 e 😀).

Surgiram algumas conclusões prováveis. Os alunos com melhores resultados mostraram-se mais confiantes, tal como os oriundos de famílias privilegiadas. Os rapazes eram, em média, mais confiantes do que as raparigas, e os alunos mais novos mostravam-se mais confiantes do que os mais velhos.

No sentido de estudar o efeito de hipercorreção, os investigadores analisaram os resultados de 3838 alunos que responderam a perguntas semelhantes no primeiro e no segundo teste, e que tinham atribuído uma nota ao seu grau de confiança na resposta à questão do primeiro teste. Estes alunos apresentaram um total de 44 524 de respostas incorretas no primeiro teste. Destes, 19 885 responderam corretamente à questão análoga no segundo teste, e 24 639 responderam de forma incorreta à questão correspondente. É certo que os alunos com graus de confiança elevados no primeiro teste tenderam a ser os mais bem-sucedidos, e assim, mesmo sem o efeito de hipercorreção, era expectável que tivessem um resultado mais elevado no segundo teste porque o resultado do primeiro poderia ser fruto do azar, e seria menos provável que tivessem azar uma segunda vez (aquilo a que os profissionais de estatística chamam «regressão à média»).


Para o contrariar, os autores usaram um processo estatístico que lhes permitiu controlar a idade, o sexo, o estatuto socioeconómico e o grau de desempenho dos alunos, indicado pela pontuação do primeiro teste. Perceberam que, para alunos com uma resposta incorreta no primeiro teste, o aumento de um ponto na escala de cinco graus de confiança reforçava em 7% a probabilidade de passar a responder corretamente à questão equivalente no segundo teste.

Dado que não se fez um ensaio de controlo aleatorizado, não podemos garantir absolutamente que o grau mais elevado de confiança foi a causa da melhoria do segundo teste em relação ao primeiro. Ainda assim, e uma vez que os investigadores verificaram a idade, o sexo, o estatuto socioeconómico e o desempenho anterior dos alunos, e tendo em conta que estes pertenciam a várias escolas diferentes, a noção de que os erros cometidos com graus de confiança elevados são de facto hipercorrigidos parece ser a interpretação mais plausível destes resultados, tal como apontado por Butterfield e Metcalfe.

Que consequências traz isto à sala de aula? A ilação mais importante deste estudo, e de outros que analisaram o efeito de hipercorreção, talvez seja a de que há mesmo vantagens em pedir aos alunos que revejam os testes corrigidos e se debrucem sobre as questões em que erraram. Aliado ao efeito já comprovado dos exercícios de avaliação, a regularidade na prática destes testes de aferição parece ser uma vertente importante do ensino eficaz, ainda que desprezada em muitos países, escolas e salas de aula.

Uma desculpa será, naturalmente, os alunos não gostarem de testes. No entanto, as vantagens dos exercícios de avaliação são tantas, que acreditamos ser preciso encontrar forma de resgatar a avaliação. Poderíamos fazê-lo através daquilo a que chamo «testes sem risco». Nesta avaliação, os alunos respondem ao teste individualmente. Findo o teste, recebem uma matriz com as respostas certas, e são eles a fazer a avaliação do próprio teste. Não têm de partilhar o resultado com o professor, a não ser que o queiram. Em resumo, os exercícios de avaliação são de tal modo fundamentais como ferramenta de consolidação da aprendizagem que não podemos permitir que o facto de os alunos não gostarem de testes torne o ensino menos eficaz do que poderia ser.

terça-feira, 22 de março de 2022

Educação Inclusiva em revista: perspetiva geral sobre Portugal


Divulga-se o Relatório: Educação Inclusiva em revista: perspetiva geral sobre Portugal, elaborado pelo Ministério da Educação, que aborda as dimensões da governança, recursos, capacitação, intervenção, monitorização e avaliação da diversidade, inclusão e equidade na educação.

O presente Relatório foi produzido no âmbito da participação portuguesa no Projeto da OCDE - “Strength through Diversity” - A Diversidade faz a Força e, passados 4 anos após a publicação do Regime Jurídico da Educação Inclusiva, constitui um contributo valioso para a identificação de formas de melhorar a equidade e a inclusão no sistema educativo português.

Amanhã, dia 23 de março de 2022, a OCDE lançará o estudo avaliativo sobre a implementação do regime jurídico da educação inclusiva, com vista à sua melhoria contínua. Recorde-se o regime jurídico da Educação Inclusiva (Decreto-Lei n.º 54/2018, de 6 de julho), cujo artigo 33.º prevê o acompanhamento, monitorização e avaliação da sua implementação. Deste modo, o relatório produzido pela OCDE analisa a promoção da educação inclusiva em Portugal com base nas políticas e práticas nas áreas de governação, recursos, capacitação, intervenções a nível escolar e monitorização e avaliação. Foram parceiros na elaboração deste estudo a Comissão Europeia e a Fundação Calouste Gulbenkian.

Fonte: DGE

Remendar a divisão da educação: obtendo professores fortes para as escolas que mais precisam deles



Os professores podem moldar as carreiras educacionais de seus alunos. A pesquisa mostra que as crianças ensinadas por professores diferentes muitas vezes experimentam resultados educacionais muito diferentes. Isso levanta as questões: como os professores são atribuídos às escolas em diferentes países? E até que ponto alunos de diferentes origens têm acesso a bons professores? Com base na literatura que identifica as características e práticas de ensino que impulsionam o desempenho dos alunos, este relatório mostra como professores com diferentes características e práticas tendem a se concentrar em diferentes escolas e quanto acesso alunos com diferentes origens socioeconômicas têm a bons professores. Aponta os aspetos dos diferentes sistemas educacionais que influenciam a forma como os professores são alocados nas escolas. O relatório também discute as consequências que os sistemas desiguais de alocação de professores têm sobre os resultados educacionais dos alunos.

Fonte: OCDE

segunda-feira, 21 de março de 2022

Estaremos a “erradicar” as pessoas com síndrome de Down?

Quando chega o resultado de um exame pré-natal que confirma que um bebé irá nascer com um cromossoma a mais, "a primeira questão que vem da parte de um médico é 'quando é que é para agendar a interrupção da gravidez?'", diz a fotógrafa Marinka Masséus. Países como a Dinamarca ou a Islândia "gabam-se de 'quotas de erradicação quase perfeitas'". Será que tal significa que, no Ocidente, "não tardará até que não existam mais pessoas com síndrome de Down"? É "trágico", considera a holandesa, autora do projecto Chosen [Not] to Be. Há uma linha ténue que separa aquilo que é considerado, ou não, eugenia?

A fotógrafa nunca tinha conhecido alguém com síndrome de Down, ou trissomia 21, antes de iniciar esta série fotográfica. E percebeu que sabia muito pouco sobre estas pessoas. "Toda a informação que tinha chegou de forma indirecta, periférica, ao longo da minha vida", refere em declarações ao P3. "E se isto era verdade para mim, podia ser para mais pessoas." Por esse motivo, e porque foi convidada a integrar o Radical Beauty Project, juntando-se assim a fotógrafos de todo o mundo que retrataram modelos com síndrome de Down para um futuro livro, Marinka Masséus decidiu debruçar-se sobre o tema. E aquilo que descobriu foi surpreendente. Existe, na sua opinião, uma clara discrepância entre aquilo que a sociedade conhece acerca destas pessoas e as suas verdadeiras capacidades. Foi, também, a necessidade de abordar "as barreiras que essas pessoas encontram, a recusa da sociedade em reconhecer as suas capacidades e a invisibilidade de que são vítimas" que levou a holandesa a desenvolver este projecto.

A discrepância acima descrita "é relevante a muitos níveis", explica. Porque são o estigma e a desinformação — e não a presença do cromossoma — o que mais incomodam as pessoas com síndrome de Down e as suas famílias. "É a forma como são tratadas e as oportunidades escolares e profissionais" que ditam o mal-estar em sociedade, concluiu. "Os pais que conheci falam com ternura acerca dos seus filhos e declaram que os desafios que enfrentam não estão relacionados com síndrome de Down, mas com a resposta da sociedade", explica a fotógrafa. Eles acusam "as escolas de se recusarem a matricular as crianças", acusam "familiares, médicos e pessoas desconhecidas de tecerem comentários negativos" acerca dos seus filhos. "Existem obstáculos constantes que impedem as crianças de cumprirem o seu potencial."

Marinka Masséus é disso testemunha. Quando fotografou Juliette, Margot, Emma, Eveline e Tessel para o projecto, sentiu-se tocada "pelas personalidades vincadas, pela honestidade e dedicação, pela vontade de vencer, pelo profissionalismo e pela capacidade de dar amor na sua forma mais pura". As meninas e mulheres que captou sentem uma necessidade constante de provarem que são aptas, que estão sempre à altura dos desafios que lhes são colocados. Marinka acredita que este é um sentimento transversal entre as pessoas deste grande grupo. "Eles querem que o mundo as veja", refere, porque a sociedade tem tendência a acreditar que todas as pessoas com trissomia 21 partilham os mesmos traços de personalidade e comportamentos. A esse propósito, Marinka Masséus cita uma actriz com síndrome de Down, Sara Gordy: "'Quando conheces uma pessoa com síndrome de Down, é exactamente isso que acontece: conheceste uma pessoa com síndrome de Down. Todos somos indivíduos."

"Deve ser esgotante e frustrante ser constantemente subestimado", comenta a holandesa. As suas retratadas, sublinha, têm vidas muito activas. "A sua expressão criativa é uma parte importante das suas vidas e foi com muito entusiasmo que me contaram episódios das suas actividades — dança, natação, teatro, escrita, cozinha, etc. A maioria vive de forma independente em comunidades de pessoas com síndrome de Down. Têm empregos de que gostam."

Nos Países Baixos, foi recentemente lançado um livro chamado Zwartboek, em que os pais de crianças com síndrome de Down contam as suas experiências. "Esse livro foi oferecido ao governo holandês para ser catalisador de mudança", explica Masséus. "Lê-lo partiu-me o coração. Existe tanta desinformação." A holandesa deixa, em suma, um desafio e uma pergunta: "Em algum momento, vamos ter de começar a questionar-nos acerca de temas difíceis, como diversidade, inclusão, 'perfeição', etc. Afinal, que tipo de sociedade desejamos criar?"

O projecto de Marinka Masséus estará em exposição no festival Circulation(s) - European Young Photography Festival, em Paris, entre 14 de Março e 10 de Maio. Durante as próximas semanas, o P3 apresenta alguns dos projectos que fazem parte da 10.ª edição do festival.

Fonte: Público

Uso de tecnologias afeta cada vez mais a postura de crianças e jovens

Após longos períodos fechados em casa e agarrados às novas tecnologias, há cada vez mais crianças e jovens a apresentar problemas de coluna. A MAGG falou com um fisioterapeuta que explica como contornar esta situação.

Vivemos inevitavelmente numa realidade que nos obriga a passar várias horas do nosso dia agarrados a dispositivos eletrónicos já que é através deles que trabalhamos, comunicamos e até aprendemos. Com o confinamento, esta realidade intensificou-se e são cada vez mais as horas seguidas que passamos em frente a um computador numa postura que nem sempre é a melhor.

Contudo, esta é uma realidade que afeta progressivamente as camadas mais jovens que, desde cedo, se têm vindo a habituar a passar o dia a olhar para um ecrã. Segundo António Gaspar, fisioterapeuta e CEO da clínica António Gaspar, esta tendência tem vindo a ter um grande impacto na saúde corporal.

“Parte do nosso dia é passado na mesma postura, e quando estas são mantidas por períodos de tempo prolongados podem resultar em dores cervicais, da coluna em geral e muitas vezes também dores de cabeça, sobretudo em crianças e jovens”, explica o especialista à MAGG, referindo que, depois do confinamento, foram muitos as pessoas desta faixa etária que chegaram às suas consultas com problemas de coluna, várias dores e limitações em termos de qualidade de vida.

Mas há alguma forma de prevenir estes problemas? É verdade que uma boa cadeira pode sempre ajudar, mas António Gaspar explica que não há nenhuma postura absolutamente correta para quem está o dia todo em teletrabalho ou em telescola. “Qualquer postura mantida durante um longo período de tempo é prejudicial para a nossa coluna e não só. Penso que o mais importante é ter noção do que devemos fazer e ter algumas estratégias como, por exemplo, fazer pausas e ter horas programadas para isso. Quem está muito tempo sentado, ao fim de 30 ou 40 minutos deve levantar-se, mexer-se um bocadinho e até espreguiçar-se”, aconselha o especialista.

Além disso, o “saber desligar nas pausas” é apontado por António Gaspar como algo essencial e que a maioria das pessoas não faz. “Muitas vezes vão comer e continuam com o telemóvel ou com o iPad, acabando por estar com posições incorretas onde as articulações continuam em stresse.” No caso específico das crianças e adolescentes, frisa que esta promoção da pausa deve ser também incentivada pelos pais e, no âmbito escolar, pelos professores. “É preciso fazê-los parar e garantir que, em determinados períodos do dia, não há tecnologias.”

O especialista afirma que, nas escolas, devia existir uma maior avaliação destes casos, visto que há crianças e jovens com mais tendência para determinado tipo de posturas corporais incorretas. “Penso que se não for feito nada a nível escolar, quando eles forem jovens adultos ou até mais velhos, irão ter uma tendência maior para problemas de coluna e posturais superior ao que seria normal. Se houvesse um rastreio nas escolas, com indicações mais profissionais ou precisas para o efeito, estaríamos a ter uma geração mais saudável, ao contrário do que estamos a fazer, que é fomentar uma menos saudável, neste caso concreto, em termos de problemas de coluna.”

A importância do regresso às atividades físicas

Após longos períodos fechados em casa em que a única distração possível eram, para muitas crianças, os equipamentos tecnológicos, aos poucos começamos a desconfinar. Nesta fase, o especialista refere que é essencial que as camadas mais jovens, e não só, regressem às atividades desportivas.

No caso de pessoas já diagnosticadas com lesões específicas, será, segundo António Gaspar, necessário fazer sempre uma avaliação correta pelo profissional de saúde, para que se perceba qual a atividade mais adequada. “Pilates clínicos ou outro tipo de exercícios muito orientados numa perspetiva de correção postural e de melhoria da coluna e da dor (se houver) terão de ser programas mais diferenciadores”, refere.

No caso de não existir qualquer problema diagnosticado, o fisioterapeuta sugere a prática de natação como uma das melhores modalidades para ajudar nesse sentido, bem como a prática de outros desportos que “obriguem o corpo a mexer-se de uma forma geral”.

António Gaspar frisa a importância do exercício tanto para a saúde física como mental das crianças, e refere que cabe aos adultos incentivar as boas práticas. “Penso que as crianças e os jovens se acomodaram mais com as suas novas tecnologias e com o seu sofá e, como tal, há que definir metas bem precisas para se movimentarem e para fazerem uma atividade diária” a título individual ou nas escolas, explica.

“Penso que as escolas estarão mais ou menos preparadas. De qualquer forma, temos todos de pensar um bocadinho, começar a colocar exercícios nos programas escolares e na educação física que possam compensar as más posturas que hoje temos todos tendência para adotar, e sensibilizar as crianças para esta temática tão importante para elas e para o seu futuro”, remata o especialista.

Fonte: MAGG

domingo, 20 de março de 2022

Justiça não pode imiscuir-se na estratégia para aulas da Cidadania, diz Governo

A definição da estratégia nacional para a Educação para a Cidadania é uma prerrogativa legislativa e do poder político e a Justiça não pode imiscuir-se "no exercício da função política". Esta é posição do Estado português, em resposta ao processo judicial da Sal - Associação de Defesa da Liberdade, que pede o fim dos conteúdos referentes à "chamada perspetiva, teoria ou ideologia de género" das aulas de Cidadania.

A associação, com sede em Lisboa, interpôs uma providência cautelar e uma ação popular, a que já se juntaram 1100 pessoas. Além da retirada dos conteúdos letivos relacionados com a identidade de género das escolas públicas, pede ao Tribunal que o Estado seja condenado a suspender, "de imediato, a disponibilização dos materiais de referência e recursos" alusivos ao tema.

O Ministério da Educação e a Secretaria Geral de Educação e Ciência (SGEC) já responderam ao Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa e as partes aguardam, agora, por decisão do juíz. (...)

Fonte: JN por indicação de Livresco

sábado, 19 de março de 2022

Governo quer novo modelo de educação inclusiva (Açores)

O objetivo é alterar os critérios de seleção dos alunos com necessidades educativas especiais.
No novo modelo de educação inclusiva entram, por exemplo, alunos com dificuldades de adaptação à escola, por terem mudado de país.

O diploma, ainda em discussão com os sindicatos, deve implicar um reajustamento de horários de pessoal docente e não-docente.

Ver vídeo da notícia.

Fonte: RTP Açores por indicação de Livresco

sexta-feira, 18 de março de 2022

Avaliação externa das aprendizagens no presente ano letivo

O Governo aprovou medidas extraordinárias relativas aos efeitos da avaliação externa das aprendizagens no presente ano letivo.

Ainda que no ano letivo 2021-2022 apenas tenha havido alterações pontuais ao calendário escolar, nomeadamente um ajustamento da interrupção letiva do Natal, as situações de doença e isolamento profilático motivadas pela COVID-19, tiveram impacto nas atividades letivas presenciais.

A avaliação externa das aprendizagens realiza-se através de provas nacionais e exames, cujos resultados têm efeitos distintos: avaliação e certificação, relevância para o acesso ao ensino superior e aferição dos desempenhos dos alunos.

Sabendo que o contexto pandémico teve reflexos nas aprendizagens dos alunos, importa ter informação precisa e sistematizada sobre estas consequências nos alunos e no sistema.

Simultaneamente, em linha com os últimos dois anos letivos, é do interesse dos alunos não prejudicar o processo de acesso ao ensino superior.

Assim, e após consulta a órgãos consultivos, bem como a parceiros do sistema educativo, o Governo deliberou:
  • Realizar todos os instrumentos de aferição normalmente previstos, para que seja possível dispor de indicadores do sistema sobre o desenvolvimento das aprendizagens, permitindo uma monitorização das estratégias de recuperação das aprendizagens, com vista à reconfiguração de medidas de apoio às escolas e aos alunos.
  • Realizar as provas de 9.º ano para efeitos de aferição, complementando os instrumentos que têm vindo a ser desenvolvidos para monitorização do sistema (de que se destacam o Estudo Diagnóstico, as Provas de Aferição realizadas em 2021 e as Provas de Aferição a realizar este ano). Dos resultados das provas de 9.º ano serão produzidos relatórios de escola desagregados por subdomínios, à semelhança do que acontece com as Provas de Aferição dos 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade.
  • Prorrogar as condições excecionais de conclusão do Ensino Secundário, havendo lugar à realização de exames nacionais apenas para efeitos de acesso ao ensino superior.
Consegue-se, assim, um equilíbrio entre os efeitos da avaliação externa e o seu papel fundamental de fonte de informação para os processos de monitorização da qualidade do sistema educativo, para que seja possível o acompanhamento e balanço das aprendizagens, contribuindo para uma implementação ainda mais sustentada do Plano 21|23 Escola+, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 90/2021, de 7 de julho de 2021.

Recorde-se que desde o dia 8 de julho de 2021 está publicado o Despacho n.º 6726-A/2021, referente ao calendário de Provas e Exames dos Ensino Básico e Secundário, que contemplam as datas e os procedimentos que devem ser seguidos para o efeito da sua realização.

quinta-feira, 17 de março de 2022

AS DESIGUALDADES PROVOCADAS PELA PANDEMIA NA EDUCAÇÃO: UM PROBLEMA DE AGORA?

As desigualdades resultantes da estruturação do sistema educativo remontam a tempos muito anteriores a março de 2020. Os efeitos que destas surgem estendem-se à escala global, não excluindo Portugal desta realidade.

O sociólogo Anthony Giddens refere que as instituições educativas promovem uma “reprodução cultural”, já que, “conjuntamente com outras instituições sociais, contribuem para perpetuar as desigualdades económicas e sociais ao longo das gerações”.

O ambiente familiar em que a criança se insere e com o qual convive numa base diária sedimenta determinadas formas de refletir e padrões de pensamento, muitas vezes refletores da realidade socioeconómica e cultural em que o agregado familiar vive. Os valores que abrangem e delineiam esta realidade ser-lhe-ão incutidos, por vezes de forma não premeditada, uma vez que se encontram intrinsecamente ligados à mesma.

Assim sendo, constata-se que os conhecimentos ensinados na escola, de cariz mais teórico, acabam por ir de encontro às estruturas e ideias tradicionalmente propugnadas pelo que são as famílias com melhores condições financeiras, muito vincadas naqueles que seriam os ramos no mercado de trabalho tomados como mais prestigiados, médico e advogado como clássicos exemplos. Tal acaba por descurar o conhecimento prático, sendo este subvalorizado e associado a profissões rotuladas como menos apetecíveis e afetas às camadas mais pobres.

Esta distinção entre o que é ou não valorizado, o que é ou não útil e o que é ou não digno, por exemplo, acabam, muitas vezes, por acentuar as desigualdades no acesso ao ensino e no percurso após entrada.

Estas desigualdades são claras desde muito cedo, começando pela possibilidade ou não de a criança frequentar a creche e o ensino pré-escolar. Constata-se que estes têm um importante papel no desenvolvimento da criança nos seus primeiros anos de vida, não só permitindo o desenvolvimento das capacidades e relações sociais, como também sendo estimuladas a linguagem e oralidade, bases para uma futura boa aprendizagem.

Numa perspetiva mais alargada e tendo por base o relatório “Portugal, Balanço Social” de 2020 e 2021, elaborados pela NOVA School of Business and Economics em colaboração com o BPI e a Fundação “La Caixa”, é de conhecimento que estas disparidades se sentem ao ponto de se refletirem nos níveis de insucesso escolar, nos números de acesso ao ensino superior, e ainda no que concerne as taxas de abandono escolar.

Não obstante, não se poderá descurar os impactos resultantes de múltiplos confinamentos, incerteza e medo marcantes da pandemia. Este agravamento estende-se, de facto a uma escala europeia e mesmo global, segundo o estudo realizado pela Human Rights Watch (HRW), organização não-governamental que defende e realiza pesquisas sobre os direitos humanos. As estimativas apontam que 90% das crianças e jovens em idade escolar no mundo tiveram a sua educação prejudicada pela pandemia.

A transição integral para um ensino em regime online foi algo para o qual o país não estava preparado e muito menos as crianças e as famílias. Rui Gomes, doutorado em Ciências da Educação e professor catedrático da Universidade de Coimbra, constata que “A desigualdade de acesso à sociedade digital tornou-se notória com o recuo dos alunos para o espaço doméstico (…)”.

O acesso ao computador e à internet tornaram-se essenciais para o ensino à distância. Ainda que, ao longo dos últimos anos, e segundo os dados disponibilizados pelo Sistema de Informação do Ministério da Educação (MISI), se tenha registado um aumento da percentagem de alunos que têm estes meios disponíveis para uso, este acesso continua a ser muito desigual. Os beneficiários dos Serviços de Ação Social Escolar são os mais limitados ao usufruto de computadores e internet.

Numa perspetiva multidimensional, a necessidade de refeições servidas pelas escolas, por impossibilidade das famílias de as poder providenciar, bem como o acolhimento de alunos em situação de risco, nomeadamente vítimas de agressões e violência dos mais diversos tipos no contexto doméstico, concretizam igualmente implicações não só ao nível da saúde e bem-estar básicos como num plano secundário no aproveitamento da criança.
Desigualdades no Ensino Universitário

Ao nível do ensino universitário, ainda que mais seletivo, por razões exatamente motivadas pela desigualdade de classes, também se verificaram complicações. A limitação ou mesmo impossibilidade de acesso aos recursos outrora disponíveis aos estudantes, como bibliotecas e espaços de estudo até aos problemas referentes ao acesso a computadores e internet, transversais a todos os graus de ensino, são alguns exemplos de desigualdades que afetam os estudantes neste nível de ensino.

Os estudantes internacionais, que se encontram noutro país a frequentar o programa Erasmus, também são dos mais afetados por esta ameaça à saúde pública. Muitos estudantes não têm qualquer sistema de apoio no país em que estudam e encontram-se sem possibilidade de regressar ao seu país natal, estando assim sozinhos e sem qualquer tipo de suporte.

Confrontados com estas realidades, o estado e, no caso universitário, as próprias universidades, não se acanharam com implementação de medidas para nivelação dos seus estudantes e a tentativa de esbater estas desigualdades. Segundo o relatório já mencionado “Portugal, Balanço Social” de 2020 e 2021, constata-se que ainda assim estas ficaram muito aquém das necessidades.

Olhando de perto para o exemplo da telescola, o programa “Estudo em Casa” foi posto no ar no canal RTP Memória e surgiu como forma de colmatar estas dificuldades de acesso ao mundo digital. Nem esta terá chegado a todos os estudantes da mesma forma. “O aumento [de 60%] de espetadores não é homogéneo entre classes sociais, sendo mais expressivo entre os mais ricos (classes A e B)”, lê-se no documento.

Afirma Elin Martinez, investigadora sénior da HRW para a área da educação declara que “A educação das crianças foi confiscada num esforço para proteger a vida de todos do (novo) coronavírus. Para compensar o sacrifício das crianças, os governos devem finalmente estar à altura do desafio e tornar urgentemente a educação gratuita e disponível para todas as crianças em todo o mundo”.

Perante o estado da arte e com gradual abrandamento das regras, é prioritária e fulcral o investimento no ensino e na educação. Nas palavras de Josep Borrell “A UE reafirma a importância primordial de uma educação de qualidade para o desenvolvimento pessoal, social e profissional das crianças e jovens, dentro e fora da UE, para construir um futuro melhor e mais equitativo, reduzir as desigualdades socioeconómicas e de género e promover a paz e democracia”.

Beatriz Areal dos Santos

Fonte: JUP online por indicação de Livresco

quarta-feira, 16 de março de 2022

Medir o quê e medir para quê?

1. De início falávamos dos atrasos nas aprendizagens, provocados pelas enormes irregularidades verificadas nos dois últimos anos lectivos. Agora falamos dos atrasos no “Plano de Recuperação de Aprendizagens”, provocados pela escassez de professores, mais grave no Algarve e Lisboa e Vale do Tejo, mas já estendida a todo o país. Porque sem professores não se recuperam aprendizagens e sem presente nem futuro na carreira não se atraem professores.

Tendo este quadro por fundo, o Governo entendeu que as condições de aprovação e conclusão do ensino básico se limitariam às classificações internas e que no ensino secundário continuariam as regras que vigoraram nos dois últimos anos: só será necessário realizar os exames às disciplinas específicas para acesso ao ensino superior. Entender a decisão como apropriada às circunstâncias não impede de a considerar como mais uma achega para a diminuição da exigência do sistema de ensino.

2. De 2 deste mês a 22 Abril, em 80 países participantes, decorre a aplicação dos testes PISA, os quais, como é sabido, medem literacias diversas dos alunos com 15 anos de idade. Portugal está envolvido no processo com 12.000 estudantes, pertencentes a 231 escolas.

A qualidade psicométrica deste programa tem sido criticada, sob ângulos diversos, ao longo dos tempos. Ainda recentemente, António Teodoro (Critical Perspectives On PISA As A Means Of Global Governance) lhe apontou problemas metodológicos, incoerências e limitações, afirmando mesmo ser um erro crasso calibrar políticas pelo PISA. Com efeito, alinhar acções educativas com estratégias assentes na teoria do capital humano, mais do que inadequado, é redutor para o desenvolvimento dos jovens e obriga-nos a formular a pergunta: o que devemos esperar da Educação? Que forme homens completos ou competidores económicos?

A tendência da OCDE para estabelecer uma tessitura entre a missão da escola e o interesse da economia tem promovido a aquisição de competências instrumentais, mais do que a aquisição do conhecimento. Só que a Educação é arte de pessoas e o seu objectivo é formar pessoas, que não objectos produtores de lucro. Mais do que mundializar os interesses económicos, deve a Educação mundializar os direitos fundamentais da pessoa humana.

3. Quatro conceituados autores da economia da educação, numa meta-análise de dados de 164 países (Measuring Human Capital Using Global Learning Data, 2021, Nature, Vol. 592) referem que ao aumento generalizado do tempo de escolaridade tem correspondido um crescimento baixo ou mesmo nulo das aprendizagens dos alunos. Reportando-se a dados de 2000 a 2017, dizem os autores que esses dados mostram um fraco progresso no que se aprende, ou seja, os alunos estão na escola, mas aprendem muito pouco. Ora é por aqui que fomos e continuaremos com os governos de António Costa, suprimindo a avaliação séria, manipulando resultados escolares e promovendo narrativas pedagógicas já derrotadas no passado como inovações do terceiro milénio.

O nosso sistema de ensino continuará pressionado com o aumento de temas que devem integrar as aprendizagens. Um a um, é fácil defender com argumentos a pertinência desses temas. Vistos em conjunto, abalroam duas variáveis inultrapassáveis: o número de horas lectivas disponíveis e os limites de assimilação por parte dos alunos.

A organização do ensino apelará cada vez mais para a dimensão controladora e cada vez menos para as dimensões reflexiva, colaborativa, afectiva e relacional. Particularmente com a ênfase dada à chamada digitalização da educação, o ensino institucional tenderá para o rapidamente feito, substituindo o desenvolvimento de pessoas inteiras pelo desenvolvimento de autómatos.

Tudo porque há quem não entenda que, se Frank Lloyd Wright tivesse vivido no mato, nunca teria projectado o que projectou, ainda que, concedo, a sua cubata pudesse superar a dos vizinhos.

Santana Castilho

Fonte: Público por indicação de Livresco