terça-feira, 31 de março de 2020

Escola para todos

A igualdade de oportunidades de acesso à educação é um direito constitucional e uma obrigação de um Estado democrático. Na situação inédita em que vivemos temos de ser criativos e ter uma enorme disponibilidade mental e de procedimentos para a assegurar.

As ordens de afastamento social conduzem à inevitável passagem das atividades educativas para meios de comunicação digitais. A comunicação à distancia pode resolver parcialmente o problema das desigualdades de acesso, e para tal é fundamental garantir que, pelo menos a nível de infraestruturas, todos têm acesso, equipando os agregados familiares que declaram ter dificuldades de infraestruturas físicas e de acesso à rede. O Ministério da Educação e as câmaras municipais já estão a fazer o levantamento destes dados no seio dos alunos.

Estima-se que 50.000 a 70.000 alunos não possuam nenhum computador em casa. A este número acresce as necessidades secundárias que emergem pelo facto de haver apenas um computador no agregado familiar que neste momento esteja a ser requisitado pelos pais e irmãos que estão também em teletrabalho ou escola à distância. De recordar que as aulas presenciais em ambiente digital podem também ser acompanhadas via telemóvel, um bem que está amplamente difundido: 7,2 milhões de portugueses utilizam a internet neste dispositivo (ANACOM, 2019) e 97% dos alunos de 15 anos declaram ter pelo menos um telemóvel com internet que podem utilizar (OCDE, PISA, 2018). Cruzando a existência de computador com telemóvel, estima-se em 7500 o número de alunos que não possuem nem um nem outro.

Temos também de considerar a realidade dos professores que podem não ter equipamento informático em casa, ou cujo equipamento nesta fase esteja a ser partilhado. Deveria também ser feito um levantamento destas necessidades. É uma regra básica de qualquer empregador verificar as condições de trabalho dos funcionários que são colocados em teletrabalho.

A existência de telemóveis nos agregados familiares pode servir como hotspot para dar rede aos computadores. O Governo tem de garantir que os operadores alargam os pacotes contratualizados pelas famílias, o que já aconteceu este mês. A cobertura de rede móvel ainda não é plena em Portugal. O litoral está muito bem servido, mas existem desigualdades para o interior, donde temos também de fazer o levantamento destas necessidades e solicitar às operadoras a colocação de pontos móveis nos locais onde existirem alunos/professores sem rede.

Se considerarmos que 30% dos professores não têm computador, ou estão numa situação de utilização limitada, são necessários 40.000 computadores para satisfazer esta necessidade. Acrescem 50.000-70.000 alunos sem computador. As necessidades dos irmãos, desde que haja um computador e um telemóvel em casa, podem ser consideradas como suficientes.

A projeção de necessidades imediata estará perto de 120.000 equipamentos, ao qual acrescem 10.000 alunos sem acesso à rede. É crucial planear a distribuição destes recursos.

Em 2017/18 existiam 216.000 computadores nas escolas públicas (DGEEC, 2019), embora um pouco envelhecidos – apenas 14% com menos de três anos, mas quase todos operacionais e com capacidade de se ligarem à internet. Estes computadores podem ser mobilizados para suprir as carências dos docentes e alunos.

Uma outra solução passa pela compra de equipamentos portáteis de gama baixa por parte do Estado e sua distribuição pelos agregados familiares em causa. Esta pode ser uma solução mais célere. Nesta fase, estou certa que as empresas de computadores estariam na disposição de praticar preços de custo para contribuir para a resolução do problema logístico que o ensino à distância nos coloca. Estimo que estaríamos a considerar uma despesa na ordem dos 15 milhões de Euros, representando cerca de 0,25% do orçamento da Educação para 2020.

Resolver o acesso às infraestruturas tecnológicas é o menor dos obstáculos. É o primeiro passo para combater o isolamento dos mais desfavorecidos, em prol das aprendizagens, mas também da abertura de canais de contato com professores, assistentes sociais, psicólogos e, claro, com os colegas, todos peças fundamentais para garantir alguma sanidade mental e proteção aos menores em risco.

Ao resolvermos o desafio da infraestrutura, o passo seguinte é garantir que todos a sabem utilizar. Quanto mais jovem for o aluno menos conhecimentos informáticos terá, o que coloca maior responsabilidade nos pais, estes mesmos a necessitar de apoio.

Temos também limitações no lado dos professores: 52% não tiveram qualquer formação inicial sobre a utilização de meios digitais e 27% não utilizam de todo nas suas aulas presenciais. Apenas 50% se declaram à vontade para utilizar as tecnologias digitais no seu ensino (OCDE, TALIS, 2018) e 12% consideram que têm competências informáticas medíocres e que necessitam muito de formação nesta área. Se os professores não conseguirem adaptar-se de forma rápida a este desafio, mesmo que os alunos estejam equipados, o problema fica por resolver.

Os desafios para as próximas semanas são identificar e equipar com computador e internet todos os que estão carenciados e formar professores (e pais de alunos do 1.º ciclo) que se confessem com reduzida capacidade informáticas. Em tempos de emergência a mudança acontece rápido e as pessoas mostram uma grande vontade de cooperar. Sim, é possível.

Isabel Flores

Fonte: Público por indicação de Livresco

A educação dos cegos e amblíopes nos Açores é um problema

Pedro Resendes Presidente da delegação dos Açores da ACAPO - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal explica com que dificuldades e obstáculos se confrontam os cegos e pessoas com baixa visão na Região, a começar pela educação onde faltam materiais e formação para docentes

25 anos depois da criação de uma delegação da ACAPO nos Açores que apoio é dado aos cegos e amblíopes aqui na Região?
Houve uma evolução bastante grande, mas a grande questão é o que ainda falta fazer. Em 1995, as coisas eram muito muito menos desenvolvidas. Havia uma situação de alguma discriminação e de alguma vergonha, de não sair de casa por se ser diferente dos outros. E conseguiu-se acabar, mais ou menos, com esse problema; conseguiu-se fazer com que as pessoas não tivessem medo de ser quem são; e que fossem aceites pela sociedade. Portanto, conseguiu-se que se abrissem à sociedade e se mostrassem, sem que tivessem vergonha de serem cegas ou de terem baixa visão. Conseguiu-se fazer um grande serviço nesse aspeto. (...)

Fonte: Açoreano Oriental por indicação de Livresco

segunda-feira, 30 de março de 2020

Alunos da educação especial prejudicados com ensino à distância

A Federação Nacional da Educação (FNE) alertou hoje o ministério de que o ensino à distância deixa de fora estudantes e professores sem equipamentos, mas também os alunos da educação especial, para quem “não há teletrabalho”.

Há pouco mais de duas semanas, o Governo mandou encerrar todas as escolas como forma de controlar a disseminação do novo coronavírus, que já infetou quase 6.500 pessoas em Portugal, e desde então os professores estão a dar aulas à distância, mas nem todos têm acesso à internet ou equipamentos.

Para a FNE, “é urgente” que o Governo promova “a rápida disponibilização de equipamentos e de acesso à internet” a docentes e alunos que não os tenham para que possam participar no ensino a distância, que veio substituir temporariamente as aulas presenciais.

Também os diretores escolares e os pais tinham feito este pedido, e o Ministério da Educação já começou a fazer um levantamento escola a escola de todos os alunos em situação mais carenciada.

A compra de materiais e o acesso a meios técnicos pessoais deve ser uma responsabilidade do Estado, que “tem a obrigação” de disponibilizar condições e recursos que permitam o acesso a modalidades alternativas de contacto direto com os alunos, defende a FNE em comunicado enviado hoje para as redações.

Para a FNE, o ensino à distância é uma solução temporária que apresenta muitas fragilidades, tais como acentuar as desigualdades e tornar mais difícil a educação inclusiva: “Não respondem à concretização de uma efetiva educação inclusiva, nomeadamente ao nível da educação especial. Não há teletrabalho na educação especial”.

A FNE lembra que as condições do ensino à distância não permitem substituir a atividade letiva presencial e que por isso não se pode “construir a expectativa exagerada de que, de um momento para o outro, todas as insuficiências, constrangimentos e limitações sejam superadas, na expectativa de uma pretensa normalidade e de um pleno e regular funcionamento do terceiro período letivo”.

Acreditando que a interrupção das atividades letivas se deverá prolongar durante o terceiro período, a FNE pede ao Governo que determine um “enquadramento claro” para a conclusão do ano dos alunos desde o ensino básico ao superior.

Tal como defendido pelos diretores, também a FNE entende que este ano não se devem realizar provas de aferição nem exames de 9.º ano e que os exames de 11.º e 12.º anos devem ser adiados para setembro.

Em relação à avaliação dos alunos, a FNE lembra que há escolas onde o ano letivo está dividido em trimestres e outras que estão organizadas por semestres e que o ministério deve ter este facto em conta.

“Terão de ser adotadas medidas excecionais que o contexto excecional que vivemos exige”, conclui a FNE.

Portugal regista hoje 140 mortes associadas à covid-19 e 6.408 infetados, segundo o boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.

Fonte: dnoticias.pt por indicação de Livresco

O gato que nos une

São 8h. Não há jovens em grupo. Nem há jovens solitários. Não há, ponto. Não há pais atarefados. Não há buzinas nem gritos. Insultos também. Não há o beijo de despedida. Não há o beijo de amor. Não há as passas num cigarro partilhado. Não há os gritos das brincadeiras. Não há o remate fantasia à Messi. Nem a cabra cega. Não há o nervoso miudinho antes da frequência. Não há a troca de cábulas para o teste. Só um cão vadio. Sem ninguém para lhe dar um pouco do croissant com chocolate. Nem uma festa. Nem a indiferença. Nada. Só os edifícios. O betão. O ferro. O vidro. O plástico e a resina. O mundo sonhado pelo físico norte-americano Samuel T. Cohen, pai da bomba de neutrões. A arma nuclear “mais saudável e moral jamais concebida, pois, quando a guerra termina, o mundo permanecerá intacto”. Esqueceu-se de dizer, Samuel T. Cohen, que o mundo ficaria intacto com uns milhões de seres humanos a menos.

A bomba de neutrões já não existe. Para bem da humanidade. Mas as guerras continuam. Com outros homens e com outras armas. Com os interesses do costume. O mundo está em guerra. A Terceira Guerra Mundial, como diz a minha mãe. Tenho-a como uma mulher sábia. A luta contra um vírus, não contra nações. Ninguém sabe quantos tombarão. Muitos. Milhares ou milhões. A arma parece ser ficar em casa. Para quem tem casa. A arma parece ser lavar muitas vezes as mãos. Para quem tem água potável. A arma parece ser alimentarmo-nos bem. Para quem tem que comer. A arma parece ser a medicina. Para quem tem hospitais. A arma. As armas. Não estão ao alcance de todos. Uns são soldados de escafandro. Outros, soldados remendados. Vamos continuar a ter as ruas vazias. Por muito tempo.

Paula, professora do primeiro ciclo, já não se levanta às 7h. Já não bebe a bica antes de ouvir o toque da campainha. Diz que já sente saudades. “Sinto falta dos sorrisos dos meus alunos.” Estar em casa é um tormento. Tenta manter os hábitos normais. “Visto-me como se fosse para a escola.” O seu escritório foi transformado em sala de aula. Falta o quadro. As mesas e as cadeiras. E falta o fundamental – as crianças. Agarra-se ao computador e envia fichas aos alunos. No fim, distribui beijos. Como se estivessem em planetas distantes. “É estranho. Muito estranho.” Fátima corta cartolinas. É para “um aluno que ainda não sabe as cores”. Também sente saudades. Como a Guiomar, “que só quer é que isto acabe.”

São apartamentos. São moradias. Entro com todo o cuidado. De máscara e luvas. Não toco em nada. Presos e à espera estão agregados familiares inteiros. Agarrados às notícias. Sempre com a esperança que o pivô lhes diga que tudo isto acabou. Mas tardam as boas novas. Há professores que trabalham no quarto. Outros preferem a sala. Outros, o escritório. Alguns, a varanda. Poucos, o jardim. Trabalhar em casa para um professor “não é nada estranho": “Sempre o fizemos. São horas e horas a preparar aulas, a corrigir testes, a fazer grelhas de avaliação.” Pilar gosta de ter o computador no regaço. Trabalha no quarto. Quer ir para a escola. Mas tudo isto está a ser desafiante. Mas “muitos alunos não têm computador, impressoras ou Internet, o ensino não está a chegar a todos”.

Fonte: Público por indicação de Livresco

domingo, 29 de março de 2020

Encerramento das escolas: qual o custo para as crianças com perturbações da aprendizagem

À medida que a pandemia do coronavírus alastra, vários países viram as suas escolas a serem encerradas por tempo indeterminado. A UNESCO estima que cerca de metade de todos os estudantes do mundo, dos vários níveis de ensino, estejam a ser afetados por esta paragem.

Não existem estudos sobre o impacto nas aprendizagens e competências dos alunos de uma interrupção escolar devido a pandemia — é algo completamente novo. Mas existem estudos sobre o impacto das férias escolares, de cerca de três meses, e são unânimes em assumir uma perda nas capacidades leitoras, nas competências matemáticas e nas funções da escrita.

As escolas parecem estar a adaptar-se à conjuntura e à imprevisibilidade das próximas semanas, adotando novas modalidades de ensino à distância com bastante empenho e dedicação. Por outro lado, algumas famílias mostram-se sobrecarregadas ao tentar manter o ritmo, ora porque não têm recursos (computador, impressora, Internet disponível para alguns ou todos os membros do agregado familiar), ora porque não têm tempo (a repartir entre o trabalho doméstico, o ensino dos filhos e o seu próprio trabalho), ora porque não dominam as matérias e as estratégias de ensino necessárias.

Sobre o efeito da interrupção letiva na educação, colocam-se desde logo duas questões: 1) a desigualdade no acesso a recursos digitais de famílias de diferentes classes económicas; e 2) a desvantagem pessoal, escolar e funcional que se pode acentuar no caso das crianças com perturbações da aprendizagem. As desvantagens da interrupção das atividades letivas são claramente desproporcionais para alunos provenientes de meios desfavorecidos, assim como para alunos com dificuldades académicas.

Vejamos o caso dos alunos com dislexia, que em situação normal já partem em situação de desvantagem. A dislexia é uma perturbação específica da aprendizagem, de base linguística e que se manifesta ao longo da vida. Tem na sua origem um défice fonológico que se reflete em dificuldades de descodificação, fluência leitora e escrita. Os alunos com dislexia revelam menos autonomia, demoram mais tempo a completar trabalhos devido à baixa fluência leitora e mobilizam um esforço muito superior ao dos seus pares para levar a cabo tarefas escolares. Para além de o ensino à distância limitar bastante a supervisão e o apoio diferenciado que o professor pode prestar, estes alunos ficaram ainda na maior parte dos casos privados das terapias e apoios pedagógicos que tinham, agravando as suas dificuldades.

Na convicção de que os tempos atuais impõem um desafio acrescido às crianças com perturbações da aprendizagem e suas famílias, aqui ficam algumas propostas para minimizar o retrocesso nas aprendizagens:

Aos pais:
  • Crie um caderno da quarentena. Aproveite um caderno ou dossier que tenha em casa deixe que a criança o decore a seu gosto e comecem a registar os trabalho feito: fichas, leitura, produção escrita, desenhos, etc. Este documento poderá ser um registo útil para os professores, além de ser um registo pessoal histórico;
  • Mantenha as expectativas altas com objetivos razoáveis, claro. A dislexia não define o seu filho e ele tem uma capacidade para se adaptar que o pode surpreender;
  • Aceite dias-não. Dias-não são dias em que nada parece resultar e em que a leitura, por exemplo, que já costuma ser hesitante, se apresenta extremamente difícil. Seja paciente, positivo e recorde ao seu filho que amanhã voltarão a tentar. Esta inconsistência é comum na dislexia;
  • Comunique e peça ajuda. Contacte sempre que possível os professores e outros técnicos que habitualmente acompanham o seu filho. Peça estratégias, material e ideias para dar seguimento aos objetivos individuais em curso;
  • Leia com o seu filho diariamente. Este ponto pode ser difícil, mas está provado que é uma das medidas com maior efeito. Pode ler de tudo um pouco: revistas, banda desenhada, enciclopédias ilustradas, livros pequenos e grandes. O importante é manter a rotina de leitura e já agora dê você mesmo o exemplo, lendo;
  • Aproveitem o Dia Internacional do Livro Infantil (2 de Abril) e procurem um recurso diferente: audiolivros, ebooks ou até a leitura de uma história por algum autor no YouTube. Estes materiais são acessíveis para as crianças com dislexia e promovem a literacia e a linguagem em geral.

Aos professores:
  • Recorra aos colegas, à equipa multidisciplinar de apoio à educação inclusiva do professor de apoio e criem atividades adaptadas que permitam a prática diária e a continuação da promoção dos vossos objetivos;
  • Consultem os pais para saber se é preciso ajustar o trabalho fornecido. Às vezes, mais não é melhor;
  • Acreditem que o vosso trabalho mais do que nunca é fundamental e pode fazer a diferença, inspirem-se, motivem-se e motivem os outros. E, já agora, obrigada.

A todos, confiem que o tempo em família e as interações que se mantêm são promotoras do desenvolvimento da linguagem e por isso têm um efeito benéfico nas aprendizagens.

Sílvia Lapa

Terapeuta da fala, técnica de Educação Especial do CADIn

Fonte: Público por indicação de Livresco

sábado, 28 de março de 2020

As rotinas e as dificuldades de crianças e jovens autistas em quarentena

Um deles tem 6 anos, o outro 17 e o Vasco já é maior de idade. São todos diferentes. Mas têm duas coisas em comum: Uma Perturbação do Espectro do Autismo e estão em quarentena.

Este abraço entre avô e neto, outrora dado com muita frequência, é agora mais raro. Vasco Franco é autista. Uma pandemia – uma coisa estranha para o jovem - veio impedi-lo de ir à escola, à canoagem no rio Lima e à natação, mas tem a sorte de viver no campo com a família. Mesmo em quarentena, sem aulas com professores e colegas na mesma sala e sem hora do recreio, pode respirar o ar puro de uma aldeia do Alto Minho. Nos tempos livres, ajudar o avô na quinta é um dos passatempos preferidos.

Entre revisões de módulos e os trabalhos enviados pelos professores, ocupa o resto dia a andar de bicicleta, a passear na mata ao lado de casa, vai dormindo a sesta e fala com os amigos pela internet. “Estou triste por não ir à escola. Tenho saudades dos meus amigos”, desabafou (...). Até fez uma lista. Eram mais de 20: “São muitos e são bons para mim. Os professores eram bons para mim. As pessoas do norte são boas”.

É feliz na escola há 2 anos. Está no primeiro ano de um curso profissional. Longe dos estabelecimentos de ensino onde sofreu de bullying. Cristina Franco, a mãe de Vasco, contou (...) que na aldeia para onde se mudaram, perto de Viana do Castelo, o filho é tratado como todos os outros jovens. Vasco ganhou liberdade e até já faz amigos na escola, na natação e na canoagem.

“UM NOVO CUMPRIMENTO”

Na conversa de 30 minutos com Vasco, deu para perceber que é divertido, gosta de conversar e de estar com pessoas. Em quase todas as mensagens, falava de amigos e de familiares. Está em casa com a família desde que a escola fechou, há mais de uma semana. Dias antes, já era cauteloso. Passou a cumprimentar os amigos “com o cotovelo e com os pés”, contou. Sabe que está em casa porque “há coronavírus”. É lá que todos os dias procuram novas formas de aprendizagem.

A mãe do jovem confessou que o maior desafio do isolamento social tem sido a alteração de rotinas do Vasco. “Queria que eu ou alguém lhe disséssemos em que dia volta a ser tudo como antes. Pergunta-me várias vezes quando vai poder voltar à escola. Começou também a querer saber o que vai fazer amanhã e depois”, relatou. No entanto, Cristina prefere ver o copo meio cheio. Esta família vai encarar os dias com calma e tranquilidade.

“ACOMPANHAMENTO CONTÍNUO”

Dias caóticos. É assim que Ana Teresa Fernandes descreve a quarentena com o marido e os dois filhos em casa. Os pais em teletrabalho. Os filhos, Pedro e Joana, em telescola. Num apartamento a tempo inteiro. Todos com prazos a cumprir. A psicóloga tem de dividir o tempo entre o trabalho, as refeições, as tarefas domésticas e o tempo para os filhos. Um deles é autista.

Pedro, de 17 anos, é atleta de natação adaptada. Teve uns “resultados engraçados”, contou a mãe, no último campeonato nacional. Está sem treinos há 3 semanas. Também não tem contacto com os colegas da escola. “A relação com os outros é uma das coisas a que dá importância”, realçou Ana Teresa (...).

Em casa, os pais estão a ajudar Pedro a terminar os trabalhos de alguns módulos do curso profissional. Está a começar a ler e a escrever. Para já, não estão preocupados com este período letivo. No entanto, a mãe do jovem confessou que não sabe como será daqui para a frente. É que Pedro precisa de acompanhamento contínuo da terapeuta.

Segundo Ana Teresa, o jovem de 17 anos tem-se adaptado com “relativa tranquilidade” ao isolamento social. Mas fica mais agitado quando está algum tempo desocupado ou quando os pais, os dois a trabalhar a partir de casa, não lhe dão atenção.

Ana Teresa teme não conseguir continuar a trabalhar, mesmo em teletrabalho, se o cenário se prolongar. “Em casa, o horário de trabalho prolonga-se muitas vezes pela noite dentro, para tentar cumprir prazos”, desabafou. Mas por agora, a principal preocupação é a escola: “Como é que se vai organizar com os alunos com necessidades específicas de educação. Que desafios vai ter para promover a inclusão e o sucesso educativo de todos?”.

“NOTO QUE ELE NÃO ESTÁ FOCADO”

Isabel Pereira fica em casa com os 3 filhos desde o dia 14 de março. O marido sai para trabalhar. Tem um filho de 6 anos que tem Síndrome de Asperger, uma Perturbação do Espectro do Autismo.

Com as atividades suspensas, as manhãs de Daniel são dedicadas às brincadeiras. À tarde, a mãe, sozinha em casa com os filhos e várias tarefas, tenta que o filho faça os trabalhos da escola. A criança recebe os trabalhos enviados pela professora titular da turma. No entanto, Isabel realçou que tem sido difícil: “Principalmente matemática, eu não sou professora, tento ajudar da melhor maneira que posso”. (...) avançou que o filho deixou de ter ajuda da Unidade de Ensino Especial. “Noto que ele não está focado, não está a absorver o que lhe ensino. Bloqueia muito e fica nervoso e ansioso”, explicou. As sessões de psicologia, o acompanhamento em várias especialidades no Hospital de São João, no Porto, e as terapias estão em suspenso. E esta altura de mudança de estação é especialmente complicada para Daniel.

Isabel sente-se professora, psicóloga, terapeuta e mãe. Ao mesmo tempo. Tem sido esse o maior desafio das últimas semanas. Numa altura em que uma pandemia para o país e o mundo, Isabel tenta ajudar o filho. O objetivo é continuar caminho.

Fonte: SIC Notícias por indicação de Livresco

Defender a escola pública perante a pandemia

Se quisermos colocar uma ordem de prioridades, embora isto seja sempre um jogo arriscado porque elas andam todas interligadas, pode-se dizer que neste tempo estranho que vivemos a primeira prioridade é a saúde, e logo a seguir têm de vir a economia e a educação.

Milhares e milhares de pais, encerrados em casa com os seus filhos, já perceberam o complicado enredo em que se transformou este ano lectivo. A multiplicidade de plataformas de ensino à distância, os diferentes métodos entre professores, as dificuldades próprias de tornar casas em salas de aula, foram obstáculos recorrentes para todos. Esta confusão não tira nem um ponto ao esforço notável, ainda que pouco sublinhado, que os professores fizeram ao longo destas últimas semanas.

Chegados às férias da Páscoa, passado o improviso a que a crise obrigou, impõe-se ponderar seriamente o que fazer em diante até porque os sinais não são muito bons. Desde logo, por que é muito pouco plausível acreditar que as escolas voltem a abrir, quando se prevê o pico da infecção para Maio. Sendo assim, é preciso perceber se estão reunidas as condições para prosseguir o ensino à distância.

O Governo acha que sim e já remeteu para as escolas o seu novo Plano de Ensino à Distância. Mas o Governo tem de se certificar que é mesmo verdade. Se não garantir que todos os alunos têm acesso à internet, está a ferir de morte o princípio básico da escola pública, que é assegurar a todos, independentemente da sua origem social, oportunidades iguais. Não ter um computador ou não ter acesso à rede, como referiam os economistas Hugo Reis e Pedro Freitas num artigo publicado nesta quinta-feira no site da Iniciativa Educação, poderá ser uma realidade, só no ensino básico, para cerca de 50 mil alunos. Sem resolver isto, estes alunos não têm as mesmas oportunidades dos outros e serão “deixados para trás”, algo que, como o primeiro-ministro se farta de repetir, não pode acontecer.

A ajuda das escolas e das comunidades educativas poderá ser preciosa, mas o Ministério da Educação tem mesmo de assegurar que estes meios existem e, a não existirem, tirar as devidas ilações. Nunca será fácil, mas poderá ser necessário ponderar se, face à situação excepcional da covid-19, não será de dar o ano como encerrado, como defendeu esta semana o ex-ministro da Educação Marçal Grilo.

Mas este é o último recurso, também ele gerador de uma série de injustiças que terão de ser sopesadas. Antes disso, o país deve mobilizar-se para garantir que vence mais esta frente da crise. É bem menos complicado que vencer o coronavírus.

David Pontes

Fonte: Público

sexta-feira, 27 de março de 2020

E onde ficam a “Equidade” e a “Justiça Social”?

Imaginemos que conseguimos – por manifesta singularidade do génio da lusitana raça – colocar em funcionamento até meados de Abril uma rede de ensino à distância com recurso aos meios de educadores, professores e famílias dos alunos. Alguém acredita que essa solução não agravará a pré-existente desigualdade de oportunidades entre os alunos que a Escola Pública tenta combater todos os dias dos portões para dentro?

Alguém acredita que, mesmo que as operadoras de telecomunicações reduzam os tarifários e alarguem a banda em todo o país e que o ministério consiga parcerias favoráveis para distribuir equipamentos pelos grupos mais desfavorecidos, a situação será vagamente equitativa ou justa do ponto de vista social?

Não se percebe que, embora seja uma forma de remediar um 3.º período em evidente risco, esta tentativa de criar uma rede de tele-ensino irá potenciar a disparidade de meios materiais e de capital cultural ao dispor dos diversos estratos de alunos?

Nas escolas públicas, os professores tentam apoiar da forma mais equitativa possível os alunos e ajustar as estratégias (de ensino, de remediação de necessidades, de avaliação) de acordo com cada “perfil”, mas isso depara sempre com os elevados níveis de desigualdade dos contextos familiares, em especial na capacidade de apoiar os alunos no estudo e na realização dos famigerados trabalhos de casa.

Será apenas uma minoria a perceber que, à distância, esses fenómenos serão agravados? Que serão ainda mais sensíveis e quase inultrapassáveis as diferenças entre quem tem um meio social, económico e cultural favorecido e os “outros”? Que é por estes terem um ecrã à frente e net que toda a sua vida muda de configuração?

É este um problema inultrapassável e paralisante de qualquer iniciativa? É óbvio que não, mas não é ignorando estas questões – centrais para a missão da Escola Pública – que caminharemos para as soluções mais justas e equitativas. Ou fazendo inquéritos, depois da carroça já ir estrada abaixo.

Paulo Guinote

Professor do Ensino Básico, doutorado em História da Educação. Autor do blogue O Meu Quintal

Fonte: Educare

quinta-feira, 26 de março de 2020

O verdadeiro exame à inclusão

As escolas receberam no início da semana uma indicação dos serviços do Ministério da Educação para fazerem o levantamento da situação dos alunos em relação aos meios disponíveis para acompanharem o ensino à distância, quer em equipamentos físicos (computadores, smartphones), quer em acesso à banda larga. A indicação foi passada, na generalidade dos casos, aos directores de turma que, em seguida, pediram aos encarregados de educação essas informações para as compilarem até final da semana.

Este tipo de “inventário digital” é muito importante e só é de estranhar que seja algo que está por fazer, atendendo a tanta informação que o ministério recolhe em tanta plataforma, ou não ter sido a primeira ou segunda medida tomada na situação actual, antes do avanço voluntarioso para o anúncio da passagem para o “ensino à distância” em formato digital. A busca do efeito político rápido sobrepôs-se à avaliação das condições materiais para desenvolver a medida. E agora, depois de se ter decidido o bolo a ser feito é que se está a tentar perceber se existem os ingredientes indispensáveis.

De acordo com números públicos, há cerca de 20-25% de agregados familiares sem condições mínimas para desenvolver o ensino à distância, sendo que esse valor tem forte assimetrias no país, mas de igual modo ao nível local, mesmo de turma para turma. Os entusiastas das vídeo-conferências e das aulas síncronas poderão ter turmas com esse tipo de dispositivos à disposição e sem necessidade de os partilhar com outras pessoas em casa, mas essa não é a realidade geral. E é aqui que as questões da “inclusão” se colocam porque não é novidade que o digital gap ou digital divide é um factor que potencia as desigualdades entre os alunos. Porque a exclusão digital em meio familiar é muito superior à que existe em contexto escolar.

Este tipo de medidas de ensino à distância e a forma como se querem colocar no terreno de forma apressada parece resultar de uma forma de pensamento mágico que desatende as questões tão proclamadas da “inclusão”. Já li declarações absolutamente aterradoras pela forma como menorizam qualquer pretensão de igualdade de oportunidades em prol de uma espécie de excitado projecto de “escola do século XXI” num país com parte substancial da população abaixo do limiar da pobreza e que, com a presente situação económica, irá por certo aumentar.

Onde estão os arautos da “inclusão” quando precisamos deles?

Paulo Guinote

Professor do Ensino Básico, doutorado em História da Educação. Autor do blogue O Meu Quintal
Por decisão do autor, o presente texto não segue o novo Acordo Ortográfico.

Fonte: Educare

quarta-feira, 25 de março de 2020

Realização da sesta a partir dos 3 anos nos estabelecimentos de ensino de educação pré-escolar da rede pública

Pela Resolução da Assembleia da República n.º 19/2020, recomenda-se ao Governo que garanta as condições para a realização da sesta a partir dos 3 anos nos estabelecimentos de ensino de educação pré-escolar da rede pública.

A Resolução recomenda ao Gover que:

1 - Facilite e promova a sesta das crianças em idade pré-escolar, contribuindo para o combate à privação crónica de sono das crianças nesta faixa etária.

2 - Promova o estudo e debate público, envolvendo os principais atores do processo educativo, para avaliação dos mecanismos de implementação da sesta nos estabelecimentos de educação pré-escolar, devendo aquele estudo:

a) Considerar questões como o princípio da não obrigatoriedade da sesta, o respeito pela autonomia pedagógica e administrativa dos estabelecimentos de ensino e a preservação de diferentes níveis de responsabilidade dos poderes públicos em relação aos diferentes níveis de ensino;

b) Incluir ponderáveis como a transversalidade da aplicação da sesta, os meios materiais e humanos necessários e as suas implicações nos direitos laborais, assim como na organização do sistema pré-escolar.

3 - Garanta as condições para a efetiva possibilidade de realização da sesta a partir dos 3 anos nos estabelecimentos de ensino de educação pré-escolar da rede pública, assegurando o financiamento para a aquisição de todos os meios necessários.

terça-feira, 24 de março de 2020

Prorrogação do prazo para inserção de documentos na "Plataforma de Aplicação de Adaptações"

O prazo para inserção de documentos na "Plataforma de Aplicação de Adaptações na realização de Provas e Exames nos Ensinos Básico e Secundário 2019/2020" será prorrogado até ao dia 3 de abril às 23:59m. Caso não tenha inserido o documento Boletim de Inscrição na Gestão de Documentos, deve indicar no campo "Informação Complementar" as provas e exames que o/a aluno/a irá realizar e os respetivos códigos.

Fonte: DGE

A oportunidade de ouro para criar as escolas do século XXI

Todos os que temos filhos em idade escolar demos conta, estas semanas, das iniciativas de ensino à distância que foram lançadas, em escolas públicas e privadas de todo o país. Numa semana, os professores de todo o país tiveram a capacidade de alavancar os seus recursos e competências, para dar início a uma vaga de ensino remoto sem precedentes em Portugal.

Isto significa que, no “aftermath” desta crise, todos nós, como sociedade civil, mas em particular o Estado, temos obrigação de fazer o investimento necessário para consolidar e melhorar as boas práticas desenvolvidas:
  • dotar as escolas das infra-estruturas tecnológicas e equipamentos necessários – que, em boa parte, datam do Plano Tecnológico de há mais de dez anos –, e disponibilizar acesso de banda larga à internet a todos os colaboradores e alunos;
  • formar e treinar em tecnologias de informação os professores do 1.º ciclo ao secundário, com incentivos que assegurem massa crítica para que a cultura de ensino com recurso ao digital se consolide, em vez de “voltar tudo ao mesmo";
  • consolidar os conteúdos e “tools” digitais desenvolvidos, em parcerias amplas entre escolas, editoras, universidades e empresas, adotando as melhores práticas nacionais e internacionais;
  • rever os curricula, à luz do “Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória”, apostando em novos modelos não formais e informais de aprendizagem e de capacitação, com a participação da sociedade civil e das empresas, possíveis neste paradigma digital;
  • ajustar o estatuto da carreira docente e a organização das escolas para modelos mistos de ensino presencial e à distância, que facilitem a vida aos professores e aos alunos, sobretudo em zonas e situações em que, atualmente, têm de percorrer muitos quilómetros por dia ou semana;
  • não menos importante será garantir a inclusão digital e a igualdade de acesso dos alunos de famílias mais desfavorecidas, em particular no que diz respeito às infraestruturas e equipamentos disponíveis nas suas casas, eventualmente compensadas pelo apoio de salas geridas pelas juntas de freguesia, que já existem um pouco por todo o país.
Esta revolução digital na Educação deveria ser potenciada pelo Estado numa primeira fase, mas criaria todo um novo ecossistema de parceiros públicos e privados – que já existe em outros países europeus e no resto do mundo –, que seria fonte de criação de valor económico para o país, mas também de novas eficiências em termos de gestão dos recursos alocados à Educação.

A crise da covid-19 criou a oportunidade de ouro para darmos o salto, finalmente, para uma Educação do século XXI. Devíamos todos começar a trabalhar neste projeto desde já, com a ajuda do Governo, mas também da União Europeia, que potenciaria o alinhamento pelas melhores práticas internacionais. Há recursos humanos disponíveis e talento suficiente no país para iniciarmos este caminho já. Mãos à obra!

Diogo Simões Pereira

Director-geral da Associação EPIS – Empresários Pela Inclusão Social

Fonte: Público

Ser professor e ser “covidado” a reinventar-se

É um facto que de um momento para o outro o ensino a distância e, naturalmente, o uso das tecnologias digitais se tornaram uma espécie de “Novo Mundo” para o sistema educativo. É uma verdade, que para alguns de forma natural e para outros de forma mais obrigatória, porque estão a ser obrigados a fazer uma migração rápida e pouco espontânea, levando naturalmente a “dores de crescimento” e a alguns erros naturais.

Sabemos que muitos são os professores que já faziam essa utilização com os seus alunos de forma proficiente e com grande naturalidade, criando cenários pedagógicos que não são uma réplica do “analógico”, mas uma forma de colocar os alunos a pesquisar e selecionar informação, ver e analisar vídeos, sistematizar conteúdos e produzir recursos que convocam as diferentes áreas do conhecimento e os conteúdos aprendidos. Os exercícios são diferentes, têm de provocar essa mesma diferença, se pensarmos que os alunos são mais ativos, sendo necessário dar resposta a essa forma de pensar e agir.

Por outro lado, muitos foram, e são, os professores que foram negando a “nossa” vivência num mundo digital, considerando sempre que “para o ano é que é”, ou evitar o digital, tendo inclusive diabolizado o mesmo, evidenciando, claramente, o que grande parte do corpo docente ilustra: uma escola bastante atrasada nesse movimento de implementação de cenários pedagógicos com utilização do digital. Bem sei que as políticas educativas, os parcos recursos digitais e a falta de visão das direções de muitos agrupamentos de escolas, coordenadores de estabelecimentos e departamentos, também ajudam neste “movimento”.


Contudo, e felizmente, muitos foram também os professores que compreenderam de forma muito rápida, tendo em conta a necessidade e as vantagens, de colocar o “digital” em prática, convocando assim um conjunto de competências, muitas das vezes desprezadas nas centenas de horas de formação de professores sobre a utilização das TIC em contexto educativo, mas que se “covidaram” autonomamente para implementar o ensino através do digital eficientemente.

De uma maneira ou de outra, nunca a colaboração fez tanto sentido, se olharmos para o isolamento presencial, mas para a grande proximidade online de tantos professores que neste momento procuram ajuda para restabelecer aquele que será o próximo período letivo, totalmente online. Torna-se fantástico ver o movimento a crescer, aqui o contágio é o único aconselhável e permitido.

Para tal, há um conjunto de regras que é necessário entender quando falamos de trabalho online e a distância. O que devemos começar por evitar é transpor os mesmos exercícios que fariam de forma presencial para o online, mas também evitar a “digitalização” de modelos pedagógicos, porque o feedback e o apoio são diferentes, os tempos de concentração e empenho nas atividades também, assim como a autonomia dos alunos mais novos.

A acrescentar a isso, e considerando que o digital tem um potencial enorme devido à utilização da multimédia, são de evitar demasiados e extensos textos, muitas das vezes como recursos em exclusivo e apenas alguns exercícios do tipo quizz, que servem de pouco ao propósito de aprendizagem e sistematização de conteúdos.

Muitas vezes perdemos a noção que estar online não quer dizer que os exercícios possam ser em número superior a outros contextos, pelo que deve ser evitada a sobrecarga de exercícios e com pouca variedade, pois apenas resolve o problema hipotético dos professores, por ficarem de consciência tranquila, mesmo que não signifique que o aluno aprenda. Este é um exemplo típico de cumprimentos de currículo por parte do professor, mas não significa que haja apreensão por parte do aluno.

A não esquecer no desenho de trabalho a distância é a presença e a forma como o professor está presente online, porque se o canal de comunicação entre professor e aluno for complexo e houver demasiada ausência online (mais que 24 horas é demais), significa que o aluno pode ficar perdido e sentir-se desapoiado. É neste campo da comunicação que é necessário um grande investimento, pois sabemos que a comunicação não-verbal pode ser malentendida, pelo que esta deve ser objetiva e muito clara, com mensagens e propostas sucintas. A comunicação não deverá ser ambígua, nem se deve utilizar uma escrita com apenas letras maiúsculas, tal como o uso de abreviaturas.

Outra componente fundamental tem que ver com a utilização de recursos, pois deveremos evitar o uso de dezenas de apps e plataformas, que dependem de uma curva de aprendizagem por parte de professores e alunos, que quando se está a distância não facilita, além de obrigar a um conjunto de criação de contas e logins desnecessários, que deixam todo o processo de aprendizagem confuso e incoerente.

Também em relação aos recursos de hardware, é essencial que nos lembremos que nem todos os alunos e professores têm um dispositivo digital em casa ou acesso à Internet, ou mesmo não estão a determinada hora com as pessoas (pais) que podem dar algum apoio na aprendizagem e isso interfere com um fenómeno de equidade que não pode e nem deve ser deixado ao acaso, sobretudo, quando falamos tanto, hoje em dia, de educação inclusiva. Como tal, recomendo que a primeira fase seja de planeamento e diagnóstico, de modo a sabermos quando é que o aluno pode estar online, que recursos tem ao seu dispor, e qual o canal privilegiado de comunicação a usar.

Este diagnóstico fará com que se possa propor um desenho de plano de trabalho, determinando a plataforma de comunicação e interação, os recursos didáticos a utilizar (não selecione mais do que cinco se os alunos não têm esse hábito), devendo estes ser selecionados por diferentes tipologias, mas também tendo em consideração se haverá momentos síncronos ou apenas assíncronos (os momentos mistos seriam os ideais) e, por fim, como se avalia o processo de aprendizagem.

Outras questões a ter em conta de como proceder para uma boa dinâmica online, é a criação de tarefas curtas e dinâmicas, com mais atividades de projeto e de construção de conteúdos por parte dos alunos, sempre com feedback por parte do professor (é fundamental o feedback num ambiente online). Quando os alunos partilham vários professores, tenha em conta o esforço do aluno, partilhe com os outros professores as tarefas propostas ou integre-as em conjunto num projeto de turma, de forma a evitar o esforço e sobrecarga em tempo e em tarefas, provocando a desmotivação e “desconexão” do aluno.

Quando o professor propuser uma atividade deve ser claro no objetivo que está a pretender atingir com esse exercício, mas também provocar a curiosidade, levando o aluno a usar diversos recursos multimédia (vídeos, apps, infografias, …) de forma diversificar as interações. Ainda no que respeita às tarefas, privilegie modelos ativos, como o flipped learning, que pressupõe a visualização de um pequeno vídeo, autonomamente, sobre um tópico a compreender (aplicações como o TED-ED, Edpuzzle, Escola Virtual, Khan Academy, RTP Ensina, …), depois atividades que visem a aferição e ou reflexão do que foi visualizado ou compreendido (aplicações como quizz, fóruns, …) e num terceiro momento a discussão, que pode ser síncrona com a turma (aplicações como o ZOOM, Teams, Hangout, Skype,…) ou assíncrona, com a criação de fóruns de discussão sobre o tema (aplicações como o Edmodo, Escola Virtual, Google Classroom, Teams,…) em que a dinâmica é moderada pelo professor.

As atividades devem contemplar a função de avaliação da dinâmica de ensino e aprendizagem, podendo ser realizada com a produção de um trabalho multimédia, narrativas digitais, infografias, esquemas mentais, murais interativos, vídeo-aulas explicativas para os colegas ou outras turmas (aplicações como Classflow, apresentações eletrónicas, Goconqr, Popplet, BirdBlue, Toonstatic, Animoto, Powtoon, Padlet, …).

Para que a presença online do professor seja notada, deve tentar dar feedback e acompanhar cada uma das fases com inputs nos trabalhos dos alunos, incentivar o progresso nas tarefas e criar chats ou fóruns de dúvidas para os momentos em que os alunos pretendem colocar dúvidas individuais ou coletivas, estes devem ser momentos formais e informais, para apelar à participação online. Este apelo de participação autónoma e motivadora é conseguida pelo tipo de comunicação, pela linguagem utilizada, devendo esta ser simples e persuasiva, podendo ser com pequenos vídeos orais deixados pelo professor (é sempre bom ver e ouvir o professor, para colmatar a distância) e ajudar com o uso de emotions (conexão emocional).

Se possível atribua tarefas para diferentes momentos de entrega, pequenas tarefas diárias, mas outras que possam ser realizadas com mais tempo, permitindo ao aluno gerir o seu tempo com a ajuda do professor. Neste aspeto é fundamental o professor perceber que o aluno a distância terá sempre menos apoio que teria num sistema presencial, pelo que não deve colocar exigência em demasia, levando à desistência de uma presença online. 

O fenómeno da gamificação é algo que pode ser explorado de uma forma muito interessante na aprendizagem a distância, uma vez que se o professor desenhar uma “história” de aprendizagem, ou seja, um bom “argumento” cinematográfico que “prenda” o aluno ao processo, pode ter bastante sucesso na aprendizagem online. Construa uma narrativa, uma viagem, um percurso para a semana ou para o mês de aprendizagem, com pontuações diversas pelas tarefas que vão sendo realizadas, que lhes permitam ter pontos e crachás que lhes poderão dar acesso a ajudas extra, redução de tarefas, aumento de tempos de entrega, conduzindo por níveis de exigência que vão aumentando ao longo do desenrolar das tarefas, de forma a concluírem os seus projetos, como se dentro de um jogo estivessem (aplicações como o Classcraft, Classdojo, ou Google Classroom, …).

Este já era o momento de redefinição do que era ser professor, ser aluno e ser escola. Porém, esta pandemia veio apenas acelerar uma migração que estava a ser feita a espaços. Também é chegado o momento em que cada professor, com as suas condições, melhores, piores ou inexistentes, se vão ter de reinventar e desenhar, com a criatividade que caracteriza o professor português, novas formas de ensinar e aprender. Estão todos os professores “covidados” a reinventar-se! 

Marco Bento

Coordenador do projecto SUPERTABi, investigador e consultor pedagógico

Fonte: Público

segunda-feira, 23 de março de 2020

Educar em tempos de emergência

A ameaça de saúde pública é demasiado grande o medo altera-nos as prioridades de forma radical. As escolas fecharam. As crianças e jovens foram “devolvidos” às famílias e provavelmente assim se manterão nos próximos meses.

As crises afetam primeiro os mais desfavorecidos. A educação não vai ser exceção, e esta crise vai ser longa e profunda. Deixará cicatrizes sociais incuráveis. Talvez consigamos antecipar algumas feridas e agir para proteger grupos de risco, neste caso as crianças e jovens que estão em casa e não têm como continuar as suas aprendizagens.

Quando os pais têm condições emocionais, físicas e económicas, escolaridade elevada e boas infraestruturas continuarão as aprendizagens. Os alunos perdem a importante parte da socialização, mas prosseguem os seus caminhos. Quando voltarem à escola vão estar preparados e demonstrarão diminutas perdas de aprendizagem.

E os outros? Como sempre, os mais desfavorecidos sairão penalizados. Estes são os alunos para quem a escola faz toda a diferença. São os alunos que encontram na escola uma tábua de salvação para o presente e uma forma de alimentar os sonhos para o futuro. São muitos, e não podem ser esquecidos nem ignorados durante este estado de emergência. Alguns indicadores [1] que nos ajudam a compreender as condições em que os alunos estão em casa:

1. No geral, a qualificação da mãe é bastante reduzida: 46% estudaram no máximo até ao 9.º ano (7% não obtiveram qualquer qualificação, 12% concluíram apenas o sexto ano e 27% o nono). Olhando para o pai, a situação é ainda mais alarmante: 56% com o 9.º ano ou menos (10%, 17% e 29%). Estas famílias têm poucas condições académicas para trabalhar com os seus filhos e para validar a qualidade das suas aprendizagens. É fundamental que a escola continue a ter uma presença.


2. O rendimento global bruto dos agregados familiares é diminuto: 44% aufere menos de 14.000€ por ano, o que significa um rendimento de menos de 1000€ por mês para sustentar todas as despesas. Estas famílias não terão qualquer rede onde se apoiar caso o emprego lhes falte. É pouco provável que tenham poupanças e é muito provável que se vejam com os empregos suspensos ou com salários em atraso. Esta situação pode acontecer no imediato. É possível que muitos já não recebam os salários no mês de março. A miséria é rápida a instalar-se. Manter as cantinas das escolas abertas é uma medida louvável, mas insuficiente para manter estas famílias à tona da água.

3. A nível de infraestrutura doméstica, a situação parece ser um pouco mais favorável: 93% dos alunos declaram ter uma secretária para estudar e um computador com acesso à internet. No entanto, 34% dos agregados familiares tem um único computador em casa, o que pode ser uma limitação quando também os pais estão em teletrabalho. Poucos dispõem de software didático ou de livros para enriquecer a sua cultura, embora 88% tenham livros de apoio escolar. Esta infraestrutura pode ser favorável à aplicação de ensino à distância, contribuindo para manter algum contato com professores e colegas. É crucial garantir condições a todos os professores para adotar formas de manter o apoio presencial por canais digitais. Os 7% que não têm infraestrutura em casa devem ser autorizados a requisitar computadores da escola, ou a frequentar as salas de exceção que foram criadas para os filhos dos que não podem ficar em casa.

4. Quanto às condições emocionais dos alunos, temos de considerar que 30% declaram sentir-se assustados e miseráveis com alguma regularidade e mais de 70% dizem ter medo, isto numa situação de normalidade. Todos estes sentimentos se acentuam na fase que vivemos, logo seria também importante garantir apoio psicológico aos alunos e suas famílias. Temos ainda 7% de alunos que declaram não ter apoio das suas famílias a nível emocional ou escolar. Estes necessitam de auxílio imediato. Os diretores das escolas devem ser chamados a identificar os casos de maior risco. Meios de intervenção social têm de ser mobilizados para garantir a sanidade física e mental destas crianças e jovens.

Doutor Tiago Brandão Rodrigues, urge tomar medidas que possam conter as perdas de aprendizagem. É certo que a primeira prioridade é conter o vírus, mas não podemos permitir que a sociedade se desfaça. A escola é um dos eixos fundamentais de uma democracia. As crianças e jovens são também grupo de risco.

Algumas escolas já demonstraram capacidade para manter o ensino online, estimular a utilização de plataformas que foram disponibilizadas pelos editores, incentivar algum contato com pais e alunos. Este esforço deve ser reconhecido, aplaudido e alargado a todos. Os professores fazem parte do grupo dos indispensáveis. É necessário dar-lhes condições para continuar o seu trabalho.

Durante as próximas semanas, parte dos esforços políticos e sociais devem virar-se para as famílias com filhos em idade escolar. É uma prioridade nacional manter as aprendizagens e o bem-estar, garantindo que nos opomos à proliferação das desigualdades, especialmente em tempo de estado de emergência. Não sabemos quanto tempo vai durar. Cada semana que passa sem pensarmos na educação é tempo demais. As crianças e jovens não podem ser abandonados à sua sorte.


[1] Todos os indicadores foram recolhidos pela OCDE através do estudo PISA 2018, e tratados pela autora a partir das bases de dados originais. Os dados PISA são recolhidos junto dos alunos de 15 anos que frequentem o terceiro ciclo ou secundário.

Isabel Flores

Secretária Geral do IPPS-ISCTE

Fonte: Público

Ataque de nervos e o digital

Decorrida que está a primeira semana atípica de aulas, apesar de a classificar de positiva, importa trazer à colação duas evidências que receio poderem ser descuradas e que exigem reflexão aprofundada num futuro próximo.

1. Pais à beira de um ataque de nervos

O entusiasmo inicial dos docentes fez com que se verificasse uma avalanche de tarefas pedagógicas dirigidas aos alunos e que gerou imensas dificuldades no acompanhamento proporcional por parte dos pais e encarregados de educação, pelos prazos apertados para a sua realização e posterior devolução. E houve quem estranhasse, questionando a quantidade de matéria que faltava dar a duas semanas do fim do 2.º período.

Cumpre esclarecer que as atividades escolares destinadas aos alunos não se enquadram no âmbito do tradicional trabalho para casa, tendo-se procurado recriar ao máximo a dinâmica de sala de aula. Contudo, percecionaram-se alguns exageros, sobretudo a partir do 5.º ano. Nos dois anos iniciais do 1.º ciclo, o professor, em monodocência, consegue dosear melhor a quantidade de tarefas a solicitar aos alunos, tendo de articular, nos 3.º e 4.º anos, somente com a professora de Inglês. Assim, a solução para o constrangimento que se verificou nos anos subsequentes passará pelo figura preponderante do diretor de turma, enquanto mediador entre alunos e os seus professores, definindo em conjunto critérios, fazendo chegar os trabalhos das diferentes disciplinas, em consonância com a carga horária semanal, acordando prazos e horários de entrega razoáveis.

2. Educação à distância vs. ausência de novas tecnologias

Nos últimos dias, deparamo-nos com a coexistência de realidades muito distintas dentro da mesma comunidade educativa:

a) A educação à distância reafirmou aquilo que todos sabemos: há lares sem computadores, sem rede internet, sem tablets, encontrando-se estes alunos limitados no acesso ao ensino e impossibilitados de progredirem nas suas aprendizagens;

b) De um dia para o outro, o número de computadores existentes em cada lar tornou-se insuficiente, pelo facto de passarem a ser utilizados, em simultâneo, por duas, três, quatro, cinco pessoas, com as crianças e jovens da casa a realizarem as tarefas escolares e os adultos em teletrabalho, inexistindo recursos físicos para toda a família;

c) Os professores foram deixando nas escolas tarefas em suporte de papel para os pais e encarregados de educação levantarem, possibilitando a sua realização pelos seus educandos, solução generosa, mas impossível de praticar após declaração do estado de emergência.

Os novos cenários que se nos impõem abrem janelas de oportunidade de enorme significância, dado que legitimam a relevância que o digital assume no presente de todos nós, sobretudo na forma como, tendencialmente, se afirmará como lugar comum no nosso futuro.

Senão, vejamos. O anterior Governo Constitucional (XXI) direcionou a “Modernização Administrativa” para a alçada do Ministério da Presidência, dando sinais de querer impulsionar esta área; talvez por não se terem sentido, pelo menos na Educação, as consequências progressistas expectáveis, o atual Governo decide autonomizar e ampliar num mesmo ministério a “Modernização do Estado e da Administração Pública” e aglutina a “Transição Digital” ao tradicional Ministério da Economia.

Numa lógica de consistência de atuação, espera-se da parte do Governo a implementação de políticas para dotar os lares dos portugueses do acesso à rede de internet (tendo a colaboração das operadoras de telecomunicações) e de computadores (algumas autarquias, em articulação com a equipa governativa, estão a efetuar o levantamento das necessidades, a que irão dar resposta eficaz), realidades que deixaram de ser, há algum tempo, um luxo.

Filinto Lima

Professor e diretor; presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas

Fonte: Público

sábado, 21 de março de 2020

Professores e pais deixem de "infantilizar" e decidir pelos alunos com deficiência

Cristina Simões, 46 anos, professora de Educação Especial, de Tondela, encontra-se na corrida para melhor do Mundo.

A mudança pedagógica desejada por Cristina Simões, 46 anos, é que professores e pais deixem de "infantilizar" e decidir pelos alunos com deficiência.

"Eles têm de ser olhados como iguais e não serem superprotegidos" para que um dia tenham o seu projeto de vida. A professora de Educação Especial, de Tondela, é uma das 50 finalistas do Global Teacher Prize mundial, equiparado ao Nobel da Educação, cujo vencedor é divulgado a 12 de outubro. Não é a primeira vez que há um finalista português.

"Eu já venci. Estou muito feliz. É tão bom estar no "top 50" que não penso em mais nada", responde quando interpelada sobre o que faria se vencesse o prémio de melhor professor do mundo. "Nunca trabalhei para prémios, apesar de já ter ganho alguns", responde, sublinhando que a nomeação é o prémio que dá reconhecimento ao projeto a que se dedica há 12 anos.

Começou a dar aulas em 1994 e, dois anos depois, terminou a especialização em Educação Especial. Sempre foi o seu objetivo. Em 2012, na tese de doutoramento, analisou o Modelo de Qualidade de Vida Internacional, baseado em oito domínios: desenvolvimento pessoal, autodeterminação, relações interpessoais, inclusão social, direitos, bem-estar emocional, bem-estar físico e bem-estar material. E validou a primeira escala para adultos com multideficiência.

Desde então está a validar a escala para crianças e jovens com multideficiência que frequentam o ensino obrigatório. Uma estratégia que permite ouvir as opiniões e expectativas dos alunos e conhecê-los melhor, conseguindo resultados não só ao nível das aprendizagens pessoais, como ao nível da avaliação das medidas mais eficazes aplicadas pelas escolas.

Aulas fora da sala

O que mais gosta é de ensinar fora da sala de aula, conta (...). Programa as atividades em função das necessidades de cada aluno. É um planeamento personalizado em que cada um é agente da sua própria aprendizagem.

Cria materiais como dominós, cartões de memória ou livros personalizados para que os alunos aprendam vocabulário em função dos seus interesses.

A vida não se cinge ao programa académico e, por isso, no domínio da inclusão social, Cristina Simões sai com os alunos o mais que pode. Vão ao supermercado, aos correios, à florista ou à padaria. A escola, defende, não tem apenas de desenvolver os conhecimentos e competências destes alunos, mas também de ajudar a criar "os seus projetos de vida".

O seu principal objetivo, garante, é conseguir tornar estes alunos "independentes para que um dia possam fazer as suas escolhas pessoais desde o que gostam mais de comer, ao trabalho que querem fazer ou com quem querem casar". Ou seja, resume, que aprendam os seus direitos e sejam pessoas ativas.

"O que mais me move é dignificar estes alunos e as aprendizagens que fazem ao longo da escolaridade obrigatória. Para que deixem de ser os professores e os pais a decidir por eles" - é o princípio em que mais insiste quando dá formação a outros docentes, revela. (...)

Fonte: JN

sexta-feira, 20 de março de 2020

Ensino à distância? Não é o regresso da Telescola, mas a RTP responde com conteúdos educativos

O Conselho de Opinião (CO) propôs ao Conselho da Administração (CA) da RTP o retomar do ensino à distância. Através do gabinete de imprensa da televisão pública, o presidente do CA, Gonçalo Reis, confirmou (...) ter recebido uma sugestão do CO para “a disponibilização de certas faixas horárias (materiais e recursos) na Rádio e na Televisão para a sua utilização, em coordenação com o Ministério da Educação, para fins educativos.” “A administração agradeceu e informou que os diretores da RTP estão já a tomar várias iniciativas nesse sentido”, foi a resposta.

A sugestão, numa primeira fase, explicou Maria Emília Brederode dos Santos, presidente do Conselho Nacional de Educação e membro do CO da RTP, propunha que o ensino à distância pudesse recorrer à difusão radiofónica, “que não carece de presença e que será mais fácil de organizar”. A iniciativa, defendeu a responsável (...), “poderia ser uma maneira de organizar o ensino à distância minimizando as desigualdades”, entre, por exemplo, quem tem um computador em casa e quem não tem, e “fazendo um apelo aos professores para que disponibilizassem os materiais”.

“Não basta dizerem que estão disponíveis e enviarem trabalhos aos alunos”, reflete, considerando ser necessário “um passo à frente, com sugestões e atividades”, ao mesmo tempo que se deveria “aproveitar mais as ocasiões de educação informal”, exemplificando com o próprio SARS-CoV-2 que levou ao encerramento dos espaços de ensino. “Uma aprendizagem sobre o vírus presta-se a todas as abordagens: matemática, histórica, científica.”

Não é a Telescola

Maria Emília Brederode dos Santos ressalva que não se pode confundir estas medidas com a extinta Telescola. “A Telescola foi um projeto muito organizado que implicava também a presença, que aqui não poderá haver”, compara.

Criada numa altura em que se deu a expansão da escolaridade obrigatória até aos seis anos, não havendo nem professores nem espaços suficientes, o projeto da Telescola, recorda, “foi feito com um tempo que agora não temos”.

Da parte da RTP, esclarece-se que, desde o início da semana passada, os vários diretores de canais, antenas e plataformas estão a adaptar as suas grelhas de programação ao facto de haver mais crianças e jovens em casa. O ajustamento, garantem, está a ser feito “em articulação com o Ministério da Educação (ME), através da sua secretaria de Estado. Isto, além de novos conteúdos do site RTP Ensina, da rádio Zig Zag e de campanhas coordenadas por aquela tutela.

Paralelamente, indicam, foi iniciada “uma colaboração permanente com o ME com o objetivo de divulgar as iniciativas escolares à distância que estão a ser implementadas a nível nacional, focadas sobretudo no digital”.

Não é ensino doméstico

Ter professores a enviar trabalhos remotamente “não é a melhor solução”, começa por dizer António J. Osório, professor auxiliar da Universidade do Minho, apesar de ressalvar que é necessário “assumir que estamos a enfrentar uma realidade para a qual não estávamos preparados”.

Face ao ensino doméstico, por exemplo, uma das diferenças claras, aponta o investigador, é a ausência de alguém capaz de acompanhar as atividades letivas — um defeito que se junta ao facto de não existirem as ferramentas nem a preparação necessárias para o ensino doméstico e ainda à possibilidade de os encarregados de educação estarem absorvidos em teletrabalho — algo que também poderá limitar a disponibilidade dos recursos tecnológicos. Afinal, em casa, pode não haver computadores para todos os membros da família, por exemplo.

No entanto, o professor não desanima, considerando que “esta necessidade será também oportunidade para aguçar o engenho”. “Vamos inventar, construir, encontrar soluções que resolvam o nosso problema – dos alunos, das famílias, das formações de empresas.”

Apesar de reconhecer que “as instituições, as escolas, as universidades e as empresas que já utilizavam estas ferramentas estão em vantagem”, António Osório acredita que o primeiro passo é “aceitar a diversidade de soluções”. “Cada grupo deve encontrar a solução que está ao seu alcance.” Já dos responsáveis, o investigador defende que a sua função passa por “encorajar essa diversidade e a partilha da mesma”, dando como exemplo o projeto já aplicado no município do Fundão (NEO - Nota Êxito Online), com aulas e explicações remotas. “Alguém deveria perguntar-lhes como fazem e o que funciona.”

Sobre o facto de esta solução poder promover desigualdades sociais, o perito considera que o problema é mais profundo: “Tenha-se ou não acesso às ferramentas (e imagino que até computadores obsoletos sejam recuperados), o problema é o mesmo: a maioria não sabe explorar as ferramentas”, sublinhado que “o [trabalho] remoto e o digital não resolvem tudo”. “O mais importante será trabalhar em rede.”

Por estes dias Gilda Melo, professora de TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação do 7.º ano numa escola do concelho de Sesimbra, movimenta-se num território que não lhe é totalmente desconhecido, sendo que já usava algumas ferramentas em sala de aula. Ainda a chama a atenção para o facto de a maioria dos alunos estar a desbravar um caminho novo e a precisar de apoio. “Desde segunda-feira, estou em contacto com os alunos, por e-mail, e vou orientando-os: como fazer o download do programa, mando fotografias a ilustrar, etc..” No entanto, sabe que vários alunos não têm computador em casa, mas smartphones: “Andei à procura de uma aplicação semelhante, com a qual consigam trabalhar no telemóvel — não é a mesma coisa, mas o importante agora é continuar a trabalhar alguma coisa.”

Professores e alunos afastados — o que fazer?

Quando as aulas presenciais foram suspensas, mas as atividades letivas mantidas, iniciou-se uma correria para criar soluções para manter os alunos ativos, com a Direção-Geral da Educação a promover um vídeo com dicas para os encarregados de educação.

No entanto, ninguém estava preparado para este cenário: nem professores, nem pais, e muito menos alunos. E, enquanto há pais que, em teletrabalho e com os filhos em atividade letiva no mesmo espaço, descrevem o cenário de isolamento com um “enlouquecimento relativamente contido”, outros, ao segundo dia, confessam já os ter mandado “calar uma data de vezes”.

“Os miúdos estão orientados com a escola e desse ponto de vista corre bem”, descreve Tânia Cunha (...), adiantando que no caso do filho “até trabalha mais agora do que quando está na escola”. Ainda assim, admite que ter os filhos a estudar em casa “corta com fartura o ritmo de trabalho”. “Mas enfim, é o que é”, desabafa, resignada. 

Para o sociólogo João Teixeira Lopes, docente na Universidade do Porto, a solução encontrada é “apesar de tudo, melhor do que nada”, considerando que esta foi “uma primeira reação”.

A utilização da Internet para o envio de atividades, explica, revela a “preocupação dos professores em criar rotinas e regras”, sendo também “uma forma de tentar manter o quotidiano”. No entanto, “é evidente que esta situação vai criar desigualdades no acesso à aprendizagem, que tem de ser igual”, adverte.

Citando dados do Inquérito às Despesas das Famílias, realizado pelo INE em 2016, o professor recorda que, na base da pirâmide dos rendimentos, onde se encontra uma grande fatia da população, apenas 45,6% tinham um computador e 46,3% ligação à Internet em casa.

“A fratura digital em Portugal é notória”, observa, considerando “fundamental existirem medidas de compensação quando regressarmos às modalidades presenciais”. “Acho importante que as crianças e os adolescentes possam ter um dia-a-dia o mais normal possível, mas não podemos fazer de conta que isto é equivalente às aulas presenciais.”

Numa segunda fase, estima que tudo isto seja aplanado. Ainda assim, considera impensável avaliar alunos à distância, seja através de exames ou de pauta. Também a professora Gilda Melo não está à espera que os alunos correspondam a 100%: “Não podemos exigir o mesmo, como se nada estivesse a acontecer.” Numa segunda fase, espera, porém, que as escolas façam o levantamento das necessidades e, eventualmente, encontrem uma forma de todos os alunos terem um computador em casa, mesmo que quase obsoleto.

Quando ao modelo da Telescola, que João Teixeira Lopes descreve como ter funcionado “muito bem no seu tempo”, o sociólogo considera que para se tornar útil nos dias de hoje teria de ser totalmente repensado, indicando que o mesmo “não resolve o problema do apoio mais direto, mais individualizado”. Ainda assim, para o futuro “poder-se-á criar um modelo [ao estilo da Telescola] multimédia e interativo”.

Fonte: Público

quinta-feira, 19 de março de 2020

Escolas fechadas. Pais a trabalhar em casa desesperam com exagero de TPC

Gravar um vídeo diário a praticar piano, flauta ou guitarra; resmas de exercícios que ultrapassam largamente os 50 minutos de uma aula; trabalhos que os alunos estranham, como um poema sobre conteúdos de Fisico-Química; pais que recebem vários vídeos diários da professora do pré-escolar com atividades físicas e desafios, e depois devem devolver vídeos ou fotos para mostrar como as crianças praticaram... Passaram poucos dias do encerramento das escolas decretado pelo governo para combater o novo coronavírus, mas já há pais a dar em loucos. E os desabafos, em tom de desespero, nas redes sociais são prova disso - estão eles próprios a adaptar-se ao teletrabalho e sem a disponibilidade necessária para acompanhar os filhos 24 horas por dia e, ao mesmo tempo, fazerem o papel de professores.

"Para nós já é o quinto dia e começa a ficar difícil. Os trabalhos de casa, a falta de braços e de paciência. Acho que se entrou numa onda de loucura porque se está a pensar que os pais estão de férias e têm todo o tempo do mundo para acompanhar as crianças", diz Vítor Jorge, jornalista de publicações especializadas, que está fechado em casa desde sexta-feira com os dois filhos, um rapaz de 9 anos e uma menina de 4.

Na segunda-feira à noite, conta, um grupo de pais entrou em contacto com a professora do filho - aluno do 3.º ano - a dizer que era importante as crianças terem algumas tarefas. "Passou-se do 8 não para 80, mas para 800. Hoje a professora deve ter feito scanner do livro e mandou fichas até ao final do ano, sem timings. Temos de ver que os tempos não são fáceis e que os pais que estão em teletrabalho não estão no sofá a ver séries e filmes."

Crianças na idade das de Vítor exigem acompanhamento constante, ainda mais quando estão fechadas em casa, estão sempre a interromper, pedem ajuda para os exercícios. Depois há a questão logística: se antes da quarentena os pais deixavam as crianças na escola de manhã e iam buscá-las ao fim do dia, agora têm de lhes fazer o almoço, garantir que comem, dar lanches, sempre a interromper o trabalho - a adaptação é difícil.

E há a questão de pura e simplesmente não se ter conhecimento das matérias para poder ajudar os filhos - quem é da área de letras desespera com a matemática, há quem fique com os cabelos em pé com as artes plásticas. "O meu filho está no 3.º ano e alguns exercícios que ele tem de fazer são de matérias que eu só dei no 6.º ou no 7.º ano. Vejo-me obrigado a ter o computador ao lado para fazer pesquisa no Google."

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional dos Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, reconhece que "nos primeiros dias possa ter existido algum exagero" no pedido de trabalhos aos alunos em quarentena, mas refere que os exercícios não são para hoje, não são para amanhã nem para depois de amanhã.

"Deixem a correção a cargo dos professores"

E deixa uma mensagem de tranquilidade aos encarregados de educação: "Os pais devem estar calmos, são exercícios para serem realizados durante alguns dias. Não devem ficar angustiados, trata-se de aulas, de exercícios para algumas horas. Os pais não devem esquecer-se de que quem está a ter aulas são os filhos. O pai é um coordenador, um supervisor, por isso apelo a que façam uma supervisão das tarefas diárias que as crianças têm para fazer e deixem a correção a cargo dos professores."

Filinto Lima considera ainda que é importante que os pais estejam ao lado dos professores "para que isto corra bem". Também acredita que esta crise é uma oportunidade para muitos reconhecerem "quão nobre é a arte de ser professor".

Os pedidos de trabalhos chegam por via eletrónica, por WhatsApp, pelas várias plataformas, como o Inovar ou o Moodle. E isso levanta outra questão: a existência de tecnologias em casa. Se é certo que praticamente toda a gente as tem, também é verdade que quem está em teletrabalho não pode dispensar o computador aos filhos a qualquer hora.

Essa é a vertente da nova realidade escolar trazida pelo coronavírus que Leonor Santos enfatiza. "Não podem partir do princípio de que toda a gente tem computador, nem todos têm, nem têm de ter."

Na sua casa, por exemplo, há apenas um - para Leonor trabalhar em casa e para os dois filhos, António (16 anos) e Pedro (11). Nesta terça-feira, o mais velho teve de fazer o TPC de Português antes de a mãe se sentar e iniciar o seu dia de teletrabalho. Da escola do Pedro pediram-lhe que se inscrevesse na Escola Virtual e no Google Classroom - Leonor ainda não tinha tido tempo para isso, mas o rapaz já sabia que teria de entregar trabalhos nesta quarta-feira. A questão é: como vai ser quando todos precisarem de usar o computador ao mesmo tempo?

"É uma medida que estimula a desigualdade"

Leonor faz questão de frisar que não está contra as aulas à distância depois do encerramento das escolas - o que defende é que o processo seja feito faseadamente. "Tem de se garantir que todos têm acesso, têm tecnologia, para serem autónomos."

E isso leva-a a apontar o que considera ser o segundo problema desta questão: "É uma medida que estimula a desigualdade e a discriminação, é elitista. O elo mais fraco são sempre os mesmos." Lembra ainda que "é preciso que os professores percebam que os pais não estão a viver a sua vida normal". "Fui de manhã ao supermercado e passei uma hora em filas, depois tive de fazer o almoço", o que não acontece quando está no seu local de trabalho e os filhos na escola.

O presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos entende que esta é igualmente uma oportunidade para se perceber que crianças e adultos têm de ter instrumentos e rede wi-fi nas suas casas. "É uma questão social a que o governo tem de estar atento, e as juntas de freguesia também", diz, não deixando de referir que a maioria dos alunos do escalão A têm excelentes telemóveis.

Na casa de Vítor Jorge existem dois portáteis, mas quando o filho precisar, ou ele ou a mulher terão de parar o trabalho. Os TPC que a professora enviou por e-mail - e ainda não começaram as videoconferências - vai ainda obrigá-lo a sair de casa para imprimir as folhas de exercício porque não tem impressora. "Isto quando toda a gente está a sugerir que não se vá à rua."

Mais matéria do que nas aulas

Desde que as escolas fecharam na segunda-feira que Alice, aluna do 9.º ano, recebe na plataforma digital Inovar os trabalhos que devem ser realizados todos os dias, como se estivesse na escola. Está a cumprir-se o horário semanal. Ela concorda que os alunos tenham de continuar a aprender, mas discorda da "quantidade exagerada de exercícios, alguns completamente despropositados", que lhe estão a ser pedidos pelos docentes.

"Seria bom se os professores nos mandassem ler umas páginas, uma pequena parte da matéria, e mandassem perguntas de consolidação. Mas o que estão a fazer é a pedir trabalhos como se tivéssemos todo o tempo disponível para a escola. Mandam mais trabalhos do que iríamos efetivamente realizar na aula. Quarentena não são férias, mas temos de ter tempo para fazer outras coisas, tal como tínhamos quando estávamos em aulas", diz a jovem.

Por exemplo, para a aula de Francês desta terça-feira teria de fazer dois exercícios do livro e vários outros - ouvir duas músicas e responder a questões sobre as mesmas e ainda visualizar um vídeo na internet para responder a outras três perguntas. "É óbvio que em 50 minutos de aula - e não são 50 minutos porque entre sentar e começarmos a trabalhar perdemos 15 minutos - nunca conseguiríamos fazer isto. Mesmo em casa, sem a confusão da turma, levei mais de uma hora."

O que custa alterar rotinas

Quando os trabalhos pedidos pelos professores começaram a chegar, Inês Malhão precisou de ajudar o filho, aluno do 8.º ano, a organizar-se. Chegaram apenas exercícios de cinco disciplinas, mas dado o volume - e até porque o filho é um pouco desorganizado - teve de ser ela a pôr ordem nas coisas. "Ele estava completamente assoberbado com tanta coisa."

A solução foi estabelecerem um horário por disciplina para que o rapaz trabalhe como se estivesse na escola que frequenta, a Padre António Vieira, em Lisboa. Inês não tem do que se queixar, considera que aquilo que está a ser pedido pelos professores é equilibrado. Ao contrário do que pensa Vítor, Leonor e a aluna Alice e tantos pais que desesperam nas redes sociais. E até o representante dos diretores de turma, que admite alguns exageros nestes primeiros dias.

A cambalhota na rotina das famílias com filhos em idade escolar ilustra bem como as vidas se alteraram de um dia para o outro. "É uma aprendizagem para as famílias, que devem encontrar estratégias para diminuir a pressão de ter as crianças em casa e estarem em teletrabalho, mas não deixa de ser difícil", diz Cláudia Vieira, psicóloga educacional.

Aconselha, contudo, a que as famílias se organizem no sentido de estabelecer horários, porque o teletrabalho exige muita disciplina e é interrompido pelos pequenos-almoços, almoços, lanches... Mas alerta os pais que os miúdos precisam de monitorização, mas têm de ter alguma autonomia na realização dos trabalhos, tal como na escola. Outra dica é estimular a interação entre os irmãos.

A psicóloga educacional entende que, quando as crianças são obrigadas a passar tanto tempo em casa, deve-se trabalhar para o seu desenvolvimento integral e não apenas os conteúdos escolares. "É a oportunidade para, por exemplo, realizar um trabalho-projeto com a família, em várias áreas - se for sobre uma borboleta, pode ter uma abordagem de Biologia ou um poema para Português. Não estamos preparados para a flexibilidade de conteúdos."


O vídeo, com Margarida Pinto Correia, sublinha que o primeiro passo é garantir que os horários são cumpridos e a verificação de que todos os trabalhos preparados foram realizados. E incentiva os pais a participar e a ajudar a identificar dúvidas.

A Direção-Geral da Educação diz ainda que os pais devem manter o contacto com os professores e os diretores de turma porque os alunos não estão de férias. Mas também faz questão de lembrar que as crianças precisam de tempos livres e que se deve incentivar a leitura.
Fonte: DN