Margarida descobriu no Reino Unido uma forma de usar a arte para desenvolver a autoestima e decidiu trazer a ideia para Portugal: o projeto Darte nasceu em 2013 e já chegou a cerca de 150 crianças.
Depois de terminar o curso de Gestão, Margarida Seruya percebeu que "não era bem aquilo" que queria fazer. Acabou por ir para Oxford, no Reino Unido, onde esteve durante um ano e meio a estagiar no "The Art Room", organização que desenvolveu uma "metodologia psicoeducativa de arte como terapia", cujo objetivo é "desenvolver a autoestima e a autoconfiança".
No final, Margarida, de 26 anos, decidiu que ia trazer esta metodologia para Portugal e criou o Darte, projeto sem fins lucrativos que neste momento tem intervenção em cinco instituições e conta também com Carmo Coutinho, outra fundadora, e 17 voluntários.
A Escola Básica I Samuel Johnson, em Caxias, Oeiras, é uma das instituições onde o Darte tem intervenção e (...) a sessão com oito alunos do 1.º ano que foram desafiados a pintar o seu autorretrato numa tábua de madeira, que depois vão transformar em relógio de parede.
A sessão começa com as oito crianças e as quatro responsáveis do projecto Darte - Margarida, Carmo e duas voluntárias - sentadas em círculo à volta de uma mesa quadrada. Desta vez, foi Carmo quem conduziu os trabalhos: começou por falar individualmente com cada um, ofereceu um copo de sumo e depois contou uma história sobre como somos todos diferentes.
Estava lançado o mote para o desafio que se seguia. As quatro responsáveis do Darte vestiram-lhes camisas de adulto que já foram brancas para servir de avental, foram buscar tintas e pincéis e todos retomaram o trabalho que tinham iniciado na semana anterior.
No final, cada um tinha pintado a sua cara na tábua de madeira e todas as obras foram elogiadas, como fazem sempre: o Matias, de 6 anos, misturou cor de laranja com branco para fazer o seu tom de pele e usou o azul para pintar os óculos que tem na cara e o Tiago, também com 6, pintou o planeta Terra como fundo do quadro.
Ao longo do ano letivo, Margarida Seruya e Carmo Coutinho trabalham com grupos de crianças que "são referenciadas" pelas escolas: em causa, normalmente, estão "crianças mais tímidas, com dificuldade em fazer amizades que acabaram de chegar à escola ou mesmo ao país e nem sequer sabem a língua, ou então têm dificuldades de concentração e de aprendizagem", explicou Margarida à Lusa.
"Mas isto, em última análise, é bom para qualquer criança, porque é um espaço sossegado e seguro, longe das pressões diárias onde [as crianças] podem usar a criatividade para viajar para os mais diversos sítios", resumiu a jovem empreendedora.
Carmo, que estudou Psicologia antes de aprofundar os conhecimentos artísticos, diz que "a arte tem uma força especial" e que "o caráter subjetivo da arte faz com que qualquer criança possa usufruir deste potencial (...) e, através da arte, trabalhar as suas competências sociais e emocionais".
Para esta jovem de 27 anos, a evolução do processo criativo "acaba por ser uma escala pequenina do que pode acontecer lá fora": desde a folha em branco que se assemelha às expectativas face ao desconhecido, às frustrações de quando o resultado final não é tão bom e às vitórias de quando o esforço compensa e se conquista alguma coisa positiva.
"Ao desenvolver competências para lidar com o processo criativo, as crianças aprendem a lidar com os desafios a nível de educação ou da família" ou das relações com o outro, exemplificou Carmo.
Os miúdos que participam na atividade gostam destas manhãs diferentes do Darte - o Matias porque "na outra escola não tinha artes", o Tiago porque gosta da parte dos desenhos - e os dois dizem que o Darte "é diferente" das outras aulas.
"Porque aqui não escrevemos e [na outra escola] não temos dourado", simplifica o Tiago.
A Micaela, de 7 anos, já participou no Darte no segundo período e já terminou o seu autorretrato: "Era uma moldura e usámos cola, alguns brilhantes e tintas e também usámos um lápis para fazer primeiro o desenho e depois pintámos", resumiu. Diz, orgulhosa e sorridente, que agora tem a sua obra de arte "no quarto a enfeitar" e conta que mostrou-a à família, que "gostou muito".
É este orgulho que as crianças revelam que Margarida leva para casa diariamente: "O que me marca todos os dias é o sorriso deles e as frases que dizem de 'eu sou um artista' e dizem aquilo com um ar muito confiante. E é verdade, porque são", conta, acrescentando que a sua satisfação maior é quando as crianças "percebem que têm essas competências e todas as outras que vão descobrindo".
Fonte: Sol por indicação de Livresco
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