Numa das salas de aula do Agrupamento de Escolas de Condeixa-a-Nova, Márcia aproxima-se de Pedro, senta-se ao seu lado e pede-lhe a mão. Junta palma com palma, eleva-as à altura dos olhos e, com a cabeça de lado, avalia “a tremedeira” de uma de outra. Depois, diz, séria: “Estou mais nervosa do que tu, mas também estás a tremer”. Ela tem 14 anos, ele 15 e estão prestes a entrar no gabinete onde já decorre o “speaking”, a prova oral do teste diagnóstico de Inglês.
“Não conta para nota, eu sei – mas ninguém gosta de sentir que não conseguiu fazer o que esperavam de si”, explica Márcia. O seu nome, como o dos outros estudantes do 9.º ano que estão naquela sala, acaba de ser inventado. Por serem menores, escolheram nomes diferentes dos reais para poderem falar (...) e riem-se das escolhas uns dos outros. “Chiuuuuuu…”, ralha a professora que tenta mantê-los sossegados até à entrada na sala ao lado, onde “duas professoras com-ple-ta-men-te desconhecidas” – como sublinha Pedro, a explicar o seu desconforto – aguardam dois alunos de cada vez com perguntas mais ou menos imprevisíveis. (...)
Nenhum destes alunos quis certificado. “Não fazia sentido nenhum estar a gastar dinheiro com uma coisa que certifica o que eu sei no 9.º ano quando vou ter mais dois anos de Inglês. E muito menos quando isso tem de ser feito antes de saber se o teste nos correu bem ou mal”, comenta Márcia. “É que nem foi opção. Já faço estes testes desde o 5.º ano, numa escola de línguas, e sei que um certificado deste nível não tem interesse”, concorda Paula.
A professora de Inglês que coordena a aplicação do teste naquele agrupamento, Rosária Brito, tem uma opinião diferente. Considera que “num momento em que há tanta competitividade e falta de emprego tudo tem importância para alimentar o currículo”. Fala de alguém que “até incluiu no currículo o facto de ter sido catequista” – “Vamos lá saber o que faz a diferença”, comenta.
À medida que os alunos saem aos pares para fazer a prova oral, a biblioteca enche-se com os que já a fizeram. Ali não há nervosismo. Daniela, de 15 anos, está sentada, sozinha. O seu par, João, que está a repetir o 9.º ano (e novamente com negativa a Inglês) optou por quase não falar no debate que devia ser entre ambos. Ela diz que falou "pelos dois”, ele não está perturbado: "Esta prova não serve para nada", justifica.
À volta de um jogo de tabuleiro, quatro rapazes concordam que o mais complicado foi descrever as imagens. A Henrique mostraram a de dois garotos a comer gelados, a Francisco uma rapariga sentada na cama, a Paula um aeroporto. “Podíamos inventar, imaginar o que tinham feito antes, o que iriam fazer depois, mas com imagens tão pobres nem em português era fácil", comenta Henrique, que teve cinco valores (de zero a cinco) no fim do 2.º período, à disciplina. Mais difícil, ainda assim, foi perceberem por que estavam fechados na biblioteca: “Se os temas e as imagens são sempre diferentes, por que é que temos de esperar aqui?...”
Fonte: Público
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