O presidente do Conselho Científico do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), João Paulo Leal, criticou neste sábado o facto de Nuno Crato ter decidido avançar com o incentivo às escolas que consigam baixar a diferença entre as classificações internas e as externas, apesar de alegadamente ter sido avisado pelo presidente do Conselho Diretivo do Iave “de que isso teria efeitos perversos”, que na sua opinião “já se estão a verificar". "Já há escolas a baixarem de forma artificial as notas internas”, disse.
João Paulo Leal referia-se ao chamado “indicador de eficácia educativa”, um dos critérios para a atribuição de crédito horário que as escolas podem usar para atividades educativas. Neste caso, a tutela compara os resultados das escolas com a média nacional nos exames, avalia os progressos, de um ano para o outro, bem como as diferenças entre as classificações que os alunos da escola obtiveram nas provas e aquelas que lhes foram atribuídas pelos professores. O número de horas de crédito a atribuir ao estabelecimento de ensino varia em função dos níveis de superação atingidos. Por exemplo: se um agrupamento ou escola do básico conseguir uma média de exame que fique 0,50 pontos (numa escala de 1 a 5) acima da média nacional recebe 30 horas.
Neste sábado, João Paulo Leal considerou esta medida “terrível”. “Haver uma diferença de dois ou três valores a mais na classificação interna em relação à avaliação externa é normalíssimo, não quer dizer rigorosamente nada, não permite tirar ilacções. Estranho é que essa variação não exista”, disse, sublinhando que os professores, ao longo do ano letivo, e na classificação final interna, têm em conta os resultados dos testes sumativos, mas também os trabalhos práticos individuais ou de grupo, a participação e as atitudes dos estudantes, entre outros aspetos. " É normal as escolas enviarem para os pais, no início do ano, estes parâmetros, e o peso de cada um", disse, falando da sua experiência como pai de uma jovem do secundário. Já os exames, contrapôs, referindo-se aos conteúdos programáticos, "avaliam só o primeiro aspeto e não na totalidade".
Voltando a falar da turma da filha, o presidente do CC do Iave, que é um órgão consultivo, disse ter conhecimento de casos "em que as escolas estão a baixar as notas para as fazer coincidir com as notas externas" e até situações em que “um aluno mais fraquito” é impedido de ir, “sequer, a exame, para a pool da escola ser melhor e as notas baterem certo”. “Isto é terrível e muito mais grave do que numa escola haver três pontos de diferença entre a avaliação interna e externa”, afirmou.
Em resposta (...), o Ministério da Educação defendeu, através do gabinete de imprensa, que pretende promover uma "aferição entre as notas internas e externas, de forma a aproximar todas as escolas de um padrão nacional, no que se refere à avaliação dos conhecimentos dos aluno". "O crédito referido é adicional e apenas atribui incentivos às escolas para a continuidade do bom trabalho desenvolvido", acrescenta.
Fonte: Público
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