Ansiedade, depressão, autolesão, tendências suicidas. Aos 18 anos, estes sintomas são mais frequentes entre os jovens que foram vítimas de bullying na escola do que naqueles que sofreram maus-tratos na infância infligidos por adultos, conclui um estudo publicado recentemente na revista britânica The Lancet Psychiatry. Bullying é a violência exercida na escola entre pares (alunos), de forma sistemática e com a intenção de provocar danos.
Dados de 106 países compilados pela UNICEF, em 2013, dão conta de que um em três adolescentes, entre os 13 e os 15 anos, são vítimas de bullying. Em Portugal 34% disseram que foram provocados na escola pelo menos uma vez por semana nos últimos dois meses que antecederam um inquérito de 2014 desenvolvido no âmbito do projecto A Saúde dos Adolescentes Portugueses.
O estudo publicado na Lancet, da autoria de professores da Universidade de Warwick, no Reino Unido, e de investigadores Centro Médico de Duke, nos EUA, dá conta de que o risco de problemas mentais a longo prazo mais do que duplica (passa de 17% para 36%) quando são comparados jovens que “só” foram vítimas de maus-tratos na infância e aqueles que “apenas” foram alvo de bullying à entrada da adolescência. Aos 18 anos, os que apresentam sintomas de ansiedade passa, de um grupo para o outro, de 8,3% para 25,%; os que têm problemas de depressão aumenta de 9,5 para 11,3 e nos casos mais graves, como comportamentos autolesivos e pensamentos suicidas, sobe de 8,5% para 13%.
“Ao contrário de estudos anteriores, os nossos resultados mostram que a existência de problemas de saúde mental não se deve, só por si, a maus-tratos na infância, mas que se revelam quando as crianças foram vítimas de bullying”, frisam os autores. Mas constataram também que cerca de 40% das crianças que sofreram maus-tratos infligidos por adultos foram mais tarde alvo de bullying na escola, o que os leva a outra conclusão: “A experiência de outras formas de vitimização pode criar propensão para se ser perseguido” na escola por outros alunos.
Este é um dos aspetos do estudo publicado na Lancet que a investigadora Sónia Seixas destaca. “É como uma bola de neve. Os maus-tratos danificam o jovem e aumentam a propensão para que seja vitimizado na relação com os seus pares, Aí sim, faz sentido que o efeito seja exponencial e que esta experiência tenha mais consequências na saúde mental de jovens adultos do que os maus-tratos na infância”, refere a subdiretora da Escola Superior de Educação de Santarém e coautora do livro Como apagar o bullying da escola.
A investigadora lembra, a propósito, que a perseguição e agressões registadas na escola se dão “numa altura em que a relação entre pares é fundamental para a construção da identidade e quando esta é comprometida as consequências para a saúde podem ser maiores do que a experiência vivida na infância”, mas sublinha que estes são aspectos que não devem ser abordados de uma forma “compartimentada”.
Quanto à situação atual em Portugal considera que se assiste a uma tendência de “estabilidade” no caso do bullying presencial. “As escolas estão abertas a discutir o problema, o que antes não acontecia, e têm promovido muitas ações de sensibilização. E quando falamos com os jovens sobre estes comportamentos eles tornam-se mais cientes das consequências dos seus atos”, refere. É a “boa” notícia. A “má” é que, acrescenta, existe outra forma de perseguição que está em crescendo, o chamado cyberbullying, exercido através das redes sociais, “cujas consequências são semelhantes ou até mais gravosas” do quem quando a perseguição é feita frente a frente.
O estudo publicado na Lancet foi feito com base em duas amostras: a britânica ALSPAC (Avon Longitudinal Study of Parents and Children in the UK) constituída por 4026 crianças até aos 13 anos 13 anos: a outra amostra reúne 1420 crianças dos Estados Unidos com idades entre os 9 e os 16 anos (GSM- Great Smoky Moutains Study in USA).
Fonte: Público
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