Esperar ou não esperar, eis a questão quando decidimos. Num estudo publicado na revista científica "Neuron", cientistas do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, em colaboração com investigadores do Cold Spring Harbour Laboratory, em Nova Iorque, descobriram que o sentimento de confiança é codificado numa área específica do cérebro de ratos.
Os investigadores colocaram a hipótese de que a confiança pode ser estimada pelo tempo que os ratos estavam dispostos a investir à espera da sua recompensa.
"Especulámos que os animais estariam dispostos a esperar mais tempo se estivessem confiantes de que isso lhes traria um bom resultado", conta Gil Costa, estudante de doutoramento a trabalhar no Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud.
Para testarem esta hipótese, desenvolveram uma experiência: "Treinámos os ratos numa tarefa onde apresentámos uma variedade de odores e os ratos tinham que optar por ir para a esquerda ou para a direita, conforme o odor apresentado, e depois esperar pela sua recompensa", explica Gil Costa.
Usando esta tarefa, os investigadores puderam estabelecer uma correlação entre o tempo de espera e a probabilidade de que a decisão do animal fosse a correta. "Essa correlação deu-nos uma estimativa direta da confiança do rato."
"Os resultados corresponderam às nossas expectativas, isto é, os ratos mostraram grande confiança para odores facilmente identificáveis e baixa confiança para odores difíceis." Além disso, os investigadores conseguiram demonstrar matematicamente que esperar mais tempo, quando se está confiante, é a opção certa para otimizar a relação custo-benefício do ato de esperar por um resultado incerto.
Codificação da confiança
A equipa da Fundação Champalimaud conseguiu ainda identificar a área do cérebro onde é codificada a confiança. Assim, quando desativaram uma zona do cérebro dos ratos chamada córtex orbitofrontal (COF), o seu comportamento foi alterado e perderam a capacidade de saber quão confiantes estavam na sua decisão.
"Quando o COF foi desativado, os ratos tomaram a decisão correta, mas passaram a ficar à espera de uma forma diferente: em vez de esperarem muito tempo por odores facilmente identificáveis, e pouco tempo por odores difíceis, passaram a esperar um período de tempo aleatório para qualquer uma das situações", revela Zachary Mainen, investigador principal e diretor do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud.
Se os ratos onde o COF foi desativado fossem humanos, apesar de fazerem a escolha certa, diriam algo do género: "não faço ideia se estou correto ou não", refere Zachary Mainen. "Por outras palavras, deixaríamos de estar conscientes de a nossa escolha ter sido a correta."
A confiança no que fazemos é o que orienta o nosso comportamento em questões triviais ou em situações cruciais da nossa vida. Por exemplo, a decisão de ficar à espera do autocarro depende da nossa confiança de que o autocarro vai chegar em breve.
In: Expresso por indicação de Livresco
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