Ler é uma tarefa que todos os educadores e escolas devem incentivar nos mais pequenos. A leitura estimula a imaginação e o raciocínio criativo, processos fundamentais para a construção intelectual das crianças. E antes das palavras impressas, a “leitura” dos mais pequenos começa precisamente na exploração de cores, formas, sons e texturas. As crianças brincam com o mundo que descobrem, a sua curiosidade é ilimitada, e os livros (e as histórias) infantis são um alimento.
Mas e as crianças com deficiência, as que não conseguem ver ou ouvir? Sabe-se que desenvolvem mais os sentidos que lhes sobram, por engenho e necessidade. Uma criança cega ou surda não é menos inteligente ou não estará menos bem preparada para o mundo e para a vida se tiver a oportunidade e acompanhamento certos. Ela terá as mesmas capacidades cognitivas, mas desenvolvidas com outros trunfos e através de outras estratégias.
Há muito que as letras existem em braile para os cegos e ambliopes, um alfabeto feito de pontos táteis que lhes permite ler um livro com o mesmo nível de compreensão que uma pessoa que vê. Mas e as crianças mais pequenas: o que é que “lêem”, com que desenhos e cores brincam? Desde há muito que existem livros infantis , baseados em texturas e formas, mas também no som das histórias que os acompanham. Agora, uma nova tecnologia está a ser adaptada para tornar os livros infantis adequados às crianças invisuais: a impressão 3D.
Um grupo de investigadores da Universidade do Colorado está a ajudar a desenvolver o “Tactile Picture Books Project” — projeto dos livros de imagens tácteis — através do recurso a impressoras 3D. O objetivo é passar para três dimensões as imagens (digamos, os bonecos) que encontramos nos livros convencionais para crianças. E, entenda-se, “qualquer livro”, já que todas as formas que constam de um desenho em papel podem ser passadas para 3 dimensões, o que faz com que todos os livros infantis que conhecemos possam ser adaptados para as crianças cegas e amblíopes.
A evolução destas impressoras já permite imprimir materiais como o plástico e a borracha, bem como a composição posterior com outros materiais e texturas. Este projeto pretende criar uma base de dados online que possibilite a partilha entre pais e instituições, de modo a criar uma biblioteca virtual de modelos para impressão. Outro dos objectivos é o desenvolvimento de tecnologia que dê aos pais a possibilidade de fotografar (ou fazer um scan) a página de um qualquer livro infantil, envia-la para o computador e daí para a impressora, a um preço reduzido.
Contudo, este processo não é imediato, como explica Abigale Stangl, uma das investigadoras deste projeto. Vai ser preciso testar os livros em crianças invisuais, de modo a afinar os modelos, já que a sua percepção tridimensional não é necessariamente a mesma de uma criança que vê. A resposta/reação das crianças invisuais será determinante na otimização dos modelos e técnicas de impressão. De qualquer maneira, com os bonecos 3D será possível reconstruir todas as histórias dos livros de infância, dos mais novos (feitos de raiz) aos mais antigos, “os livros dos pais”.
In: Observador
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