Cerca de 26.500 docentes concorreram às 1954 vagas criadas pelo Ministério. Mais de metade desses lugares de quadro serão ocupados por professores com mais de 12 anos de serviço.
Inês Garcia, 57 anos, dá aulas há 24 e ainda assim não vai conseguir entrar este ano nos quadros do Ministério da Educação. Com um currículo de 21 contratos anuais e sucessivos, a professora - que deu aulas de Economia e Contabilidade, Matemática e Educação Especial - tem ainda, ao fim de todo este tempo de serviço, 147 docentes à sua frente no concurso de vinculação extraordinária que ontem terminou.
A menos de um mês do início do ano letivo, os resultados não foram ainda divulgados. Mas através das listas publicadas no site da Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE) é possível perceber que há ainda professores com 33 anos de serviço que só agora vão passar a efetivos. São professores a quem faltam apenas três anos para poderem pedir a aposentação sem penalização.
E o futuro não será risonho para os contratados. Mais de 26.500 concorreram às 1.954 vagas disponíveis na vinculação extraordinária.Desses, largos milhares de docentes com mais de 15 anos de serviço ainda não vão conseguir entrar no quadro.
Segundo dos dados publicados no blogue especialista em estatísticas da Educação "DeArlindo", com base nas listas da DGAE, apenas 89 com menos de onze anos de serviço deverão conseguir entrar nos quadros. E mais de metade das vagas disponíveis (1.039) deverão ser ocupadas por professores que contam entre os 12 e os 15 anos de serviço.
É o caso de Vítor Miranda, que só ao fim de 20 anos a lecionar Português e História consegue agora um lugar efetivo. Esta mudança de vínculo "vem resolver uma parte dos problemas porque já não chego ao mês de agosto com a dúvida se vou estar a trabalhar no próximo ano, ou não", diz o professor, que sempre concorreu a todas as escolas do país enquanto foi contratado. Ainda assim, este docente diz sentir-se "injustiçado", porque a mudança de vínculo não lhe vai garantir o salário correspondente ao tempo de serviço. É que, contas feitas ao seu tempo de serviço, deveria estar no 3º escalão. Mas todos os 1.954 professores que agora vão entrar para os quadros receberão o salário correspondente ao início de carreira, no 1º escalão. Por isso, tal como outros professores, Vitor Batista admite "recorrer a tribunal para que seja corrigida" a situação, de acordo com as diretivas europeias.
Vítor Baptista é outro dos professores que só ao fim de 13 anos de contratos anuais e sucessivos vai passar aos quadros. Alteração que este professor de Matemática e Ciências diz não lhe trazer completa "estabilidade". Isto porque "não há uma política e um compromisso de médio a longo prazo na Educação, porque mudam os ministros e mudam as regras e os currículos disciplinares". Ou seja, os professores "nunca sabem com o que podem contar no futuro", sublinha. Ainda assim, vê vantagens na entrada para o quadro: "A área geográfica para conseguir uma colocação passa a ser menor".
Este não deverá ser o futuro de Clara Leiria, 39 anos, professora da extinta disciplina de Educação Visual e Tecnológica, que conta 15 anos de serviço e chegou a dar aulas a "370 quilómetros de casa". Clara diz que se sente um clima de "desespero" e "instabilidade" entre os professores. "Hoje estou a dar um tiro no escuro porque não sei sequer se vou conseguir colocação no concurso", lamenta. E já "foram muitas as vezes" que pensou "deixar o ensino".
Também Inês Garcia, depois de ter concorrido 24 anos a nível nacional a um lugar, diz ter apenas uma "leve esperança" de conseguir colocação no próximo ano. Cenário que apenas considera possível através do concurso anual para os contratados, que decorrerá no final deste mês. Ainda não é conhecido o número de horários pedidos pelas escolas ao Ministério da Educação para esse concurso, mas no início de julho havia já 39.273 contratados inscritos.
In: Económico por indicação de Livresco
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