Só no final deste ano letivo me apercebi realmente da gravidade e da extensão do problema. Nos atendimentos realizados no âmbito da Orientação Escolar e Profissional (e não só), vários pais foram verbalizando a sua preocupação relativamente ao tempo excessivo que os filhos passam em frente ao computador. Existiram mesmo encaminhamentos para o Serviço de Psicologia e Orientação, cujo pedido se relacionava com o computador e o seu uso excessivo. O que mais preocupa os pais, na maioria dos casos, prende-se com o facto de os filhos não quererem fazer mais nada para além de estar no computador. Qualquer sugestão sua para que eles saiam de casa é percecionada como negativa e quando, finalmente, os conseguem arrancar do conforto do lar, têm por companhia jovens trombudos, contrariados e sempre a perguntar: “Quando vamos para casa?”. Estes não foram os casos mais graves. Acompanhei duas situações em que o uso compulsivo do computador levou dois alunos do 3.º ciclo a faltarem às aulas sem os pais se aperceberem. Num dos casos, a mãe expressou mesmo medo de que o filho a agredisse fisicamente quando tentava forçar a sua saída do computador. Este mesmo adolescente acabou por descuidar a sua higiene pessoal, porque esta atividade lhe roubava tempo em frente ao ecrã.
O isolamento social é outro problema grave associado ao uso excessivo do computador, dado que a interação presencial com os outros promove o desenvolvimento de sentimentos de identidade, pertença e de autoavaliação, que são indispensáveis para o equilíbrio psíquico e emocional. A diminuição da interação social pode prejudicar o desenvolvimento de uma auto-imagem positiva e provocar angústias e tensões que se irão refletir negativamente no funcionamento fisiológico do organismo. A mãe de uma das adolescentes que atendi referia, na presença da filha, que esta andava ansiosa, o que não acontecia no passado. Na busca dos motivos justificativos da ansiedade, mãe e filha chegaram ao computador e ao facto de esta adolescente passar horas a fio em frente deste, não conseguindo desfrutar de outras atividades que anteriormente lhe davam prazer. O tempo de sono é também gravemente prejudicado, dado que o computador é muito mais aliciante que a cama.
Atualmente já se fala na dependência do computador e nos riscos a ela associados. Independentemente de o seu filho estar ou não viciado, é fundamental perceber que o risco existe e que a prevenção deve sempre prevalecer. O sentimento de tranquilidade que resulta da premissa “Estão em casa e por isso estão seguros.” deve ser substituído pela questão: “O que passam eles os dias a fazer quando estão em casa?”. Se a resposta for “A jogar no computador.”, então teremos de acionar mentalmente a luz amarela e assumir que, afinal, a segurança, nestas circunstâncias, é relativa.
Se o computador se tornou o centro da vida da criança/jovem/adolescente, então a intervenção dos pais é fundamental. A estes cabe a difícil e desgastante tarefa de impor limites, de dizer “Chega!”, com convicção e autoridade. Se os filhos estão muito tempo sós em casa, terão de ser encontrados mecanismos que impeçam que estes passem o dia em frente ao ecrã. O computador deve ser colocado num local da casa que seja um ponto de passagem de adultos, sendo de evitar o quarto. Os pais podem também ajudar os filhos a procurar atividades alternativas, ajustadas à sua personalidade.
Espero que este artigo o tenha deixado um pouco intranquilo, pois isso significa que ele cumpriu o seu objetivo.
Aceda aqui a algumas imagens alusivas a este assunto:
Adriana Campos
In: Educare por indicação de Livresco
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