Além de dar orientações sobre amamentação e imunizações, os médicos dirão aos pais para lerem em voz alta para seus filhos desde o nascimento, segundo uma nova política que a Academia Americana de Pediatria anunciou na terça-feira.
O grupo, que representa 62 mil pediatras de todos os EUA, está a pedir aos seus membros que se tornem fortes defensores da leitura em voz alta, as vezes que um bebé visitar o médico. Isso deve-se ao maior reconhecimento de que uma parte importante do desenvolvimento do cérebro ocorre nos primeiros três anos da vida da criança e que a leitura para crianças amplia o vocabulário e outras importantes habilidades de comunicação.
«Deve ser abordado todas as vezes que entrarmos em contacto com as crianças», disse a médica Pamela High, autora da nova política. Ela recomenda que os médicos digam aos pais que devem «ler juntos como uma divertida atividade familiar diária» desde a primeira infância.
Essa é a primeira vez que a academia – que já emitiu recomendações sobre quanto tempo as mães devem amamentar os seus bebés e aconselha os pais a manter os seus filhos longe de telas até pelo menos os 2 anos – se manifesta sobre a alfabetização precoce.
Apesar dos pais ambiciosos e com alta escolaridade que já leem poesia e tocam Mozart para os seus filhos desde o útero não precisarem deste conselho, a pesquisa mostra que muitos pais não leem para seus filhos com tanta frequência quanto pesquisadores e educadores acham ser crucial para o desenvolvimento de habilidades pré-alfabetização (que ajudam as crianças a terem sucesso assim que chegam à escola).
A leitura, assim como conversar e cantar, é vista como importante para aumentar o número de palavras que a criança ouve nos primeiros anos da sua vida. Há quase duas décadas, um estudo citado com frequência apontou que aos 3 anos, os filhos de profissionais mais ricos já tinham ouvido milhões de vezes mais palavras que os filhos de pais de menor escolaridade e baixos rendimentos, o que dava às crianças que ouviram mais palavras uma vantagem clara na escola. Uma nova pesquisa mostra que essas diferenças já surgem aos 18 meses.
Segundo uma pesquisa do governo federal sobre a saúde da criança, 60% das crianças americanas de famílias com rendimentos de pelo menos 400% o limiar federal de pobreza – 94.400 dólares por ano para uma família de quatro – ouvem leituras diariamente do nascimento até aos 5 anos, em comparação com cerca de um terço das crianças de famílias que vivem abaixo da linha de pobreza, 23.850 dólares por ano para uma família de quatro.
Com pais de todas as faixas de rendimentos cada vez mais a dar smartphones e tablets para bebés, que aprendem a mover o dedo pela tela antes de aprenderem a virar uma página, a leitura em voz alta pode estar a ser relegada para um segundo plano.
«A realidade do mundo atual é que estamos a competir com meios digitais portáteis», disse a médica Alanna Levine, uma pediatra de Orangeburg, no Estado de Nova Iorque (EUA). «De modo que realmente queremos munir os pais com ferramentas e argumentos para o motivo de ser importante se ater a coisas básicas, como livros.»
A leitura em voz alta também é uma forma de passatempo para os pais, que consideram cansativo ficar a falar com o bebé. «É uma forma fácil de falar, que não envolve falar sobre as plantas do lado de fora», disse Erin Autry Montgomery, uma mãe de um menino de 6 meses em Austin, Texas.
As crianças de baixos rendimentos costumam ser expostas a pouca leitura antes de entrarem em ambientes pré-escolares formais. «Vemos famílias que não lêem para os seus filhos e onde não há livros em casa», disse Elisabeth Bruzon, coordenadora da divisão de Fairfax, Virgínia, do Instrução em Casa para Pais de Crianças Pré-Escolares, um programa sem fins lucrativos que envia visitantes para os lares de famílias de baixos e médios rendimentos com crianças entre 3 e 5 anos.
In: Diário Digital por indicação de Livresco
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