sexta-feira, 10 de julho de 2015

Com o insucesso também se aprende

Preocupados com o bem estar dos filhos todos os pais estão. Que queiram que os filhos sejam felizes, também. Que tenham sucesso, também! Mas na aprendizagem o erro faz parte integrante de todo o processo. Receber o erro, acolher, integrar e superar também deve fazer parte. É desta forma que se consegue alcançar sucesso. 
É de desconfiar quando presenciamos alunos que, no auge de toda a sua plenitude, vão de sucesso em sucesso ao longo do percurso escolar. Não falham, não erram, são excelentes alunos. Então porque preocupar? Porque geralmente estes alunos têm uma dedicação exclusiva aos estudos que não os deixa ter sucesso enquanto pessoas. Queremos alunos completos, não apenas alunos estudantes. Para além disso, aprender a frustrar é fundamental para o equilíbrio enquanto pessoa. Se não frustrarmos, e aprendermos a gerir esse sentimento, a resistir a adversidades e a superar os momentos menos bons, será muito, mas muito mais difícil quando assim acontecer no futuro, já adolescentes, ou mesmo adultos. 
Se as crianças forem desde cedo habituadas a lidar com dificuldades, a frustrarem por não conseguirem, voltarem a tentar vezes sem conta, mas sentirem o apoio de alguém que as orienta para o sucesso, promoverá nelas um perfil mais lutador, mais esforçado, mais resistente e resiliente às dificuldades, sejam elas escolares ou de outra qualquer ordem. Muitas das dificuldades que provocam insucesso em adolescentes estão relacionadas com estas questões emocionais, de não conseguirem superar adversidades, de frustrarem com isso e de não serem capazes de dar a volta à situação.
É imperativo não desvalorizar o insucesso e atuar desde logo. É importante que o aluno sinta que falhou e que tenha orientações de forma a inverter a sua situação. Analisar com os filhos e alunos os possíveis porquês dos seus resultados negativos, para articular estratégias diferenciadas para que o mais rapidamente possível consiga alcançar o sucesso. São raríssimos os casos de alunos com sucesso que não gostem da escola. O sucesso vicia e a preocupação em manter os bons resultados conduz o aluno a uma conduta mais consciente e a um esforço tendencialmente mais continuado.
Nenhuma criança fica satisfeita com o seu insucesso. É demasiado angustiante para as crianças e adolescentes vivenciar situações de fracasso com notas negativas ou repreensões por não ter cumprido com as suas obrigações e responsabilidades. Por isso se torna fulcral que aprendam, desde cedo, a superar a o insucesso. Que o vivam, que o sintam, que o superem para não voltar a cometer os mesmos erros. Assim é aprender.

Esforço ineficaz
Existem casos de insucesso e de dificuldades escolares que perduram por um longo período de tempo. É importante que se consiga encontrar outras áreas em que os miúdos se sintam valorizados e capazes. Poderá ser no desporto, na música, na dança, no teatro… É importante construir uma imagem social com sucesso diferenciado, que alicerce a sua autoestima e que seja uma influência na motivação e na persistência para conseguir superar situações escolares mais adversas. Valorizar o que o aluno faz bem sem nunca esconder nem menosprezar o seu insucesso escolar. É importante que perceba que tem uma responsabilidade ativa perante a situação e depende dele também conseguir inverter a sua realidade.
Mesmo os alunos que têm maiores dificuldades em certas disciplinas conseguem ter sucesso a outras. O Português, a Matemática, a História são tão importantes como a Música, a Expressão Ertística ou a Educação Física. Se não as valorizar de forma equitativa será penoso para a criança sentir que tem dificuldade e insucesso logo nas disciplinas que são mais valorizadas pela família e escola. Existem alunos que mesmo tendo notas altas às disciplinas teóricas mais comuns vivenciam grandes dificuldades nas disciplinas mais práticas como a Educação Física. Lamentavelmente não têm o mesmo tipo de preocupação parental nem escolar desvalorizando umas em detrimento de outras.
Importa realçar que o insucesso pode não ser sinónimo de falta de esforço. São muitas as situações em que se proferem acusações injustas por falta de esforço, quando o motivo do insucesso não foi esse. É uma pena demasiado pesada para miúdos, demasiado desmotivante e castradora, porque injusta.
Muitas vezes os alunos esforçam-se mas de uma forma não eficiente. O modo como nos esforçamos e dedicamos, têm grande influência no resultado final. Parece-me simples perceber que decorar a matéria não trará muitos benefícios, pelo contrário. Pense neste exemplo: para um teste de História no início do ano um aluno dedicou-se mais a decorar a matéria do que a compreendê-la. O seu resultado do imediato do teste foi até bastante satisfatório. A matéria era relativamente pouca e simples de decorar o que resolveu a situação. No entanto a avaliação de uma disciplina não é o resultado desse primeiro teste, mas sim da evolução, estagnação ou retrocesso que o aluno vai apresentando ao longo do ano. Nos testes seguintes optou pela mesma estratégia, memorizar a matéria. Nestes os resultados foram decaindo cada vez mais, uma vez que decorava os temas descontextualizados, compartimentados, sem nexo ou sentido. O pior foi quando chegou o exame final de ano global com toda a matéria que foi trabalhada. Mas, para além da disciplina de História, todas as outras disciplinas também realizam exames ou testes globais (felizmente), e decorar toda a matéria de todas as disciplinas num curto espaço de tempo, só pode levar a um resultado: o fracasso e o insucesso escolar. Os resultados tendem a ser negativos ou muito fracos, pois não se efetivou como se previa a aquisição e relação de novos conhecimentos.
Há vários fatores que provocam insucesso e nem sempre as “culpas” devem ser imputadas à escola. Dissecar as origens do insucesso escolar deve ser o primeiro passo para quem com ele convive. Podem ser variadas as origens e é pertinente que sejam identificadas desde cedo. Sejam dificuldades de aprendizagem, sejam outros fatores. Focar atenção nas dificuldades de aprendizagem específicas é comum, mas é igualmente necessário focar nas outras origens. O olhar necessário para além das dificuldades de aprendizagem torna-se urgente.

Renato Paiva

Fonte: Pais&Filhos

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