Todos concordam com o diagnóstico: a situação da assistência médica dada a crianças e adolescentes com problemas de saúde mental “é dramática”. Um dos sintomas é desde logo a falta de camas para o internamento dos mais novos, que leva a que muitas vezes tenham de ser hospitalizados no meio de adultos. O secretário de Estado da Saúde, Leal da Costa, admitiu que “o internamento é paupérrimo”. Foi durante a apresentação do relatório Portugal-Saúde Mental em Números 2014, esta quinta-feira.
O problema da psiquiatria da infância e da adolescência há muito está sinalizado. Há apenas dez camas para internamento no Porto, outras dez camas em Lisboa e os médicos especialistas escasseiam. No Algarve, por exemplo, existe apenas um pedopsiquiatra.
Convidado a comentar o relatório, foi o psiquiatra Daniel Sampaio quem classificou a situação nesta área como “dramática”, lembrando que “a maior parte das perturbações psiquiátricas no adulto iniciaram-se na adolescência”. O médico, que é diretor do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, disse que o internamento de adolescentes junto de adultos “cria muitos problemas aos adolescentes e aos serviços, que não têm capacidade para os tratar. A situação é dramática e exige uma tomada de decisão”.
“O internamento de miúdos de 14 e 15 anos em enfermarias psiquiátricas de adultos comporta imensos riscos, todos os dias temos notícias desses riscos”, comentou também o psiquiatra Augusto Carreira, presidente da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e da Adolescência. “As famílias não se opõem [a estes internamentos] porque estão tão aflitas que qualquer situação lhes parece bem”.
Fernando Leal da Costa disse ainda que “dizer que a situação é dramática é se calhar uma expressão demasiado suave”. O governante reconheceu a necessidade de ter de "arranjar alternativas” e perguntou se não seria possível criar em alguns hospitais, de forma transitória, “enfermarias para adolescentes”. A criação de uma outra unidade de internamento em Coimbra, para dar resposta à zona Centro, está há muito em cima da mesa. O governante disse que é necessária e urgente, mas não se comprometeu com prazos.
Recorde-se que a Carta da Criança Hospitalizada dita que “as crianças não devem ser admitidas em serviços de adultos. Devem ficar reunidas por grupos etários para beneficiarem de jogos, recreios e actividades educativas adaptadas à idade, com toda a segurança”.
A região do Porto referenciou mais primeiros surtos psicóticos em crianças e adolescentes, enquanto a região de Lisboa e Vale do Tejo registou um aumento de tentativas de suicídio, oriundas sobretudo de classes sociais médias e médias/altas, disse o director do Programa Nacional para a Saúde Mental, Álvaro de Carvalho. “São sinais de alerta que temos de monitorizar”.
Fonte: Público por indicação de Livresco
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