Muitas vezes procuramos encontrar um termo alternativo a “escolha inclusiva”, um termo que seja mais explicativo e nos ajude a transmitir de uma forma menos desgastada o que pretendemos dizer com inclusão. Um desses termos alternativos foi usado pela UNESCO quando produziu um vídeo intitulado “Welcoming Schools”. Esta expressão teve uma tradução feliz para português quando se intitulou a tradução do vídeo como “Escolas acolhedoras”. Acolher é um termo gentil, solidário, respeitoso e prenunciado uma aceitação de quem é acolhido. Parece, pois, ser este um bom desiderato para as escolas que querem caminhar no processo da Inclusão: tornarem-se escolas acolhedoras para todos os alunos. Não podemos pensar que o termo acolhedor por mais benigno que nos pareça seja completamente explícito e claro. O que é acolhedor numa realidade pode não o ser noutra. Mas, mesmo assim, valeria a pena lançar algumas pistas para o que se pode considerar uma escola acolhedora.
Antes de mais uma escola acolhedora é uma escola que dialoga e que interage com os alunos e com as famílias. Há pouco um jovem aluno do quinto ano de escolaridade dizia “o problema é que nesta escola quando há um problema, há castigos, há zangas, mas não há discussão nem diálogo”. Há escolas em que, por exemplo, os pais de alunos que a frequentam pela primeira vez não são convidados a conhecer a escola e a partilhar os objetivos e os projetos que se pretende desenvolver. Assim uma escola que seja acolhedora deve investir no diálogo com os alunos e com as famílias sabendo qual é o lugar de cada um deles mas não tendo medo de perder a sua identidade só por se colocar na posição de aceitar escrutinar as suas opções com os outros.
Outro aspeto muito importante para que a escola seja acolhedora é a promoção de uma ética de relações humanas na escola. Muitas escolas se queixam que não dispõem de recursos humanos que lhes permitam assegurar a supervisão dos alunos durante a permanência na escola. Há escolas em que alunos são violentados, em que existem mesmo roubos. Há lugares e momentos em que o poder dos mais fortes é lei. Ora uma escola que seja acolhedora é uma escola acolhedora para todos mas sobretudo para os mais frágeis. Era importante que se pudesse assegurar que existe uma supervisão que desencoraje a violência e em que os alunos possam estar certos que estão em espaços seguros e confiáveis.
Uma escola acolhedora é uma escola que acolhe todos os alunos em termos da sua aprendizagem. É uma escola que consegue criar uma comunidade de aprendizes que se respeita, que se ouve e que coopera. Acolher as diferenças na aprendizagem é um permanente desafio para o professor. O que sabemos é que cada vez mais os professores estão submersos em programas extremamente exigentes em que as aulas têm que ser aproveitadas ao máximo para conseguir “dar a matéria” (este termo não é lá muito acolhedor). Trata-se de saber se perante esta urgência de “dar a matéria” onde fica a pedagogia. Uma professora de matemática perguntava-se onde fica a pedagogia quando tem 180 aulas para dar “doa a quem doer”. Vejamos: qual é o tempo que se dispõe para ensinar alunos que não aprenderam com o ritmo que é exigido? Por exemplo ainda, quais as estratégias de motivação, de consolidação e de aplicação que o professor pode dispor para contextualizar o seu ensino? Escolas acolhedoras: talvez propusesse um pequeno e rápido exercício a todas as pessoas que se interessam por educação: professores, alunos, pais, decisores políticos, etc. Se é certo que todos estamos de acordo que as escolas devem ser acolhedoras, o que é que é preciso que a escola que conhecemos se transforme para ser efetivamente uma estrutura onde valha a pena educar os nossos filhos e os cidadãos que vão governar os valores e as práticas do mundo de amanhã.
David Rodrigues
Presidente da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial e professor universitário
Fonte: Plural & Singular, edição 09, dez14/jan/fev15, p. 66
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