domingo, 28 de dezembro de 2014

Encontro especial entre meninos especiais


Só pelo olhar inquieto de Fábio Freitas se percebe a sua ansiedade. Só pelo olhar, porque quase tudo o resto está imobilizado por uma distrofia muscular de Duchenne.

Na manhã de se­gunda-feira, 1 de dezembro, aguardava a visita dos colegas da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo. Estava prometido que viriam a sua casa, no Bairro dos Anjos, em Leiria, representar uma peça de teatro.

Agora que ele já não pode ir à escola, é a escola que tem de vir ter com ele. Assim foi. O Gabriel, o Bruno, a Gabriela, a Jessica e o Nuno, acompanhados pelas professoras de ensino especial Cristina Ferreira e Sónia Simões e pela auxiliar Fernanda Alves, vieram aconchegar o coração do Fábio com uma história “quentinha”: a lenda de São Martinho.

“O Fábio está inscrito na Rodrigues Lobo, tem de ter sempre uma ligação com a escola e é nesse contexto que trouxemos cá estes meninos”, explica Cristina Ferreira.

A par destas visitas, a professora desloca-se a casa do Fábio uma vez por mês. “Tento trazer algumas competências curriculares”, refere, acrescentando que na última aula trabalharam o Halloween, fizeram um fantoche e viram as figuras geométricas. “Claro que não é o programa total, mas é adaptado às especificidades do Fábio”, esclarece.

Os colegas da Rodrigues Lobo que o visitaram são também da área de educação especial e, com exceção de um, já todos tinham sido seus colegas na Correia Mateus. No total são 11 alunos. Apenas vieram cinco porque “paralelamente à escola, têm atividades obrigatórias em instituições, para fazerem a transição para a vida ativa”, explica Sónia Simões.

O próximo objetivo é que o Fábio possa ir à Rodrigues Lobo. Esse é o desejo de Olga Duarte, a mãe que o acolheu desde o nascimento.

“Pago a uma ambulância e passa lá uma manhã ou uma tarde, tenho é de levar o bipap”, diz. O Fábio já não passa sem o auxílio do “respirador mecânico”. O seu estado de saúde agravou-se nos últimos dois anos, quando deixou de conseguir sentar-se e passou a estar confinado a uma cama.

“Ele agora está bem”, garante Olga Duarte que, de cinco em cinco minutos, lhe aconchega os cobertores e verifica o estado do bipap.

Recentemente, superou uma broncopneumonia e o desgosto da morte do pai de acolhimento. O Fábio está agora com 18 anos. A doença rara de que padece, há muito que foi diagnosticada. “Está muito bem tratado”, sublinha Olga Duarte que conta com a ajuda dos seus dois filhos biológicos, da Assistência Social Adventista e de uma equipa de enfermagem.

O Fábio gosta de ler, ouvir música e de cantar, “canta muito bem”, afirma a mãe.

Fábio, que percebe e absorve tudo o que se passa à sua volta, não confirma nem desmente. Naquela segunda-feira de manhã não lhe apetecia falar. Eram os seus olhos que comunicavam e o seu olhar, naquele momento, era de embaraço.

Fonte: Região de Leiria por indicação de Livresco

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