Em comparação com colegas seus de muitos outros países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), os alunos portugueses de 15 anos têm pouca razão de queixa quanto à carga de trabalhos para casa, os célebres TPC, que lhes são passados pelos seus professores.
Em 2012, data do último inquérito efectuado no âmbito dos testes PISA (Programme for International Student Assessment), dedicaram a esta tarefa cerca de quatro horas por semana, menos uma do que a média registada entre os 38 países e zonas económicas da OCDE comparados num estudo divulgado esta quinta-feira.
Portugal figura aliás entre os dez países em que os alunos gastam menos horas com os trabalhos para casa. Mesmo assim acima da Coreia e da Finlândia, com uma média de três horas por semana, mas muito longe das 14 horas reportadas pelos alunos de Xangai ou das sete registadas pelos jovens da Federação Russa, Irlanda, Itália, Cazaquistão, Roménia e Singapura.
Mas seja qual for o tempo médio que os jovens dedicam aos trabalhos para casa, há um traço transversal a todos os países e zonas económicas analisados neste estudo: os alunos oriundos de meios socioeconómicos mais favorecidos consagram em média mais 1,6 horas por semana a esta tarefa do que os seus colegas mais desfavorecidos, têm mais condições para o fazer e também um maior retorno, em termos de resultados. Em Portugal, existe uma diferença de cerca de duas horas no tempo que estes dois contingentes de alunos dedicam aos TPC. Já em Xangai é de quase cinco horas.
Principal conclusão da OCDE: apesar de “representarem uma possibilidade suplementar de aprendizagem”, os trabalhos para casa podem “agravar o impacto das desigualdades socioeconómicas nos resultados dos alunos”. Para evitar este efeito perverso, a OCDE recomenda que escolas e professores ajudem os seus alunos mais desfavorecidos a realizar os seus trabalhos para casa, oferecendo por exemplo auxílio aos pais nesse sentido ou proporcionado aos jovens” lugares calmos” onde os possam realizar.
Dos inquéritos efectuados aos jovens de 15 anos entre as dificuldades apontadas pelos alunos de meios mais desfavorecidos figuram a inexistência, em casa, de um lugar calmo onde possam estudar, menos tempo disponível para o efeito mercê de outras responsabilidades familiares ou por já estarem a trabalhar e o facto de os seus pais “não se sentirem em condições de os ajudar”.
Não é só a origem que pesa na diferença de resultados. A OCDE comparou também as pontuações obtidas nos testes de Matemática do PISA por alunos oriundos de meios escolarizados e constatou que aqueles que frequentam escolas onde se privilegia os trabalhos para casa têm melhores resultados. O que não quer dizer, alerta a organização, que os TPC sejam determinantes na performance global dos sistemas de educação. Pelo contrário, os dados do PISA “mostram igualmente que o número médio de horas consagradas aos trabalhos para casa não têm em geral qualquer relação com o desempenho dos sistemas educativos no seu conjunto”.
TPC estão em queda
O retrato sobre esta componente mal-amada da escolaridade – basta a palavra "TPC" para “provocar reacções epidérmicas na maior parte dos alunos”, escrevem os autores do estudo – é um dos vários que têm sido elaborados pela OCDE com base nos inquéritos realizados aos estudantes que participaram nas edições do PISA, uma avaliação internacional que se realiza de três em três anos com o objectivo de aferir a forma como os alunos de 15 anos aplicam as competências que têm de Matemática, Leitura e Ciências face a situações da “vida real”. Na última edição, que data de 2012, participaram mais de sete mil alunos portugueses.
Para o estudo divulgado nesta quinta-feira, a OCDE apenas comparou os 38 países e zonas económicas que tinham participado também na edição de 2003 do PISA e constatou que, neste intervalo de tempo, a carga horária semanal consagrada aos TPC diminuiu em 31 dos 38 observados. Em média, na OCDE, o tempo consagrado a esta tarefa passou de 5,9 para cerca de cinco horas por semana. Em Portugal passou de cinco para cerca de quatro.
A que se deve esta tendência? A OCDE não arrisca uma explicação única: pode ter a ver com a crescente presença da Internet na vida dos adolescentes, como com uma mudança de percepção dos professores quanto à “quantidade adequada” de trabalhos que devem passar. A este respeito, a OCDE lembra que os dados do PISA 2009 já apontavam para a possibilidade de que, acima das quatro horas semanais, “o tempo suplementar dedicado ao trabalhos para casa quase não tinha influência na performance dos alunos”.
Fonte: Público
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