Embora seja um produto com saída ao longo do ano letivo, ao aproximar-se o seu final, designadamente no ensino secundário e nos anos com exames finais, aumenta significativamente a procura de "explicações", um importante nicho de mercado no universo da educação.
Ao que parece, embora também se notem os efeitos das dificuldades económicas das famílias, os “centros de explicação” estão com taxas de ocupação satisfatórias e assim continuarão durante este terceiro período e época de exames. Aliás, muitos alunos frequentaram a "explicação" durantes as férias da Páscoa que agora terminaram
Merece também registo que, de acordo com as leis do mercado, neste nicho de negócios a oferta passou a ser extremamente diferenciada, adaptando-se não só às necessidades dos alunos mas, fundamentalmente, às disponibilidades económicas das famílias. É possível obter desde a explicação individual ao domicílio até às mais económicas e despersonalizadas sessões de revisões em grupo; desde o curso intensivo à aula temática avulsa; do pagamento por hora à compra de pacotes de horas, certamente com algum desconto, etc.
A instituição "explicação" é velha e orienta-se em duas grandes direções, a ajuda ao aluno pouco trabalhador e pouco motivado que, sob pressão da família, vai para a "explicação" à procura do sucesso que se deseja ou lhe é exigido e, ou, tenta minimizar dificuldades que a escola, pelas mais variadas razões, falta de recursos docentes ou número elevado de alunos por turma, por exemplo, não consegue atenuar e a família, com os seus recursos e circunstâncias internas, também não.
Como é reconhecido, uma explicação de última hora não garante sucesso, importa regularidade e continuidade no trabalho de estudo e preparação. Acresce que alguns alunos não são eficientes na forma como se organizam para estudar, são pouco autónomos, pelo que, quando este tipo de matéria, os métodos de estudo no quadro das diferentes disciplinas, não é trabalhado na escola, surge, obviamente, a necessidade da ajuda externa que possa suprir ou minimizar essas dificuldades emergentes.
Por outro lado, devido ao custo, o acesso à explicação estará, naturalmente, condicionado pelas disponibilidades económicas das famílias, agravadas no actual contexto de crise e abaixamento nos rendimentos das famílias. Quer isto dizer, que a aposta e o investimento em recursos e apoios disponibilizados na escola pública, promovendo ao limite a sua qualidade é, continua a ser, a única forma de garantir a equidade de oportunidades para o sucesso, caso contrário, este tenderá a ficar acessível a quem tenha os meios que permitam a sua "aquisição".
Esta situação serve-me de pretexto para, mais uma vez e sempre, enfatizar que a melhor forma de não alimentar a dependência do sucesso escolar dos alunos da capacidade económica dos pais, é, investir na qualidade e exigência da escola pública.
Defender que a equidade entre os alunos se estabelece pela promoção e financiamento do acesso ao ensino privado, significa a desistência e o desinvestimento na escola pública, cuja qualidade e rigor serão a marca de água dos países desenvolvidos e com melhores resultados escolares.
José Morgado
O autor é professor universitário no ISPA - Instituto Universitário
In: Público
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