“Recentemente, quando estava a leccionar um curso sobre testes e medidas na Universidade de Kent State, decidi aplicar um teste de inteligência colectivo na aula. Quis que os alunos «sentissem» como era fazer um teste e compreendessem que aqueles itens eram usados para medir inteligência. Também pensei que talvez ficassem mais cientes do pouco tempo que demora obter um número que é considerado por muitos educadores de uma importância extrema.
Foi dito aos alunos que não escrevessem os seus nomes nos testes, mas que, em vez disso, utilizassem um código, como o número da casa onde viviam, medidas físicas ou qualquer símbolo menos óbvio. Expliquei-lhes que realmente não tinha fé nos resultados de QI; e portanto, não queria saber os seus resultados de QI.
A aplicação do teste só demorava 50 minutos. Parece que os alunos gostaram de o fazer e riram-se de algumas das tarefas que tinham de realizar. Eu próprio me ri quando vi alguns deles a olharem para as mãos e para os pés enquanto respondiam aos itens relativos à direita e à esquerda.
Ao cotar os testes verifiquei que o nível de QI mais baixo era de 87 e o mais alto de 143. O resultado médio de QI para os 48 alunos foi de 117. Não fiquei espantado com o 87, embora tivessem completado com êxito os cursos de educação geral e de ensino na Universidade de Kent State e estivessem prestes a licenciar-se no final daquele semestre. Ao fim e ao cabo, os testes de QI têm muitas limitações.
Tive, então, uma ideia. Decidi preparar um relatório para cada aluno, onde escrevia o seu código no seu exterior e «QI=87» no interior de cada relatório. Dobrei e agrafei cada relatório; afinal, um QI é uma informação confidencial.
Na aula seguinte empilhei os relatórios dobrados numa secretária na parte da frente da sala. Escrevi a variação e a média do QI no quadro. Muitos dos estudantes deram gargalhadas ao pensar que alguém tinha obtido 87. Os alunos ficaram impacientes e ansiosos à medida que lhes ia explicando o procedimento a terem com os seus relatórios. Fiz questão em lhes dizerem para não contarem aos outros o seu resultado de QI, porque isso faria com que a outra pessoa sentisse que também teria de divulgar este «dote global». Depois dei instruções aos alunos para irem até à secretária, uma fila de cada vez, e para procurar a folha com o seu código. Fiquei acanhadamente quieto, com vontade de rir às gargalhadas, enquanto observava os alunos a abrirem as suas folhas e lerem «QI=87». Muitos abriram, espantados, as bocas e a seguir sorriram para os amigos fingindo mostrar que estavam muito contentes com o seu resultado. Houve um silêncio absoluto quando comecei a discutir as implicações dos resultados de QI. Expliquei-lhes que em alguns estados norte-americanos uma pessoa que tem QI inferior a 90 é classificada como alguém com dificuldades de aprendizagem. Acentuei o facto de que um teste de inteligência colectivo não deve ser utilizado para fazer uma classificação deste tipo. Também dei ênfase ao facto de que alguém naquela aula poderia ter sido classificado como tendo dificuldades de aprendizagem e poderia ter sido colocado numa classe especial com base no resultado daquele teste.
Contei-lhes a forma como muitos conselheiros vocacionais teriam desencorajado um aluno destes a frequentar a faculdade. Mais uma vez realcei o facto de que uma pessoa naquela turma estaria prestes a tirar a sua licenciatura, tendo passado a várias disciplinas de História, Biologia, Inglês e muitas outras áreas.
Em seguida, expliquei-lhes que a maioria dos professores do ensino básico acreditam no agrupamento por capacidades. Este, normalmente, é feito com base em testes de inteligência e que, por isso, gostaria de experimentar grupos de capacidades naquela aula para ver, mais uma vez, «como é que eles se sentiriam». Alguns alunos refilaram logo, dizendo que «eu é que tinha dito que não queria saber os seus resultados de QI».
Acalmei-os explicando que seria uma experiência de aprendizagem valiosa e assegurei-lhes que realmente não acreditava em resultados de QI.
Disse aos alunos para não se levantarem naquele momento, mas que gostaria que todos aqueles que tinham obtido um QI abaixo de 90 viessem para a parte da frente da sala para estarem mais perto de mim, de modo a que eu pudesse aconselhá-los individualmente. Pedi aos alunos que tinham um QI médio (entre 90-109) para irem para trás e se sentarem a meio da sala. Foi pedido aos alunos com um QI médio que se deslocassem para um dos lados da sala e se sentassem na parte de trás da sala porque, de facto, não precisavam de ajuda extra.
«OK, todos os que têm Qis abaixo de 90 venham para a frente.» Os alunos olhavam à sua volta para verem quem é que tinha um resultado abaixo de 90. Eu disse que sabia que havia um 87 e talvez dois 89. De novo fez-se silêncio absoluto.
«Ok, todos os alunos cujo QI se situa entre 90-109, desloquem-se para a parte de trás.» Logo, e para meu espanto, 8 ou 10 alunos pegaram nos seus livros e dirigiram-se para a retaguarda. Antes que pudessem lá chegar, anunciei: «Esperem! Sentem-se! Não vos quero embaraçar, vocês iriam mentir e fazer batota, do mesmo modo que fazem os nossos alunos mentir e fazer batota, porque vocês não querem ser classificados como «lentos». Eu escrevi «QI=87» em todas as folhas!
A turma explodiu. Houve reboliço durante cinco minutos. Algumas das mulheres choraram. Algumas disseram que precisavam de ir para a sala de descanso. Todos concordaram que tinha sido uma experiência horrível mas simultaneamente valiosa.
Pedi-lhes, então, que me fizessem um favor: «Se faz favor não rotulem crianças. Porque somos todos “dotados”, “médios” e “lentos”, dependendo das tarefas que temos de fazer». Eles prometeram.”~
Harry W. Forgan
Phi Delta Kappan, Setembro de 1973
Via FB
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