Há mais de uma década no terreno, “Turma Mais” nasceu na secundária de Estremoz e já está em mais de 60 escolas de todo o país com resultados positivos. A história de um projeto pioneiro está contada num livro que [foi] apresentado esta sexta-feira na Feira do Livro de Lisboa.
“Temos uma maior vontade em estudar para ter melhores notas, porque também estão lá bons alunos”. Beatriz refere-se à “Turma Mais”, um projeto que nasceu há 13 anos na escola onde hoje frequenta o 8º ano: a Secundária/3 da Rainha Santa Isabel, em Estremoz.
Contra ventos e marés, o projeto vingou e não exclui ninguém: uma turma extra serve de plataforma giratória entre as turmas de origem, dando apoio a bons alunos, alunos médios e alunos mais fracos.
A Beatriz Serra é boa aluna, facto que não a impediu de passar pela “Turma Mais” numa experiência positiva e com bons resultados no seu rendimento escolar.
“Na nossa turma normal, somos os melhores, mas ali não. Estamos apenas entre os melhores de todas as turmas. Isto faz com que nos esforcemos mais. Eu consigo sempre tirar melhores notas na 'Turma Mais' do que na turma normal”, conta (...) a aluna de 13 anos.
“Além disso”, salienta, “podemos contar com mais do que um professor, pois há professores coadjuvantes que nos ajudam a ter um melhor desempenho”.
Se tudo correr como deseja, a Beatriz pode vir a ser jornalista. Já a amiga Leonor Bailão, também a frequentar o 8º ano, não tem tantas certezas quanto ao futuro, mas mantém a mesma vontade de aprender. Uma vontade que é estimulada pelo “Turma Mais”, onde todos seguem o mesmo ritmo.
“Conseguimo-nos ajudar uns aos outros. Uns têm mais dificuldade numa ou noutra matéria, mas todos queremos estudar e aprender. Ali, aprendemos todos ao mesmo ritmo, trabalhamos e lutamos todos pelo mesmo objectivo que é ser bons alunos”, explica Leonor.
Se o desenvolvimento da aprendizagem é uma meta, as relações entre alunos e professores é fundamental. Assim, à vertente letiva soma-se a relação afetiva. Amizades que se constroem e um espírito de entreajuda que se desenvolve.
“É muito produtivo até pelo lado das amizades mas, sobretudo, porque aprendemos melhor e com mais vontade”, diz esta aluna de 14 anos.
Na escola alentejana, este trabalho realiza-se de forma continuada. “O que fazemos, depois da diferenciação, é a integração ao contrário da exclusão. Coisa que há 13 anos era impensável, daí ter sido encontrado este modelo”, refere (...) a professora de História que idealizou o “Turma Mais”.
Teodolinda Magro lembra que todos, sem exceção, necessitam de apoio e, por isso, passam pela turma em diferentes momentos.
“Se queremos fazer diferenciação temos que a fazer com base na rotação das crianças. E têm de ser todas. Foi esta impossibilidade, na altura, que criou uma possibilidade diferente que não existia no sistema educativo”, completa.
“Quando dizemos ‘sai e entra’ da ‘Turma Mais’, o que estamos a fazer são grupos de trabalho em que potenciamos a melhoria da qualidade de trabalho nas turmas numa complementaridade com as turmas de origem” prossegue a docente.
Passados estes anos, a professora que coordena o projeto ao nível nacional afirma que sente “algum conforto” por saber que há “um modelo, entre muitos outros, que é possível disponibilizar a toda a comunidade escolar com o intuito de combater o insucesso escolar”.
“Todos juntos não somos demais”, exprime Teodolinda Magro, que passa agora muito tempo na estrada para chegar às muitas escolas que solicitam acompanhamento e adesão ao “Turma Mais”.
Em Portugal existem cerca de 800 agrupamentos escolares e o projeto já está em mais de seis dezenas de estabelecimentos de ensino, onde se registaram “ganhos médios de sucesso escolar entre os 4% e os 8%”.
O sucesso escolar e a garra de uma professora em livro
O projeto “Turma Mais” nasceu há 13 anos na Escola Secundária da Rainha Santa Isabel/3 em Estremoz e, numa década, já conseguiu alcançar 90% de sucesso escolar.
É a história da persistência de uma escola e de uma professora, Teodolinda Magro, que não se vergou a tentativas falhadas e erros para travar o insucesso escolar.
A história está, agora, contada no livro “A Escola”, num retrato da Fundação Francisco Manuel dos Santos lançado esta sexta-feira na Feira do Livro, em Lisboa.
“Achei fascinante a persistência de um grupo de pessoas em relação a este problema e ao facto de terem encontrado uma solução para ele”, explica (...) o jornalista Paulo Chitas, autor da publicação.
Em resumo, o “Turma Mais” materializa-se na criação de uma turma suplementar por cada ano do 3º ciclo, para onde vão os alunos que têm o mesmo nível de conhecimentos e onde em algumas disciplinas estão dois ou mais professores.
“Esta turma tem uma população escolar mais homogénea e os professores conseguem que os alunos progridam de uma forma muito mais eficaz, do que se estivessem na turma de origem”, conta o autor.
Mas chegar até aqui não foi fácil. O caminho fez-se misturado de recusas tendo em conta que a lei não permite a criação de turmas homogéneas. O projeto acaba por avançar depois de a Universidade de Évora ter dado o aval científico.
Porque desistir não estava nos planos da escola alentejana, os dinamizadores da iniciativa puseram a criatividade à prova e foram à procura de outra alternativa.
“Em vez de colocar primeiro na “Turma Mais” os alunos de nível 2, levou primeiro os alunos com mais sucesso, de nível 5, e isso serviu de exemplo ao resto da escola de como esta turma era um sítio onde estavam os melhores”, anui Paulo Chitas.
A ideia acabou por ser aproveitada pela ex-ministra da educação Maria de Lurdes Rodrigues e, hoje, está presente em mais de 60 escolas espalhadas por todo o país.
Antes do projeto, a secundária de Estremoz estava muito acima da média nacional em termos de insucesso escolar, com cerca de 22%. Cinco anos depois, a taxa reduziu para 9% e está abaixo da média nacional.
Fonte: RR por indicação de Livresco
Sem comentários:
Enviar um comentário