A emoção dos pais que lidam diariamente com filhos com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) e de uma doente que enfrenta, há 29 anos, o problema, marcaram o evento clínico da Unidade de Psiquiatria e do Serviço de Pediatria do Hospital de Vila Franca de Xira, na manhã de (...) 3 de junho. A PHDA é um distúrbio comportamental que atinge rapazes e raparigas. As crianças que sofrem de PHDA são comummente tidas como mal comportadas, irrequietas e difíceis de lidar, mas não têm domínio sobre os seus comportamentos.
Fabíola Vicente, de 29 anos, sofre de PHDA desde criança. Na partilha da sua experiência, em lágrimas quando recordou as dificuldades por que passa, ilustrou uma das principais conclusões da discussão de cinco horas: tem de haver mais atenção e espaço às perturbações psiquiátricas.
“Desde criança tive dificuldades de aprendizagem, em ter amigos e em inserir-me em grupos. Chumbei quase sempre a línguas e quando faltei a um teste de matemática por estar doente, em que tinha notas normais, tive de o fazer sozinha numa sala e tive 100%. Mostra as dificuldades de estar em grupo e não me distrair.
Só entrei na faculdade com 22 anos e tive uma depressão ao fim do 1º semestre, porque não tinha resultados e fartava-me de estudar. Passei por vários empregos, começando na área de seguros, call center`s e depois em fábricas, mas as dificuldades são muitas. Hoje recorro às novas tecnologias, a aplicações de smartphones para orientar a minha vida, desde listas de compras a prioridades de agenda. Sem isto é tudo muito complicado”, explicou.
O caso é elucidativo e foi ao encontro do que foi diagnosticado pelos vários intervenientes no encontro. Para Cristina Marques, pedopsiquiatra e diretora da Psiquiatria da Infância e Adolescência no Hospital Dª Estefânia, as consequências da PHDA na infância são, entre outras, “mau aproveitamento escolar, sofrimento psicológico, comportamentos aditivos, criminalidade e baixa autoestima”.
No entanto, a especialista alertou para a necessidade de diferenciar o que é diagnóstico da PHDA, de patologias como depressão, ansiedade e bipolaridade, entre outras. “Há confusão no diagnóstico pelos sintomas, mas muitas podem até acumular-se. É fulcral uma observação direta da criança, uma entrevista clínica e dar a conhecer aos pais que existe uma verdadeira preocupação com os seus problemas”.
Da plateia, surgiu a preocupação de uma mãe, cujo filho de oito anos sofre de PHDA, mas pela demora de uma consulta, não sabia o que fazer. Na resposta, Rita Antunes, do Clube PHDA, aconselhou “pausas pré-definidas para potenciar o interesse, usar estratégias de negociação com recompensas, ouvir mais a criança para descobrir algo que a motive e a que possa aderir sem desistir tão facilmente”.
O desconhecimento dos pais está a esbater-se, mas há alguns anos, Fabíola teve de procurar, sozinha, um diagnóstico: “Tive de mentir à minha mãe e dizer que precisava de dinheiro para ir ao ginecologista para poder marcar a primeira consulta num psiquiatra”, confessa, alertando para o facto de “os pais não terem formação para encarar o problema”.
Já na fase adulta, disse o Professor Bernardo Barahona Corrêa, psiquiatra e consultor da Fundação Champalimaud, há uma permanência dos problemas de PHDA entre 1 a 2,5% dos que foram diagnosticados em criança. “As complicações aumentam com a idade, sobretudo o abuso de substâncias como drogas leves. 80% das pessoas com PHDA tem outras perturbações”, explicou.
Segundo o professor Miguel Talina, Diretor da Unidade de Psiquiatria do Hospital de Vila Franca de Xira, e médico de Fabíola, “ (...) a PHDA está associada a dificuldades de aprendizagem na escola, a comportamentos impulsivos, ao consumo de álcool e drogas e a acidentes previsíveis. Este quadro pode prosseguir na idade adulta e condicionar maus resultados laborais, económicos e sociais, pelo que é muito importante que os docentes, psicólogos, pais e educadores estejam atentos”, concluiu.
Fonte: O Mirante por indicação de Livresco
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