'Stand Clear of the Closing Doors', de Sam Fleischner, retrata a história verídica de um adolescente autista que passou 11 dias escondido no metro de Nova Iorque. O filme é exibido às 16.30, na Sala 1 do Cinema City Campo Pequeno.
Stand Clear of the Closing Doors, de Sam Fleischner, é uma das propostas mais fortes do IndieLisboa 11. Apesar de só ter ganho, na sua ainda breve passagem por festivais, uma menção especial do júri no Festival de Tribeca, é o tipo de filme que merece ser distinguido, não só pelo tema escolhido mas também pela altíssima qualidade da realização.
Baseado na história real de Francisco Hernandez Jr., um rapaz mexicano de 13 anos com síndrome de Asperger que, em 2009, passou 11 dias escondido no metro de Nova Iorque sem que a família tivesse pistas do seu paradeiro, Stand Clear of the Closing Doors é um olhar realista e intuitivo sobre uma figura peculiar que não se guia pelas linhas principais da sociedade. Ricky Garcia (Jesus Sanchez-Velez), um adolescente com autismo de alto desempenho, procura uma linha de fuga na sua vida. Quando um dia a irmã, Carla (Azul Zorrilla), não o vai buscar à escola, como sempre, e após ser admoestado por um professor por não prestar atenção nas aulas e repreendido pela mãe, Mariana (Andrea Suarez Paz), Ricky refugia-se no circuito de metro da cidade, onde irá passar 11 dias sem que quase ninguém dê pela sua presença e sem praticamente nenhuma interação humana.
Stand Clear of the Closing Doors podia ser apenas um filme interessante inspirado numa história verídica que deu origem a algumas boas reportagens. Na verdade, qualquer pessoa com algum sentido de cinema que lesse o artigo que o New York Times publicou na altura percebia o potencial cinematográfico da história. Mas o que o realizador americano Sam Fleischner faz com essa história nesta sua primeira longa-metragem assinada em nome individual (correalizara outra, em 2009, com um amigo de infância) é notável. Não há um único plano que seja banal ou desinteressante, nem sombra de sentimentalismo ou indulgência no olhar sobre uma personagem que tem as suas especificidades mas que jamais é encarado como filho de um deus menor. De resto, o realizador não se limita a dar uma visão "objetiva" e "descritiva", como se filmasse a história tal como relatada pelos media, mas aproveita-a como ponto de partida para uma exploração inventiva dos espaços que filma (o metropolitano e as suas figuras, a casa da família, a praia de Far Rockaway, no distrito de Queens), criando no espectador a sensação de assistir um pouco à experiência do real e ao modo de funcionamento da cabeça de Ricky.
Com atores maioritariamente não profissionais (o protagonista é realmente Asperger), e utilizando câmaras portáteis para captar o ambiente do metro (alguns dos passageiros foram filmados sem o saber), Fleischner mistura de forma bastante subtil e muito bem harmonizada um espírito documental com uma pulsão ficcional e imaginativa que explora o carácter "circular" e "subterrâneo" do espaço do metro enquanto metáfora discreta das obsessões do protagonista e da condição invisível e "infra-humana" a que a indiferença da sociedade o sujeita.
In: DN por indicação de Livresco
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