sábado, 3 de maio de 2014

Escolas e universidades: as contas da baixa natalidade

Começa a ser cada vez mais evidente que o problema da baixa natalidade só vai ser resolvido através de maior escolaridade dos que restarem - sob pena de falência do sistema educativo. Que os alunos têm de fazer o 12.º ano já se sabia e é bom para o país. Mas quantos profissionais, adultos, vão passar a ser chamados mais assiduamente aos bancos da escola e das universidades? Apenas para manterem o sistema ou com ganhos profissionais evidentes? E com que custo - pago por quem?
A par deste problema futuro há outro, mais imediato. A crise financeira das famílias portuguesas vai provocando mossa. São as propinas em atraso, são os alunos que desistem a meio e é a Ação Social a não conseguir chegar a todo o lado. Na verdade, nada disto é surpresa depois de anos de profundos cortes nos rendimentos já frágeis dos portugueses.

[perguntas]

[1] A acentuada queda da natalidade portuguesa vai sentir-se nas universidades a partir de quando? E há medidas para a atenuar?

[2] Tem aumentado o número de pedidos de apoio social por parte de alunos em dificuldades?

[1] Os efeitos da natalidade vão sentir-se em contínuo nos próximos anos, mesmo com a obrigatoriedade de frequência do Ensino Secundário - até, pelo menos, 2030/2031! Nesse ano terminarão o Ensino Secundário os alunos nascidos em 2013, ano da mais baixa taxa de natalidade registada desde 1980! Há também que considerar o objetivo de ter 50% dos alunos a frequentar o Ensino Secundário através da via profissional e que, destes, nem todos prosseguirão estudos superiores. Atenuar a situação implica a oferta de novas formações complementares de nível superior.

[2] Sim! Quer Universidades públicas quer universidades privadas têm procurado soluções para os vários problemas apresentados por alunos em dificuldades, para os quais as bolsas de estudo não constituem resposta necessária e suficiente.

Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves

[1] O problema é geral, é grave e terá consequências também nas universidades. Só com políticas natalistas ativas, se podem melhorar os indicadores de natalidade.

[2] Apesar das ações sociais escolares das universidades estarem atentas, há cada vez mais casos de abandono escolar, que é urgente contrariar.

Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica

[1] Já se sente essa realidade e no futuro só se irá agravar. Para a atenuar ainda há poucas medidas em curso. A "importação" de alunos de outros países, de outros continentes, pode ser uma boa medida.

[2] Sim, progressivamente.

Maria Arminda Bragança, vice-presidente da Federação Nacional de Educação

[1] A baixa taxa de natalidade já se está a fazer sentir no primeiro Ciclo. Terá, a breve prazo, reflexos óbvios no Ensino Superior, que, este ano, teve uma grande quebra - menor número de alunos colocados desde 2006. E ainda não é o efeito da quebra de natalidade!

[2] Os beneficiários da Ação Social Escolar têm vindo a aumentar significativamente desde 2010. No Ensino Superior houve cortes substanciais nas bolsas de estudo e as dívidas por falta de pagamento das propinas são enormes.

Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto

[1] Poderá nem se sentir caso se reduza substancialmente o abandono escolar precoce. O número de estudantes que poderiam/deveriam seguir para o Ensino Superior e não o fazem por tal motivo seria suficiente para compensar o efeito da queda da natalidade.

[2] Na Universidade do Porto não se regista acréscimo significativo nas candidaturas a bolsas da Ação Social, nem no recurso ao fundo de emergência criado pela própria Universidade.

Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho

[1] A quebra de natalidade, mas também a grande perda de capacidade económica das famílias, já se está a notar e será cada vez mais um problema para o Ensino Superior. Existe finalmente uma nova lei do Estudante Internacional! As nossas universidades têm obrigatoriamente de ser cada vez mais competitivas nos PALOP, mas também na Ásia, restante África, Médio-Oriente, América e outros países europeus...

[2] Sim. Não se poderia esperar outra coisa com as atuais politicas...

Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana

[1] Este é um desastre a que o país assiste com intolerável passividade. Penaliza, já, o Ensino Superior, situação que se agravará por longos anos. Combate-se, por agora, atraindo alunos maiores de 23 anos e ativos profissionais, cujo aumento de competências é fundamental.

[2] Estes pedidos fazem-se no início do ano. Poderão, depois, atenderem-se ajudas excecionais que resultem de alterações da vida das famílias. Nunca as dificuldades identificadas/percecionadas foram tantas e tão grandes.
In: JN por indicação de Livresco

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