Algumas mães e pais ultrapassam os limites do bom senso na hora de fazer uma crítica aos filhos, ou ao tentar incentivá-los. Mas nem sempre, os motivos têm a ver com crueldade ou falta de afecto.
Segundo Marcelo Lábaki Agostinho, psicólogo clínico, psicanalista e terapeuta familiar com actuação em consultório particular e no Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), o modo como os pais lidam com os filhos é fruto, principalmente, da educação que receberam – para o bem e para o mal.
«Considerando que os pais costumam educar os filhos a partir da própria experiência com que foram educados, a tendência seria repetir a educação que receberam. Só que essa repetição pode se dar de duas formas distintas», comenta o especialista.
A primeira seria a partir da idealização da educação que receberam. Ou seja, se pais usaram, por exemplo, de castigos ou autoridade, e isso aparentemente funcionou, por que não agir igual com os próprios filhos?
«A partir da idealização, a pessoa repete a educação recebida sem olhar para as necessidades e história dos próprios filhos, que podem ser muito diferentes da que os pais tiveram quando pequenos», diz Marcelo.
A outra maneira percorre a direcção inversa: educar os filhos a partir do contrário de como foram educados. Aqui, ao invés da idealização, há uma crítica (que pode ser mais ou menos acirrada) em relação ao modelo de educação que receberam.
«Se os pais foram muito rígidos, eles podem, por exemplo, educar os filhos de uma forma mais permissiva», fala o psicólogo.
Na opinião de Rejane Sbrissa, psicóloga de São Paulo (SP) especializada no tratamento da obesidade e de transtornos alimentares, outro ponto de vista é que mães excessivamente críticas são controladoras e não aceitam os filhos como são por causa do próprio passado.
«Provavelmente os seus pais foram exigentes e cheios de cobranças. São mães que sofreram falta de afecto e que acreditam que estão a agir correctamente com os filhos para que eles não sofram o que ela sofreu», declara.
O facto é que críticas e comentários pejorativos podem provocar resultados desastrosos na auto-estima do filho. «Durante a infância a criança cresce a achar que a mãe esta correcta, mas não entende em que realmente erra...Só sabe que do modo como se comporta, não agrada. Sente-se sempre culpada e nem sabe sequer o porquê», conta Rejane.
De acordo com a psicóloga cognitivo-comportamental Mara Lúcia Madureira, de São José do Rio Preto (SP), a criança não tem capacidade de crítica para compreender que a mãe a maltrata por problemas relacionados com a própria personalidade.
«Ela acredita que se o desprezo da mãe deve-se ao facto de que ela é má e não merecedora de afecto, daí a constante busca de aprovação dos pais», explica.
Essa sensação de culpa já faz com que a criança se desenvolva até à adolescência sem auto-estima, tornando-se insegura e fechada, pois tem medo de ser criticada, como a mãe o fez. Nem por isso, entretanto, os filhos afastam os pais ou deixam de gostar deles.
E na idade adulta a pessoa não consegue gostar de si e aceitar-se como realmente é. Está sempre a querer agradar aos outros e a tentar fazer as coisas como os demais esperam. São indivíduos que nunca se sentem no seu próprio corpo, pois aprenderam desde cedo que o modo como são é errado ou insatisfatório.
A psiquiatra Dinah Akerman, de São Paulo, diz que ao longo da vida todos costumamos criar defesas psíquicas para nos proteger de situações que causam medo, dor e vergonha. E assim conseguimos sobreviver à prova dos arranhões no plano emocional.
«O maior desejo de qualquer pessoa é ser amada, principalmente pelos pais. Isso tende a perpetuar-se na vida adulta se ela continua presa às defesas criadas na infância pela falta de afecto», fala.
In: Diário Digital por indicação de Livresco
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