O ensino privado está bem representado no topo dos rankings dos exames nacionais. Fomos falar com alguns colégios que no ano passado se destacaram. Alguns reduziram o tamanho das turmas. Outros aumentaram o número de horas de aulas a Português e Matemática e andam a treinar o exame desde dezembro.
“A base”, nas palavras de Manuel Oliveira, “é um projeto de psicologia positiva” que tem como nome “Aprender a Vencer”. Sim, saber as matérias do exame é importante. Aqui também se tem cuidado com isso. Mas “a base”, insiste, é as crianças aprenderem desde pequenas a pensar assim: “Tudo é possível, estou confiante.” É começarem cada dia, “a partir dos três anos, com três minutos de exercícios de relaxamento e de concentração”, a tomarem “consciência do seu corpo, a visualizarem um dia feliz, a pensarem que vai correr da melhor maneira”. Tudo palavras de Manuel Oliveira, director do Colégio Sá de Miranda, em Lisboa.
O cenário repete-se todos os anos: nos rankings feitos em função das notas nos exames nacionais, publicados nos jornais, há sempre colégios privados em maioria nos lugares cimeiros das tabelas. À beira da nova época de provas oficiais, fomos ver o que estão a fazer com os seus alunos algumas dessas escolas.
O Colégio Sá de Miranda, em Lisboa, não esconde o orgulho: os 12 alunos do 4.º ano do ensino básico que no ano passado fizeram exame tiveram uma das melhores médias de Matemática do país (4,42 valores, numa escala de 1 a 5). “A nossa estratégia é fora da caixa”, começa por dizer Manuel Oliveira. “Sabemos que crianças mais felizes aprendem mais”, argumenta, e é movido por esse princípio que nesta escola o corpo docente põe em prática o projeto que, garante, já muitos quiseram comprar, mas que não é o tipo de coisa que se possa vender.
“Também os preparamos para a pancada, para os cenários difíceis”, brinca Manuel Oliveira. Resultado: no ano passado, quando se apresentaram na escola pública para fazer exames, “enquanto os outros alunos estavam nervosos, e a tensão era evidente, os do colégio estavam em fila, à espera, a cantar baixinho e a fazer exercícios de concentração, tranquilos”. Correu bem.
O diretor garante que não faz seleção de crianças, “como fazem grandes escolas” privadas. “Somos um colégio muito familiar, com 80 alunos , por isso os resultados nos exames são obtidos com um grupo muito heterogéneo, com as dificuldades normais, de meios socioeconómicos diferentes.”
Menos férias
No Colégio D. Diogo de Sousa (1800 alunos), em Braga, é o administrador António Araújo quem explica como é que esta escola teve a melhor média a Português e Matemática (4,09) entre as escolas com mais de 50 provas realizadas. Em primeiro lugar, há a “matriz” do projeto, nota: “Desde o pré-escolar incutimos nos alunos responsabilidade e gosto por aprender.”
Em segundo lugar, há a peparação especificamente para os exames. Apenas um exemplo do que se faz: no início de cada ano letivo, os pais dos alunos do Colégio D. Diogo de Sousa recebem o calendário escolar onde estão assinalados os dias em que se farão uma espécie de exames nacionais na escola — simulação de exames reais. “Os nossos momentos de avaliação são muito formais. Todas as turmas fazem os exames ao mesmo tempo, as regras são as mesmas...” E assim os alunos vão-se habituando ao rigor de uma prova nacional. Quando chega o dia da prova a sério estão mais calmos.
No Colégio Euro-Atlântico, em S. Mamede de Infesta (4,34 de média nas duas provas), escola que obteve o primeiro lugar do ranking dos exames do 6.º ano, com 32 provas, também se simulam os rigores do exame. Mas não só: as férias da Páscoa foram este ano mais curtas. Uma das semanas foi ocupada pelos alunos a estudar e preparar os exames, na escola, todos os dias. “Foi preciso convencer os pais todos”, explica Ana Maria Martins, diretora pedagógica.
Teve de ser assim, continua, por causa das mudanças no calendário de exames impostas pelo Ministério da Educação: “No ano passado [no exame do 6.º], as aulas já tinham terminado, os alunos já estavam de férias, tiveram tempo para preparar-se. Demos aulas de apoio extra em junho. Este ano, não. Diluímos ao longo do ano, fizemos este reforço na Páscoa, mas os alunos vão a exame numa altura em que ainda estão a ter as outras disciplinas pelo meio. Penso que é uma dificuldade acrescida. Para eles e para nós, professores.” Ainda assim, Ana Maria Martins está confiante.
Turmas pequenas
Em Lisboa, de novo, desta feita no Colégio Paula Frassinetti (130 alunos), a diretora, Ana Paula Fernandes, diz que são duas, essencialmente, as razões para ter bons resultados: as turmas do colégio são pequenas (entre 12 e 20 alunos) e “o corpo docente é estável e é seleccionado de forma muito rigorosa”, por ela própria, que há 27 anos está à frente do projecto. O Colégio Paula Frassinetti teve, no ano passado, a segunda melhor média do país nas provas do 4.º ano (4,33).
Em cada sala há um professor e, em geral, mais dois estagiários, o que faz com que o ensino seja “muito personalizado”. Ana Paula Fernandes não tem dúvida que isto é fundamental para os miúdos se saírem bem. Esta professora não consegue conceber que seja possível ensinar bem crianças com turmas com mais de 25 alunos, como acontece no ensino público.
Já António Araújo desvaloriza a importância do tamanho das turmas. Mas valoriza o reforço da carga horária nas disciplinas do exame — Português e Matemática — que há muito se pratica no seu colégio. No D. Diogo de Sousa “vão sempre além” da carga horária semanal prevista na lei. Acontece o mesmo em outros estabelecimentos, como na Escola Internacional da Covilhã (no ano passado teve, no 6.º ano, 4,28 de média nos exames, ficando em segundo lugar no ranking geral).
Nesta escola com 92 alunos, é logo a partir do 5.º ano que as crianças passam a ter oito horas semanais de Português e outras tantas de Matemática em vez das regulamentares seis. “É importante ter tempo para consolidar as aprendizagens”, diz Ana Saraiva, diretora.
Na férias da Páscoa os meninos de 6.º ano tiveram ainda 2,5 horas por dia de preparação para exame, durante uma semana. Mas desde Dezembro que andam a preparar-se, com a professora a aplicar testes iguais aos exames nacionais. Tudo em nome dos bons resultados quando chegar a vez do exame a sério.
As mensalidades médias praticadas nestas escolas variam, em geral, entre os 250 e os 300 euros. Muitas sublinham que os pais não pagam mais quando é preciso reforçar o apoio para os exames — mesmo significando isso ter mais professores a trabalhar mais horas. A verdade, é que hoje conseguir que os alunos tenham boas notas nas provas nacionais passou a ser, para os colégios privados, a melhor publicidade.
In: Público
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