Professor catedrático faz parte de uma equipa internacional que criou uma app para ensinar língua gestual. O projeto foi premiado pelo enorme impacto na sociedade.
O percurso no meio académico, artigos e publicações, parcerias consolidadas ao longo de anos, a vontade de resolver situações, um aluno interessado em estudar o assunto numa tese de doutoramento a partir da Universidade António José Camacho, na Colômbia. O contexto estava montado, a equipa de mangas arregaçadas, e Fernando Moreira, professor catedrático, diretor do departamento de Ciência e Tecnologia da Universidade Portucalense, está no grupo de seis investigadores dedicados a propor soluções de apoio ao processo de alfabetização de crianças com surdez, utilizando a tecnologia digital como forma de motivar a aprendizagem dos mais novos. É o único português da equipa.
Muito trabalho até chegar ao protótipo em espanhol, seguir-se-á a versão em português. Experiências com alunos colombianos, testes na Escócia, colaboração de professores, especialistas em língua gestual, designers. “A língua gestual não é igual para todos”, sublinha. Várias pesquisas e alguns resultados depois, “chega-se à conclusão de que só quando se introduz a tecnologia é que o interesse dos alunos desperta”, revela. Afina-se a app, introduz-se outra camada com uma metodologia mais colaborativa baseada no storytelling a pensar em crianças surdas dos seis aos 12 anos. “A app tem tarefas curtas e muito apelativas.” Têm movimento, vídeos, a cor de fundo varia consoante a palavra que se explica é um verbo, um substantivo, um nome.
O trabalho foi tornado público através de um artigo que captou a atenção internacional. A Elsevier, uma das maiores editoras de publicações científicas do Mundo, distinguiu a ideia com o prémio “Atlas” pelo seu impacto para a sociedade entre 3 800 selecionados. A editora veio à Universidade Portucalense para o reconhecimento, sem apoio financeiro. A equipa está contente. “É uma ferramenta que minora o sofrimento dessas crianças e melhora e facilita a sua aprendizagem.” Além disso, a app abre uma janela de oportunidade a novas soluções para outros tipos de deficiência.
Fernando Moreira tem 50 anos. A paixão pela Informática chegou no 12.º ano, quando tinha apenas quatro disciplinas e aulas de manhã. Tinha bastante tempo livre. Inscreveu-se num dos primeiros cursos de Informática do Fundo Social Europeu. Era mesmo aquilo. “Consegui perceber que o computador podia ser usado para mais do que jogos”, recorda. Os tempos eram outros. “Um computador custava 500 contos (n.d.r.: cerca de 2 500 euros, hoje em dia) e uma caixa de disquetes 10 contos.” Natural de Moçambique, aos quatro anos estava em Penafiel, percurso escolar em Paredes, estudos académicos no Porto, curso de Informática, mestrado e doutoramento na área de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. Dirige um departamento universitário e é professor.
Gosta de apanhar as turmas desde o primeiro ano. “O nosso papel não é só ensinar coisas técnicas, é também ver crescer.” Acompanhar a evolução, o crescimento intelectual. Insiste em trabalhos em grupo, em apresentações em público para preparar os alunos para o mercado de trabalho. “Aprender a aprender.” É isso que transmite aos estudantes. “Ser professor é onde me sinto bem. Investigar o que ensino, ensinar o que investigo.”
Fonte: Notícias Magazine por indicação de Livresco
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