A pandemia é um assunto omnipresente no quotidiano dos alunos menores de 16 anos que falam com regularidade do tema, sobretudo em casa com as pessoas com quem moram. O nível de preocupação é elevado. Um pouco mais de 80% estão preocupados ou muito preocupados e menos de 20% pouco ou nada preocupados. A quase totalidade já tinha falado da COVID-19 na escola antes do encerramento de todos os estabelecimentos de ensino ter sido decretado pelo Governo. Ao todo, 74,8% dos alunos com menos de 16 anos falam com os amigos sobre a situação pandémica, mas só 51,9% dos estudantes do 5.º ano o faz, contra 92,3% dos alunos do 11.º ano.
Aprender em casa ou na escola? Os alunos preferem ter aulas na escola: 75,1% gostariam de estar no seu estabelecimento de ensino, 24,9% preferem estudar em casa, no modelo de ensino à distância adotado por causa das atuais circunstâncias e que se prolongará no 3.º período. Quanto mais novos são, mais preferem estar na escola. Há uma tendência que diferencia os alunos do 2.º e 3.º ciclos dos alunos do Secundário. O primeiro grupo regista valores de preferência por ter aulas na escola na ordem dos 3/4, enquanto o segundo grupo se situa na ordem dos 2/3.
Tendencialmente, são os alunos mais novos que sentem mais falta da escola. “Parece haver aqui dois modos diferenciados de viver a escola que, genericamente, tem a ver com o papel da escola nas dinâmicas de convivialidade, a capacidade de autonomia de trabalho dos alunos”, lê-se no estudo realizado. Há várias razões evocadas tanto de um lado, como de outro, e algumas coincidem.
Os alunos que preferem aulas na escola às aulas em casa colocam as saudades dos amigos e dos colegas no topo da lista de razões, seguindo-se a facilidade de aprendizagem em contexto presencial, a saudade dos professores, a facilidade de comunicação com os seus docentes, bem como uma forma de evitar a solidão e a monotonia, maior concentração, manter o ritmo e a disciplina de trabalho. Há outros aspetos referidos como a facilidade de gestão do tempo, facilidade de fazer exercício físico, permitir uma avaliação mais justa, evitar uma exposição exagerada às novas tecnologias e a sobrecarga de trabalhos em casa.
Os que preferem o ensino à distância referem a facilidade de gerir o tempo e o ritmo de trabalho, um espaço de trabalho mais confortável, o evitar a disciplina da sala de aula e da escola, e ainda a menor pressão, menos trabalhos de casa, e uma maior proteção em relação ao vírus. A ajuda de estudar com os pais, maior concentração, evitar o barulho e desinteresse da turma, são outras razões apresentadas pelos alunos.
Apesar de grande parte querer regressar à escola, 69,6% dos alunos admitem aguentar o tempo que for necessário a trabalhar em casa, no regime de ensino à distância, 10,5% referem aguentar um mês, 8,6% aguentam 15 dias, 8% uma semana, e 3,3% dois meses.
Estes são alguns dos resultados de um estudo do Observatório de Políticas de Educação e Formação (OP.EDU) que incidiu sobre perceções e opiniões de alunos com menos de 16 anos, de pelo menos 63 concelhos do país, numa subamostra com 453 respostas, em que 53,3% dos inquiridos são do sexo feminino. Trata-se de um estudo global sobre o impacto da pandemia COVID-19 no sistema de ensino português levado a cabo pelo OP.EDU, que junta o Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento da Universidade Lusófona, e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
O OP.EDU está assim a acompanhar o impacto da pandemia no sistema de ensino nacional, do pré-escolar ao Ensino Superior, tendo lançado um questionário online para auscultar opiniões e perceções de pais e encarregados de educação, alunos e comunidade. O estudo é coordenado pelos investigadores Ana Benavente, Paulo Peixoto e Rui Machado Gomes.
A mãe é quem mais ajuda
Os alunos fizeram alguns comentários, discutiram prós e contras das aulas em casa e na escola. “Antes da escola encerrar, tinha contacto com os meus amigos e professores. Estava mais focado e tinha um ritmo de trabalho e de atividade física estabelecido. Ao ficar em casa, esses ritmos foram quebrados, pelo que não estou a estudar nem a praticar exercício como deveria”. Esta é uma das opiniões recolhidas no inquérito. “Consigo realizar os trabalhos de forma mais concentrada. A minha turma é muito barulhenta e desinteressada”. Um outro comentário de quem prefere o ensino à distância.
“Impressiona a diversidade de plataformas/instrumentos que estão a ser usados por uma geração de nativos digitais, sendo frequente que uma mesma turma use várias”, adiantam os investigadores. Entre as indicações transmitidas pelos alunos, há algumas mais recorrentes, nomeadamente, e conforme citado no estudo: “mandam, mas não adianta, pois não tenho computador”, “preferia que mandassem tudo só por uma plataforma”, “os professores mandaram inscrever-nos nessas plataformas e aceder à turma por eles criada, no entanto ainda não fizeram nada nessas plataformas”.
Passadas as férias da Páscoa, mais de metade dos alunos menores de 16 anos, 61,2% mais concretamente, preferiria voltar a aprender e fazer os trabalhos na sala de aula. Durante o período das aulas em casa, antes da pausa escolar, a maioria dos alunos teve ajuda: 62,2% foram ajudados a Português e 70,4% a Matemática. É a mãe, depois o pai, e a seguir os colegas, que mais ajudaram nesse primeiro tempo de ensino à distância.
“Quando se olha para a ajuda específica, destacando a ajuda às disciplinas de Português e de Matemática, a mãe continua a ser quem mais ajuda, mas a mãe ajuda muito menos, que aquilo que ajuda no geral, na disciplina de Matemática. Para esta disciplina, a ajuda do explicador (18,8%) é a terceira mais frequente, a seguir à mãe (49%) e ao pai (33,9%)”.
A diferença é significativa quando a pergunta é se se trabalhavam mais na escola do que em casa: 63,1% respondem que trabalhavam mais na sala de aula, 36,9% dizem que trabalharam mais em casa. E o que aconteceu com os trabalhos de casa? Ao todo, 75,1% dos alunos garantem ter conseguido realizar todos os trabalhos enviados pelos seus professores desde que a escola encerrou. Os 25% que não conseguiram alegam falta de tempo (42,1%), dificuldade em perceber o que é pedido pelos professores (33,7%), e ausência de apoio ou ajuda suficiente (24,2%). Cerca de 15% dos alunos garantem precisar de ajuda diária para cumprir as tarefas inerentes às aulas em casa, mas quase metade (44,6%) confessa raramente precisar de ajuda. Dos inquiridos, 25,3% estão muito preocupados com a avaliação, 55,5% manifestaram alguma preocupação, e 19,3% nada preocupados.
O estudo realça que embora 2/3 dos alunos continuem a falar com os amigos com quem habitualmente falavam na escola, “o isolamento social não deixa de trazer uma recomposição das redes”. O inquérito revela que 1/5 fala agora com outros colegas além daqueles com quem fala habitualmente na escola, e 14% falam apenas com parte daqueles com quem fala habitualmente na escola. Quanto ao exercício físico, 67,3% praticam uma modalidade desportiva fora da escola, agora condicionada pela pandemia, e cerca de metade tem procurado fazer exercício físico pelo menos três vezes por semana, enquanto 20,1% não estão a fazer exercício físico em situação de confinamento.
O Observatório de Políticas de Educação e Formação já tinha divulgado que um quinto dos pais, que participaram no inquérito, tinha observado maiores níveis de ansiedade e agitação nos filhos desde o início do isolamento. Mesmo assim, cerca de metade (53%) dos pais ou encarregados de educação “não tem notado alterações de comportamento em relação ao que ocorria antes do isolamento”.
O mesmo inquérito revelava que cerca de um terço dos alunos “não tem saído mesmo de casa” desde que as escolas encerraram e 42,3% não têm saído a não ser para o jardim ou quintal ou parque de estacionamento da habitação. E 64,7% já tinham manifestado “expressamente aos pais o desejo de regressar à escola logo que possível”.
Informações: https://surveys.uc.pt/index.php/537111
Fonte: Educare
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