A educação de todos os portugueses é uma aposta de futuro, assim como a qualidade das aprendizagens é uma resposta ao mundo em que vivemos.
Nos últimos quatro anos inverteu-se o sentido da recuperação que se vinha registando, porque houve uma diminuição de recursos e se adotaram soluções em que a ideologia falou mais alto do que o conhecimento.
A qualificação dos adultos é um grande desafio. O défice educativo é considerável - uma dívida da democracia e um obstáculo no acesso ao emprego, tanto mais preocupante quanto muitos dos adultos nesta condição são ainda jovens e os esperam longos anos a trabalhar. É uma situação dramática que nos coloca na cauda da Europa. Urge, por isso, retomar a aposta na educação de adultos suspensa em 2011, gerar novas perspetivas de vida a tantas pessoas em situação de desemprego e assim contribuir para o desenvolvimento do país.
O sucesso escolar de um número cada vez maior de alunos constitui um segundo desafio, não menos importante. Convivem hoje nas escolas alunos de diferentes etnias, credos e interesses. Esta diversidade vai sendo artificialmente reduzida por processos de seleção precoce como a orientação para vias desvalorizadas ou a retenção, que penalizam sobretudo os mais pobres, com menos possibilidades de apoio na família ou em explicações. A multiculturalidade trouxe, de facto, novas dificuldades, mas não são inultrapassáveis. Algumas escolas portuguesas e de outros países souberam responder-lhe com a transformação das suas práticas. Há que ter a humildade de aprender com o conhecimento produzido e com situações positivas.
Toda esta realidade exige capacidade de adaptação a novos tempos e a novas exigências.
Entre as apostas de futuro há que encarar a educação para o trabalho, que terá de proporcionar o desenvolvimento de competências essenciais à mobilidade entre profissões e à sobrevivência com autoestima face à precariedade. Mas há que proporcionar igualmente a educação para os tempos livres e para a vivência da cultura, para o desenvolvimento sustentável como contributo para contrariar a indiferença perante a degradação do planeta, para o exercício responsável da cidadania com base numa melhor compreensão do mundo e na preparação para os desafios da atualidade, em que forçosamente se inclui a literacia mediática.
Para que tal seja possível é necessário rever o currículo, repensar o número excessivo de disciplinas, os programas obsoletos e a sua dimensão, o peso de uma cultura de passividade, a insuficiente articulação entre os ciclos de escolaridade e entre as disciplinas. São necessárias mudanças orientadas para a melhoria das aprendizagens, que contribuam para valorizar o ensino experimental, as artes, a cultura, o trabalho transdisciplinar, a pesquisa, o desenvolvimento de projetos, a ligação ao mundo atual e aos media. Mudanças que promovam o desenvolvimento da responsabilidade, da autonomia, da capacidade de trabalhar em grupo e da solidariedade.
O combate ao insucesso escolar exige mais tempo para o trabalho dos alunos, mais aprendizagens durante o dia de escolaridade e uma intervenção oportuna perante dificuldades, evitando que se arrastem e agravem. A democratização do ensino não se compadece com um ensino que torna os alunos dependentes da necessidade de recurso às famílias e às explicações.
Mas atenção aos processos de mudança! Há um grande cansaço de alterações impostas e pouco fundamentadas. É necessário que sejam negociadas, progressivas e avaliadas. É necessário que se baseiem em escolas autónomas para decidir sobre a organização do trabalho e da vida da escola, a partir de um alicerce de regras transparentes, nomeadamente de financiamento, e com a obrigatoriedade de prestação de contas sobre os resultados das aprendizagens.
A valorização dos professores, a sua formação, estabilidade profissional e bem-estar são uma das chaves de uma educação de qualidade para todos.
Por Ana Maria Bettencourt
Fonte: DN
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