quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O que fariam os deputados se regressassem à escola


Deputados que são professores comentam o estado actual da educação com críticas e sugestões à mistura. As opiniões estão num inquérito no "site" do Parlamento Global.
"Se fosse professor agora, o que faria?" A questão é colocada aos deputados professores que suspenderam a profissão por motivos políticos. É na Assembleia da República que a questão é colocada. As opiniões dividem-se. Critica-se o modelo de avaliação, afirma-se que a ministra da Educação não está receptiva ao diálogo, mas também há vontade e disponibilidade para colaborar. As respostas estão num inquérito conduzido pela SIC e Rádio Renascença e disponíveis no site do Parlamento Global. São cerca de 30 os deputados professores, a maioria do PS.
Deixaram os bancos da escola e agora sentam-se nas cadeiras do Parlamento. A avaliação de desempenho da classe docente foi, por diversas vezes, abordada nessa casa onde se aprovam ou chumbam leis. A Oposição tentou suspender o modelo proposto pelo Ministério da Educação, mas sem sucesso. Se voltassem à escola, os deputados professores sabiam o que fazer. "Não tinha dúvida nenhuma de que tudo iria fazer para impedir a continuidade deste modelo", responde a deputada independente Luísa Mesquita. Na sua opinião, o modelo é errado e não se pode copiar os que existem no estrangeiro. "As avaliações não podem ser adaptadas, não podem vir do Chile, da França ou de Inglaterra e ser adaptadas ao nosso país." É preciso, defende, ter em conta a realidade e fragilidades do modelo de ensino português. "Face a estas críticas permanentes, a senhora ministra cria um remendo aqui e um remendo acolá." Resultado? Instabilidade. "Não há espaço onde seja mais necessária estabilidade emocional - diria mesmo estabilidade comportamental - de todos os agentes do que a escola", conclui.
Honório Novo, deputado do PCP, saiu à rua no protesto que juntou 120 mil professores em Lisboa. "É uma política que divide os professores em castas, que promove a burocracia, a resma de papel, a perda inútil de tempo." "Estamos a tentar remendar um vaso, um copo, um balde que já tem muitos buracos - e mesmo que tapemos um buraco, ele não deixará de deitar água". O deputado apresenta duas soluções para o Governo "ver" o que todo o país já viu, ou seja, que o modelo "está condenado ao fracasso". "Das duas uma: ou compramos uns óculos ao Governo e à ministra ou abrimos-lhes os olhos forçosamente."
Júlia Caré, do PS, chegou a votar a favor da suspensão da avaliação, num projecto do PSD que foi chumbado. "Estaria muito preocupada com a situação presente e futura da escola pública." "A escola só pode reproduzir a sociedade onde está inserida. Ponto. E se não lhe são dados meios, quer em compreensão, quer em solidariedade... solidariedade já era óptimo". Teresa Portugal, do PS, já está na reforma e lembra que dar aulas tem também uma vertente artística. "É de uma enorme dificuldade ajudarmos a crescer aqueles que estão a crescer", sublinha. Cecília Honório, do BE, estaria ao lado dos que contestam a actual avaliação. "Desenvolveria todas as formas possíveis para boicotar esse processo de avaliação", garante. O colega de bancada, Luís Fazenda, defende que o modelo deve mudar e que o actual não deveria avançar "independentemente da realidade das escolas". Antes de tudo, sublinha, é preciso analisar as carências dos estabelecimentos de ensino para tentar superá-las. "Desde Abril que a ministra não tem condições para dialogar", comenta.
"Faria o que sempre fiz, actuaria pela minha própria cabeça", responde Agostinho Gonçalves do PS. "Os alunos chegam à escola mal-educados, repito mal-educados. A escola tem de ensinar, mas os pais também têm de educar." Ricardo Gonçalves, também do PS, defende que é preciso seguir outro caminho. "A escola tem de começar por encontrar soluções para se avaliar a si própria." Odete João, do PS, absteve-se quando o PSD apresentou a primeira proposta para a suspensão da avaliação. Em seu entender, o modelo tem "problemas ao nível da sua execução", nomeadamente na avaliação feita no pré-escolar e no 1.º ciclo. "Estou solidária com os professores, que, neste momento, atravessam um momento difícil", afirma.
A deputada socialista Fernanda Asseiceira lembra que não há modelos perfeitos, reconhece que o actual precisa de melhorias, que é preciso "limar arestas", e confessa que não gosta de ouvir termos como "braço-de-ferro" e "guerra aberta". Expressões que "impedem o diálogo". "Gostaria de ver este processo encarado de uma forma mais tranquila por todos". O que faria? Asseiceira daria o seu contributo "para que as melhorias fossem feitas". Alda Macedo, do BE, teria uma atitude diferente. "Se estivesse na minha escola do meu coração, rompia com este ciclo de individualismo e isolamento."
Comentário:
Pois... mas não se encontram nas escolas! Lamento que o texto não apresente o comentário de todos os deputados docentes, designadamente os que foram eleitos pelo círculo eleitoral do meu distrito! Mas...

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