O corpo docente das escolas portuguesas, públicas e privadas, está envelhecido, pois as condições da aposentação alteraram-se, os professores trabalham mais anos. Por sua vez os alunos necessitam de mais atenção, não tendo havido a renovação aconselhável destes profissionais de um trabalho altamente exigente.
Reconhecendo que recentemente o Ministério da Educação e Ciência vinculou 1471 professores contratados — em alguns casos foram quase logo para a aposentação, já que estiveram sempre naquela situação contratual durante muitos anos ou mesmo toda a vida profissional —, no próximo ano letivo, as salas de professores apresentar-se-ão renovadas, uma vez que a média de idades baixará ligeiramente, mas não chega.
É necessário admitir o desgaste extraordinário desta profissão e colocar o limite nos 60 anos de idade, a partir do qual e até à idade da aposentação, os professores poderiam desenvolver outras atividades de acompanhamento a alunos como tutorias, salas de estudo, gabinetes de integração, dinamização de projetos, empreendedorismo, etc.. Os alunos ficariam a ganhar, as escolas sairiam enriquecidas no âmbito dos seus projetos educativos que poderiam ser ainda mais ambiciosos e os professores entrariam num período da sua vida profissional em que colocariam a sua experiência ao serviço da escola.
Ao mesmo tempo é preciso continuar a apostar na vinculação de contratados, grande parte deles muito bem preparados cientificamente e com enorme valor para a docência, desejosos de mostrar o seu talento. Existem no sistema educativo professores com mestrados e doutoramentos. Esses profissionais nalguns casos encontram-se sem colocação; um desperdício para o ensino, pois investiram na sua qualificação. Estamos a falar em doutorados com um currículo de mérito excecional e com experiência como investigadores, evidenciando liderança científica numa determinada área do conhecimento.
Salvo algumas exceções, os professores contratados revelam excelente desempenho, contrabalançando a sua juventude com a experiência dos professores dos quadros (efetivos), proporcionando maior entusiasmo na aprendizagem dos discentes, grandes beneficiários desta junção que, em qualquer equipa de trabalho, independentemente da área, é salutar e enorme mais valia.
É bom não esquecer que um dos parâmetros tidos em conta no processo de avaliação dos docentes é a formação complementar e contínua que realiza. Contudo, verifica-se que se para alguns a frequência continuada de formações é imprescindível, para outros, esse investimento é pouco valorizado e, por isso, desmotivador. Urge que a tutela repense as suas políticas, também neste aspeto.
Porém, não cremos que a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades selecione os melhores professores, nem contribua para melhorar o seu desempenho. A excelente formação de professores e a efetiva supervisão pedagógica nas escolas são as soluções adequadas para atingir esse objetivo e, no âmbito da Bolsa de Contratação de Escola, deve ser dada mais autonomia às escolas pois estas, tendo em conta o seu Projeto Educativo, querem ter liberdade para escolher os seus professores, pelo menos em relação aos que cheguem por último às escolas, e reconduzi-los, caso entendam. Sem receio de caminharmos para a contratação dos professores pelas escolas, contrariando a imperatividade da tradicional e antiga lista de graduação profissional, que é cega e hipócrita, devemos fazer um percurso firme e seguro, de consenso, mas com decisão para escolher os profissionais mais capazes, também na Educação.
Esperamos que o próximo governo, seja ele quem for, renove o voto de confiança nos professores contratados e perceba que os profissionais, para além dos 60 anos, podem ser úteis exercendo cabalmente outras funções essenciais em qualquer instituição educativa.
Stéphanie Monteiro da Silva e Filinto Lima
Professora/investigadora do Centro de Estudos, Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa; professor/diretor
Fonte: Público
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