Dizia-me um diretor que desde que havia exames no 4.º ano que as colegas do 1.º ciclo andavam “na linha” porque tinham um controlo no final do ano. Antigamente, os profissionais do 1.º ciclo queixavam-se do isolamento; agora, queixam-se de muito trabalho e muitas reuniões, ouvi a vários professores deste nível de ensino. O diretor dizia-me que se acabassem os exames do 4.º ano, ele teria de “inventar” qualquer coisa para continuar a “controlar” as colegas (as aspas existem para mostrar que estas são palavras suas e não minhas). A invenção seria uma prova interna semelhante ao exame. Não sei se já a anunciou no agrupamento.
E porque me lembrei desta história? Porque na quarta-feira ouvi o ministro da Educação, na comissão parlamentar de Educação, a declarar toda a sua confiança nos professores e no sistema. E o alarme disparou porque o sistema não confia em si próprio, como se vê pelo exemplo deste diretor.
Os exames nacionais eram terríveis porque serviam para treinar meninos? Sim, essa foi a parte negativa. No entanto, foi treinando que os meninos empinaram a matéria e a deram toda – para poder responder ao exame –, resta saber se aprenderam. E agora? Agora os docentes vão sentir-se mais relaxados. E não venham dizer que não é verdade, porque para o suplemento dos rankings ouvi várias profissionais declararem o “alívio” de não terem os exames no final do ano. Mas as mesmas profissionais acrescentaram que os pais se mostravam mais interessados pela educação dos filhos quando havia exames.
Provas de aferição a meio dos ciclos só provarão que a matéria foi dada naquele ano, que a professora do 2.º vai andar mais aflita do que a do 4.º e que a do 4.º não está tão preocupada como os do 5.º! Isso significa que parto do princípio que todos os professores são maus profissionais? Não. Louvo constantemente uma classe que trabalha com tantas mudanças, contrariedades e em contextos tão difíceis. Mas que não haver exames é um alívio, é; que o digam os professores cujas disciplinas são submetidas a exame senão têm uma maior pressão que os outros.
É pernicioso, os exames serem feitos pelos alunos para controlar os professores? É maquiavélico. E como será com as provas de aferição, também servirão para medir o pulso às escolas? O ministério garante que sim, que a informação de cada um dos alunos será devolvida às escolas, às famílias e chegará à comunicação social. Esperemos que haja transparência e não fique tudo no segredo dos deuses.
Por Bárbara Wong
Editora Online
Fonte: Público
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