sábado, 30 de janeiro de 2016

DEFINAM-ME NORMALIDADE!

Com ele somo algumas aventuras desde o dia em que nos quisemos conhecer e o dia em que nos conhecemos de facto. Acrescentámos-lhe um rol de piadas, acerca daquilo que nos “falta” para sermos considerados pessoas normais, no meio de conversas sérias mas que nos saem naturalmente. Afinal, nós podemos… E apelidamo-nos desde sempre, e até publicamente, de “o meu Def favorito”!


O meu é o Paulo Azevedo - sim, aquele que os portugueses viram há poucas semanas no programa Alta Definição da SIC.

Temos histórias diferentes, mas, no fundo, sabemos que sempre vivemos a fazer equilibrismo em cima da mesma corda bamba da vida: a do Amor. Acredito que é também por isso que nos admiramos e ficamos genuinamente felizes com as conquistas de cada um. É que nós sabemos que remamos contra a maré da normalidade. Que esta forma de navegar pode ser um farol para muitos que ainda não perceberam que normalidade não é igual a perfeição. E que sempre que existe uma oportunidade de nos tornarmos eco do tal Amor que preencheu os nossos espaços em branco, então é porque as nossas vidas “anormais” têm valido a pena.

Mas este quase manifesto contra a normalidade (pelo menos, a que eu defino para mim) não é aqui uma coisa nossa. É dele, do Paulo, que vos quero falar. E mesmo que pensem que não precisam de legendas para as próximas linhas, vejam a entrevista do Daniel Oliveira - que provou não precisar de livro de estilo próprio para entrevistar pessoas portadoras de deficiência - e a seguir então continuem… (Ver o vídeo aqui)

Podem até nem ler isto até ao fim mas vejam a entrevista. Nas vossas famílias normais, com histórias normais e com crianças normais. Aliás, vejam-na com elas e deixem que as vossas crianças vos definam normalidade. Façam vocês mesmos de Daniel Oliveira e, no final, em vez da célebre “o que é que dizem os teus olhos?”, experimentem “o que é ser normal?”

Eu não quero que o Paulo Azevedo seja normal, mesmo que ele até considere ter uma vida normal com dias banais. Porque os normais não reagem como ele reagiu perante tudo aquilo que veio para ele. Nesse trapézio, só os excecionais, os artistas, como ele é, se safam! É para “o meu Def favorito” que eu olho muitas vezes (nem ele imagina quantas!) quando a boca quase escorrega para a queixa normal e fácil aquando das minhas dores nas articulações dos membros. “Preferias não os ter, Mafalda? Tem mas é juízo!”, ele não me diz, mas eu digo-me como se fosse ele.

Depois, viria a mãe dele e diria: “Sem cabeça, era pior!” Não se choquem, que isto não é nenhuma anormalidade da língua portuguesa. É das mais bonitas afirmações de Amor que eu já ouvi. O Paulo sabe-o e honra-o. E eu tenho a certeza de que ele vai educar o seu filho assim: no mais perfeito e completo Amor. Foi assim que ele foi desejado, aceite e educado e é tudo isto que não faz dele apenas um ser humano normal e imperfeito. Aos meus olhos e de todos quantos se identificam com a sua história de vida, o Paulo é um perfeito anormal. Porque será sempre mais alto, largo e profundo na arte de viver a vida que lhe foi dada para viver.

O Paulo Azevedo é ainda um perfeito anormal porque escreve mais rápido do que eu num touch e isso vai fazer-me admirá-lo para sempre e querer chegar aos calcanhares dele… ups… ele não tem calcanhares!

Por Mafalda Ribeiro

Fonte: Visão


Mafalda Ribeiro tem 32 anos de uma vida invulgar. Estudou jornalismo, mas foi técnica de comunicação numa empresa de ambiente. Não é jornalista na prática, mas é o gosto pelas letras que faz mover a sua cabeça, ainda que as pernas não lhe obedeçam. Convive com a doença rara congénita Osteogénese Imperfeita e desloca-se em cadeira de rodas desde sempre. Publicou em 2008 o seu primeiro livro “Mafaldisses – Crónicas sobre rodas” (4a edição). É autora, cronista e interventiva na área da exclusão social. Fez uma certificação em Coaching Internacional e é oradora motivacional. É convidada para falar em público acerca da sua visão otimista da vida em empresas, escolas, seminários e foi ainda oradora numa Ignite e dois TEDx. É voluntária em projectos de solidariedade social, tem um olhar humanista e aguçado do mundo e por isso dá a cara e a voz pela inclusão e pela igualdade de oportunidades, sempre que lhe dão tempo de antena. Mafalda Ribeiro não vê limites diante das suas limitações. É uma mulher de palmo e meio, informada, atenta aos pormenores e grata por poder continuar a usufruir da viagem da vida. Celebra-a continuamente com um sorriso... sobre rodas! Mais em sorrirsobrerodas.pt

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