As recentes obras de regeneração urbana do Rossio e da Avenida 25 de Abril, em Viseu, já deram muito que falar. Cortes de circulação do trânsito, inconvenientes para os peões, transtorno para os comerciantes, motivaram a fúria dos munícipes. Motivos válidos para se comentar as obras. Contudo, poucos são os viseenses que têm a real noção da transformação que está a acontecer em Viseu. Muitos se questionam sobre a sua utilidade.
Para além de obras de "embelezamento", o município está a colocar em prática um plano de "esbatimento de barreiras arquitectónico" que irá melhorar a qualidade de vida das pessoas portadoras de deficiência. Um plano que surge em parceria com o trabalho desenvolvido pelo Provedor do Cidadão com Deficiência do município. "No âmbito da criação do Provedor do Cidadão com Deficiência, o executivo teve formação, assim como os técnicos, ao nível da elaboração de projectos novos, de reabilitação, de eliminação de barreiras", explica o vice-presidente da autarquia, Américo Nunes, sublinhando que o executivo reuniu com diversas entidades entre elas a ACAPO antes de avançar para as obras.
Na prática, a regeneração urbana que está a ser levada a cabo prevê a construção de linhas-guias, para orientação dos invisuais em espaços públicos, criação de percurso alternativos para pessoas com mobilidade reduzida, instalação de elevadores e plataformas, nos edifícios públicos, introdução de contadores regressivos nos sistemas semafóricos e aplicação de piso pitonado junto às passadeiras. O objectivo é criar "um município cada vez mais para todos".
O Rossio é já um pequeno exemplo de regeneração urbana "inclusiva". Os invisuais ou amblíopes já têm ao dispor linhas-guias que permitem percorrer toda a praça em percursos livres. "Partimos do princípio, se não tivermos qualquer deficiência, que isto não faz a diferença, mas é extremamente difícil para um invisual ou amblíope movimentar-se por entre o mobiliário urbano", refere Américo Nunes.
As passadeiras no Rossio e na Avenida 25 de Abril foram também reforçadas com piso pitonado, também destinado a informar os invisuais da existência de uma travessia para peões.
Américo Nunes admite que é "difícil" avançar com este tipo de regeneração urbana, e alterar grande parte do planeamento da cidade, mas salienta que "não é impossível". "Já o estamos a fazer na zona antiga da cidade. Mesmo antes de haver legislação específica começamos a fazer o acerto dos passeios. Colocamos corrimões onde não é possível criar rampas. Se já conseguimos isto, penso que conseguimos expandir o plano ao resto da cidade.", defende.
O funicular não fica de fora deste projecto de integração. "Na plataforma superior do Funicular, junto ao Adro da Sé encontra-se um circuito dedicado a pessoas com dificuldades motoras A infra-estrutura incorpora ainda dois WC "completamente adaptados" a pessoas portadoras de deficiências.
O vice-presidente da Câmara nega que se tratem de obras eleitoralistas, mas sim de um plano pensado em conjunto com diversas entidades e que conta com a comparticipação de fundos europeus. "Trata-se do mérito do município. Concorreram mais de 20 câmaras e só quatro foram contempladas ", refere. No total, o Plano de Regeneração Urbana vai custar cerca de 10 milhões de euros, dos quais 70 por cento serão comparticipados. Américo Nunes prevê que todo o plano esteja cumprindo dentro de dois anos.
Novas Infra-estruturas. A acção da autarquia não pretende ficar apenas pelo centro da cidade. Segundo o vice-presidente, a autarquia pretende também inovar na integração. Para isso, vai criar jardins-sensoriais. "Este projecto permite aos invisuais ter um contacto directo com as espécies colocadas nos jardins. Serão criados percursos em que os invisuais podem tocar nas flores que se farão acompanhar de uma placa em Braille com toda a informação sobre a espécie", explica. O primeiro jardim-sensorial irá arrancar no Jardim de Santo António, mas a Câmara prevê a criação de outros no Parque Aquilino Ribeiro e na Quinta da Cruz.
Também na área desportiva o concelho vai sofrer alterações. O presidente da câmara, Fernando Ruas, anunciou na passada segunda-feira, que será construído um pavilhão para desporto adaptado. O projecto será edificado em terrenos junto às Piscinas Municipais. Fernando Ruas acredita que o novo complexo desportivo será uma mais valia não só para Viseu como para outros concelhos vizinhos onde residem vários atletas para-olímpicos.
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