Quando fez a sua tese de mestrado, a investigadora Maria José Araújo, do Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE) da Universidade do Porto, concluiu que uma criança pequena em idade escolar trabalha em média nove horas por dia, «o exacto equivalente ao trabalho profissional de vida de um adulto».
«Essas nove horas são sempre em função da matéria escolar. E mais: há pessoas que, quando eles têm um comportamento menos próprio, ainda os castigam com contas e cópias e fazer isto é o mesmo que dizer-lhes que o conhecimento é uma chatice», considerou.
Para esta especialista, depois de trabalharem as cinco horas obrigatórias curriculares na escola, as crianças deveriam apenas brincar, que «é paras elas também uma forma de adquirirem conhecimento».
«Os adultos trabalham sete horas e meia e chegam ao fim cansados. Levam trabalho para casa? Não levam!», afirmou, destacando que «há mais de 20 anos que se denuncia este excesso de trabalho e os consequentes malefícios físicos, psicológicos e morais para as crianças».
Os Trabalhos Para Casa (TPC) de Catarina, sete anos, mudaram a vida de Vanda que deixou de ter actividades com os dois filhos e amigos após o trabalho, para chegar a casa o mais rapidamente possível para a criança, diariamente, «escrever por extenso 30 números, duas ou três cópias, escrever três vezes uma determinada tabuada e ainda duas frases do dia, por exemplo».
«Era um exagero. Entrava na escola às 9h, chegava a casa às 18h e ainda ficava uma hora, uma hora e meia a fazer trabalhos. Às vezes eram dez da noite e a miúda a fazer trabalhos», contou.
Há dois meses, depois de perceber que não conseguia sensibilizar a professora, Vanda avisou que Catarina só faria os deveres que a mãe considerasse que ela deveria fazer.
No entanto, esta decisão não deixa confortável nem mãe nem filha: «Não tenho tido tanto stress, mas também não devia ser um papel meu justificar todos os dias para a escola por que é que a minha filha não fez isto ou aquilo. Por outro lado, como ela é boa aluna e muito perfeccionista, o facto de não fazer tudo o que a professora manda deixa-a angustiada».
Este ano, Mariana quase não tem trabalhos, mas a mãe recorda que no ano passado a menina estava quase nove horas entre a escola e o ATL e depois ainda gastava em casa cerca de três horas nos TPC.
«Às vezes ela já chorava e eu estava num stress tremendo», contou a mãe, salientando que este ano «é melhor, mas também está a ser mais difícil acompanhar o que ela estuda».
Álvaro Almeida Santos, presidente do Conselho das Escolas, afirma que não há nenhuma indicação expressa sobre os TPC, mas existe a «orientação tácita de que o trabalho que tenha a ver com a escola deva ser feito na escola».
Também Albino Almeida, da Confederação Nacional de Pais (Confap) destaca que «as escolas devem organizar-se de maneira a que os alunos possam realizar os trabalhos que tenham a ver com consolidação de conhecimentos, nomeadamente com o treino em matemática, cálculo e outras matérias, nas aulas de estudo acompanhado».
«As famílias não têm de fazer trabalho que compete à escola», defende, realçando que em muitos casos os TPC são mesmo Trabalho Para Casa, «porque quem executa os trabalhos são os avós e os pais ou irmãos mais velhos», o que pode representar um grande factor de desigualdade.
«Muitas das vezes os TPC exigem que os pais quase dêem aulas em casa, mas os professores não podem esquecer que temos um conjunto de pais de famílias que têm muito baixas qualificações escolares e, portanto, não têm competência para ajudar», disse, acrescentando que «como em muitos casos os TPC contam para avaliação, isto faz aumentar o fosso entre os alunos».
«Essas nove horas são sempre em função da matéria escolar. E mais: há pessoas que, quando eles têm um comportamento menos próprio, ainda os castigam com contas e cópias e fazer isto é o mesmo que dizer-lhes que o conhecimento é uma chatice», considerou.
Para esta especialista, depois de trabalharem as cinco horas obrigatórias curriculares na escola, as crianças deveriam apenas brincar, que «é paras elas também uma forma de adquirirem conhecimento».
«Os adultos trabalham sete horas e meia e chegam ao fim cansados. Levam trabalho para casa? Não levam!», afirmou, destacando que «há mais de 20 anos que se denuncia este excesso de trabalho e os consequentes malefícios físicos, psicológicos e morais para as crianças».
Os Trabalhos Para Casa (TPC) de Catarina, sete anos, mudaram a vida de Vanda que deixou de ter actividades com os dois filhos e amigos após o trabalho, para chegar a casa o mais rapidamente possível para a criança, diariamente, «escrever por extenso 30 números, duas ou três cópias, escrever três vezes uma determinada tabuada e ainda duas frases do dia, por exemplo».
«Era um exagero. Entrava na escola às 9h, chegava a casa às 18h e ainda ficava uma hora, uma hora e meia a fazer trabalhos. Às vezes eram dez da noite e a miúda a fazer trabalhos», contou.
Há dois meses, depois de perceber que não conseguia sensibilizar a professora, Vanda avisou que Catarina só faria os deveres que a mãe considerasse que ela deveria fazer.
No entanto, esta decisão não deixa confortável nem mãe nem filha: «Não tenho tido tanto stress, mas também não devia ser um papel meu justificar todos os dias para a escola por que é que a minha filha não fez isto ou aquilo. Por outro lado, como ela é boa aluna e muito perfeccionista, o facto de não fazer tudo o que a professora manda deixa-a angustiada».
Este ano, Mariana quase não tem trabalhos, mas a mãe recorda que no ano passado a menina estava quase nove horas entre a escola e o ATL e depois ainda gastava em casa cerca de três horas nos TPC.
«Às vezes ela já chorava e eu estava num stress tremendo», contou a mãe, salientando que este ano «é melhor, mas também está a ser mais difícil acompanhar o que ela estuda».
Álvaro Almeida Santos, presidente do Conselho das Escolas, afirma que não há nenhuma indicação expressa sobre os TPC, mas existe a «orientação tácita de que o trabalho que tenha a ver com a escola deva ser feito na escola».
Também Albino Almeida, da Confederação Nacional de Pais (Confap) destaca que «as escolas devem organizar-se de maneira a que os alunos possam realizar os trabalhos que tenham a ver com consolidação de conhecimentos, nomeadamente com o treino em matemática, cálculo e outras matérias, nas aulas de estudo acompanhado».
«As famílias não têm de fazer trabalho que compete à escola», defende, realçando que em muitos casos os TPC são mesmo Trabalho Para Casa, «porque quem executa os trabalhos são os avós e os pais ou irmãos mais velhos», o que pode representar um grande factor de desigualdade.
«Muitas das vezes os TPC exigem que os pais quase dêem aulas em casa, mas os professores não podem esquecer que temos um conjunto de pais de famílias que têm muito baixas qualificações escolares e, portanto, não têm competência para ajudar», disse, acrescentando que «como em muitos casos os TPC contam para avaliação, isto faz aumentar o fosso entre os alunos».
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