Sentir as dificuldades da deficiência, identificar para eliminar barreiras comunicacionais e arquitectónicas. Tarefas assumidas por duas escolas de Milheirós de Poiares, de Santa Maria da Feira, e que conquistaram um primeiro prémio distrital do concurso "Escola Alerta".
Rita tem 8 anos, frequenta uma escola primária de Milheirós de Poiares, concelho de Santa Maria da Feira, é portadora de paralisia cerebral que a impede de falar e andar. Desloca-se em cadeiras de rodas, comunica através de um sistema de voz sintetizada. A turma do 3.º A acolheu a Rita de braços abertos, empenhou-se em aprender a comunicar com a colega, centrou as atenções no seu quotidiano. E tentou perceber as suas limitações. Por momentos, os alunos colocaram-se no lugar da Rita para sentir o que acontece quando se tenta falar e não se consegue ser compreendido. E assim começou o projecto do Agrupamento de Escolas de Milheirós de Poiares, a propósito do concurso nacional "Escola Alerta".
A turma quis ir mais além. Decidiu que tinha de perceber como funcionava o sistema de apoio ao modo da Rita se expressar e a tabela de comunicação manual, no sentido de eliminar barreiras. Alunos e professores juntaram-se para reformular essa tabela e, para isso, acompanhou-se a Rita em todos os espaços dentro e fora da escola.
A turma do 5.º C da EB 2,3 de Milheirós de Poiares acabou por entrar no projecto e resolveu fazer um levantamento das barreiras arquitectónicas existentes no recinto do estabelecimento escolar, na parte exterior e ainda do vizinho centro social. Os alunos já pediram às entidades competentes para tratar da eliminação das barreiras, de forma a combater a discriminação à mobilidade de pessoas com deficiência ou dificuldades de locomoção. O trabalho do agrupamento foi reconhecido com o primeiro prémio do distrito de Aveiro, na categoria do 1.º e 2.º ciclos, do concurso "Escola Alerta" promovido pelo Instituto Nacional para a Reabilitação.
O professor da EB 2,3 Miguel Costa reuniu todos os elementos. As acções de sensibilização promovidas, o trabalho feito pelos cerca de 50 alunos, para o DVD que foi submetido a concurso. Uma espécie de filme de 15 minutos com fotografias, vídeos, músicas. "Dentro de dois anos, a Rita estará na EB 2,3, daí fazermos um trabalho em conjunto para eliminar barreiras, não só físicas, e ver o que se pode fazer na escola para poder acolher a Rita", adianta o docente. O trabalho arrancou em Setembro de 2008 e muito foi observado desde então. A lista foi aumentando. As portas dos balneários são estreitas e não permitem a passagem de uma cadeira de rodas. Para chegar à biblioteca escolar não há elevador nem rampa. O acesso a um dos pavilhões de aulas tem um piso bastante escorregadio.
No exterior da escola, há estradas sem passeios, em frente está um multibanco sem qualquer rampa e os acessos ao centro social são bastante acentuados. "O desafio foi lançado a toda a escola", recorda o professor. Duas turmas levaram-no a sério, mas as tarefas foram partilhadas por toda a comunidade escolar, pais incluídos. A lista das barreiras a eliminar já está na posse das entidades que as podem demover ou tentar resolver algumas questões. E os 600 euros ganhos no concurso pelo agrupamento vão direitinhos para vencer as barreiras identificadas. A compra de livros em braille para a biblioteca está também a ser equacionada.
O concurso "Escola Alerta" está na sexta edição e dirige-se a alunos dos ensinos Básico e Secundário de todo o país. Os trabalhos desenvolvidos devem ter a orientação pedagógica de professores e os objectivos estão definidos num regulamento. O concurso pretende, acima de tudo, uma participação e intervenção ao nível da inventariação das diferentes barreiras - comunicacionais, sociais, urbanísticas e arquitectónicas -, estimulando assim a apresentação de soluções e iniciativas que contribuam para melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiências ou incapacidades. Os nomes dos vencedores a nível nacional serão anunciados em breve.
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