Chama-se "Escola no Bairro" e desde Fevereiro deste ano que junta 11 jovens de etnia cigana na urbanização D. Armindo Lopes Coelho em Olival, Vila Nova de Gaia. As meninas, com idades compreendidas entre os 11 e os 17 anos, regressaram à escola para concluírem o 1.º ciclo do Ensino Básico, mas também para aumentarem as suas competências psicossociais. Como assim? "Os temas sociocomportamentais têm como objectivo trabalhar as competências pessoais e sociais, abordando deste modo assuntos relacionados com a saúde, gestão doméstica e permitindo ainda a discussão de temas da actualidade, entre outros", adianta Carlos Silva, presidente do agrupamento vertical das escolas do Olival.
A escola sai assim do habitual perímetro geográfico e entra no ambiente de uma comunidade que não lhe é de todo desconhecida. Antes de avançar para o terreno, uma equipa de psicólogos, assistentes sociais e professores fez um trabalho prévio que permitiu conhecer mais de perto necessidades e vontades. E o trajecto acabou por ser desenhado. É preciso ensinar o programa dos primeiros quatro anos de escolaridade e abordar outros assuntos. Ensina-se a ler uma carta, a interpretar uma receita, a ter atenção às regras de higiene. As actividades domésticas como fazer sopa, preparar a alimentação dos bebés, manter a casa asseada, não ficam de fora do plano de aulas que acontecem de segunda a sexta-feira, entre as 14h00 e as 17h30. Tudo para que as alunas saibam ler e escrever, ganhem autonomia e saibam lidar com aspectos básicos do quotidiano.
Carlos Silva explica quais são os principais objectivos do projecto que incide numa comunidade com características muito próprias. "A alfabetização destas jovens, bem como o desenvolvimento de competências psicossociais. Recorde-se que são jovens que se encontravam na situação de abandono escolar precoce e, portanto, não possuem sequer a escolarização ao nível do 1.º ciclo do Ensino Básico". Combater o absentismo escolar e evitar que os números do analfabetismo cresçam, aparecem como principais prioridades do "Escola no Bairro". "Para além disso, o projecto distingue-se pela preocupação existente na conservação das fortes raízes culturais desta comunidade específica", acrescenta o responsável. A integração social, respeitando as tradições da cultura cigana, é também uma meta traçada.
"O projecto, após um longo trabalho de terreno realizado pela equipa A do Rendimento Social de Inserção da Associação Nossa Senhora da Esperança de Sandim junto desta comunidade, foi aceite com expectativa e curiosidade. A adesão é completa e, aos poucos, o “Escola no Bairro” está a ganhar a confiança, sendo um meio indiscutível de socialização destas jovens", sublinha Carlos Silva. O regresso à escola das 11 alunas representa "uma adesão de 100%, entre jovens com um grau de absentismo escolar elevado".
O projecto tem a duração de dois anos, o primeiro corresponde ao 1.º e 2.º anos de escolaridade, o segundo ao 3.º e 4.º anos. "Escola no Bairro" resulta de um protocolo conjunto que envolve várias instituições: o agrupamento vertical de escolas de Olival, a equipa A do Rendimento Social de Inserção da Associação de Socorros Mútuos da Associação Nossa Senhora da Esperança de Sandim e a empresa municipal GaiaSocial.
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