Aumenta todos os dias o número de crianças e jovens que utilizam o computador por períodos excessivos. Nalguns casos, a utilização da Internet ocupa muitas horas, invadindo o tempo das refeições, do sono, do estudo e do convívio real com familiares e amigos. Em Psiquiatria, já se estuda este problema em muitas investigações e a possibilidade de criar o diagnóstico de uma nova “perturbação”, por dependência das novas tecnologias, está na ordem do dia. As consultas de Psiquiatria, como é o caso da Consulta de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, já recebem jovens “dependentes” e preparam-se para criar intervenções especializadas neste domínio, a envolver jovens, pais e professores. Por diversas razões, os adolescentes implicados neste problema tendem a desvalorizá-lo, com o argumento de que as queixas dos adultos são exageradas e de que eles, por si mesmos, são capazes de lidar com a situação.
Na discussão deste tema, é crucial não considerar que a Internet é “culpada” de tudo. Hoje em dia, qualquer jovem quer estar “conectado” e receber todo o tipo de informação e conhecimento, através de um telemóvel, que muitos possuem desde bem cedo. Se é verdade que alguns jogos eletrónicos são apenas de entretenimento, existem outros que podem desenvolver novas maneiras de pensar úteis para o futuro e, através da Internet, muitas crianças podem ver e compreender o mundo, pelo recurso a imagens, sons e animação, de um modo que não julgávamos possível há dez anos.
O entusiasmo pela revolução que a Internet fez nas nossas vidas não pode fazer esquecer tudo o que precisamos de conseguir junto das nossas crianças, como a boa gestão das emoções, o bom relacionamento social e as competências básicas de leitura e de escrita, só possíveis através de uma educação em presença. Assim, só poderemos ter crianças competentes se as ajudarmos a comunicar bem com a família e com o exterior, se facilitarmos a sua exploração do mundo e as educarmos, desde pequenas, a saber fazer escolhas responsáveis.
Os computadores mostram respostas vertiginosas a questões rápidas. Só a escrita e a leitura permitem elaborar melhor a complexidade de muitas interrogações e possibilitam um novo enquadramento das respostas. Desde bem cedo, as crianças devem compreender que a pesquisa e a resposta ponderada são essenciais para o conhecimento e relacionamento interpessoal, pelo que os pais devem limitar muito o uso do computador a crianças com menos de oito anos, pois só nessa altura adquirem a literacia básica essencial para o futuro.
Com as crianças mais velhas e adolescentes, é mais difícil aos pais controlarem todo o processo. O conselho que há anos dávamos — ter o computador em zonas comuns da casa — é hoje difícil de seguir, porque a Internet está no bolso dos filhos e o acesso é cada vez mais fácil. Por essa razão, o diálogo sobre a utilização da Internet é essencial em todas as famílias com crianças e adolescentes.
Os pais devem ser firmes na definição de um tempo limitado para a utilização do computador, que deve incluir um primeiro período de estudo e um segundo tempo para comunicar com os amigos e jogar. Em nenhum caso deverá ser permitida a invasão das horas de sono e de alimentação.
Os pais não podem esquecer os magníficos recursos que a Internet nos fornece todos os dias, mas os filhos terão de compreender como a sua boa utilização os tornará mais felizes.
Daniel Sampaio
in: Público
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