Um jovem de 12 anos e três meses falava comigo sobre o concerto a que tinha assistido. Sem grande vocabulário, descrevia a multidão, o desempenho da banda principal e o entusiasmo crescente do público, à medida que o espectáculo se aproximava do fim. Ouvi com atenção, ao mesmo tempo que estimulava o relato, precisando alguns pontos com perguntas simples. O diálogo correu bem e tenho a certeza de que o Diogo ficou agradado com o meu interesse.
Quando a conversa se esgotou, dei-lhe para a mão um jornal recente, onde se fazia a crítica do concerto. Sugeri que a lesse, porque os conhecimentos do crítico musical davam uma visão interessante sobre as canções e poderiam ampliar alguns dos seus conhecimentos, já que a música era sem dúvida uma das suas áreas de interesse.
Com um gesto de enfado, respondeu:
— Tudo isso?! Está à espera que eu leia isso tudo?! (de notar que a crítica ocupava apenas uma coluna do jornal).
Esta resposta é habitual nos nossos dias. É muito provável que a geração atual dos nossos adolescentes deixe para sempre de ler jornais, revistas e livros. Sei que professores, alguns pais e muitos responsáveis da educação salientam que ainda há muitos leitores jovens e que as feiras de livros recebem muita gente, por isso persistem em não querer ver este problema. Infelizmente, ele existe.
A verdade é que, cada vez mais, educadores e professores do 1.º ciclo referem crescentes dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita. Em crianças que se iniciam na aprendizagem das letras e dos números, a linguagem oral dos alunos mostra difícil progresso, com vocabulário pobre e um modo de falar muito infantil. Falta de atenção e impulsividade são outras queixas frequentes desses educadores.
É provável que o uso excessivo de televisão, computadores em todas as suas versões e telemóveis em uso permanente estejam a condicionar diferentes hábitos de vida em família. O menino desta estória depressa me contou que os pais “passam a vida no Face” e que as conversas em família são raras e quase sempre centradas nos conteúdos da eletrónica, que todos os membros da família utilizam de forma constante.
Brincar, para um adolescente dos nossos dias, é ser hábil na PlayStation ou rápido a “sacar cenas da Net”. Para um jovem, não faz sentido ficar sentado a ler um livro ou uma notícia de jornal, mesmo que seja sobre um tema do seu interesse.
Que fazer, é a pergunta de alguns pais e educadores? Sem dúvida não fazer mais do mesmo. Sessões nas escolas a criticar quem não lê e a vender livros a preços pouco acessíveis não levarão a nada. O caminho tem de ser percorrido, em conjunto, por pais e professores. A começar pela conversa em casa, com ecrãs fechados, sobre os mais diversos temas e em todos os momentos. E a continuar na escola: treino de exposição oral sob qualquer pretexto, seguida de escrita corrigida sobre o mesmo tema.
O cérebro infantil e adolescente precisa de tempo para metabolizar tantos factos disponíveis na Internet (o que é uma conquista dos tempos modernos). A leitura e a escrita própria garantem a pausa necessária para continuar a processar informação que se possa transformar em conhecimento. A não ser assim, teremos no futuro jovens conectados a todo o instante, mas com dificuldade em parar para pensar.
Daniel Sampaio
In: Público por indicação e Livresco
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