Nos últimos dez anos, o ensino público perdeu mais de 98 mil alunos, do pré-escolar ao ensino secundário. No entanto, o número de estudantes nos colégios e externatos aumentou de 15 para 18 por cento do total da rede, em dez anos. Entre 1998 e 2004, fecharam cerca de cem colégios. Mas o ensino privado ganhou um novo fôlego. E, de há seis anos para cá, surgem novos projectos anualmente.
As famílias que optam pelo privado procuram um ambiente seguro, um projecto educativo virado para o sucesso e um corpo docente estável, dizem os pais, os responsáveis pelas escolas, mas também os investigadores universitários.
No entanto, o ensino particular e cooperativo não tem um grande peso em Portugal. Segundo os últimos dados disponibilizados pelo Ministério da Educação, referentes ao ano lectivo de 2007/2008, o número de alunos representa apenas 18 por cento do total, entre o pré-escolar e o ensino secundário. Contudo, a procura é muito grande e a oferta tem tentado acompanhá-la, aponta Rodrigo Queiroz e Melo, director executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (Aeep). (...)
"As famílias procuram projectos de segurança e há muito a preocupação com a qualidade do ensino", refere a directora do Pedro Arrupe, dando como exemplo que algumas das perguntas que os pais fazem, no momento de fazer a inscrição, é sobre quem são os professores. "Para os pais, é importante que sejam competentes", reforça.
Os horários são outro factor que torna o ensino privado atractivo. A Pedro Arrupe vai estar em funcionamento das oito da manhã às 19h30; mas há creches e jardins-de-infância que estão abertas à noite ou que se oferecem para ficar com os bebés caso os pais queiram ir jantar fora ou sair.
"Os pais trabalham e os colégios têm as crianças até mais tarde do que as escolas públicas", avalia Stella Aguiar, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e autora de um estudo sobre os alunos do ensino particular. A especialista lamenta o cansaço das crianças e as consequências de estarem envolvidas em tantas actividades extra-curriculares.
O que dá a escola?
A música, o desporto ou o xadrez são algumas das ofertas a somar à mensalidade. "Os pais têm a consciência tranquila de que estão a dar a melhor educação ao pôr as crianças a fazer 50 coisas diferentes; mas estão a criar filhos sem autonomia, que não sabem estar sozinhos, incapazes da solidão e pouco independentes. Estão a criar carneiros e não homens e mulheres autónomos", alerta a professora da Universidade de Lisboa. "Os colégios cumprem a cultura do "dar" coisas, em vez do "ser"", critica.
Actualmente, a escola pública também oferece actividades extra-curriculares, mas "são soltas, sem continuidade", avalia João Muñoz, vice-presidente da Aeep. Além disso, todas as reformas que vão sendo introduzidas têm sempre a contestação dos professores, constata Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap). "A maior procura [do ensino privado] está ligada a uma ideia que passou de haver instabilidade nas escolas públicas e os pais temem que essa possa vir a condicionar as aprendizagens dos alunos", acrescenta.
Apesar de os professores da escola pública serem "melhores" e de muitos irem trabalhar para o privado, o colégio "trata o aluno individualmente e toda a escola trabalha para o sucesso daquele aluno", analisa Maria José Viseu, presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE). A escola pública "não tem hipótese de pôr a funcionar equipas multidisciplinares ou de ter horários para apoiar os alunos", reconhece.
"A escola pública também oferece apoio aos alunos mas com menos intensidade devido ao peso do horário dos professores", confirma João Barroso, professor da Universidade de Lisboa, investigador e defensor da escola pública. Uma coisa é certa: "Se a escola pública quer preservar a oferta, terá que encontrar soluções para responder às exigências dos pais", reconhece o investigador.
Comentário:
A dicotomia ensino privado-público existe há já algum tempo. Sem querer entrar na polémica ou indiciar uma tendência, penso que, em alguns aspectos, o ensino público poderia analisar e aplicar algumas medidas do ensino privado, sobretudo as relativas aos apoios e à oferta extracurricular.
Mas, para além deste cenário descrito na notícia, gostaria conhecer al guns dados: qual é a percentagem de alunos com necessidades educativas especiais que existem no esniso privado; qual a tipologia destes alunos com necessidades educativas especiais; quais os recursos humanos e materiais de que dispõem.
Talvez as respostas nos surpreendessem...
4 comentários:
Olá Prof João, a propósito deste tema, resolvi postar algo no meu blog, abrindo um pouco mais "o livro das minhas experiencias". Deixo aqui algumas partes (não me permitiu deixar a totalidade da postagem):
O meu filho autista de 8 anos - entrou para uma creche privada aos 2,6 anos, apróximadamente na mesma altura, sou informada atraves de uma consulta, da sua problemática, mas já na creche me haviam perguntado se ele teria algum problema. Entrou fácilmente no privado, e a simpatia de todos, as excelentes instalações, os horários, os tempos de férias mais coadugnados com a realidade, e o suposto maior cuidado individual para com cada criança, seduziram-nos para esta opção educativa. Semanas depois: diagnóstico confirmado - o meu filho tinha Autismo em caracterização. Ele já tinha entrado na creche, como tal manteve-se por lá. Tenho até hoje a quase certeza de que a saberem préviamente, ter-me-iam dito que não tinham vagas.
Percebi a incapacidade de resposta, mas principalmente o total desinteresse pelo tema mesmo com a hipocrisia de algumas reuniões para delimitar imediatas estratégias educativas. Na realidade, o mais que sentimos inicialmente foi a pena das pessoas... e não era isso que mais necessitavamos. Depois revelou-se o incómodo que crianças diferentes começam a causar a uma empresa que tem que gerir ganhos, lucros, pessoal, interesses e um grande sucesso em todas as crianças - Senti tudo menos o que tivesse verdadeiramente a ver com a vontade de integrar um menino diferente de lhe proporcionar algum bem estar. Talvez o mais impressionante tivesse sido mesmo a reacção de outros pais - a meu ver os maiores ignorantes! Estavam interessados - (quase que obcecados), no "Q.I" que os filhos pudessem ter, que fossem o mais desenvolvidos possivel... Alguns olhavam-nos como "personas non gratas"! Chegaram a insinuar-me que a situação estava insustentável porque a maioria dos pais queixava-se. Aguenteí tudo porque não tinha onde pôr o meu filho e não podia perder o meu emprego, não podia desorientar-me. o Vasco gritava e mordia - fruto do seu problema e de certeza de um meio muito pouco acolhedor. Começaram a pô-lo a um canto... Disse-me um dia uma mãe, anos depois, que o levavam para o sótão e que achava mal... mas nunca mo disse na altura - hoje penso que talvez tenha sido melhor que não mo tenha dito!
O que Sei é que o deixava lá a chorar e quando o ia buscar ao final do dia, era também assim que o encontrava. Desespereí, no momento em que tudo me era tão dificil... Julgo que não era para menos. Consegui mais tarde (com a ajuda fantástica da prof. ens. especial actual e de sempre), que uma educ. de ensino especial visitasse a creche 2 horas por semana. Na maior parte das vezes não podia ir porque estava doente, nas vezes em que ia, dizia-me que era complicado porque não lhe faziam muito caso e o menino não aderia... A meu ver, má vontade de ambas as partes (talvez mais de uma parte do que de outra, mas culpa de ambas, negligencia de ambas, sobretudo grande desinteresse de ambas as partes).
A minha "salvação" e do meu filho foi a nossa querida prof. de hoje e uma creche publica. Nem tudo eram rosas, mas em nada tinha a ver com aquela "miséria" onde tinhamos que pagar cerca de 300 euros/mes para deixar o nosso filho a regredir cada dia mais.
Embora não seja correcto generalizar, (considerando a minha experiencia), não recomendo a escola privada a neunhuma mãe que tenha um filho com necessidades especiais... e confesso que para mim, uma escola que não acolhe bem uma determinada criança, é incapaz de acolher bem, qualquer outra que seja.... No entanto talvez seja uma boa opção para alguns pais... Penso que depende daquilo que cada um procura dar aos seus filhos. É só parar para analisar...
Uma coisa garanto, as diferenças são muitas. Para mim particularmente, sem nenhuma sombra de dúvidas - A opção é a escola publica, (é um serviço prestado não é uma empresa).
Grande abraço
Olá!
O seu testemunho é sempre muito enriquecedor e esclarecedor acerca de muitas situações! Por esse motivo, vou colocá-lo no blog (penso que não se importará!).
Obrigado, uma vez mais, pelas visitas mas, também, e sobretudo, pelos seus comentários!
Abraço
João Adelino
Olá Prof. João... Esteja sempre à vontade para divulgar o que achar importante.
Eu é que também me sinto grata pelo seu trabalho e pelo muito que tenho aprendido por aqui.
Grande abraço
Cristina
Atena, percebo perfeitamente o que diz. O meu filho teve um AVC e ficou com deficit de atenção e falta de coordenação motora e fala muito pouco. Na primeira creche onde andou punham-no de lado e desistiram dele e na segunda aconselharam-me a procurar outro "tipo de ajuda" pois tinham mais 24 crianças e era difícil darem-lhe a atenção "devida".
Entretanto, já era visto pelos pais dos coleguinhas como 0 "diferente" e já tinha a pena da escola toda...
Gente estúpida e sem formaçaõ é o que mais anda por aí, sobretudo a tomar conta de crianças e a brincar com a nossa vida.
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