quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Autismo

O grau de severidade do autismo varia bastante. Os casos mais severos são caracterizados por comportamentos extremamente repetitivos e auto-agressivos. Estes comportamentos podem persistir por muito tempo e podem ser muito difíceis de mudar...
'Tenho uma aluna que tem atitudes muito desconcentrantes: ora está eufórica, ora está apática, leva tudo o que se lhe diz à letra, é muito coscuvilheira, é muito infantil, chora com uma facilidade enorme, mas também gosta de provocar o choro nos colegas, etc... Será que é autista?!'
Margarida Alves, S. João de Lourosa
A melhor forma de esclarecer esta dúvida é clarificar o que é o autismo. Actualmente, não se fala em autismo mas em 'perturbações do espectro do autismo', devido à grande variabilidade de características apresentadas pelos sujeitos que eram designados simplesmente de autistas. As perturbações do espectro do autismo são consideradas como uma constelação de anomalias do desenvolvimento, que apresentam um conjunto de características comuns. Essas características são: reduzida interacção social, problemas de comunicação verbal e não verbal, actividades e interesses limitados ou pouco usuais.
As crianças com esta perturbação frequentemente tratam as outras pessoas como se fossem objectos inanimados, apresentam comportamentos repetitivos, não olham nos olhos, nem interagem com outras crianças. A ecolália (linguagem que consiste em repetir literalmente o que se ouve) é também um tipo de linguagem muito comum, uma vez que estas crianças repetem literalmente o que ouvem. Além disso, manifestam grande confusão entre os pronomes 'Tu' e 'Eu'.
O grau de severidade do autismo varia bastante. Os casos mais severos são caracterizados por comportamentos extremamente repetitivos e auto-agressivos. Estes comportamentos podem persistir por muito tempo e podem ser muito difíceis de mudar. As formas mais simples assemelham-se a uma desordem de personalidade associada a dificuldades de aprendizagem.
As perturbações do espectro do autismo frequentemente surgem associadas a outro tipo de distúrbios, como deficiência mental, alterações cromossomáticas, epilepsia, etc. A taxa de prevalência desta perturbação é de 1:1000 indivíduos, sendo os rapazes quatro vezes mais atingidos que as raparigas. Esta perturbação foi encontrada em todo mundo, em pessoas de todas as raças e níveis sociais.
As perturbações do espectro do autismo não são o resultado de uma causa única, existindo provas crescentes de que estas podem ser causadas por uma variedade de factores, tais como factores genéticos e ambientais (químicos e vírus). A crença de que os hábitos dos pais eram os responsáveis por esta perturbação foi refutada.
Embora não exista uma cura para o autismo, com tratamento e treino apropriado, algumas crianças podem desenvolver certas competências, que lhes permitam obter um maior grau de autonomia. As terapias ou intervenções devem ser planeadas de acordo com os sintomas específicos de cada indivíduo. As terapias mais bem estudadas incluem as intervenções médicas e comportamentalistas. As primeiras implicam o uso de medicamentos, a maioria dos quais afectam os níveis de serotonina (composto químico cerebral libertado e reabsorvido pelos neurónios). As segundas implicam um trabalho intensivo por parte de terapeutas, que procuram, sobretudo, ajudar estas crianças a desenvolverem destrezas sociais e de linguagem. Este tipo de intervenção surte mais efeitos se for desenvolvida precocemente.
Podemos assim concluir que a aluna que suscitou o 'nascimento' deste artigo não é de certeza autista, parece apresentar, sim, uma profunda instabilidade emocional, cujas causas deveriam ser analisadas através da recolha de dados adicionais.
Adriana Campos

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