Estima-se que mais de 40 mil pessoas sofram de Síndrome de Asperger em Portugal. E se até há uns anos estas pessoas, seus familiares e amigos, tinham de enfrentar o diagnóstico sem ninguém com quem desabafar ou que os ajudasse a entender, hoje a situação é muito diferente. «Culpa» da Associação Portuguesa de SA e de empresas como o Santander.
Depois de enfrentar o diagnóstico na solidão do desconhecimento, Piedade Líbano Monteiro quis evitar que tal continuasse a acontecer em Portugal. Foi desta ideia que nasceu a Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (APSA), instituição particular de solidariedade social que por vontade de um grupo de pais viu a luz em Novembro de 2003.
Quase duas décadas depois, a missão da APSA já não é «apenas» apoiar quem é confrontado com a Síndrome de Asperger (SA), mas também o da integração no mercado laboral da pessoa com SA. Tanto num como noutro, já um longo caminho foi percorrido graças à APSA e aos seus parceiros, com particular destaque para o Santander, nomeado como «Empresa Recetiva» pela APSA, tendo contratado recentemente duas pessoas com SA.
A presidente da APSA não tem dúvidas que o papel desempenhado pelo Santander neste campo tem sido «enorme!». Primeiro, pelo voluntarismo com que o banco encarou o desafio, depois pela importância de ter o maior banco em Portugal a enveredar por este caminho, abrindo a porta a que outros o sigam. «O Santander foi dos poucos parceiros que aceitaram connosco este desafio de forma absolutamente positiva e tão natural que o nosso “Programa Empregabilidade” com a entidade simplesmente fluiu e tem sido extraordinário», reflecte Piedade Líbano Monteiro.
«Empresa Recetiva», sociedade mais inclusiva
Sendo a integração laboral das pessoas com SA um dos objectivos da APSA, o Programa Empregabilidade é uma das vertentes em que a associação muito aposta, visando puxar as empresas para as suas responsabilidades sociais neste campo. Este projecto foi recentemente concretizado através de uma carta-compromisso entre as empresas receptivas da APSA, assinada na presença da Secretária de Estado para a Inclusão de Pessoas com Deficiência, e integra-se com um outro projecto da APSA, o «Casa Grande», oferecendo um «Programa de Empregabilidade» que é o «culminar de todo um treino de competência social e autonomia funcional», que visa dotar as pessoas com SA de autonomia «no seio de uma sociedade que muitas vezes é marcada pelo preconceito».
É que além das dificuldades oriundas da própria SA, os jovens com SA enfrentam algum preconceito no mercado laboral, algo que obriga a mais «formação, conhecimento e preparação de ambas as partes, para acolher e ser acolhido em contexto de trabalho». Esta é a vertente trabalhada pela «Empresa Recetiva», que aposta na «capacitação dos recursos humanos das empresas» de modo a desmistificar preconceitos e qualquer outra barreira que surja à integração. Só desta forma a pessoa com SA conseguirá evidenciar o seu potencial no contexto laboral.
E é aqui que ganha particular relevância ter o Santander a bordo, já que com um parceiro desta dimensão e importância torna-se mais provável que a sociedade fique cada vez mais bem informada. O Santander, explica Piedade Líbano Monteiro: «é o exemplo de uma parceria plena que tivemos a sorte de concretizar na nossa missão de desmistificar e desbravar caminho no que toca à SA. É um exemplo que levamos sempre connosco para onde quer que vamos».
Até ao momento, a APSA conta com cerca de 25 empresas no seu programa «Empresa Recetiva», registando uma tendência de subida, já que cada vez mais entidades têm procurado a associação no sentido de recrutar pessoas com SA.
Inclusão: Um desígnio com várias frentes
Com o crescimento sustentável e inclusivo inscrito na sua forma de estar, o apoio do Santander à APSA integra-se num programa do banco de maior envergadura em prol da inclusão social de pessoas com deficiência. Um programa que conta com parcerias com a Associação Salvador, focado na empregabilidade de pessoas com deficiência motora, ou a Associação Quinta Essência, que promove a integração de pessoas com mais de 16 anos com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento, só para citar alguns exemplos.
Mas além da intervenção directa, o Santander investe igualmente no estudo e pensamento estratégico associado à problemática da integração de pessoas com deficiência, sendo participante activo no Inclusive Community Forum, com quem partilha dados, experiências, sucessos e dificuldades que os seus trabalhadores com deficiência experimental. Foi, aliás, desta forma que o Santander construiu no seio deste fórum um processo de recrutamento inclusivo assumido pelas restantes empresas parceiras.
Um programa de maior envergadura, porém, nem sempre exige parcerias, tendo sempre «pequenas coisas» que fazem grande diferença. O facto da grande maioria dos ATM do Santander terem sistemas de acessibilidade para pessoas com deficiência visual é uma delas, tal como o facto de o banco exigir aos seus fornecedores o cumprimento de critérios de sustentabilidade, que passam pela inclusão de pessoas com deficiência.
Síndrome de Asperger: O que é? Como se identifica?
A Síndrome de Asperger é uma perturbação neurocomportamental de base genética. Pode ser definida como uma perturbação do desenvolvimento que se manifesta por alterações sobretudo na interacção social, na comunicação e no comportamento. Embora seja uma disfunção com origem num funcionamento cerebral particular, não existe marcador biológico, pelo que o diagnóstico se baseia num conjunto de critérios comportamentais.
Enquadrada no espectro do autismo, esta é uma condição que afecta o modo como uma pessoa comunica e se relaciona com os outros. Entre as características mais comuns em crianças, jovens ou adultos, destacam-se as dificuldades com relacionamentos sociais, na comunicação, interpretação, na empatia ou a insistência em comportamentos repetitivos, descoordenação motora ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Saiba mais aqui.
20 anos de APSA
Nas últimas duas décadas, a APSA tem apostado muito na «sensibilização, explicação, divulgação, mas principalmente na desdramatização da SA», tanto através de seminários, publicação de livros ou ao assegurar uma presença regular nos média, «falando sem preconceitos e de forma muito positiva sobre a SA».
Entre os trabalhos desenvolvidos desde a sua criação, a APSA destaca a sua presença em escolas de todos os ciclos de ensino. Mas o projecto mais emblemático, e ligado à «Empresa Recetiva», já que na antecâmara do mesmo, é o «projecto Casa Grande, actual sede da Associação», destaca a presidente da APSA.
Esta foi a primeira resposta social a surgir para jovens adultos com SA e que visa preencher o «grande fosso entre o fim da escolaridade obrigatória e a passagem para a vida activa», apostando na capacitação dos jovens e da «comunidade envolvente para uma integração sustentável na vida activa e no mercado de trabalho», detalha Piedade Líbano Monteiro. O projecto «Casa Grande» apoia hoje, e de forma directa, «cerca de 58 jovens e respectivas famílias», mas o verdadeiro alcance do trabalho desenvolvido pela APSA é difícil de quantificar.
«A cada escola que vamos, cada intervenção pública que temos, cada encontro de pais, tempo de pais, e de cada vez que actuamos na sociedade, estamos de certa forma a apoiar mesmo indirectamente quem muitas vezes não tem coragem de nos pedir ajuda», explica a presidente da APSA. Como exemplo, a responsável destaca «as mais de 500 famílias» que a APSA já ajudou através de um serviço «totalmente gratuito» chamado Tempo de Pais, da responsabilidade da própria Piedade Líbano Monteiro. Um tempo que dedica a que mais ninguém se veja na situação de não ter respostas para as primeiras dúvidas e sobre o que esperar no dia-a-dia com SA. A presidente da APSA, que a seu tempo não encontrou respostas, assegura hoje o seu tempo para que estas cheguem a quem mais precisa.
Fonte: Público
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