Rhys Porter tem 13 anos e um diagnóstico de paralisia cerebral. Impossibilitado de andar, é na baliza dos Feltham Bees que Rhys esquece todas as suas limitações, defendendo ajoelhado o que muitos não defendem de pé, a pontos tais de uma destas defesas acabar partilhada no TikTok da equipa.
O que era para ser motivo de orgulho e celebração para um rapaz igual a tantos outros, com as mesmas alegrias, as mesmas paixões, os mesmos sonhos, revelou-se ser, na manhã seguinte, o rosto da desilusão e do desgosto através de um sem número de insultos e comentários online.
No fundo, a crueldade crua e injusta e o pior de que somos capazes quando gratuitamente se destroem os sonhos de uma criança, já de si consciente das suas limitações, mas que tanto faz.
E se calhar é por tanto fazer que a inveja e a ignorância aparecem de repente de mãos dadas para que Rhys não mais queira voltar ao futebol, para que Rhys não mais queira ver um relvado, para que Rhys nunca venha a ser o que sempre quis ser, o guarda-redes da selecção inglesa de futebol com paralisia cerebral. O objectivo foi, infelizmente, alcançado.
Sozinho no quarto, Rhys perdeu horas entre a tristeza e incredulidade, lendo e relendo comentários sem fim. E assim teria continuado caso a família de Rhys, e com a família a comunidade futebolística, não se tivesse mobilizado para o resgatar do bullying de que fora vítima, entre videochamadas com os jogadores de eleição e mensagens de apoio de clubes como o Arsenal.
Fazendo das fraquezas forças, Rhys meteu mãos à obra e aderiu à SCOPE, uma instituição de apoio social para pessoas portadoras de deficiência, através da qual partilha a experiência de que foi alvo. Com o lema “Make it count”, Rhys desafia o cidadão comum a praticar de desporto de modo a angariar fundos contra a discriminação, pela igualdade. Para que nunca mais ninguém tenha de passar pelo que Rhys passou.
Porque não é justo. Porque é elementar. Com o propósito inicial de angariar 100 libras (cerca de 118 euros) através de 20 defesas diárias, Rhys já conta em mais de 19 mil libras (22.400 euros), o contributo para esta campanha, a sua.
E se vos contar que graças à sua iniciativa, à sua força e alegria, Rhys já foi entrevistado pela BBC e pela Sky News, tendo sido igualmente notícia na ITV, na Sports Illustrated, no Sun, Daily Mail, Evening Standard entre outros, culminando num abraço conjunto dos jogadores da sua equipa do coração, o Fulham, depois de um golo que ficará para sempre nas redes?
Sim, é verdade, e temos de admiti-lo: Rhys não é um jovem como os outros, é muito, muito, mais. O seu exemplo é o triunfo da tolerância e do amor ao próximo, é dar a outra face e nunca desistir e a razão elementar da importância da educação.
Porque só pela educação é possível compreender. E só pela educação é possível ignorar, mas sem esquecer, o mal a que todos os dias estamos sujeitos da parte de quem se esconde por detrás das redes só porque, e ao que parece, somos diferentes. Obrigado, Rhys, vemo-nos no estádio quando a selecção de que já fazes parte entrar em campo.
João André Costa
Fonte: Público
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