Eis uma pergunta com múltiplas respostas.
Perguntem a pais cujos filhos estão/estiveram sem professor(es) semanas a fio. Valerão muito, certamente (pelo menos nessas semanas). Sentem a matéria a ficar para trás e que os filhos vão ficar prejudicados nas aprendizagens correspondentes aos programas. E sabem, também, que esse atraso poderá ter repercussões nos anos vindouros, principalmente em disciplinas em que os conhecimentos se articulam e os seguintes carecem da aquisição dos anteriores (exs.: matemática ou línguas estrangeiras). Vão também ficar em desigualdade nos exames.
Perguntem aos estudantes. As respostas podem variar de acordo com os docentes e as disciplinas que lecionam, mas estou em crer que darão respostas favoráveis sobre o valor dos seus professores.
Perguntem aos governantes, não apenas aos atuais, mas também aos que os antecederam. Ou será mesmo preciso perguntar para obter resposta? Basta ouvir os seus discursos, ler/ouvir as suas declarações nos meios de comunicação social ou atentar nas medidas que têm vindo a tomar. Os professores surgem como preguiçosos com muitas férias e poucas horas de trabalho; incompetentes que não querem prestar provas dos seus conhecimentos e aptidões em exames (apesar – acrescento meu, não desses governantes - da sua formação profissional feita em instituições e cursos avalizados pelos sucessivos Ministérios da Educação); incompetentes e corporativos, que não querem ser avaliados.
Insistam em perguntar aos pais. Ouvirão múltiplas respostas, muitas vezes vindas da mesma pessoa. “Sim, é certo que têm muito valor. Basta ver a falta que estão a fazer/fizeram. Basta ver como se dedicaram na ajuda ao meu filho no ano passado. Mas… trabalham tão poucas horas! Mas… têm tantas férias…”
Todos os dias abrimos os jornais e lemos as histórias dramáticas de professores (poucos, tem dito o MEC) que vivem/viveram recentemente na incerteza não apenas de terem trabalho ou do local onde ele seria, mas também de como poderiam organizar a sua vida familiar, incluindo a educação e a escolaridade dos seus filhos. Sim! Os professores também têm filhos, que também têm direito a família e a educação estável em escola pública. Todos os dias vimos como esses professores, à medida que iam sendo colocados e, de casa às costas e reorganizando a sua vida, não deixavam de se preocupar com a recuperação do atraso dos alunos.
O que os pais, os alunos e a sociedade não veem é outra enorme fonte de desgaste dos professores: o trabalho invisível que fazem.
Muito desse trabalho é importante e indispensável: análise do perfil e dos problemas das suas turmas e/ou de alunos específicos e definição de estratégias (individualmente ou com os outros professores da turma, de modo informal ou em reuniões), tarefa que requer, muitas vezes, pesquisa e estudo, articulação com os vários serviços e recursos da escola e até contacto com instituições exteriores a ela; preparação de aulas, preparação e correção de testes e outros instrumentos de avaliação.
É também invisível o trabalho feito nas pretensas férias: reuniões de avaliação, vigilância e correção de exames, matrículas e muitas outras tarefas.
Muito desse trabalho, contudo, é revoltante pelo que de improdutivo tem; é a burocracia que grassa nas escolas: os documentos enormes, exaustivos e repetidos, em que a informação se multiplica sob formatos variados. Vivemos uma época de prestação de contas em que o sufoco com a justificação das atividades, a prova da sua concretização e a avaliação da sua qualidade asfixiam a energia e o tempo para desenvolver as próprias atividades, sejam elas aulas, visitas de estudo ou outras. Como pode um professor não se sentir revoltado, amargurado, desgastado e frustrado por ter de ocupar mais tempo a justificar o trabalho que interessa que faça, do que a fazer esse trabalho, ou seja, a ser realmente professor? E como pode não se sentir amargurado por o seu valor social estar tão degradado pela imagem que dos professores vai passando a tutela?
Quanto vale um professor? Deixo essa resposta à consciência de cada um, como, igualmente à consciência de cada um, deixo a forma como recolherá dados para responder de modo informado e esclarecido.
Armanda Zenhas
Perguntem a pais cujos filhos estão/estiveram sem professor(es) semanas a fio. Valerão muito, certamente (pelo menos nessas semanas). Sentem a matéria a ficar para trás e que os filhos vão ficar prejudicados nas aprendizagens correspondentes aos programas. E sabem, também, que esse atraso poderá ter repercussões nos anos vindouros, principalmente em disciplinas em que os conhecimentos se articulam e os seguintes carecem da aquisição dos anteriores (exs.: matemática ou línguas estrangeiras). Vão também ficar em desigualdade nos exames.
Perguntem aos estudantes. As respostas podem variar de acordo com os docentes e as disciplinas que lecionam, mas estou em crer que darão respostas favoráveis sobre o valor dos seus professores.
Perguntem aos governantes, não apenas aos atuais, mas também aos que os antecederam. Ou será mesmo preciso perguntar para obter resposta? Basta ouvir os seus discursos, ler/ouvir as suas declarações nos meios de comunicação social ou atentar nas medidas que têm vindo a tomar. Os professores surgem como preguiçosos com muitas férias e poucas horas de trabalho; incompetentes que não querem prestar provas dos seus conhecimentos e aptidões em exames (apesar – acrescento meu, não desses governantes - da sua formação profissional feita em instituições e cursos avalizados pelos sucessivos Ministérios da Educação); incompetentes e corporativos, que não querem ser avaliados.
Insistam em perguntar aos pais. Ouvirão múltiplas respostas, muitas vezes vindas da mesma pessoa. “Sim, é certo que têm muito valor. Basta ver a falta que estão a fazer/fizeram. Basta ver como se dedicaram na ajuda ao meu filho no ano passado. Mas… trabalham tão poucas horas! Mas… têm tantas férias…”
Todos os dias abrimos os jornais e lemos as histórias dramáticas de professores (poucos, tem dito o MEC) que vivem/viveram recentemente na incerteza não apenas de terem trabalho ou do local onde ele seria, mas também de como poderiam organizar a sua vida familiar, incluindo a educação e a escolaridade dos seus filhos. Sim! Os professores também têm filhos, que também têm direito a família e a educação estável em escola pública. Todos os dias vimos como esses professores, à medida que iam sendo colocados e, de casa às costas e reorganizando a sua vida, não deixavam de se preocupar com a recuperação do atraso dos alunos.
O que os pais, os alunos e a sociedade não veem é outra enorme fonte de desgaste dos professores: o trabalho invisível que fazem.
Muito desse trabalho é importante e indispensável: análise do perfil e dos problemas das suas turmas e/ou de alunos específicos e definição de estratégias (individualmente ou com os outros professores da turma, de modo informal ou em reuniões), tarefa que requer, muitas vezes, pesquisa e estudo, articulação com os vários serviços e recursos da escola e até contacto com instituições exteriores a ela; preparação de aulas, preparação e correção de testes e outros instrumentos de avaliação.
É também invisível o trabalho feito nas pretensas férias: reuniões de avaliação, vigilância e correção de exames, matrículas e muitas outras tarefas.
Muito desse trabalho, contudo, é revoltante pelo que de improdutivo tem; é a burocracia que grassa nas escolas: os documentos enormes, exaustivos e repetidos, em que a informação se multiplica sob formatos variados. Vivemos uma época de prestação de contas em que o sufoco com a justificação das atividades, a prova da sua concretização e a avaliação da sua qualidade asfixiam a energia e o tempo para desenvolver as próprias atividades, sejam elas aulas, visitas de estudo ou outras. Como pode um professor não se sentir revoltado, amargurado, desgastado e frustrado por ter de ocupar mais tempo a justificar o trabalho que interessa que faça, do que a fazer esse trabalho, ou seja, a ser realmente professor? E como pode não se sentir amargurado por o seu valor social estar tão degradado pela imagem que dos professores vai passando a tutela?
Quanto vale um professor? Deixo essa resposta à consciência de cada um, como, igualmente à consciência de cada um, deixo a forma como recolherá dados para responder de modo informado e esclarecido.
Armanda Zenhas
In: Educare
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