Um suicídio não se explica com uma palavra. O suicídio é multifactorial, diz José Carlos Santos, presidente da Associação Portuguesa de Suicidologia. O que existe é um fator precipitante – algo que se desenvolve num contexto adverso. E isso, entre adolescentes, amiúde tem a ver com quebra de afeto.
O bullying foi a causa apontada (...) ao noticiar a morte do rapaz de 15 anos, aluno da EB 2,3 de Palmeira, em Braga. Não seria descabido. Segundo Ana Tomás de Almada, investigadora da Universidade do Minho, esta forma de violência – continuada, exercida por colegas – tende a ser desvalorizada. “Considera-se que faz parte da infância e da adolescência, que forma o caráter, endurece. Como não há condenação, não há prevenção.”
Importa incentivar as crianças e jovens a falar sobre a vida escolar, para lá das notas, achega Beatriz Pereira, investigadora na mesma universidade. E importa valorizar o que dizem.
Com o decorrer do dia percebeu-se que o rapaz não enfrenava apenas um contexto escolar hostil. Tinha um défice cognitivo. E isso, segundo Fernando Fontes, investigador da Universidade de Coimbra, baixa as probabilidades de integração. “As pessoas tendem a discriminar o que é diferente”. E, no caso das pessoas com necessidades especiais, os agressores mais frequentes são os pares e os familiares.
Havia ainda um contexto familiar do rapaz era adverso. E o modo como o tratava a rapariga de quem gostava.
“Há sempre fatores de nível pessoal, familiar e social”, diz José Carlos Santos. Entre adolescentes – de 14 ou 15 anos – as ruturas afetivas têm uma importância desmedida. São um dos fatores mais frequentes de comportamentos autolesivos , enfatiza, lembrando que o suicídio de adolescentes é raro em Portugal, o que é mais comum é a ameaça de suicídio.
As escolas, explica ainda o especialista, podem desempenhar um papel chave na prevenção. Não se refere apenas aos professores, mas também aos assistentes operacionais, que vigiam os recreios. Acha que é tempo de inserir a saúde mental no plano de saúde escolar e de apostar nos processos educativos, na cidadania, em vez de pensar apenas nos resultados. Beatriz Pereira aponta no mesmo sentido: parece-lhe que a escola tem de incentivar mais o respeito, a cooperação e menos a competição.
Números de ajuda em: http://www.spsuicidologia.pt/
In: Público
Nota: Destacado a negrito pelo editor do blog.
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