É inquestionável que os problemas de saúde mental representam um grave problema de saúde pública. Os custos diretos (despesas assistenciais) e indiretos (p.ex. baixas por doença) da perturbação mental, atingem uma magnitude preocupante, estimando-se que o impacto mundial acumulado que representa em perda de produtividade económica possa ascender a 16.3 mil milhões de dólares entre 2011 e 2030.
Se pretendemos trabalhar para os objetivos propostos na Estratégia Europa 2020, por um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, não podemos continuar a ignorar esta realidade, tornando-se prioritário “cuidar” do potencial das competências emocionais, cognitivas e intelectuais da população europeia, e não colocá-lo em risco por falta de respostas adequadas à promoção da saúde mental e prevenção da perturbação mental.
Neste contexto, na 66.ª Assembleia Mundial de Saúde, os Estados-Membros da Organização Mundial de Saúde aprovaram um Plano de ação para 2013-2020 assente em quatro grandes objetivos: reforçar uma liderança eficaz na saúde mental; implementar respostas comunitárias de saúde mental compreensivas, abrangentes, integradas e acessíveis, incluindo serviços de apoio social; implementar estratégias de promoção e prevenção em saúde mental; e fortalecer os sistemas de informação e de investigação no domínio da saúde mental.
Segundo dados do 1.º Relatório do “Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental”, Portugal “tem, em conjunto com a Irlanda do Norte, a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas na Europa”; “cerca de 65% de pessoas com uma perturbação psiquiátrica não tem qualquer tratamento” e “o tempo que medeia entre o começo das perturbações psiquiátricas e o momento em que se inicia o seu tratamento varia, na maior parte dos casos, entre um e quatro anos”. Paralelamente, sabemos existir um reduzido número de profissionais não médicos integrados na rede de cuidados de saúde mental, bem como falta de formação adequada nos modelos de intervenção de eficácia comprovada para responder aos múltiplos desafios que as pessoas com experiência de uma perturbação mental e seus familiares enfrentam.
Olhando para este cenário complexo e de uma enorme exigência, é altura de agir, de fazer chegar às pessoas todo o conhecimento produzido nos últimos anos neste domínio, e substituir o desespero, o estigma e a discriminação, por uma responsável concretização dos compromissos assumidos, quer a nível nacional (e.g. Recomendações do Ministro da Saúde de 21 de Junho 2013), quer ao mais alto nível internacional (e.g. Pacto Europeu para a Saúde Mental).
É inequívoco que “é a saúde mental que abre aos cidadãos as portas da realização intelectual e emocional, bem como da integração na escola, no trabalho e na sociedade” (OMS, 2001), reclamando um compromisso conjunto.
Filipa Palha
Docente e Investigadora da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, no Porto. Coordenadora do Mestrado em Reabilitação Psicossocial.
In: Público por indicação de Livresco
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