segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O processo de integração

A política educativa, face aos avanços e às alterações das perspectivas educacionais, levou ao surgimento do movimento de integração dos alunos com necessidades educativas especiais (NEE) na escola regular, designado por educação integrada (Correia e Cabral, 1999b).
A educação integrada consiste, então, no atendimento educativo específico, prestado às crianças e aos jovens com NEE, no meio familiar, na escola regular ou noutras estruturas onde estejam inseridas. Nesta perspectiva, a escola é percepcionada como um espaço educativo aberto, diversificado e individualizado, onde cada criança possa encontrar resposta à sua individualidade, à sua diferença, pressupondo-se, assim, a maximização dos aspectos mais favoráveis do meio para o desenvolvimento total da sua personalidade (Correia e Cabral, 1999b).
Na abordagem desta temática, alguns autores referem que a criança deve beneficiar do meio menos restritivo possível, entendido em sentido lato como a integração física, social e pedagógica da criança na escola regular. Existe, no entanto, uma proximidade conceptual entre ambos os termos, integração e meio menos restritivo possível. A este propósito, Correia, citado por Correia e Cabral, esclarece que “ao definir “integração” como sendo um conceito que pretende, sempre que possível, a colocação da criança com NEE, junto da criança dita “normal”, para fins académicos e sociais, e “meio menos restritivo possível” como sendo um conceito que pede a colocação da criança com NEE num ambiente o mais normal possível, de acordo com as suas características, com o fim de ela poder vir a receber uma educação apropriada, está a inferir que a integração de crianças com NEE parte da convicção de que a criança deve ser educada no meio menos restritivo possível e de que este meio pode responder satisfatoriamente às suas necessidades educativas, fornecendo-lhe o apoio educativo imprescindível à superação do seu problema.” (1999a, p. 19). Nesta óptica, as crianças só deverão ser integradas em classes especiais ou beneficiar de outras formas de segregação quando as suas necessidades não possam ser satisfeitas num meio com crianças “normais”, ainda que se recorra a apoios e serviços suplementares.
A integração é perspectivada como o direito do aluno com NEE ser colocado numa turma regular e concretiza-se pela sua colocação numa escola regular, isto é, se a integração física não estiver articulada com a social e a académica, esta prática acarreta resultados falaciosos e irresponsáveis (Correia e Cabral, 1999b) porque estas crianças, devido à especificidade das dificuldades de aprendizagem apresentadas, têm necessidades pedagógicas diferenciadas em intensidade e duração.
Segundo Correia (2005, p. 8-9), o processo da criação de escolas integradas passou por três fases. A primeira fase corresponde à integração física e caracteriza-se pela criação de classes especiais nas escolas regulares, onde os alunos com NEE deveriam receber apoios específicos consentâneos com as suas necessidades. Esta fase destaca-se pela abertura à entrada na escola regular dos alunos com NEE.
A segunda fase corresponde à integração social. Regista-se uma aproximação em termos de interacções entre os alunos com NEE e os alunos “normais”, criando-se o acesso aos ambientes sociais das classes regulares. Embora os alunos com NEE continuem a beneficiar mais com um ensino à parte nas áreas académicas, reconhece-se, porém, que eles se devem juntar aos seus colegas sem NEE em áreas específicas, como a educação física e as expressões artísticas, ou em situações de carácter mais social, como sejam os recreios, as refeições e as visitas de estudo. Trata-se, assim, de uma aproximação de carácter social.
A terceira fase corresponde à integração académica. Esta baseia-se no acesso cognitivo à classe regular dos alunos com problemas ligeiros, embora a educação especial continuasse como um lugar. Reconhece-se nesta fase que os alunos com NEE, pelo menos os que apresentavam problemáticas ligeiras, conseguiam alcançar sucesso escolar nas turmas regulares. A classe especial dá, assim, lugar à sala de apoio, por vezes permanente, outras temporária, onde os alunos recebiam apoio educativo consoante as suas problemáticas.
Entretanto, houve movimentos que pretendiam encontrar formas de atender às necessidades do maior número de alunos com NEE na classe regular, adaptando-se para o efeito essa mesma classe, de forma a facilitar as aprendizagens desses alunos nesse ambiente, isto é, dá-se origem ao movimento da inclusão, assunto que abordaremos posteriormente.
Bibliografia:
CORREIA, L. M. e CABRAL, M. C. M. (1999a) – Práticas Tradicionais da Colocação do Aluno com NEE. In L. M. Correia (dir) Alunos com Necessidades Educativas Especiais nas Classes Regulares. Porto: Porto Editora, pp. 11-16.
CORREIA, L. M. e CABRAL, M. C. M. (1999b) – Uma nova política em educação. In L. M. Correia (dir) Alunos com Necessidades Educativas Especiais nas Classes Regulares. Porto: Porto Editora, pp. 17-44.
CORREIA, L. M. (2005) – Inclusão e Necessidades Educativas Especiais: um guia para educadores e professores. Porto: Porto Editora.

2 comentários:

Atena disse...

Olá, só para cumprimenta-lo e dizer que continuo por aqui, lendo este seu trabalho tão interessante que me tem proporcionado aclarar muitas questões e conhecer o percurso da educação especial no nosso País de forma explicíta e organizada.
Obrigado e um abraço
Cristina

João Adelino Santos disse...

Olá! Eu fico-lhe grato pelos comentários que tem proporcionado e pelo interesse demonstrado por esta temática. Quanto ao conteúdo, certamente encontrará melhor e mais desenvolvido, porque existe!
Abraço
João